A Mulher Que Ninguém Quebrou
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Capítulo 1

O meu nome é Sofia e tenho vinte e oito anos.

Há seis anos, casei com o meu namorado da faculdade, Miguel.

Há três anos, a minha mãe, Laura, casou com o pai do Miguel, tornando-se minha sogra e madrasta.

Hoje, estou a divorciar-me do Miguel.

Olhei para o acordo de divórcio à minha frente, a minha assinatura já estava lá, seca.

Miguel sentou-se à minha frente, o seu rosto bonito contorcido pela raiva.

"Sofia, tens a certeza que queres fazer isto? Só por causa de um pequeno mal-entendido?"

"Um pequeno mal-entendido?", repeti, a minha voz soava estranhamente calma. "Miguel, a minha avó morreu. Ela estava no hospital, a precisar de nós, e tu escolheste ir a uma festa de aniversário."

"Eu já te expliquei! A festa da Camila era importante para a carreira do meu pai! Eu não podia simplesmente não ir. Além disso, quando soube da tua avó, não corri logo para o hospital?"

Ele correu para o hospital, sim.

Depois da minha avó já ter falecido.

Depois de eu lhe ter ligado dezassete vezes sem resposta.

A décima oitava chamada foi atendida pela Camila, a sua "irmã" sem laços de sangue, a filha do sócio do meu sogro.

A voz dela estava cheia de um gozo mal disfarçado.

"Sofia, o Miguel está ocupado a celebrar o meu aniversário. O que pode ser mais importante que isso?"

Naquele momento, eu estava sozinha no corredor frio do hospital, a segurar a mão ainda quente da minha avó.

O médico tinha acabado de me dizer que ela tinha partido.

"Assina, Miguel", disse eu, empurrando a caneta na sua direção. "Não há mais nada a dizer."

"Não vou assinar!", ele bateu na mesa. "Tu estás a ser irracional! A avó já era velha, estas coisas acontecem! Porque é que estás a culpar-me por isto?"

"Porque eu precisei de ti e tu não estavas lá."

"Eu estava a trabalhar! Pelo nosso futuro!"

"O nosso futuro não incluía a minha avó, pelos vistos."

O telemóvel dele tocou, interrompendo a nossa discussão. Ele olhou para o ecrã e a sua expressão suavizou-se instantaneamente.

"Camila? O que se passa? Estás a chorar?"

Ele levantou-se e afastou-se, a sua voz baixou para um sussurro preocupado.

"Não chores, eu estou a ir. Onde estás? Sim, sim, fica aí, não te mexas."

Ele desligou e agarrou no casaco. Nem sequer olhou para mim.

"A Camila está com problemas. Tenho de ir. Falamos sobre isto mais tarde."

"Não haverá um mais tarde, Miguel. Se saíres por essa porta agora, considera o nosso casamento acabado."

Ele parou, a mão na maçaneta. Por um segundo, pensei ter visto hesitação.

Mas depois ele virou-se, o seu rosto era uma máscara de frustração.

"Para de ser tão dramática, Sofia. A Camila precisa de mim."

E com isso, ele saiu.

Deixou-me sozinha na nossa casa, com um acordo de divórcio assinado por apenas uma pessoa.

A ironia era que ele estava certo. A avó já era velha.

Mas o amor não deveria ter idade. A lealdade também não.

Peguei no telemóvel e liguei ao meu advogado.

"Podemos avançar com o processo unilateralmente."

            
            

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