O Arrependimento de Um Marido Cego
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Capítulo 2

O Pedro voltou três horas depois, cheirando a perfume de mulher e a fumo de cigarro.

Ele sentou-se na cadeira ao lado da minha cama, o seu rosto cansado.

"Encontrámos o Flocos. Ele estava preso debaixo de um carro. A Sofia estava uma confusão, eu tive de a acalmar."

Ele pegou na minha mão. Estava fria.

"Lúcia, como te estás a sentir? Ainda dói?"

Eu olhei para ele.

"Pedro, vamos divorciar-nos."

A minha voz estava calma, sem qualquer emoção.

Ele congelou. O cansaço no seu rosto foi substituído por choque e descrença.

"O quê? Lúcia, do que estás a falar? Nós acabámos de perder o nosso filho. Porque é que estás a dizer isto agora?"

"Porque eu não aguento mais, Pedro."

Eu retirei a minha mão da dele.

"O teu filho acabou de morrer, e tu foste consolar a tua ex-namorada por causa do gato dela. O que é que isso me diz?"

A sua expressão mudou de choque para raiva.

"Isso é diferente! A Sofia estava desesperada! Tu tinhas os médicos e as enfermeiras aqui. Ela não tinha ninguém!"

"Eu sou a tua esposa, Pedro. Eu estava a carregar o teu filho. Ou pelo menos, o filho que tu pensavas que era teu."

As minhas palavras atingiram-no. Ele ficou em silêncio, a sua mandíbula cerrada.

"Não podes usar isso contra mim, Lúcia. Eu aceitei-o. Eu disse que o amaria como se fosse meu."

"Mas não o fizeste, pois não?"

Eu ri, um som oco e amargo.

"Tu usaste-o como uma desculpa para seres um mártir. Para mostrares a toda a gente que grande homem tu és, perdoando a tua esposa infiel. Mas no momento em que a tua preciosa Sofia precisou de ti, tu largaste tudo. Deixaste a tua esposa, que acabara de dar à luz um nado-morto, para ires à caça de um gato."

"Isso não é verdade!" ele gritou, a sua voz a ecoar no quarto silencioso.

"A Sofia é apenas uma amiga! Eu sinto pena dela!"

"Pena? Tu amas-a."

A verdade pairou no ar entre nós, feia e inegável.

Ele não a negou. Ele não conseguia.

Eu peguei no verdadeiro relatório de ADN da gaveta da minha mesinha de cabeceira e atirei-lho.

Ele caiu no seu colo. Ele olhou para ele, confuso.

"O que é isto?"

"A verdade, Pedro. Abre-o."

Ele abriu o envelope com mãos trémulas. Os seus olhos percorreram o papel. Eu vi o momento em que ele compreendeu.

A cor desapareceu do seu rosto. Ele olhou para o papel, e depois para mim, a sua boca aberta em choque silencioso.

"O bebé... era meu?" a sua voz era um sussurro rouco.

"Sim. Ele sempre foi teu."

Ele olhou para mim, a dor e a confusão a rodopiarem nos seus olhos. "Mas... porquê? Porque é que mentiste, Lúcia?"

"Porque eu queria ver, Pedro. Eu queria ver o que tu escolherias. A tua esposa e o teu filho, ou a tua ex-namorada e o seu gato. E tu fizeste a tua escolha."

Levantei-me lentamente da cama, cada movimento um esforço.

"Eu quero o divórcio. E desta vez, é a sério."

            
            

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