Capítulo 4 Amigo e confidente

A coisa mais triste para uma pessoa desprezada é quando chega o fim de semana. Embora Ana Isabel costumasse acordar tarde aos sábados, naquele dia ela acordou mais cedo do que para ir ao trabalho. Ela não conseguia tirar a cena infeliz da cabeça. Olhou para o celular algumas vezes, talvez Fernando tivesse lhe escrito para implorar que voltasse, para que, mesmo que ela o fizesse sofrer, acabasse concordando e o fizesse prometer que nunca mais faria isso.

"Você acha mesmo isso, Ana? Você é uma tola e não tem dignidade, Fernando a traiu".

Seu ego gritava por dentro para fazê-la entender que não deveria ir atrás dele. Mas era difícil para ela assumir que tudo havia terminado. Sempre acreditar que as coisas chegam ao fim é doloroso. Ela pegou seu livro de autoajuda, leu o ensaio sobre "Como superar seu ex" e escreveu a carta que deveria queimar, embora, ao fazê-lo, quisesse queimar vivos ele e a loira ruiva.

Em seguida, ela se sentou para meditar e acalmar a raiva de reviver aquele momento enquanto o escrevia. Ela fechou os olhos e repetiu o mantra:

-Ommmmm. - Ela respirou fundo, mas se desfez naquele momento.

Ana Isabel queria chorar, apenas isso. Chorar até não ter mais lágrimas dentro de si, chorar até ficar exausta e nunca mais precisar chorar. Mas nada parecia funcionar. Talvez ela tivesse que sair daquela casa, sim, era isso. Só assim ela não pensaria tanto em Fernando. Ela pegou um táxi e foi até sua amiga, Lauren. Ela tocou a campainha de seu apartamento até que finalmente abriu a porta.

A mulher de um metro e oitenta e dois, com feições masculinas, mas com um sexo feminino recém-operado, olhou para ela com surpresa.

-Querida, o que você está fazendo aqui a essa hora? - Ela disse a frase, sílaba por sílaba: - Não me diga que você tem uma doença fatal? – A garota cobriu a boca com a mão para não mostrar seu sorriso.

Ana Isabel correu contra ela e se refugiou em seu peito.

-Oh, não, isso parece mais sério do que eu pensava - ela se soltou, - entre, termine de entrar e, por favor, não olhe para os lados, eu tive um encontro ardente ontem à noite.

Mas cada palavra que Lauren dizia a fazia chorar e chorar mais tristemente. Lauren era inicialmente amiga de Fernando, mas depois que ele foi operado e se tornou Trans, ela se tornou a melhor amiga de Ana Isabel; felizmente, ela conhecia as duas perfeitamente.

-Diga-me o que aconteceu? - Ele perguntou e ela conseguiu lhe contar entre soluços.

-Fer e Minie, eles... - ela começou a chorar novamente.

-Vamos lá, querida. Não fique assim, Fer é um homem gostoso e aquela Minie é uma gata. Ela provavelmente ficou com lágrimas nos olhos.

-Não se justifique, Lau, eu também tenho alguém que me dá nos olhos e mesmo assim não o levo para a cama, e você?

-Você me diz, quem em sã consciência, na minha idade e com esse rosto, pararia para escolher um homem? Os homens não são seletivos, as mulheres são.

-Seus comentários não me ajudam. - Ela limpou o nariz com os dedos e depois limpou as costas da mão para terminar de limpar.

-Ugg! - Ele pegou a toalha e a entregou a ela: - Use isso - ele se sentou ao lado dela: - Ana, às vezes a vida coloca as coisas na frente do nosso nariz para que percebamos a verdade e tomemos decisões. Tanto você quanto o Fer são meus amigos, mas se eu fosse você, eu o esqueceria e começaria do zero. Você é linda, minha querida - ele segurou o queixo dela, - Se eu fosse um homem, eu me apaixonaria por você. Bem, isso é dizer o mínimo, eu já fui e nunca gostei de você - a garota olha para ele confusa.

-Você quer me encorajar ou me destruir?

-Quero que você perceba que merece algo melhor do que o Fer. Ele não tem intenção de deixar o bar onde toca com a banda. Além disso, todas as mulheres, com exceção de mim, procuram os cantores, isso faz parte da vida delas. - Ana balançou a cabeça.

-Eu o amo.

-Eu sei que você o ama, pequeno vegetal. Mas você precisa amar a si mesma. Se o Fer já fez isso com você, ele vai fazer de novo. E sabe por quê? Porque ele não sabe o que quer da vida.

As palavras de Lauren, embora dolorosas, estavam começando a fazer sentido e lógica para Ana.

-Você é linda – ele segurou o rosto dela com as mãos, - Se você quiser, posso ajudá-la a encontrar um par.

-Não estou aqui para que você se apaixone por outra pessoa.

-Quem disse algo sobre você se apaixonar? Eu disse alguém para ajudar você monetariamente.

Essa palavra fez um clique em seu cérebro: "dívidas, contas a pagar".

-Pois é, tenho que pagar as despesas do casamento que não vou ter.

-Você entende o que estou dizendo. Você precisa de um milionário para tirá-la da pobreza e se casar com você. - Tenho uma amiga que lê cartas, ela lhe dirá com certeza que o Fer não é o homem da sua vida e, então, você começará a me ouvir e a procurar a "liberdade financeira", como diria John Maxwell, embora eu prefira a "liberdade sexual" de Megan Maxwell.

-Não sei, Lau. Não sei o que fazer.

-Diga não, minha querida. Veja qual homem foi feito para você. Deixe-me tomar um banho, estarei aqui em minutos.

Ana Isabel se deixou cair no encosto do sofá, isso era loucura, mas ficar sentada e não fazer nada, isso era pior ainda.