Seu filho secreto, minha fortuna roubada
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Capítulo 4

"Largue isso agora."

As palavras saíram duras, afiadas como lâmina de gelo, minha voz soando estranha até para mim mesma.

A mãe de Aiden e Leo ergueram os olhos, surpresos. O menino, réplica teimosa do pai em miniatura, segurou com ainda mais força a delicada bailarina de porcelana.

"Não vou largar", ele retrucou, empinando o queixo com desafio. "Papai disse que todos os brinquedos daqui são meus agora."

"Isso não é brinquedo", respondi, avançando um passo e esticando a mão. "Me devolva."

O garoto percebeu e, num gesto calculado, puxou o objeto para si com um sorriso perverso. Logo em seguida, o deixou escorregar de propósito entre os dedos.

O impacto contra o mármore ecoou seco e brutal. A bailarina frágil se despedaçou em inúmeros cacos.

O silêncio caiu pesado. Meus olhos só conseguiam enxergar os fragmentos brancos espalhados no chão escuro - um pedaço de braço, um rasgo da saia de tutu, e o rosto minúsculo quebrado, ainda me encarando.

Caí de joelhos, as mãos suspensas sobre a ruína. Nem ouvi o choro do menino, nem percebi Aiden e Haven descendo correndo, atraídos pelo barulho.

Leo tropeçara para trás com a própria força e caíra, ralando o joelho.

"Ela me empurrou! A tia Lottie me empurrou!", ele gritou, apontando o dedinho gordinho para mim.

"Ele está sangrando!", choramingou Haven, ajoelhando-se ao lado dele.

A mãe de Aiden veio logo atrás, indignada. "Charlotte, como você pôde fazer isso? Ele é só uma criança!"

Aiden surgiu na porta, parando de repente. Seu olhar percorreu a cena - eu no chão, cercada de porcelana em pedaços, e o filho chorando nos braços da mãe.

Seus olhos pousaram nos fragmentos espalhados, e algo lampejou. Seria reconhecimento? Memória?

Então ele se virou para Haven. "Eu falei para você ficar de olho nele. Te avisei para não deixar ele tocar nas coisas dela."

Sua voz era baixa e carregada de raiva, mas dirigida a Haven, não a mim.

Haven caiu em prantos. "Desculpa, Aiden. Foi só um segundo que virei de costas."

Ela pegou Leo no colo e saiu às pressas, mas não sem antes me fuzilar com um olhar venenoso.

Aiden se ajoelhou ao meu lado. "Lottie, me perdoa. Ele é só uma criança, não tem consciência ainda sobre o que faz."

Quando ele estendeu a mão para meu ombro, me afastei.

"É só uma coisa", ele murmurou em tom conciliador. "Eu compro outra. Compro cem, mil se você quiser."

"Você não pode", respondi, a voz falhando. "Era da minha mãe."

Ele arregalou os olhos. "Isso era... da sua mãe?"

"A caixinha de música", sussurrei, recolhendo um pedaço afiado da porcelana. "Era dela."

Uma sombra de culpa atravessou o rosto dele. "Eu mando restaurar. Conheço os melhores do mundo, vai ficar perfeito de novo. Te prometo."

As lágrimas corriam quentes, cheias de raiva em meu rosto. "Você acha que esse é o ponto? Ele quebrou, Aiden. Fez de propósito. E você... você deixou."

A paciência de Aiden chegou ao limite. "O que você quer que eu faça, Charlotte? Ele só tem cinco anos! Quer que eu bata nele?"

"Eu quero que ele peça desculpa!"

"Ele é só uma criança!" A voz de Aiden aumentou, e o tom de fúria bem conhecido começou a surgir. "Por que está sendo tão difícil? Você nunca teve paciência com o Leo."

"Leo", repeti, cuspindo o nome como veneno e olhando direto nos olhos dele. "Você quer dizer o seu filho?"

O ar parecia se partir ao meio. Então, a negação veio automática. "Ele não é meu filho. Nós o adotamos. Eu já falei que os pais dele morreram num acidente."

"Um trágico acidente", ironizei com sarcasmo. "E você, tão generoso, resolveu criar o filho órfão da sua irmã adotiva?"

Seu rosto se fechou. "O que está insinuando? Que estou mentindo para você? Depois de tudo que eu fiz por você, ainda acha que eu te trairia desse jeito?"

Era o velho truque - virar a suspeita contra mim e me pintar de vilã.

A mãe dele, que permanecia por perto, entrou na conversa: "Charlotte, Aiden te ama. Ele nunca faria algo assim. Nós acolhemos Leo porque era o certo a se fazer. Somos uma família."

Ali estavam os dois, lado a lado, com expressões mascaradas de inocência falsa, suas mentiras me envolvendo como um cobertor sufocante.

Um enjoo tão forte me dominou que pensei que vomitaria ali mesmo, sobre o mármore.

As lágrimas então cessaram. Cuidadosa e metódica, passei a recolher os cacos da bailarina, colocando-os um a um entre minhas mãos em concha. Cada fragmento afiado era uma dor nova, um lembrete de uma memória irremediavelmente destruída.

Meu coração era aquela caixinha de música. E todos eles haviam se revezado para quebrá-lo.

"Você tem razão", falei enfim com uma calma quase assustadora, levantei os olhos e deixei um sorriso frio escapar. "Obrigada por me dar um filho de presente. Tenho certeza de que seremos uma família muito feliz."

Então me levantei, segurando os fragmentos pontiagudos contra o peito.

"Mas esse 'presente' eu não aceito", completei, fixando o olhar nele. "Eu não quero Leo."

Virei as costas e saí, deixando-o parado no meio dos escombros da minha última lembrança.

Dentro de mim, a certeza já estava cravada nos ossos - eu sairia dessa casa em breve, e jamais voltaria.

Passei os dias seguintes trancada no quarto, tentando colar cada pedaço da caixinha de música, mas meu esforço era inútil.

As rachaduras permaneciam visíveis, e as cicatrizes feias marcavam a delicada porcelana - a caixinha nunca mais seria a mesma que antes, assim como eu.

Numa tarde, Haven entrou sem bater. Seu rosto não mostrava a fragilidade habitual, mas sim uma frieza ambiciosa.

"Acho que já passou da hora de você ir embora", ela disse com a voz gelada. "Quero que assine os papéis do divórcio e desapareça."

            
            

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