Um divórcio que ele lamenta
img img Um divórcio que ele lamenta img Capítulo 3 Tudo o que eu nunca soube valorizar
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Capítulo 6 Segurando meu futuro entre as mãos img
Capítulo 7 Um estranho img
Capítulo 8 Exigências img
Capítulo 9 Ele ainda não estava disposto a ceder img
Capítulo 10 Desaparecida img
Capítulo 11 Eu mesma cuidarei disso img
Capítulo 12 Escapando img
Capítulo 13 Resgate img
Capítulo 14 Descobrindo a verdade img
Capítulo 15 Envenenado img
Capítulo 16 Nosso acordo está encerrado. img
Capítulo 17 Você não precisa enfrentar isso sozinha img
Capítulo 18 A decepção que eu mesmo havia provocado img
Capítulo 19 Encontrando o celular img
Capítulo 20 Confrontando a culpada img
Capítulo 21 Ligação inesperada img
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Capítulo 3 Tudo o que eu nunca soube valorizar

Alexander

Ver Eliza tão radiante me revirava o estômago. Era previsível que ela estivesse nas nuvens, tratando nosso noivado como a realização de um sonho, mas isso não tornava a cena menos irritante. Eu não queria essa união - nem agora, nem nunca -, mas ela era cega demais para perceber a verdade, ou talvez apenas escolhesse ignorá-la. Para ela, isso era o início de um conto de fadas. Para mim, era um fardo.

Uma farsa que eu era obrigado a encenar.

Eu não me casava por amor, mas por dever - uma obrigação que me sufocava a cada respiração.

Ao sentir o celular vibrando em meu bolso, pedi licença e me afastei das duas, que, embora quase tivessem se engalfinhado minutos antes, já voltavam a conversar animadamente, fingindo harmonia com uma hipocrisia que me enojava.

Era minha assistente, lembrando-me do Gala Beneficente do Baile Dourado, evento que eu havia esquecido completamente, perdido no caos da minha própria vida. Merda.

"Certo, obrigado. Estarei lá", respondi antes de encerrar a ligação.

Voltei-me para as duas e anunciei, em tom seco: "Espero que não tenham se esquecido do Gala esta noite. É hora de se prepararem."

Sem esperar resposta, deixei o hospital e segui direto para o carro.

Eliza soltou um gritinho eufórico - um som agudo e irritante que me perseguiu até o lado de fora, enquanto ela provavelmente já se imaginava contando a todos que havíamos marcado a data, como se fosse a maior conquista de sua vida, a prova de que finalmente havia me "domado". Balancei a cabeça, exasperado, e entrei no carro.

A viagem foi silenciosa, e o breve sossego me trouxe alívio. Eliza, grudada no celular, devia estar comprando mais um vestido luxuoso de que não precisava, pois acreditava, piamente, que felicidade podia ser comprada.

No banco de trás, minha irmã mais nova, Vanessa, retocava a maquiagem em sua eterna busca por uma perfeição que eu achava tola, mas, de certo modo, compreendia.

"Animada para o baile?", perguntei, apenas para quebrar o silêncio.

Lançando-me um olhar divertido, ela respondeu: "Ah, bastante! Quem sabe eu não encontre meu futuro marido esta noite? Você sabe, Alexander, esse baile é para a elite, para o um por cento. O tipo de lugar que uma arrivista como Raina jamais sonharia em pisar."

O nome dela me atingiu como uma lâmina, e eu trinquei o maxilar, mas permaneci em silêncio. A mesma irritação queimou sob minha pele - um fogo que nunca se apagava. Por mais que eu tentasse afastá-la dos meus pensamentos, Raina sempre voltava, como uma sombra que se recusava a desaparecer.

O ódio da minha família por ela era quase palpável. Eles haviam transformado Raina na vilã de uma novela particular, e faziam questão de me lembrar disso a cada oportunidade - como se eu precisasse de um lembrete, como se a dor que ela me causara já não bastasse.

O que teria acontecido com ela? Para onde foi depois do divórcio? Estaria viva? Sofrendo, lutando para sobreviver - como merecia? Ou, pior, teria encontrado a felicidade que eu nunca lhe dei? E a criança... O nome me escapava, mas a lembrança ainda ardia. Será que ainda estava doente? Teria os traços da mãe? Ou herdara o que eu mais desprezava - um lembrete constante do meu fracasso?

Suspirei.

Nunca a defendi, e não seria agora que o faria, não quando tinha tanto a perder e minha própria sobrevivência dependia de manter as aparências - algo que eu sabia melhor do que ninguém.

