Sua voz era um rosnado baixo de incredulidade. Ele abriu a porta do carro, o mecanismo caro suspirando suavemente na rua silenciosa. Ele caminhou em minha direção, seu terno sob medida um contraste gritante com a sujeira do beco.
"O que você está fazendo aqui?", ele perguntou, seu tom uma estranha mistura de preocupação e irritação. "Não é seguro."
"O que você está fazendo aqui, Kael?", retruquei, minha voz tremendo com uma raiva que eu não sabia que possuía. Eu me levantei, limpando a sujeira do meu jeans.
Antes que ele pudesse responder, Daphne saiu do carro, enrolando um lenço de seda no pescoço. Ela deslizou para o lado de Kael, entrelaçando seu braço no dele.
"Ah, Emília, é você", disse ela, a voz escorrendo uma doçura enjoativa. "O Kaelzinho estava me mostrando onde ele cresceu. É tão... rústico." Ela olhou para mim, os olhos arregalados com uma inocência fingida. "Sinto muito pelo que aconteceu entre nós no colégio. Eu era apenas uma garota boba e ciumenta. Espero que você possa me perdoar."
"Não", eu disparei, cortando sua atuação. "Apenas não, Daphne."
Sua fachada desmoronou por um segundo, um brilho de triunfo em seus olhos antes que ela enterrasse o rosto no peito de Kael, seus ombros começando a tremer com soluços fabricados. "Desculpe", ela choramingou em seu terno caro. "Eu só estou tentando consertar as coisas."
Os braços de Kael a envolveram instantaneamente, puxando-a para perto, acariciando seu cabelo. Ele olhou por cima da cabeça dela para mim, a testa franzida de decepção. "Emília, já chega. Ela está tentando se desculpar."
A injustiça de tudo aquilo foi um golpe físico. Meu coração, que eu pensei já ter sido estilhaçado, pareceu se quebrar novamente. Ele. Defendendo-a.
Minha mente voltou ao ensino médio. A Daphne e suas amigas me encurralando no vestiário, suas risadas ecoando nas paredes de azulejo enquanto me seguravam. Daphne, com um sorriso presunçoso, usou a ponta de um compasso para esculpir uma palavra na pele macia do meu pulso: "Inútil".
A ferida física havia cicatrizado em uma linha fina e prateada, mas a emocional infeccionou por anos. Eu a escondi, envergonhada, até conhecer Kael. Ele foi quem pegou minha mão gentilmente, traçou a cicatriz com o polegar, seus olhos escuros com uma fúria protetora.
"Quem fez isso com você?", ele exigiu, a voz um rosnado baixo.
Quando sussurrei o nome dela, ele fez um voto. "Eu vou arruiná-la, Emília. Por você. Vou fazê-la pagar por cada lágrima que você derramou."
Foi uma promessa que ele nunca cumpriu. Em vez disso, ele se apaixonou pelo próprio monstro que jurou matar. A ironia era tão amarga que parecia veneno.
"Emília?", a voz de Kael me trouxe de volta ao presente. Ele me olhava com aquela familiar carranca impaciente. "Você vai ficar aí parada?" Ele gesticulou em direção ao Maybach. "Entre no carro. Nós te levamos para casa."
"Ah, sim, por favor, venha conosco", Daphne interveio, levantando o rosto manchado de lágrimas do peito dele. Seus olhos, no entanto, estavam frios e afiados com a vitória. "Podemos todos ser amigos." Ela deu um passo em minha direção, a mão estendida como se para me ajudar a levantar.
Quando ela alcançou meu braço, seus dedos perfeitamente cuidados cravaram na pele sensível ao redor da minha antiga cicatriz. Foi um movimento pequeno, quase imperceptível, mas a dor aguda de suas unhas foi deliberada, uma mensagem cruel e particular apenas para mim.
Um suspiro de dor escapou dos meus lábios, e eu puxei meu braço para trás. O movimento súbito fez Daphne perder o equilíbrio. Ela tropeçou para trás com um grito teatral, caindo no pavimento sujo em um amontoado de roupas de grife e angústia fingida.
A reação de Kael foi instantânea. Ele a viu cair, me viu recuar, e sua mente, nublada por sua paixão, tirou a única conclusão possível.
Ele pensou que eu a tinha empurrado.