A vingança de Helena
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Capítulo 4

"Professora, a cadeia de provas é sólida, impossível de romper", afirmou Alexandr, mantendo a calma profissional que me ancorava em meio ao turbilhão que me consumia. "Tudo foi reunido."

"E os poemas?", perguntei. "Aqueles que ele escreveu para ela. Eles podem ser usados para expor o caráter dele?"

"Sem nenhuma dúvida", confirmou Alexandr. "Eles não só reforçam a linha do tempo e o motivo, como revelam com clareza quem ele realmente é... ou quem deixou de ser."

De imediato, me lembrei de todos os objetos que acumulei ao longo dos anos: pergaminhos antigos entregues por um empresário em troca de favores de zoneamento, relógios caros oferecidos por um lobista... Cada peça era um elo a mais em uma corrente longa e sufocante de corrupção.

"E quanto às obras de arte e presentes... você catalogou tudo?"

"Cada peça", ele confirmou. "Cada item com laudos de avaliação, registros de quem o entregou e datas correspondentes."

Segurei o celular com força, ainda fixando a imagem dos dois na tela, que mostrava alianças idênticas. Essa imagem queimava na minha memória.

"Alexandr, se eu entregar esse material... qual será o destino dele?"

Alexandr demorou alguns segundos antes de responder: "Diante do valor dos subornos e das provas de lavagem de dinheiro... a condenação pode significar prisão perpétua, sem direito a condicional."

Minhas lágrimas voltaram a embaçar a visão.

Prisão perpétua... soava final demais, devastador...

Mas que alternativa ele havia me deixado?

Eu precisava agir rápido, pois Carroll já construía planos para uma nova vida, erguida sobre as ruínas da minha. Talvez ele acreditasse que perder apenas a reputação era um preço pequeno diante da possibilidade de formar outra família.

A lembrança do nosso casamento veio à tona, quando ele murmurou em meu ouvido: "Até que a morte nos separe, Helena."

Uma promessa que ele violara em tudo, menos no sentido literal.

"Alexandr, faça o necessário", ordenei com firmeza. "Protocole."

"Vai ser feito", ele respondeu, quase num sussurro.

Desliguei a chamada e fiquei olhando pela janela, observando as gotas de chuva. Como era possível que promessas de amor se desfizessem em pó tão facilmente?

Carroll havia se tornado justamente o que dizia odiar: um homem corrupto e egoísta.

Continuei hospedada na casa de Jared, tentando recuperar as forças e aguardando.

Carroll não me procurou nem uma vez.

Os amigos de meu sobrinho me mantinham atualizada - ele se reunia diariamente com advogados para agilizar a transferência da villa nas montanhas para o nome de Kandy, planejando o futuro dela antes mesmo de assinar o divórcio da esposa "à beira da morte".

Mantive a encenação, deixando que acreditasse que eu estava debilitada, alheia, definhando no quarto de hóspedes de Jared.

Um mês depois, decidi anunciar que meu "câncer" havia entrado em remissão, de forma quase milagrosa. Pedi a Jared que me levasse de volta para casa.

Assim que entramos, encontrei Carroll na sala, falando ao telefone. No instante em que me viu, sua expressão mudou da surpresa para um horror evidente e impossível de disfarçar.

"O que você... o que está fazendo aqui?", ele gaguejou, desligando a ligação às pressas. "Você... parece..."

"Melhor?", completei. "É. Os médicos chamam de milagre."

Ele me encarou incrédulo com os olhos arregalados, mas ali havia algo além - decepção. Ele lamentava que eu ainda estivesse viva.

Jared me amparou com uma mão, mas me afastei e caminhei até meu marido, passo a passo, contida e firme.

Toda a raiva acumulada por meses agora transbordava.

As lágrimas escorriam quando ergui a mão e o esbofeteei com toda a força. O estalo ressoou na sala em silêncio.

"Você está decepcionado, não é?", gritei, com a voz despedaçada pela dor. "Contava que eu morresse logo para resolver sua vida!"

A dor no meu peito explodiu de forma quase física. "Eu estava no hospital, Carroll! Meu coração falhou! E você? Onde estava? Com ela! Comprando carros e alianças enquanto eu lutava para sobreviver!"

Cada palavra saiu como lâminas rasgando minha garganta. Meu coração estava destruído, ainda que o câncer fosse uma farsa. Essa dor, ao contrário, era real.

Ele tentou se aproximar, trazendo no rosto uma mistura desajeitada de culpa e espanto. "Helena, eu... eu não sabia."

Uma desculpa fraca e patética!

Segurei a manga do luxuoso suéter de cashmere dele como quem se agarra à última boia.

"Só quero uma coisa, Carroll", declarei, misturando encenação com desespero verdadeiro. "Dez dias. Me leve para a villa. Quero criar uma última lembrança no lugar onde fomos felizes. Depois disso, assino o divórcio. Vou embora e nunca mais você vai me ver."

Ele me olhou por alguns minutos, encarando meu rosto coberto de lágrimas, e pensou que minha condição cardíaca acabaria comigo em breve, que estava diante de uma mulher prestes a morrer que se agarrava ao último fio de esperança.

Essa combinação de piedade e arrogância o fez ceder.

"Está bem, Helena", respondeu, num tom suave e carregado de condescendência. "Dez dias."

Enterrei as unhas na palma da mão, usando a dor para manter a firmeza.

Felizmente, Carroll não suspeitava da verdadeira razão pela qual eu precisava desse tempo.

No dia do nosso casamento, eu fizera uma promessa: "Homens como você sempre enfrentarão tentações. Vou perdoar três erros e dar chance de reparação. Mas Carroll, se não aproveitar a chance, vou destruir você."

O caso com Kandy foi o primeiro deslize, e eu me obriguei a perdoar.

A doença inventada representou a segunda oportunidade, minha tentativa desesperada de levá-lo a reparar o que havia arruinado.

Agora, chegou a terceira e última chance. No fundo, eu queria acreditar que ele usaria essa última chance com sabedoria.

                         

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