Sempre consegui pensar melhor quando estou sozinha e isso será algo impossível de fazer na piscina, até mesmo por conta das distrações, então decido andar pela praia.
Eu sei que com a chegada de Aidan, não tem como manter os planos, mesmo que a Lia insista por isso, dizendo que não preciso ficar sozinha e podemos fazer algo todos juntos. Prefiro lhe dar espaço para que possa aproveitar um pouco desse paraíso ao lado do namorado.
Gostaria tanto de ter a Malia aqui, a irmã que a vida nos deu, além de ser boa companhia, ela tem ótimas ideias para essas situações. No entanto, nesse momento ela está em Aspen, esquiando e conhecendo a família de seu namorado. Não posso culpá-la pela escolha, esquiar é muito bom, e um dia espero conhecer Aspen também.
Amanhã já é véspera de Ano Novo, posso conseguir encontrar algo para fazer sozinha durante o dia e embora não estivesse nos planos, irei ver o show após o jantar. E depois posso ir até a boate para dançar e quem sabe encontrar um rapaz para aproveitar o restante da noite.
Embora eu tenha falado que Aidan terá de dormir no sofá, não vou fazer isso. O sofá da nossa suíte é super aconchegante, mas não o bastante para duas pessoas dormir de forma confortável, e bem sei que a Lia não vai desgrudar dele, e nunca faria essa maldade com ela por pirraça.
Então, como é impossível conseguir um quarto separado, eu terei que passar as próximas duas noites no sofá, enquanto os dois se divertem no quarto. Não é um sacrifício tão difícil assim.
Me sinto aliviada por ter tudo planejado. Vai dar certo, sei que vai.
Essa parte da praia está vazia, então me sento na areia para ficar olhando o oceano.
Desde pequena o mar me cativa, é uma paixão inexplicável. Minha mãe costuma contar que quando bebê, eu era igual a Moana, não podiam descuidar que eu corria para dentro do mar. Em nossa casa na Itália, ainda existe a grade de proteção para o mar, que meu pai colocou após eu começar a andar.
Saio de meus pensamentos ao ver um homem saindo do mar, a água escorrendo por seu corpo e brilhando conforme o sol toca em sua pele negra. Se não tiver 2 metros de altura, está bem próximo disso.
Ele se deita na areia a uns 10 metros de onde estou sentada, e jogando o cabelo na frente do rosto, eu o observo. A barriga em gominhos bem definidos, os braços são fortes e os ombros largos, no qual um possui uma tatuagem de leão.
Esse homem é lindo demais, e só me faz lembrar a cena do filme "As Branquelas", em que o ator fala que depois dele, é preciso usar uma cadeira de rodas. Com certeza, esse é o tipo de homem capaz de fazer algo assim.
Durante todos esses dias, eu só quis aproveitar tudo que esse lugar tem a oferecer e também a companhia da Lia, curtindo nosso tempo sozinhas. Consequentemente, evitei esse tipo de diversão, porém agora que ela está com o Aidan, nada me impede de curtir um pouco.
Noto que o sol está baixo, e por mais que esteja bom ficar olhando esse homem, como não vou me aproximar, decido ir embora. Mas primeiro preciso saber se posso voltar, só espero que já tenha dado tempo daqueles dois matarem um pouco da saudade. Pego meu celular para obter a liberação.
Bea: É seguro voltar para o quarto ou devo esperar mais um pouco por um banho?
Lia: Não seja boba, é claro que pode voltar, estamos apenas vendo um filme.
Bea: Estou subindo então. Espero que estejam vestidos quando eu chegar, ou irei jogar ele pela janela.
Levanto-me e passo a mão no corpo para retirar um pouco da areia, noto que o rapaz fica observando meus movimentos, seria bom se ele viesse se apresentar, mas como não o faz, sigo meu caminho para o hotel, andando mais vagarosamente ao passar por ele, me sentindo bem ao ser admirada, ainda que infelizmente, em silêncio.
Ao entrar no quarto, encontro Lia e Aidan abraçados no sofá, apenas dou um oi para os dois e sigo para o banheiro. Sei que preciso contar a minha decisão, mas não quero fazer isso antes de tirar a areia do meu corpo e colocar uma roupa apropriada.
Estou deitada tranquila na banheira observando as espumas, quando escuto uma batida na porta.
- Bea, posso entrar? - Lia pede.
Talvez seja mesmo melhor conversar só nós duas, pois sei que com Aidan vai ter muita provocação.
- Pode sim.
