Antes que o Céu Caia
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Antes que o Céu Caia

Maryy702
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Capítulo 1 Silêncio Antes da Tempestade 1

Corra, corra, corra! Mais rápido! Mais, mais, mais!

Vire à direita, depois à esquerda. Não olhe para trás. Não olhe! Meu peito queima, o ar se recusa a entrar. Preciso de oxigênio. Sinto meu coração na garganta, sufocando onde a respiração deveria fluir. O suor escorre da minha testa, arde nos olhos.

Essas árvores são enormes... Onde estou? Não sei se ele ainda está atrás de mim.

Os galhos secos se quebram sob meus pés, os espinhos rasgam minha pele. A floresta se fecha ao meu redor, ficando mais escura a cada passo. Meus músculos gritam de exaustão, mas minha mente não me deixa parar.

Vejo um tronco caído à minha frente. Forço meu corpo além do limite e salto. O impacto dispara uma onda de dor pelo meu joelho ferido, quase me derrubando.

Mas não posso parar. Não agora.

O pânico toma conta. Não consigo parar de correr.

As pontas das árvores estão secas pelo verão, não há folhagem densa onde eu possa me esconder. Encontre um lugar! Meu instinto de sobrevivência grita no meu peito. Corro mais, mais rápido.

Meus pés ardem com o contato direto nas pedras e galhos secos. Não quero olhar para trás. Não vou olhar. Apenas continue.

Nunca agradeci tanto por pesar quarenta quilos e ter menos de um metro e meio de altura. Meus passos são leves, rápidos. A adrenalina dispara pelo meu corpo, bombeando em cada músculo.

Mas até quando vou conseguir fugir?

Me atrevo a olhar para trás.

Meu coração parece parar por um segundo. Ele está com uma arma.

O brilho metálico reluz na escuridão entre os galhos secos. Um arrepio gelado percorre minha espinha. Meus pulmões imploram por ar, minhas pernas já não respondem direito, mas não posso parar.

Corra. Corra. Corra!

O som dos galhos quebrando atrás de mim me faz tropeçar no próprio medo. Meu joelho cede, meu corpo vacila, mas me forço a continuar. Se eu cair, acabou.

Preciso encontrar um esconderijo. Preciso sobreviver.

Uma onça.

Ela está bem à minha frente, imóvel, os olhos brilhando na escuridão. Meu corpo trava por um instante, mas meu medo não é dela. Meu maior medo é do homem atrás de mim.

Ele tem uma arma. Ele pode me levar de volta.

Minha respiração falha, meu peito sobe e desce num desespero sem controle. Meu instinto me diz para recuar, para fugir da onça. Mas recuar significaria voltar. E eu não volto. Nunca mais.

Com o coração martelando nas costelas, corro em direção à onça. Prefiro o risco das garras dela a sentir de novo as correntes daquele cativeiro.

Se for para morrer hoje, que seja como alguém que escolheu lutar.

A onça me encara. Seus olhos brilham como duas brasas vivas, e seus músculos estão tensos, prontos para atacar. Meu coração martela contra o peito, mas eu não paro. Não posso parar.

O homem atrás de mim também hesita. Ele me viu correr em direção ao predador e, por um segundo, não sabe o que fazer.

Então, um disparo ecoa na floresta.

O estrondo rasga o silêncio da noite, e eu instintivamente me encolho. Mas a bala não me atinge. A onça ruge.

Não fujo. Não consigo. Estou congelada entre o medo e o alívio. O tiro não foi para mim. Foi para ela.

Mas ele errou.

A onça avança - não contra mim, mas contra ele.

Os arbustos se agitam, galhos quebram, e o rugido da fera preenche a escuridão. Não penso duas vezes. Aproveito a chance e corro.

Sinto algo correr em minhas veias que preenche meu corpo me dando foças para continuar

Ouço outro disparo.

Um grito rasga a noite.

Olho para trás, ofegante, com o coração acelerado, e vejo a onça caída no chão. O sangue dela se mistura com a terra escura. Meu estômago se revira.

Mas então, vejo ele.

O homem cambaleia, pressionando o braço. Ele foi atingido. Talvez pela própria arma, talvez pela fera. Não sei. Mas uma voz dentro da minha cabeça grita: Pare de fugir.

Se eu continuar correndo, ele pode me alcançar. Ele ainda tem uma arma. Mas se eu enfrentá-lo agora... talvez tenha uma chance.

Minhas pernas queimam, meu corpo treme, mas me viro para encará-lo.

Ele está mais lento. Mais vulnerável.

Pela primeira vez, sou eu quem dá um passo em sua direção.

Algo arde, queimando nas pontas dos meus dedos.

Eu sinto, como se a eletricidade estivesse se acumulando em cada parte do meu corpo. Vejo um raio rasgar o céu escuro. O som é ensurdecedor, ressoando pela floresta com uma violência que me arranca um grito abafado.

Foi perto. Muito perto. Mas, como isso é possível? Não havia nuvem de tempestade no horizonte.

                         

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