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Eu me lembro de algo que ele disse, enquanto ouvia a previsão do tempo, uma voz baixa e tensa, que eu quase não ouvi. Agora, o som do trovão preenche a floresta novamente, mais próximo.
Outro raio. E mais outro. O céu parece desabar.
Ele me encara com intensidade, e por um momento, nossos olhares se encontram. Algo flui entre nós, leve e fluido, como se a própria terra tremesse sob nossos pés.
Eu sinto as raízes da floresta, como se estivessem se espalhando debaixo da minha pele, tocando a terra, algo ancestral e primordial. Mais um raio cai, e então, outro. O ar está carregado, mas algo dentro de mim diz que esse momento, essa tempestade, pode ser a chave para tudo.
Ele corre em minha direção, seus passos rápidos e desesperados, mas algo muda em mim. Sinto algo fluindo à minha frente. Não é só o medo. Não é só a adrenalina.
Forço a queimação nas pontas dos dedos a se expandir. Eu não vou mais fugir. Sinto a eletricidade tomar conta de mim, como se as forças da terra e do céu se unissem em minha pele.
Eu volto a correr, mais rápido, mais forte. Cada passo é mais decidido, mais carregado de raiva. Um raio cai próximo ao homem, o estrondo é tão forte que quase me faz perder o equilíbrio, mas eu não paro. Eu corro, eu libero.
Os laços do meu corpo estão queimando, mas não são só os meus músculos que ardem. Eu aperto as mãos, fechando os punhos com força, sentindo uma onda de poder crescendo dentro de mim.
E a voz, aquela voz... Ela retorna.
"Libere sua ira, libere tudo. Desabe com todas suas emoções, coloque-as para fora. Foram três dias presa. Se liberte agora, minha pequena sombra."
Eu não questiono. Apenas sigo. Paro.
Aperto os punhos ainda mais fortes. Quatro raios caem aos quatro lados do homem. Eles se abatem com uma fúria inesperada, como se o próprio céu tivesse decidido puni-lo.
Ele cai. Ao chão.
A cada passo que dou, ele tenta se arrastar para trás, suas palavras já não são mais ameaças, mas súplicas. "Pare! Por favor!" Ele grita, mas sua voz tremida não me alcança.
Eu continuo, cada vez mais próxima, sentindo a fúria tomar conta de mim. Ele olha para o chão, a arma já não está mais em suas mãos. Está a uns três metros de distância, provavelmente jogada pela força dos raios. O poder que eu controlei até agora parece estar se alimentando da tempestade, como se o próprio céu fosse cúmplice.
Eu não paro. Não agora.
Sinto uma onda de eletricidade se formar debaixo dele, como se a própria terra estivesse respondendo ao meu comando. Forço o poder a me obedecer, e uma onda de choque explode ao redor dele.
Ele treme, tenta se levantar, mas seus músculos parecem não responder. Sinto que o jogo virou.
Eu avanço mais, e outra onda de choque irrompe, mais forte, mais concentrada, e ele cai de novo, tentando proteger o rosto.
"Quantas garotas você abusou?" A pergunta sai da minha boca com um veneno que eu nem sabia que possuía. "Quantas você vendeu? Quantas vidas destruiu? Quantas pessoas vieram aqui para serem torturadas?"
Eu paro na sua frente, seus olhos fixos nos meus, e o silêncio entre nós é tão denso que pode ser cortado com a lâmina da verdade. O poder ainda pulsa em mim, e a raiva não se apaga. Parece que o jogo virou. Eu sou mais forte agora.
Ele tenta engolir a dor, a respiração rápida e desesperada, mas a voz que sai dele é fraca, quase inaudível.
"Você não entende..." Ele começa, a voz tremendo, "Eu... eu não tinha escolha." Ele engole em seco, a mão ainda tentando alcançar a arma distante, mas seus dedos não conseguem se mover.
"Quantas?" Eu insisto, a raiva se acumulando em cada palavra, cada passo que dou mais perto dele. "Quantas garotas você destruiu? Quantas vidas você roubou?"
Ele respira fundo, como se tentando se manter firme diante da tempestade, e então sua resposta sai, mas é cheia de medo, arrependimento e uma verdade que ele não pode mais esconder.
"Eu... eu nunca quis fazer isso. Mas... eles... eles me forçaram. Eu não tinha escolha, você não entende!" Ele olha para mim com os olhos desesperados, "Foram... foram muitas... eu não sei, não sei mais. E aquelas pessoas... eu... não sei como parar... eu só queria sobreviver."
Sua voz se quebra, e ele parece ceder à pressão do momento.
