A Casa dos Silêncios
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A Casa dos Silêncios

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Capítulo 1 1

O vento soprava com força pelas colinas quando Eleanor estacionou o carro diante do portão enferrujado. A longa viagem desde Londres parecia ter durado uma vida, e agora que estava ali, diante da casa, sentia o peso de todos os quilômetros percorridos se acumulando nos ombros. A propriedade se erguia à sua frente como uma lembrança esquecida - envelhecida, silente, imponente.

Ela desligou o motor e permaneceu dentro do carro por alguns segundos, observando a estrutura da casa com um misto de reverência e temor. O tempo não fora gentil com ela. As molduras brancas das janelas estavam lascadas, a madeira da varanda começava a apodrecer nos cantos e o jardim - outrora florido e vibrante - agora era uma colcha de ervas daninhas, galhos secos e folhas mortas. Mesmo assim, havia algo ali... algo que a chamava de volta. Um laço invisível, quase ancestral, que se esticava desde sua infância até aquele exato momento.

Respirou fundo. Sentiu o ar frio de Yorkshire entrar pelos pulmões como um soco. Havia esquecido aquele cheiro - de terra molhada, de vento úmido, de coisas antigas. E, sutilmente, quase como um sussurro no ar, o perfume de lavanda que sempre esteve ligado à memória da tia Vivienne.

Desceu do carro com um arrepio. O casaco de lã não era suficiente para conter o frio que parecia vir de dentro dela. Carregava uma mala pequena e uma bolsa de couro com o essencial. O resto da bagagem viria depois - se é que ficaria tempo suficiente para precisar de mais.

O portão rangeu ao ser empurrado, e o som cortou o silêncio do vilarejo como uma lâmina. Ela caminhou pelo jardim com passos hesitantes, desviando de raízes salientes e galhos partidos. Parou diante da porta da frente e retirou do bolso o molho de chaves entregue pelo advogado, junto com o envelope pardo contendo os documentos da herança da casa de verão - e uma carta da tia, com orientações sobre a casa.

A chave girou na fechadura com resistência, como se a casa resistisse à entrada. Mas, por fim, cedeu. Quando a porta se abriu, um cheiro denso escapou: madeira antiga, poeira... e lavanda. Eleanor ficou parada na soleira, como se atravessar aquela porta fosse cruzar um limiar. Sabia que a casa estava vazia, mas sentia - com uma certeza que não sabia explicar - que não estava sozinha.

Entrou.

O interior estava mergulhado em sombras. As cortinas pesadas filtravam a pouca luz do fim da tarde, criando formas distorcidas nas paredes. O ar era frio e parado. A eletricidade, como esperado, não funcionava. A casa estava intacta, mas congelada no tempo - como se tivesse prendido a última respiração da tia Vivienne e nunca mais a soltado.

Na sala de estar, tudo permanecia como lembrava. A poltrona com o bordado desbotado diante da lareira, os livros antigos organizados com esmero nas estantes, o relógio de pêndulo marcando três e quinze. Um horário imóvel, suspenso, como se o tempo ali dentro obedecesse a outras leis.

Sentou-se com cuidado no sofá. O estofado rangeu sob seu peso. Ela passou as mãos nos joelhos, olhando ao redor com olhos marejados. O silêncio era profundo, mas não absoluto. A casa falava. Nos estalos da madeira, no murmúrio do vento pelas janelas mal vedadas, no ranger leve da escada ao fundo. A casa estava viva - e esperando.

- Estou aqui - disse baixinho, como quem responde a um chamado.

Lá fora, o céu começava a escurecer. A primeira garoa descia em véus finos sobre o campo, cobrindo tudo com um manto melancólico.

E, à distância, sob a sombra das árvores retorcidas, um homem observava a casa. Permaneceu parado por alguns segundos, os olhos fixos na janela do segundo andar. Então, sem fazer ruído, virou-se e desapareceu colina abaixo.

            
            

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