Eu conhecia bem Aiden. Seu ego inflado e a necessidade doentia de controle jamais permitiriam que simplesmente me deixasse ir.
Para ele, eu só poderia desaparecer da sua vida se fosse por decisão dele e do jeito dele. Assinar uma papelada que eu havia preparado significaria aceitar a derrota.
Os olhos de Haven se arregalaram por um instante, e seu sorriso se abriu ainda mais.
Ela pegou os documentos e respondeu com uma condescendência cortante: "Não se preocupe, sei como conseguir o que quero dele."
Então ela se inclinou para a frente, baixando a voz até transformá-la em um sussurro carregado de segredos. "Estamos juntos há muito mais tempo do que você imagina. Desde antes mesmo de vocês se casarem. Foi comigo que ele contou nos momentos mais sombrios."
Ela descrevia a si mesma como uma espécie de salvadora, a única capaz de compreender os demônios de Aiden, contando sobre uma noite de sete anos atrás, quando ele se afundava em uma espiral autodestrutiva, e afirmando ter sido ela quem o resgatara.
Na minha mente, a lembrança daquela noite acendeu como uma lâmina - era a véspera da minha cirurgia de transplante de rim.
A doadora era uma jovem desconhecida, compatível comigo, no entanto, de última hora, veio a notícia devastadora - ela havia desistido.
Eu desmoronei, mas poucas horas depois, surgiu o improvável: Haven.
A cunhada frágil e doce se ofereceu e insistiu nos exames, jurando que me amava como a uma irmã. Por isso, eu a vi como heroína.
Agora, diante do sorriso arrogante dela, tudo finalmente se encaixava - a coincidência absurda e a conveniência quase cínica.
Eles já estavam juntos naquela época. A tal "complicação" da primeira doadora provavelmente fora obra de Aiden, que orquestrara tudo para me deixar em dívida com Haven, me prendendo em uma rede de segredos e obrigações.
O peso dessa revelação me esmagava, porque não se tratava de uma traição recente. A traição foi o alicerce de toda a vida que tínhamos construído.
"Então fique com ele", declarei, sem deixar transparecer emoção. "Eu não quero ele mais."
Ao ver minha serenidade, seu semblante vacilou.
"Eu não quero só ele", ela rosnou, e a ambição latejou em cada palavra. "Quero esta casa. Quero a empresa. Quero o seu nome. Quero tudo que um dia foi seu."
Ela me percorreu com o olhar de cima a baixo, carregado de desprezo. "Não basta você ir embora. Enquanto ele ainda pensar em você, nada estará resolvido. Preciso que ele te odeie. Preciso que ele te expulse para que nunca mais se atreva a olhar para trás."
Nesse instante, a porta se abriu e Aiden entrou no quarto.
Em menos de um segundo, o rosto de Haven se transformou, e um grito estridente escapou de seus lábios.
Ela tropeçou de propósito, caiu no chão e levou as mãos à barriga.
"Aaaah!", ela berrou, entre lágrimas que surgiam em cascata. "Charlotte, me perdoe! Eu vou embora, só não machuque o meu bebê!"
Fiquei imóvel, atônita diante da audácia dessa encenação grotesca.
Aiden correu até ela com o rosto carregado de fúria voltada para mim. "O que você fez? Ela está grávida! E você a empurrou! Igual fez com o Leo!"
A acusação era tão absurda que beirava o ridículo.
"Eu não encostei nela", respondi firme, sem elevar o tom. "Esta casa está cheia de câmeras, Aiden. Podemos ver as gravações."
Ao ouvir a palavra "câmeras", o corpo de Haven se enrijeceu.
Mas Aiden se recusou a escutar, pois já estava mergulhado no delírio que ela alimentava. "Não preciso ver câmera nenhuma! Confio no meu filho! Confio no que está vendo!"
A ironia me atingiu como um soco. Ele, que enchera a casa de câmeras para vigiar cada passo meu, agora rejeitava a única prova que poderia me inocentar.
Anos inteiros repetindo que confiava em mim, e bastou a palavra de uma mulher manipuladora e de uma criança mimada para essa confiança se pulverizar.
"Precisamos ir ao médico", Haven choramingou, agarrando o braço dele e desviando sua atenção com perfeição ensaiada.
Ele então se voltou para mim, seus olhos refletindo apenas um desapontamento frio. "Eu já não sei mais quem você é, Charlotte. Você mudou. Já foi doce, tão gentil. Talvez devesse aprender um pouco com a Haven."
Ajudando Haven a se levantar, ele a conduziu para fora. A porta se fechou atrás deles, e o clique metálico ecoou pelo quarto vazio.
Um suspiro trêmulo escapou dos meus lábios, e logo depois veio o riso - oco, amargo.
Eu não havia mudado - continuava sendo a mesma mulher que o amara, cuidara dele e sacrificara tudo.
O que havia mudado foi o nosso casamento - agora apodrecido e corroído até o núcleo.
Eu só percebi tarde demais...