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Quando chegamos em casa, Eliza me seguiu até o quarto, tagarelando sem parar sobre o baile, em uma euforia que beirava o insuportável. Fazia semanas que ela não usava o anel de noivado - um protesto mudo contra minha frieza -, mas, esta noite, certamente o exibiria como um troféu, como se o diamante pudesse consertar o que já estava irremediavelmente quebrado entre nós.

Tentei ignorar sua voz, que soava como um zumbido distante. Eu só queria paz, mas ela nunca percebia quando era hora de se calar.

Respirei fundo e empurrei os pensamentos sobre o casamento para longe. Não podia me dar ao luxo de ser assombrado por isso agora, pois tinha prioridades mais urgentes - como garantir a parceria com a família Graham, o clã mais poderoso de Nova York.

Durante anos, tentei me infiltrar em seu círculo, conquistar a confiança necessária para fechar um acordo que mudaria tudo. Mas sempre que eu me aproximava, algo acontecia: reuniões canceladas, desculpas vagas, portas que se fechavam. Ainda assim, eu sentia que, desta vez, seria diferente.

O Projeto Vince seria meu bilhete dourado. Eu havia sacrificado muito por ele - e esta noite provaria que valera a pena.

Eu podia sentir.

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O Baile Dourado era exatamente como eu imaginara - luxuoso, deslumbrante e sufocante, com o salão cintilando sob lustres imensos e mulheres desfilando em vestidos que custavam o salário de um homem comum por ano - o cenário dos sonhos para Eliza, mas o meu inferno particular. Ela se agarrava ao meu braço com força, as unhas cravadas em minha pele, posando para as câmeras com aquele sorriso ensaiado enquanto eu fazia o mesmo, mantendo a máscara no lugar, e cada flash era uma lembrança cruel de que eu vivia uma mentira cuidadosamente polida.

A risada dela, aguda e falsa, ecoava pelos salões. "O casal mais glamoroso de Nova York", diziam os fotógrafos. Eu apenas sustentava o sorriso, engolindo a raiva e o nojo com um gole de champanhe.

Então começaram os sussurros, discretos no início, mas crescendo em murmúrios ansiosos à medida que o anúncio da chegada dos Graham se espalhava pelo salão.

Senti o pulso acelerar quando o mestre de cerimônias anunciou, em voz solene, que a família Graham acabava de chegar.

Vanessa e minha mãe surgiram ao meu lado, excitadas como adolescentes.

"Ouviu isso? A filha perdida dos Graham foi encontrada, Alexander! Será que ela está aqui esta noite?", Vanessa sussurrou com os olhos brilhando.

Claro que era isso que a empolgava, e não sua caça habitual a algum solteiro cobiçado. Reprimi a vontade de revirar os olhos, pois Vanessa ainda não tinha percebido que mirar em Dominic Graham era uma causa perdida. Não que fosse meu papel apontar seu delírio, mas, para meu alívio, parecia que finalmente havia caído na real.

Acenei com a cabeça de forma distraída, prestando pouca atenção ao que ela e minha mãe diziam, enquanto Vanessa já sonhava em se aproximar da tal herdeira, certa de que uma amizade com os Graham representaria o auge - a consagração definitiva do status da nossa família.

Mas, quando os murmúrios ao redor se intensificaram, olhei para a entrada e vi Dominic Graham entrar no salão com a imponência de quem nasceu para comandar. Mas não foi ele quem me tirou o ar. Foi a mulher a seu lado, caminhando com graça, a mão repousando em seu braço e a postura impecável. Um reflexo distante da mulher que um dia esteve ao meu lado, frágil e vulnerável.

Raina.

Não podia ser.

Ela estava diferente. Não apenas mais bonita - estava... plena, radiante, intocável -, e a constatação me atingiu como um golpe.

Minha ex-esposa.

A mulher que eu fingia não procurar, mas que secretamente rastreava há anos e que, mesmo desaparecida, ainda me assombrava.

Ela não havia simplesmente sumido. Ressurgia ali, entre os Graham - e não com qualquer um deles, mas com Dominic, o herdeiro do império.

Há quanto tempo ela estava com ele? O que fazia ali?

E por que parecia pertencer àquele lugar, como se tivesse nascido para ele?

As perguntas se atropelaram em minha mente. Raina se movia pelo salão com uma naturalidade insolente, como se cada olhar de admiração fosse seu por direito.

A raiva subiu em mim como veneno. Não podia ser assim. Eu havia passado anos alimentando a imagem de sua ruína - sozinha, desamparada, criando aquela criança em meio à miséria - acreditando que esse era o castigo que ela merecia.

Mas não.

Lá estava ela, vestida com luxo, linda, serena - de braços dados com o herdeiro do império Graham.

Sua beleza era uma afronta, uma provocação, e eu a odiei por isso - por ter ousado ser feliz sem mim e se tornado tudo o que eu nunca soube valorizar.

            
            

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