Cinco Anos de Engano, Uma Vida de Vingança
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Capítulo 5

No dia do meu aniversário, acordei e comecei a organizar uma pequena mala, até que minha mãe, Eleanor, apareceu no quarto.

"Querida, para onde está indo?", ela perguntou, e vi um lampejo de pânico atravessar seus olhos.

"A Debi vai me levar para um Spa Resort na cidade vizinha", menti com naturalidade. "Vou ficar só alguns dias, preciso descansar. Estou exausta."

Notei o alívio imediato no olhar que ela trocou com meu pai, parado na porta. Minha suposta viagem servia de desculpa perfeita para os planos deles.

Durante o café da manhã, minha mãe trouxe uma xícara do que chamou de 'chá de ervas especial para acalmar'. Disse que faria bem para eu relaxar.

Eu podia sentir o aroma discreto de amêndoas amargas misturado ao chá, denunciando a presença de soníferos. Eles nem tentaram disfarçar, estavam confiantes demais.

"Obrigada, mãe", agradeci, pegando a xícara. Primeiro encarei ela, depois meu pai. "Vocês sempre cuidam tão bem de mim."

A expressão de alívio logo preencheu o rosto dos dois. Eu cumpria meu papel sem falhas - dei um gole, depois outro, até beber metade da xícara. Meu estômago se revirava a cada engolida, não pela droga, mas pela traição.

Minutos depois, levei a mão à testa. "Estou meio... tonta. Talvez o estresse do roteiro esteja me derrubando."

"Pobrezinha", disse Eleanor, numa encenação perfeita de preocupação. "Você precisa descansar."

Richard logo insistiu para que eu subisse.

Antes de sair, encarei os dois mais uma vez. Meus pais. As pessoas que deveriam me amar incondicionalmente.

"Vocês já se arrependeram?", perguntei sem conseguir segurar. "Pelo que aconteceu comigo? Por todos os anos em que estive ausente?"

Os sorrisos deles vacilaram, e vi um brilho nos olhos dos dois - talvez culpa. Mas logo esse brilho sumiu. "Claro que sim, Aliana", meu pai respondeu com a voz firme demais. "Todos os dias."

Mais uma mentira. Não insisti, apenas balancei a cabeça. "Fico feliz."

Subi até o banheiro espaçoso e vazio, tranquei a porta, me ajoelhei diante do vaso sanitário e forcei o vômito. Meu corpo se contraiu até expulsar o chá e o veneno. Depois enxaguei a boca e encarei meu reflexo no espelho: pálida, mas com os olhos claros e firmes.

A tontura era encenação, mas o enjoo era real.

Troquei o vestido por roupas simples e escuras e fui até a sala de estar, onde sobre a mesinha de centro, estava a caixa que eu havia embrulhado com cuidado no dia anterior.

Peguei o celular secundário que eu mantinha, abri o aplicativo e agendei a coleta por um serviço de entrega prioritária. As instruções eram precisas: a encomenda deveria chegar ao restaurante Starlight, dentro do parque de diversões, ao meio-dia exato. O destinatário: Ivan Hughes, no camarote VIP.

Minha última parada foi numa rua calma com vista para o parque. Pela entrada lateral, consegui enxergá-los - Ivan, Kiera, Leo e meus pais caminhavam juntos, rindo como se fossem uma família perfeita. Eles pareciam felizes de verdade.

Meu celular vibrou com uma mensagem da Debi: "Decolagem em 30 minutos. Você está livre."

Olhei para a cena pela última vez, como se fosse uma fotografia da felicidade falsa que compartilhavam. E dentro de mim não havia raiva, nem tristeza. Apenas uma paz profunda, fria e silenciosa.

Bloqueei todos os números, limpei o celular e o deixei cair em um bueiro, vendo a tela estilhaçar no concreto.

Aliana Donovan havia deixado de existir. Virei as costas para o parque iluminado e segui em direção ao aeroporto, rumo à minha nova vida, sem olhar para trás.

                         

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