"Eu vendi... eu vendi porque era o único jeito de conseguir o que me pediram. Eu não sou um monstro... eu só... só queria viver." Ele se agarra ao chão, as lágrimas se misturando com a sujeira em seu rosto. "Mas as garotas... as meninas... eu não sou mais eu. Eu nunca quis que isso acontecesse, mas eu não sabia mais como sair disso."
Ele desaba, completamente derrotado. O poder ainda corre pelas minhas veias, mas algo nele me faz parar. Eu não sei se é a raiva ou a dor que ele sente agora, mas o que quer que seja, a tempestade dentro de mim parece se acalmar, um pouco.
O que ele diz soa como uma tentativa desesperada de justificar o injustificável. Mas algo em suas palavras não se encaixa.
Ele está mentindo.
Eu me recordo das noites em que estive presa, quando só estava ele e o silêncio da noite. Mas o silêncio não era total. Eu ainda ouvia os gritos das outras garotas, os pedidos de ajuda que ecoavam nas paredes do cativeiro. Não apenas os meus gritos, mas os delas também, as que estavam ali antes de mim.
Eu não souburava então, mas sei agora.
Eu não posso deixar que ele escape com isso. Ele sabe o que fez. E não importa o quanto ele tente se justificar, não importa o quanto ele se humilhe na minha frente. Ele não vai escapar.
Minha raiva explode de novo. Uma onda de choque é liberada, mais forte, mais violenta do que antes, e o impacto a faz cair de joelhos no chão. Ele grita, a dor percorre cada parte do corpo dele, mas eu não paro. Ele tem que pagar. Eu sei a verdade.
"Mentiroso!" Eu grito, a voz tremendo de fúria. Cada palavra se transforma em mais uma onda de choque que estremece o chão. "Você sabia o que estava fazendo. Eu ouvi as outras! Eu ouvi as outras garotas pedindo ajuda! Você não me engana!"
Eu aperto ainda mais os punhos, as ondas de choque seguem em direção a ele, como se cada grito de dor fosse uma consequência do que ele fez. Não mais mentiras.
A dor parece emanar de seu corpo, mas ele ainda tenta se manter erguido, seu rosto distorcido pelo medo e pela agonia. Mas as palavras que ele solta agora são um grito desesperado de um homem que finalmente não tem mais como esconder quem ele realmente é.
"Você não entende... eu não escolhi isso!" Ele grita, mas o desespero em sua voz não é mais sobre arrependimento. É algo mais profundo, mais sujo. "Eu... eu gostava de ver elas... elas não podiam sair. Eu era o único que tinha o controle, você entende? Eu era o dono delas!"
Ele respira pesadamente, o suor escorrendo pela testa, mas o que ele diz a seguir é o que realmente quebra qualquer máscara de inocência que ainda tentava se manter.
"Eu as via se contorcendo, tentando escapar... e eu adorava, adorava ver elas implorando, ver a dor nos olhos delas! Era poder... era o único poder que eu tinha. Cada uma delas me dava algo... algo que eu não podia encontrar em mais ninguém."
Ele sorri, mas é um sorriso distorcido, macabro. "Eu gostava do medo. O medo era a única coisa real."
Eu sinto a onda de choque formigando nas minhas mãos, querendo liberar todo o poder dentro de mim. Isso não é arrependimento. Isso é o verdadeiro rosto de quem ele é. Ele não tem mais como esconder. O homem que estava atrás das máscaras de desculpas agora se revela, e a verdade é mais terrível do que eu poderia imaginar.
Ele começa a tremer, não mais de dor física, mas de algo ainda mais visceral. Medo. E é esse medo que me faz apertar mais os punhos, a tempestade dentro de mim tornando-se mais forte.
"Eu podia fazer o que quisesse. Elas eram minhas! Elas... todas elas..." Ele balança a cabeça, tentando se afastar, mas as ondas de choque continuam a atingi-lo, e ele desaba de novo no chão. "Mas eu nunca... nunca imaginei que você fosse escapar. Nunca imaginei que você fosse tão forte."
Eu paro, por um momento, observando-o. Não há mais misericórdia em mim. A única coisa que sinto agora é a necessidade de fazer justiça. Não mais para mim, mas para todas as outras. Para todas as vidas que ele destruiu.
A tensão no ar é palpável, a eletricidade em volta de nós intensifica a sensação de poder que eu agora controlo. Eu o vejo ali, tremendo, cada palavra que escapa da minha boca cortando como lâminas afiadas. O jogo virou completamente, e agora é minha vez de ser a caçadora.
E enquanto ele desabava no chão, uma certeza se formava dentro de mim: ele não era o fim - era apenas a primeira peça do quebra-cabeça.
E eu estava prestes a desmontá-lo inteiro.