Cinco Anos de Engano, Uma Vida de Vingança
img img Cinco Anos de Engano, Uma Vida de Vingança img Capítulo 3
3
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

A mensagem de Kiera soava como uma verdadeira declaração de guerra. Ela acreditava estar protegida, intocável dentro da sua gaiola dourada, sem imaginar que a chave sempre esteve comigo.

Eu precisava voltar àquela galeria - não apenas para recolher provas, mas também para enxergar a verdade com meus próprios olhos e ouvir cada palavra sem intermediários. O pen drive já tinha o que estava acontecendo, mas o que eu buscava agora era a razão por trás de tudo.

Depois de vasculhar sites de emprego, encontrei uma vaga temporária para auxiliar de limpeza na Galeria Reese. Usando uma conta falsa, entrei em contato com a gerente administrativa e inventei uma história convincente: disse que era mãe solteira e estava desesperada por trabalho. Para selar o acordo, enviei uma transferência bem generosa - muito acima do valor que eles estavam oferecendo.

No dia seguinte, estacionei junto com os demais funcionários na entrada de serviço. Eu estava usando um uniforme azul simples, e escondia o rosto com uma máscara descartável e boné baixo, mantendo a postura discreta e o silêncio absoluto.

Minha designação foi justamente para o escritório particular de Kiera. O espaço era amplo, elegante e com uma vista deslumbrante da cidade, mas a paisagem não despertava nenhum interesse em mim. O que realmente importava era a vida que eles exibiam ali dentro - sobre uma mesa lateral, uma moldura de prata com a foto de Ivan e Kiera no suposto dia de casamento deles repousava firme. Casamento que nunca aconteceu de fato, já que Ivan era meu marido. Aquela cena não passava de uma encenação, mais uma farsa dentro de tantas outras.

Caminhei pelo escritório fingindo limpar de forma automática, enquanto analisava cada detalhe com atenção. As paredes estavam cobertas por retratos de família: Leo cavalgando um pônei, Kiera e Ivan rindo juntos em um barco... A própria arquitetura carregava a assinatura do estilo empreendedor do meu pai, e a curadoria refletia a estética da minha mãe, sempre marcada pelo olhar de uma cineasta.

Na sala de descanso, encontrei uma funcionária que exalava uma calma contagiante chamada Anna, esfregando o balcão. Mantive minha voz baixa, um pouco disfarçada. "O lugar é realmente bonito. Eles parecem viver como uma família feliz."

Anna suspirou sem levantar os olhos. "E são, sim. O senhor Hughes é apaixonado pelo garoto. E o senhor Donovan... vive aqui mais do que no próprio escritório, sempre supervisionando tudo de perto."

As palavras me atingiram como uma pancada seca, pois meu pai jamais se dispôs a me orientar. Eu implorei inúmeras vezes para que lesse meus roteiros, para que me desse conselhos, mas ele sempre estava ocupado demais. Ocupado demais para mim, mas não para a galeria de Kiera.

"E a senhora Donovan?", perguntei, sentindo a voz falhar.

"Ah, ela traz produtores de Hollywood e grandes estrelas toda semana", respondeu Anna, balançando a cabeça. "Vive dizendo que Kiera é a filha que sempre sonhou ter, tão cheia de energia e força."

A filha que ela queria, não eu. Não a filha de verdade que passou anos implorando por um gesto de carinho.

Meu estômago embrulhou de repente - eu precisava sair dali. Mas, quando estava prestes a deixar a sala, ouvi o som de um carro chegando à garagem. Quando olhei pela janela, vi um sedã preto elegante. Era o carro de Ivan.

Peguei um esfregão rapidamente e me posicionei no saguão principal, mantendo a cabeça baixa e fingindo concentração no serviço. Com a máscara no rosto, aguardei, atenta a cada som.

E então os vi: Ivan, Kiera e Leo.

Kiera estava irritada. "É insuportável, Ivan. Tê-la por perto me consome. Quando você vai se livrar dela de uma vez?"

O ar travou na minha garganta.

Ivan se aproximou, puxou Kiera contra si e deixou um beijo em sua testa antes de responder, com o tom carregado de impaciência: "Não fale dela desse jeito. Ela ainda é uma Donovan. Tudo que eu posso oferecer a você e a Leo existe por causa dela. Se você não tivesse engravidado naquela época, eu jamais teria traído ela."

Essa confissão me atingiu com mais força do que qualquer insulto. Eu não era apenas uma sombra descartável - era a mulher que ele havia traído por obrigação. E, ao ouvir isso, percebi que a inveja de Kiera deveria ter crescido ainda mais, explicando sua crueldade constante.

Eu já tinha visto o suficiente e estava pronta para sair discretamente quando ouvi a voz dele cortar o ar: "Ei, você aí, novata!"

Congelei, ainda de costas para ele.

"Vire e tire a máscara." A ordem saiu ríspida, autoritária. Ele conhecia todos os rostos dali, pois frequentava o lugar como se fosse sua casa. E a constatação de que Ivan estava mais familiarizado com cada funcionário da galeria da amante do que com a minha própria vida abriu uma fissura gelada no meu peito.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022