Ela entra e com calma se senta na beira da banheira. Apesar da pose confiante, vejo em seus olhos que está receosa com o que tem para dizer.
- Eu sinto muito mesmo. - Começa com a voz tímida. - O Aidan só queria me fazer uma surpresa, não imaginou que criaria essa situação constrangedora, mas não se preocupe, eu liguei em um hotel fora de Paradise e encontrei um quarto para ficar com o Aidan, só vim te pedir para jantarmos todos juntos primeiro.
O Paradise é o lugar mais luxuoso das Bahamas, e não existe chance de conseguir um hotel tão bom quanto os que tem no resort e desconfio que no momento, nem mesmo perto daqui. Significa que a Lia só pode ter conseguido quarto do outro lado de Nassau, onde os hotéis são bem mais inferiores e com menor segurança.
Eu sei que ela está buscando uma solução conciliadora, mesmo que tenha que renunciar ao conforto para isso. Lia sempre foi assim, a pacificadora, que procura uma forma de deixar todos felizes, mesmo que às vezes seja preciso fazer sacrifícios pessoais.
Olho para ela, e como pensei mais cedo, jamais a deixaria fazer algo assim, não vou privá-la do conforto e nem de tudo que é oferecido aqui. Além de não querer ficar tão longe dela, sem saber que estará bem. Nós vamos ficar juntos, na medida do possível.
- Lia, vocês não vão sair daqui, não irei deixar, enquanto estava aqui enroscada nele, eu pensei em uma solução melhor, e tomei uma decisão: Vocês dois vão dormir no quarto e eu ficarei no sofá da sala, só quero que me prometa não fazer muito barulho.
Seu rosto logo adquire um tom avermelhado, e ela desvia o olhar com minhas palavras.
- Obrigada, Bea. - Dá um beijo em minha cabeça. - Prometo que nenhum barulho vai te incomodar durante a noite. Agora termine seu banho e vamos descer juntos para jantar.
Ela sai do banheiro e me levanto para me enxugar. Quando saio do quarto, Lia está com um sorriso enorme, e sinto que é por não precisar escolher entre Aidan e eu.
- Liguei no serviço de quarto e pedi alguns edredons extras para deixar o sofá mais confortável.
- Só esqueceu de pedir tampões de ouvido para ela não nos ouvir. - Aidan tem um sorriso debochado. Ele quer me provocar, mas dois podem jogar esse jogo.
- Como se sua brasa conseguisse fazer mais alguma coisa essa noite. - Noto sua camiseta laranja, e um novo apelido me vem à mente. - Mas continue com suas gracinhas Nemo, que mudo de ideia agora e te jogo porta fora.
- Estrelinha, vai deixar a pimentinha fazer isso comigo? - Aidan olha para Lia com uma carinha de cachorro abandonado.
- Parem com as gracinhas os dois e vamos logo jantar. - Lia está bem séria com as mãos na cintura.
Há muito tempo ela se acostumou com nossa implicância, no começo até tentou nos fazer parar, mas logo viu que era impossível e só nos ignora na maior parte do tempo.
Descemos para jantar no restaurante do Aaru, pois além dos três adorar comer peixe, a Lia quis que o Aidan provasse a comida de um Chef renomado que possui duas estrelas Michelin.
Como este restaurante não serve nossos vinhos, Aidan e eu ficamos analisando os vinhos servidos durante o jantar. Pois, embora tenha seguido o ramo da administração, fiz um curso básico no High School para entender melhor sobre o assunto. Já o Aidan é formado como enólogo, e trabalha na DelBel no setor de espumantes.
Lia comenta com Aidan sobre a ilha dos porcos, que ela quer conhecer desde que chegou aqui, mas que tenho fugido do passeio, pois realmente não consigo entender a graça em nadar com os bichos, para mim os porcos só são bons quando estão em uma porção de bacon e não animais para nadar. Sendo o namorado exemplar, Aidan logo aceita e se mostra até bem empolgado em ir.
O restante da noite passou de forma divertida. E de volta ao quarto, Lia me ajuda a arrumar o edredom no sofá e ligo a tv para assistir um filme, pois estou sem sono.
- Coloque bem alto, assim não vai nos ouvir.
- De fato, será bom ser poupada dos seus roncos.
- Engraçadinha, não vou dormir essa noite, tenho algo melhor para fazer.
- Que fofinho, sonhando acordado.
Vou até o quarto e coloco o meu pijama, e quando volto para a sala, é os dois que vão se deitar.
Amanhã é meu último dia aqui, tem que ser memorável, mesmo que eu passe sozinha.