Ao mesmo tempo, ele entupia a cozinha com suplementos orgânicos caríssimos e chás de ervas de cheiro insuportável, todos prometendo milagres para "reforçar meu sistema imunológico".
Ele cumpria, enfim, cada gesto que se esperava de um bom marido, mas continuava dormindo no quarto de hóspedes, e jamais me tocava.
Entre nós havia um abismo gelado instransponível.
Numa noite, ao passar diante do quarto de hóspedes, percebi a porta entreaberta.
Carroll estava sentado na beira da cama, com os olhos fixos numa foto no celular. E lá estava ela - Kandy.
O rosto dele, deformado pelo desejo e pelo desespero, parecia uma máscara - era patético e doloroso de assistir.
Meu plano avançava, mas a trégua era delicada demais. Eu sabia que não poderia sustentar a encenação para sempre.
Enquanto eu estava planejando como encenar minha "recuperação milagrosa", o inesperado aconteceu: Kandy apareceu, entrando em casa sem sequer tocar a campainha com o rosto pálido e manchado de lágrimas.
Ela caminhou direto até mim e enfiou um papel na minha mão.
Era um laudo - um teste de gravidez positivo.
Ela não pronunciou uma palavra sequer, apenas desabou em prantos e correu para fora.
Carroll permanecia imóvel no batente da porta com a pele acinzentada. Ele não me olhou, tampouco ofereceu uma explicação, apenas começando a andar, como se o corpo fosse puxado em direção à porta aberta.
"Carroll, não", murmurei, quase sem voz.
Mas ele continuava, como um homem em transe, desesperado para segui-la.
Segurei seu braço e disse, firme: "Não ouse ir atrás dela."
Ele se soltou com violência, e o rosto se contorceu numa fúria que eu nunca tinha presenciado.
"Me solte, Helena!", Carroll rugiu com a voz gutural. "Ela está grávida! Está carregando meu filho!"
O olhar que me lançou foi como um soco, pois neles vi frustração e ódio escancarados.
"Por que você não me deixa apenas confortá-la?", ele exigiu, como se eu fosse a insensata.
E ali, no maxilar travado e no olhar insano dele, eu percebi - ele já não era mais meu.
Enxuguei as lágrimas que queimavam no meu rosto com as costas da mão, sentindo um nó gelado e duro crescer dentro do peito.
Um impulso terrível e violento me atravessou, e precisei sacudir a cabeça para afastá-lo.
Engoli a pergunta que me rasgava por dentro: "Você tem certeza de que esse filho é seu?"
Ainda não era o momento.
"Se sair por essa porta agora", falei, com a voz trêmula mas firme. "Vai estar viúvo pela manhã."
Era a última carta - minha vida em troca do casamento.
"Estou falando sério, Carroll. Não me deixe morrer sozinha."
Ele parou, o corpo rígido como pedra, depois me encarou por vários minutos em silêncio.
Vi a frustração se transformar em puro desprezo em seu olhar.
"Você é cruel", Carroll cuspiu, e a palavra ecoou entre nós, me cortando como faca.
Cruel? Eu?
Eu que construí a carreira dele, que organizei cada detalhe da sua vida, que aceitei a ausência de filhos por causa dele? Eu que fingi estar morrendo e suportei a farsa de uma morte lenta apenas para mantê-lo ao meu lado? E era eu a cruel?
As lágrimas agora desciam sem controle, quentes e salgadas.
Minha ameaça fracassara, e a gravidez, a promessa de um herdeiro, havia vencido.
Com um rosnado furioso, Carroll chutou uma pequena mesa antiga perto da porta, derrubando um vaso que se espatifou pelo chão.
"Então morra logo!", ele gritou, o rosto deformado pela raiva. "Eu espero que você morra!"
Ele se virou e saiu depois de bater a porta, sem olhar para trás.
Fiquei parada, observando suas costas sumirem pela garagem. Logo, o motor do carro roncou alto e se afastou, até que restou apenas um silêncio sufocante.
Minhas mãos tremiam tanto que mal consegui segurar o celular e disquei o número de Jared.
"Chegou a hora", sussurrei, a voz embargada. "Vamos destruir ele por completo."