Capítulo 2 Maximilian e Sophie: Uma Conexão Através do Tempo

Maximilian Müller, um empresário de sucesso com a frieza calculada, sentiu uma fisgada estranha, quase um solavanco no ritmo constante de seus pensamentos, ao pousar os olhos na jovem que circulava pela galeria. Seus cabelos escuros, como azeviche polido, emolduravam um rosto de traços delicados, uma tela de serenidade que contrastava com a agitação do vernissage. Mas era a tristeza sutil que pairava em seus olhos amendoados que o atingiu de forma inesperada, uma nota dissonante em meio à sinfonia de sorrisos forçados e conversas superficiais.

A menina de quatro anos, com seus laços desgrenhados e a curiosidade cintilando no olhar, havia se metamorfoseado em uma mulher elegante e reservada. Seus movimentos eram graciosos, quase etéreos, enquanto ela respondia com um sorriso discreto às saudações dos presentes. Uma beleza que, apesar da discrição, não escapou à percepção de Maximilian. Ele tentou, em vão, decifrar sua identidade entre os rostos conhecidos e os desconhecidos que se aglomeravam na galeria. Mas o burburinho dos negócios, a incessante busca por novas parcerias e investimentos, parecia engolir qualquer tentativa de aproximação. Todos ali pareciam obcecados em exibir seus contatos e ambições, transformando a apreciação da arte em mais uma oportunidade de ascensão social.

Não conseguiu se aproximar e logo se cansou do assedio de todos e se retirou do evento, com a esperança de encontra-la novamente.

Dois anos depois...

A rotina implacável o engoliu, como sempre fazia, e a lembrança fugaz daquela figura de beleza delicada foi empurrada para o fundo de sua memória, soterrada sob a avalanche de compromissos e decisões cruciais.

Do outro lado da cidade, Sophie Bauer acordou naquela manhã com uma leveza no peito que há muito não sentia. Dois anos em uma nova cidade, construindo uma nova vida tijolo por tijolo, finalmente rendiam frutos. Pela primeira vez, sentia-se segura em sua profissão, a arte que sempre fora sua paixão agora a abraçava com reconhecimento. Suas obras delicadas e criativas, carregadas de uma sensibilidade que ecoava sua própria jornada, estavam conquistando admiradores. Aquela era sua primeira exposição solo, um marco que celebrava sua resiliência e talento.

Enquanto recebia seus possíveis clientes, explicando as nuances de suas pinceladas e as inspirações por trás de cada tela, seus olhos percorreram a multidão. Foi então que ele entrou. Maximilian Müller. Acompanhado por uma mulher loira, de beleza exuberante e um tanto artificial, que se agarrava ao seu braço com um sorriso calculado. E naquele instante, quando seus olhares se cruzaram, Sophie sentiu a mesma conexão inexplicável que a havia atingido dois anos antes, em um evento beneficente que sua memória guardava como uma pintura em tons pastel. Era uma faísca sutil, um reconhecimento silencioso que atravessou o ruído da multidão e o véu do tempo. Seu coração deu um salto, um reconhecimento instintivo que a deixou momentaneamente sem palavras. Aquele homem, com a mesma intensidade fria e algo inegavelmente familiar em seu porte, despertava nela uma curiosidade que ia além da admiração estética.

O passado, adormecido sob a superfície de sua nova vida, dava sinais de querer despertar.

E naquele instante, fugaz como o bater de asas de uma borboleta, quando seus olhares se cruzaram, Sophie sentiu a mesma conexão inexplicável que a havia atingido dois anos antes, em um evento beneficente que sua memória guardava como uma pintura em tons pastel, suave e persistente. Era uma faísca sutil, um reconhecimento silencioso que atravessou o ruído da multidão, o burburinho das conversas e o véu do tempo que ela se esforçava tanto para manter intacto. Seu coração deu um salto descompassado, um reconhecimento instintivo que a deixou momentaneamente sem palavras, como se o ar ao seu redor tivesse se tornado mais denso. Aquele homem, com a mesma intensidade fria que ela vagamente lembrava e algo inegavelmente familiar em seu porte elegante, despertava nela uma curiosidade que ia muito além da admiração de sua beleza.

Ele sutilmente se desvencilhou da sua acompanhante, uma socialite cuja beleza era tão óbvia quanto sua superficialidade, filha de um de seus parceiros de negócios, conhecida por circular nos eventos da cidade com a mesma desenvoltura com que trocava de roupa. Maximilian moveu-se com uma desenvoltura calculada, como um predador que finalmente avistou sua presa em meio à vegetação. Chegou ao lado de Sophie e, com um charme estudado que parecia ter sido aprimorado ao longo de inúmeras conquistas, sussurrou em seu ouvido, a voz grave e aveludada cortando o barulho ambiente como uma nota dissonante em uma melodia suave: "Nunca esqueci desses lindos olhos, que bom que nos reencontramos." E então se apresentou formalmente, como se fosse possível alguém não reconhecê-lo em algum lugar daquela cidade, um nome estampado em manchetes de jornais e revistas de negócios.

Sophie sentiu o perfume amadeirado com sutis tons cítricos antes mesmo de ouvir sua voz, uma fragrância que sua memória olfativa nunca mais iria esquecer. Sua pele se arrepiou em resposta à proximidade inesperada, uma reação física que a traiu e que não passou despercebida por ele. O sorriso convencido que se abriu em seus lábios a denunciava: ele sabia o efeito que causava.

Sophie se virou lentamente, forçando um sorriso profissional que mal mascarava a turbulência interna. Encarou aqueles olhos azuis penetrantes, os mesmos que não haviam saído de seus pensamentos por dias após aquele encontro distante e que, naquela mesma noite, haviam sido reproduzidos em um quadro visceral e carregado de emoção, um segredo bem guardado que, graças a Deus, não fazia parte da exibição. Respirou fundo, buscando a compostura que que o evento exigia. Recompôs-se e, com uma firmeza surpreendente, devolveu o sorriso de volta. O jogo de conquista entre os dois havia começado.

                         

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