Cinco Anos de Engano, Uma Vida de Vingança
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Capítulo 4

Minha mente disparou. Eu não podia permitir que ele me visse - ao menos não agora. E, assim que Ivan começou a avançar na minha direção, a gerente administrativa que eu havia subornado surgiu às pressas, trazendo um sorriso conciliador no rosto e a desculpa já pronta. "Senhor Hughes, me perdoe. Ela está aqui de forma temporária. Está com uma gripe forte e não queria arriscar espalhar germes."

A desconfiança que brilhava nos olhos de Ivan desapareceu, substituída por um olhar irritado. Ele fez um gesto impaciente com a mão e se virou novamente para Kiera.

Foi nesse instante que aproveitei para fugir. Mais tarde, nessa mesma noite, liguei para minha melhor amiga, Debi Frost. Debi não era apenas uma amiga - era advogada, com uma mente afiada como uma lâmina. Marcamos de nos encontrar em uma cafeteria movimentada no centro da cidade, o tipo de lugar onde ninguém se daria ao trabalho de prestar atenção em duas mulheres conversando.

Quando nos sentamos, não perdi tempo. Contei cada detalhe - a galeria escondida, a criança, a mentira que vinha sendo alimentada havia cinco anos. Empurrei o pen drive sobre a mesa, e observei a expressão de Debi se transformar. O brilho habitual do seu rosto deu lugar a uma fúria gelada enquanto absorvia tudo o que eu dizia.

"Malditos", ela murmurou, apertando a xícara com tanta força que os dedos ficaram brancos. "Todos eles. Até os seus pais. Aliana, nós vamos acabar com cada um deles."

"Eu não quero destruir ninguém, Debi", confessei com a voz baixa, quase quebrada. "O que eu quero é desaparecer. Acabar com tudo de uma vez."

Ela me encarou em silêncio por alguns segundos, até assentir com calma. "Está bem. Se é isso que você deseja, vamos tornar isso possível."

Mas, depois de pensar por algum tempo, ela ela ergueu as sobrancelhas e perguntou: "Ir embora? Aliana, você tem direito à metade de tudo que Ivan possui. E ainda pode exigir uma indenização enorme dos seus pais por todo o sofrimento emocional que causaram."

"Não quero nada vindo deles", retruquei, sentindo o gosto amargo das palavras. "Esse dinheiro foi a moeda usada para comprar meu silêncio, minha obediência. Está sujo. Não vou aceitar."

Debi não desviou os olhos, e depois de alguns instantes, respirou fundo e voltou a assentir. "Certo. Então faremos um rompimento total. Vamos preparar os papéis de divórcio, alegamos infidelidade e incluímos também um documento em que você renuncia a qualquer direito à herança Donovan. Não vai ficar nada pendente."

Enquanto organizava os arquivos, Debi puxou outro documento da pasta e o colocou sobre a mesa, séria. "Olha só, Aliana. Ivan tem feito compras constantes em uma farmácia privada. E não são compras comuns... são quantidades enormes de soníferos."

Um estalo percorreu minha mente, conectando peças soltas - as manhãs em que eu acordava exausta, como se tivesse sido arrastada para dentro de um sono profundo e artificial, as vezes em que eu dormia mais de doze horas seguidas, e sempre descobria que Ivan e meus pais haviam saído para tratar de algum 'assunto de família'. Eles estavam me dopando. Faziam isso para poder viver a vida perfeita com Kiera e Leo, longe de mim.

Os olhos de Debi se arregalaram, chocados. "Eles vão repetir isso no seu aniversário, não vão? Vão te apagar de novo para que você passe o dia inteiro dormindo, enquanto levam o menino para o parque."

Nesse instante, qualquer fiapo de esperança morreu dentro de mim. Até então, ainda restava a dúvida de que, talvez, houvesse um resquício de amor distorcido no que faziam. Mas não. Era apenas crueldade fria, planejada.

Um riso seco escapou de mim, sem alegria, sem vida - um som vazio que não pertencia a ninguém. Então murmurei, balançando a cabeça: "Claro que sim. É óbvio que eles fariam isso."

Debi se inclinou, segurando firme minha mão e me trazendo de volta ao presente. "Aliana, você não pode voltar para casa."

"Ah, eu vou voltar" respondi firme e com os olhos endurecidos. "Vou deixá-los acreditar que o plano deu certo. E então, vou desaparecer."

Foi então que assinei cada papel com Debi - o pedido de divórcio, a renúncia definitiva ao nome Donovan e a toda a fortuna da família. A cada assinatura, eu sentia uma corrente se quebrar. Eu estava me libertando.

Logo depois, comprei pela internet uma passagem só de ida para uma pequena cidade costeira do Oregon. Usei um nome que não pronunciava desde os tempos do sistema de adoção, antes de ser encontrada por eles. Meu verdadeiro nome: Hope Andersen. O voo estava marcado para a noite de sábado, a noite da minha festa de aniversário. A comemoração para a qual eu não havia sido convidada - e também, meu grande desfecho.

De volta à mansão, encontrei Ivan diante do computador, cantarolando baixinho. Quando entrei, ele rapidamente minimizou a janela aberta, mas ainda consegui ver a aba: era a página de serviços VIP do parque de diversões. Havia opções de fogos de artifício privados e almoço gourmet.

No reflexo da tela, vi a luz do celular dele piscando sobre a mesa com uma mensagem da minha mãe brilhando clara: "Está tudo pronto. Mal posso esperar para comemorar o grande dia de Leo!"

Meu marido, meus pais. Todos preparados para esquecer o meu aniversário e celebrar o filho da minha rival.

"Estou só finalizando um pacote para um cliente", justificou Ivan, sem coragem de me encarar.

"Você devia descansar um pouco", murmurei, doce, quase indiferente.

Ele roçou um beijo rápido em minha bochecha, um gesto frio, automático e disse: "Eu te amo."

"Eu sei", respondi, sentindo a frase ecoar sem peso, vazia.

Durante a noite, me deitei sozinha na cama. Os lençóis ao meu lado estavam frios, mas, pela primeira vez em cinco anos, a solidão não me machucou mais - agora ela soava como liberdade. Eu já não era Aliana Donovan, a filha renegada, a esposa perfeita. Eu era apenas um fantasma daquela vida - um fantasma que contava as horas para finalmente desaparecer.

            
            

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