Ava ouviu cada palavra. Desconcertada, Olivia lançou um olhar rápido em sua direção.
Ethan pareceu não notar, perdido em sua própria narrativa.
A crueldade casual em suas palavras, ditas como se Ava não estivesse ali, a atingiu como um golpe.
Ava sentiu uma dor aguda no peito, um aperto que lhe roubava o ar.
Era aquilo. A prova final, inegável.
Ela não significava nada para ele. Apenas uma substituta. Uma semelhança conveniente.
Levantou-se em silêncio, murmurou que precisava de ar e retirou-se discretamente do terraço.
Encontrou um lavabo deserto, onde o frio dos azulejos foi um choque bem-vindo contra sua pele febril.
Olhou para o próprio reflexo: uma mulher pálida, abatida, que mal reconhecia.
A mulher que Ethan Cole tentara apagar.
Mas ela não seria apagada.
Do lado de fora, escondida nas sombras de um grande vaso de samambaia, Ava apoiou-se na parede fria. Da varanda acima, ouviu as vozes de Ethan e Olivia.
A voz de Ethan estava mais baixa agora, mais intensa, pesada de emoção e álcool.
Eu precisava fazer isso, Liv. Casar com a Ava... foi o único jeito. Ela é tão parecida com você, principalmente quando era mais nova. E é sua prima. Isso me manteve por perto, na sua vida.
O sangue de Ava gelou. Ele estava confessando. De forma clara, aberta.
Eu esperava... esperava que, ao vê-la, ao estar com ela, você percebesse o que nós tivemos, o que ainda poderíamos ter.
Suas palavras teciam uma tapeçaria grotesca de obsessão e manipulação.
Olivia soava chocada, a voz um sussurro tenso. "Ethan, isso é... monstruoso. Ava é uma pessoa, não uma peça no seu jogo."
Ela me adora, continuou Ethan, a voz carregada de uma arrogância arrepiante. "Ela nunca me deixaria. Está esperando um filho meu, Olivia. Um filho que eu esperava que se parecesse com você, com a gente."
Ele chegou a mencionar um nome que haviam discutido para o bebê, um nome que agora distorcia como mais um elo com Olivia. "Imagine, a pequena Elena... um lembrete constante."
Elena era o nome do meio de Olivia.
Ava levou a mão à boca para abafar um soluço. Nojo, horror e uma tristeza profunda e avassaladora a tomaram por completo.
O mundo girou. As pernas de Ava cederam. Ela desabou no chão, a mão indo instintivamente para o abdômen ainda liso.
A criança. O filho dela. Concebido numa mentira, desejado como um substituto.
Uma onda de náusea a atingiu.
Ele nunca a amou. Nem por um único momento.
Tudo não passara de uma encenação, uma farsa calculada.
Uma promessa silenciosa formou-se nos escombros de seu coração.
Ela não seria seu peão. Não deixaria que ele a usasse, nem a memória do filho deles. Nunca mais.
Ela seria livre. Precisava ser.
A voz de Ethan, cheia de uma confiança embriagada, desceu novamente.
A Ava vai ficar bem. Ela é forte. E me ama demais para questionar qualquer coisa. Ela vai ter o bebê, vamos ser uma família, e você e eu... podemos nos acertar.
A arrogância dele era espantosa. Ele realmente acreditava que a controlava, que a possuía.
Ava fechou os olhos. A arrogância dele seria sua rota de fuga.
Ele jamais a veria chegando.
Ele a julgava fraca, maleável. Estava prestes a descobrir o tamanho do seu erro.
Sua dor, agora, era uma arma fria e afiada.
Na manhã seguinte, de volta ao apartamento em Nova York, Ava movia-se com uma energia silenciosa e focada.
Ethan sofria de ressaca, alheio à tempestade que rugia dentro dela.
Fez ligações. Pesquisou. Reservou um voo só de ida para São Francisco, com um carro particular para o Napa Valley.
Um lugar que sempre sonhara em visitar, que representava um novo crescimento, uma nova vida.
Sua nova vida.
Ela começou a se apagar, sistematicamente, do mundo de Ethan Cole.
Alguns dias depois, Olivia ligou para Ava.
Ava, podemos conversar? Só nós duas. Talvez... talvez no túmulo do seu pai? Eu gostaria de prestar minhas homenagens como se deve.
A voz de Olivia soava hesitante, tingida por uma emoção que Ava não conseguia decifrar. Culpa? Pena?
Ava sentiu um lampejo de cansaço. Queria dizer não, cortar todos os laços.
Mas uma pequena parte dela, a que ainda via Olivia como família, sentiu uma obrigação relutante.
Tudo bem, Olivia. Amanhã à tarde?
Ava estava prestes a sair para o cemitério quando Ethan entrou no apartamento.
Onde você vai?, ele perguntou, o tom casual, mas o olhar aguçado.
Encontrar Olivia. No túmulo do papai.
Ele franziu a testa. "Olivia? Por que não me avisou?"
Sua possessividade, sua necessidade de controlar cada interação, era sufocante.
Ela me ligou, disse Ava, a voz cuidadosamente neutra.
Eu vou com você, ele declarou, já pegando as chaves do carro.
Ava não discutiu. A presença dele já não importava. Seu plano estava em andamento.
Ele era um fantasma em seu futuro, um futuro que ele nem sequer conseguia imaginar.