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Me mantive firme, mas meu maxilar estava tão tenso que doía.
Milla se inclinou para frente, reduzindo ainda mais a distância entre nós.
- Olha o, Rick. - disse, como se fosse uma professora explicando algo óbvio. - Liam é hetero. Ele gosta de mulheres. De peitos. E com bucetas. - ela destacou cada palavra como uma facada. - Então pode parar com essa fantasia ridícula, porque nunca, nunca vai acontecer.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Madson e Emma pareciam ter parado de respirar, esperando minha reação.
Eu poderia ter me levantado. Poderia ter fingido que não me importava. Mas algo naquele tom de voz, na certeza absoluta dela, me fez ficar.
- Tá com medo, Milla? - soltei, antes de pensar.
Ela congelou. Madson e Emma ficaram em silêncio.
- O QUÊ?
- Medo. - repeti, mais firme. - Porque se ele é tão hetero assim, tão seu, por que tá tão preocupada comigo?
Milla ficou vermelha.
- Eu não tô.
- Ou será que você sabe que ele nem liga quando você aparece? - continuei, agora com um sorriso pequeno. - Que nem olha quando você entra no ginásio?
Foi um chute no escuro, mas acertou. O rosto de Milla endureceu.
- Você não sabe nada sobre o que a gente tem. - ela cuspiu, levantando-se.
- Sei o suficiente pra ver que ele não fica tão animado assim quando você aparece. - encolhi os ombros.
Madson e Emma, olharam entre mim e Milla, como se esperassem uma ordem para atacar.
- Vamos, meninas. - falou, virando as costas. - Não vale a pena perder tempo com gente como ele.
Elas me lançaram olhares assassinos antes de segui-la.
O apito do treinador ecoou pelo ginásio, encerrando o treino.
Me encostei no banco, pegando minha garrafa d'água, quando percebi um movimento no canto do meu olho. Liam estava a poucos metros de distância, debatendo com o treinador sobre alguma jogada. Ele gesticulava com as mãos, a camisa já encharcada de suor colada ao torso, delineando cada músculo.
MERDA, ESSE FILHO DA PUTA AINDA ME MATA.
Desviei o olhar rápido, quase derrubando a garrafa.
- Tá difícil, né, bichinha? - uma voz sussurrou perto do meu ouvido.
Virei e me deparei com o idiota do Fred, sentado ao meu lado com um sorriso maroto.
DO NADA, DE ONDE ESSE DESGRAÇADO SURGIU?
- O quê? - fingi ignorância, mas meu pescoço já estava esquentando.
- Você olhando pro Liam. - ele deu uma risadinha, cutucando meu ombro.
- Eu não tô olhando pra ninguém, Fred. - menti, tomando um gole d'água só pra ter algo pra fazer com as mãos.
- Ah, claro. E eu sou o Papa.
FILHO DA, PUTA.
- Vai procurar uma buceta pra chupar, Fred.
Ele soltou uma gargalhada, inclinando-se para frente como se eu tivesse contado a piada mais engraçada do mundo.
- Pelo menos eu posso fazer isso. Diferente de você, que não pode cair de boca "num" certo pau.
JURO QUE VOU ENFIAR ESSA GARRAFA NO MEIO DOS DENTES DESSE ARROMBADO.
Um assobio agudo cortou o ar, chamando nossa atenção. Liam, olhava para nós com expressão entediada.
- Caralho, ou vocês dois transam ou se matam de uma vez, mas decidam logo.
Fred abriu os braços, fingindo ofensa:
- Nem se ele pagasse.
- Ah, mas eu pago muito bem, LINDO. - retruquei, imitando o tom de voz afeminado.
- VAI TOMAR NO CU, BICHINHA.
Fred se levantou, deu dois tapas na minha cabeça.
A partida terminou com o time do Liam ganhando por dois pontos. O treinador chamou o todos para o encerramento. Enquanto o time se reuniam em círculo, me posicionei bem atrás, longe do alcance visual de Liam. No final o treinador disse que, se ele e o Tyler não soubessem trabalhar juntos, nenhum dos dois jogaria no campeonato.
Liam e Tyler se olharam por um segundo. Achei que ia rolar outra treta.
Mas então, para a surpresa de todos, Liam respirou fundo, cerrou o maxilar e estendeu a mão.
Tyler arqueou uma sobrancelha, claramente desconfiado. Seus olhos analisaram a mão dele, e depois de alguns segundos de hesitação, ele cedeu. Foi um aperto firme, meio forçado, mas era um começo.
O treinador, que observava tudo com os braços cruzados, se aproximou com passos lentos e firmes. Parou entre os dois e deu dois tapinhas leves no ombro de cada um, como se dissesse: "Bom, é isso aí."
- Tá bom por hoje. Podem ir - anunciou, virando-se para o restante do time.
O barulho dos tênis no chão ecoou enquanto alguns se dirigiam ao vestiário. Mas antes que a galera saísse de vez, a voz do treinador cortou o burburinho:
- Rick! - o treinador chamou, fazendo todos virarem para mim. - Você tá responsável por recolher as bolas e fechar o ginásio hoje.
Alguns jogadores comemoraram por não terem sido escolhidos. Eu apenas acenei com a cabeça.
Quando o time começou a se dispersar, me concentrei em catar as bolas espalhadas pela quadra. O som dos passos e das conversas foi diminuindo até que só restou o eco dos meus tênis no piso de madeira.
Até que...
- Precisa de ajuda, viadinho?
A voz veio de trás de mim, profunda e descontraída. Me virei tão rápido que quase tropecei.
Liam estava lá, com uma bola debaixo do braço e aquele sorriso estampado no rosto. Aquele maldito sorriso... torto, preguiçoso, com um charme que parecia feito sob medida pra me desestabilizar.
- Eu- uh- não preciso. - minha voz saiu como um grunhido.
Ele arqueou uma sobrancelha, jogando a bola na minha direção. Peguei no ar, tentando parecer descolado e falhando miseravelmente.
- Tá nervoso, viadinho? - perguntou.
- O QUÊ. NÃO.
Ele riu, baixo.
- Eu te deixo nervoso?
OH, MEU DEUS. SIM, MUITO.
- N- Não. - comecei, mas as palavras morreram na minha garganta quando percebi seus olhos passeando entre os meus e a minha boca.
- Bom saber, viadinho. - disse, enquanto vinha até mim.
Parou na minha frente, pegou a bola novamente, jogou-a no chão e começou a driblar, indo em direção à cesta. A camisa subia conforme ele se movia, revelando partes do abdômen, não conseguia desviar o olhar. Em um movimento fluido, ele levantou no ar, o corpo estendido, e enterrou a bola com força.