Capítulo 2 Destino cruel

Hanna

Eu sou uma romântica incurável, sempre sonhei em um dia me casar com um homem lindo e completamente apaixonado por mim, mesmo sabendo que isso não vai acontecer, mas não custa nada sonhar, ao menos esse direito eu tenho!

Sou a prometida do Don, me chamo Hanna e tenho 23 anos. Sempre fui criada com muito amor pelos meus pais, mas, infelizmente, a minha relação com minha irmã nunca foi boa. April, que tem 25 anos, nunca gostou de mim. Desde pequena, ela me tratava de forma fria e distante, mas conforme fomos crescendo, a coisa foi piorando. Ela sempre me maltratou, raramente fala comigo e, quando faz, é exclusivamente para me humilhar de todas as formas possíveis e imagináveis. è como se eu fosse invisível para ela, como se eu não fosse sequer digna de ser tratada com um mínimo de consideração.

Lembro de uma noite que o meu pai chegou em casa, visivelmente chateado, e contou à minha mãe que não havia mais o que fazer. A única solução que ele achava viável era a que tinha em mente. Eu não entendia muito bem o que ele queria dizer, mas, ao ouvir a minha mãe, que tentava me acalmar, e April, que ouviu tudo de perto, percebi que algo estava acontecendo.

Meu pai, com a voz tremendo, disse que o Don preferiu a mais nova. Ele não explicou mais, mas aquela frase ficou ecoando na minha cabeça, e eu não consegui entender o significado real daquelas palavras. April, com o olhar cheio de raiva, questionou meu pai:

- Por que ela e não eu?.- meu pai respondeu, com uma dor visível nos olhos:

- O Don escolheu a sua irmã, ele quer a Hanna .- dali pra frente tudo mudou

Aquelas palavras foram como um golpe no meu peito. O Don? Eu mal sabia o que isso significava na época, mas sabia que havia algo de muito sério por trás disso. A partir desse momento, a relação entre mim e April piorou ainda mais. Ela começou a me tratar com desprezo e até com raiva, e eu passei a temer seus ataques e ofensas. Isso tudo aconteceu pouco antes do nosso pai falecer, e, mesmo com a dor da perda, ela não me deu um minuto de paz.

April sempre dizia que a culpa era minha, que eu havia feito algo de errado, embora eu não soubesse o que. Minha mãe tentava me acalmar, dizendo que eu não deveria ligar para o que April falava, mas era impossível. Eu só queria uma irmã com quem eu pudesse contar, alguém com quem eu pudesse dividir minhas inseguranças, minhas dores, mas tudo o que encontrava era desprezo e rancor. Em uma dessas discussões, em que eu tentei, mais uma vez, entender o motivo de tanto ódio, a April me empurrou. Eu estava na escada e, com o forte empurrão que ela me deu, caí.

Tentei me segurar, a sensação foi de vertigem, como se o mundo girasse ao meu redor. Bati a cabeça com tanta força que fiquei desorientada. Lembro de sentir o meu corpo fraco e minhas pernas falharem, e logo a seguir perdi os sentidos.

Quando acordei, estava no hospital. Abri os olhos, mas o vazio na minha visão era absoluto. Eu não conseguia enxergar nada. O pânico tomou conta de todo o meu ser.

A minha mãe estava ao meu lado, tentando me acalmar, mas hanna... hanna estava ali também. Ela estava rindo de uma forma cruel, como se fosse uma espécie de vitória para ela. Eu não entendia o que estava acontecendo. A dor na minha cabeça era insuportável, mas o que mais doía era sentir que a minha única irmã estava radiante com o meu desespero. Ela disse, com aquela voz sarcástica que me faz tremer só de lembrar, que ninguém iria querer uma esposa cega. E, com uma voz fria, completou:

- O Don vai se casar comigo, porque ele não vai ter outra escolha!

As palavras dela me cortaram como uma lâmina afiada. Eu não conseguia entender como alguém que deveria ser boa comigo, a minha própria irmã pudesse ter tanto ódio de mim. Naquele momento, senti uma raiva profunda, misturada com uma tristeza avassaladora. Eu perguntei à minha mãe, aos prantos, o que April tinha dito, Mas a minha mãe me confortou dizendo que sempre temos que ser fortes, e disse que aquilo não passava de mais uma invenção da April.

No entanto, após me recuperar, a minha mãe me chamou para uma conversa e disse que precisava me contar a verdade, uma verdade que parecia absurda demais para eu acreditar, o chão parecia desaparecer sob meus pés. Ela me disse que o meu pai havia feito um acordo com o Don e que eu havia sido dada como uma parte da negociação ao filho do Don, eu seria a esposa do futuro Don. Eu fiquei em choque, incapaz de processar. O que queriam de mim? Por que eu?

Minha mãe, com um semblante grave, explicou que o meu pai havia feito esse acordo para que nós pudéssemos continuar vivendo a vida que tínhamos, que a nossa máfia estava quase falida, e aquele foi o único jeito que ele encontrou para nos manter seguras. Aquilo me deixou mais confusa do que nunca, e uma sensação de impotência tomou conta de mim. Então, me ensinaram o que eu precisava saber para ser uma "boa esposa". Não tinha mais escolha.

Eu achava que, por ser cega, tudo seria muito mais difícil para mim. Mas, ao longo dos anos, fui me acostumando com a nova realidade. Eu já sabia onde estava cada coisa na casa. Eu sabia o caminho do banheiro, conhecia os móveis de cor e sabia quais roupas combinavam. Mesmo sem enxergar, conseguia arrumar meus cabelos e escolher as minhas roupas com uma precisão quase que instintiva. Fui me tornando auto suficiente, ou pelo menos tentando ser.

Enquanto isso, April não parava de tentar destruir o que restava da minha autoestima. Ela dizia que o Don nunca me escolheria, que ele teria vergonha de uma esposa cega. Ela me dizia que eu ficaria sozinha para sempre, sem ninguém ao meu lado, porque ninguém queria uma mulher como eu. Eu sabia que ela só queria me ferir, mas, mesmo assim, suas palavras conseguiam me alcançar. Os meus olhos se enchiam de lágrimas, mas eu tentava esconder o que sentia. Não queria dar a ela a satisfação de me ver fraca.

Agora, finalmente, chegou o grande dia. O Don vai assumir a máfia, e minha mãe já arrumou todas as minhas coisas. Ela disse que ele viria me buscar a qualquer momento. A ansiedade me consumia, mas eu sabia que não podia demonstrar o medo que estava sentindo.

Mesmo cega, sou bonita, tenho um corpo desejável, eu ainda penso no amor, sonho com o meu desconhecido marido, imagino um homem bonito, elegante, deve usar perfumes marcantes, espero que ele seja bom para mim e que juntos possamos viver um grande amor. Para voltar a realidade ouço a voz da April me puxando para a realidade.

- Mãe - disse a April com aquele tom de desprezo que me causava calafrios

- Você é tão iludida quanto a Hanna, Ele nunca vai querer uma mulher cega ao lado dele. Isso será uma humilhação sem fim para o Don!.- ouço o barulho de um tapa

- Cala essa boca April, já chega !.- ela diz com o tom bravo. - vem Hanna, chegou a hora minha filha! - a minha mãe diz e eu sinto como se o meu estômago contraísse e eu fosse

                         

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