Antes que eu pudesse processar a dor, Caio se arrastou, não para me ajudar, mas para chegar até Helena. Ele me empurrou para o lado.
- Saia da frente! - ele gritou.
O empurrão me fez cair no chão. Meu cotovelo bateu no mármore duro com um estalo doentio. Olhei para baixo e vi sangue escorrendo pela manga do meu vestido vermelho novo.
Caio me ignorou completamente. Ele correu para o lado de Helena, seu rosto pálido de preocupação.
- Tia Helena, você está bem? Você se machucou?
Augusto já estava cuidando dela, verificando gentilmente se havia alguma queimadura.
- Helena, meu amor, você está bem? - ele murmurou, sua voz carregada de preocupação.
Os três formavam um pequeno círculo de ansiedade, completamente alheios a mim, caída no chão, com o braço queimando e o cotovelo sangrando.
Eu era a única que estava ferida. Mas eu era invisível.
Caio finalmente virou a cabeça, seus olhos ardendo de fúria.
- A culpa é toda sua! - ele gritou para mim. - Você é um azar! Tudo de ruim acontece quando você está por perto!
Augusto me lançou um olhar de puro desprezo, como se eu tivesse orquestrado o incidente inteiro apenas para arruinar o jantar deles.
Ele ajudou Helena a se levantar, seu braço firmemente em volta da cintura dela.
- Vamos levá-la ao hospital, por precaução - ele disse suavemente para ela. Então, ele e Caio a escoltaram para fora do restaurante, deixando-me no chão frio e duro.
Ao saírem, Caio se virou uma última vez.
- Eu queria que você desaparecesse para sempre! - ele gritou.
Os outros clientes olhavam, alguns com pena, outros com curiosidade mórbida. Levantei-me, meu corpo dormente. Senti a queimadura na minha pele, a dor latejante no meu cotovelo, mas a ferida mais profunda era a que eu não podia ver.
Peguei um táxi para o hospital sozinha.
O médico na emergência estava sério. A queimadura era de segundo grau e meu cotovelo estava fraturado.
- A queimadura já está mostrando sinais de infecção - ele disse. - Precisamos interná-la.
Preenchi a papelada sozinha, minha mão tremendo. Fui admitida em um quarto padrão, o cheiro de antisséptico enchendo meus pulmões.
Nos três dias seguintes, ninguém ligou. Ninguém visitou. Era como se eu tivesse deixado de existir.
As enfermeiras do andar cochichavam ao passar pelo meu quarto. Falavam sobre o charmoso Senador Sampaio e seu filho adorável, que passavam cada momento acordados na suíte VIP, mimando a bela lobista que havia sofrido um "choque terrível".
Uma noite, passei pelo andar VIP. A porta do quarto dela estava entreaberta. Eu os vi. Augusto estava aplicando pomada gentilmente em uma pequena mancha vermelha no braço de Helena. Caio segurava um copo de água para ela, sua expressão de pura adoração.
Helena suspirou dramaticamente.
- Augusto, sinto muito pela Carolina. Espero que ela esteja bem. Você acha que ela ainda está falando sério sobre o divórcio?
Augusto nem levantou o olhar de sua tarefa.
- Ela só está fazendo birra. Ela vai superar. Ela sempre supera.
Caio deu uma risadinha.
- É. Ela não consegue sobreviver sem a gente. Ela vai voltar e pedir desculpas logo.
Helena soltou outro suspiro suave.
- Você deveria ser mais legal com ela. Só para manter a paz.
- Ela vai voltar - disse Augusto com certeza absoluta. - Ela não tem para onde ir.
Fiquei congelada no corredor, suas palavras ecoando em meus ouvidos. Meus anos de concessões, de engolir minha dor, de colocar as necessidades deles antes das minhas - eles viam tudo como uma fraqueza, uma ferramenta para me controlar.
Meus dedos se fecharam em um punho, minhas unhas cravando na palma da minha mão.
Aquele foi o momento em que algo dentro de mim realmente morreu. A parte de mim que se agarrava a um pingo de esperança, a parte que ainda amava o homem com quem me casei e o menino que criei. Tinha acabado.
Eles estavam certos em uma coisa. Eu não sobreviveria sem eles.
Eu iria prosperar.