Ligada a Ele: O Retorno Sombrio de um Espírito
img img Ligada a Ele: O Retorno Sombrio de um Espírito img Capítulo 3
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Ponto de Vista: Elisa Carvalho

O laudo final da autópsia foi lido em voz alta na sala estéril de azulejos brancos.

"Vítima não identificada, sexo feminino, idade estimada entre vinte e cinco e trinta anos. Causa da morte, trauma massivo por dispositivo explosivo. A detonação foi instantânea."

O médico legista fez uma pausa, limpando a garganta antes de continuar. "Evidência de contusões pré-morte nos pulsos e tornozelos, consistentes com ter sido amarrada. Marcas de ligadura no pescoço sugerem um período de estrangulamento antes da morte, embora não tenha sido a lesão fatal."

Cada palavra clínica pintava um quadro das minhas últimas horas aterrorizadas.

"Além disso", disse o examinador, sua voz suavizando um pouco, "a vítima estava grávida de aproximadamente oito semanas no momento da morte."

Um silêncio pesado desceu sobre a sala. Os detetives, os técnicos de laboratório, até mesmo Arthur - todos ficaram paralisados, o peso das palavras se assentando sobre eles.

Minha própria forma espectral estremeceu. Oito semanas. Eu não sabia. Uma vida minúscula e secreta estava crescendo dentro de mim, uma vida que eu nunca tive a chance de valorizar ou proteger. Uma vida que Arthur nunca saberia que criou, ou perdeu.

Uma lágrima, fria e insubstancial, escorreu pela minha bochecha fantasmagórica. Não era por mim. Era pelo bebê. Meu bebê. Morremos juntos, sem nome e sem o amor da única pessoa que deveria ter movido céus e terra por nós.

Arthur quebrou o silêncio. Ele balançou a cabeça, um lampejo de algo que parecia pena em seus olhos. "Meu Deus, que brutal. Com uma mulher grávida. Que tipo de monstro faz isso?"

Ele passou a mão pelo cabelo perfeitamente penteado. "Precisamos encontrar esse filho da puta. Quero estar na equipe que o prender. Pessoalmente."

Eu queria rir. Um som oco e quebrado. Claro. O grande Arthur Mendes, campeão da vítima grávida e sem nome. Ele caçaria meu assassino com uma fúria justa que nunca pôde me dedicar em vida.

Ele seria tão justo, eu me perguntei, quando finalmente descobrisse que a vítima não identificada que ele estava defendendo era a mulher que ele tão friamente dispensou? Ele sentiria culpa? Ou apenas irritação por minha morte ter se tornado uma mancha inconveniente em sua vida perfeita?

Mais tarde, Arthur e Caio estavam do lado de fora, no ar fresco da noite, a fumaça de seus cigarros se enrolando na escuridão.

"Você precisa ir para casa, Arthur", disse Caio, a voz carregada de preocupação. "E você precisa ligar para a Elisa. Todo esse caso... deveria ser um alerta. A vida é curta."

Arthur deu uma longa tragada no cigarro, as brasas brilhando no escuro. "A Elisa não vai a lugar nenhum. Ela vai estar sentada em casa, esperando que eu peça desculpas por qualquer crime que ela inventou esta semana. Mandei uma mensagem dizendo que terminamos. Ela sabe."

Eu não estou em casa, Arthur, pensei, as palavras um grito silencioso no vazio. Estou aqui. O que restou de mim está em uma mesa de aço a trinta metros de você.

Eu não me importava mais se ele sentia remorso. A esperança por isso havia virado pó. Tudo o que eu queria agora era estar livre dele. Flutuar para o que quer que viesse a seguir e deixar a memória de Arthur Mendes para trás para sempre.

Nesse momento, seu telefone vibrou. Ele olhou para a tela, e as linhas duras de seu rosto suavizaram instantaneamente. Era uma chamada de vídeo.

O rosto perfeito de Gênesis Sampaio preencheu a tela.

"Arthur, querido", ela fez beicinho. "Você perdeu nossa reserva para o jantar. Fiquei esperando."

Ele conseguiu um sorriso cansado, aquele reservado apenas para ela. "Me desculpe, Gên. Surgiu uma coisa no trabalho. Uma coisa feia."

"Pior que a minha crise na fundação?", ela perguntou, um brilho brincalhão nos olhos.

"Muito pior", disse ele, a voz gentil. Ele a estava protegendo dos detalhes feios, protegendo sua inocência de uma forma que nunca se preocupou em proteger meus sentimentos. "Não se preocupe com isso. Eu te compenso amanhã. Prometo."

A hipocrisia era sufocante. Ele podia mover montanhas por ela, mas por mim, não conseguia nem superar sua própria arrogância.

A investigação do assassinato da vítima não identificada estagnou. Sem uma identidade, não havia pistas. Dias se transformaram em uma semana. Frustrado, foi Arthur quem sugeriu que divulgassem uma descrição da vítima para a mídia.

"Vinte e cinco a trinta anos, um metro e sessenta e sete, cabelo e olhos castanhos", relatou a âncora do jornal sobre uma silhueta genérica. "A vítima usava os restos de uma blusa de seda azul e brincos de argola de prata."

Meus brincos. Minha blusa.

O telefone na mesa de Arthur tocou assim que a transmissão terminou. Ele atendeu, sua atenção ainda nos papéis à sua frente.

"Mendes."

Ouvi a voz do outro lado, fina e fraca de pânico, e meu coração inexistente se apertou.

"Sr. Mendes... Arthur... é o Ricardo Carvalho. Pai da Elisa."

Eu arquejei, um grito silencioso e desesperado. Pai.

"Desculpe incomodá-lo no trabalho", meu pai gaguejou, a voz embargada. "Mas não conseguimos falar com a Elisa. O telefone dela vai direto para a caixa postal. Não temos notícias dela há mais de uma semana. Ela... ela corresponde à descrição do jornal. Por favor, Arthur. Diga-me que não é ela."

            
            

COPYRIGHT(©) 2022