Ela realmente me deixou novamente. Ela só ficaria comigo se eu me entregasse ao assassino de Theo?
Sem chance.
Segurei firme a mala e me voltei para a porta, sentindo-me vazia.
Antes que pudesse sequer virar a maçaneta, minha visão ficou ainda mais turva e o local da marca ardeu como se Julian Black estivesse me mordendo novamente.
Meus joelhos fraquejaram e minha visão escureceu.
. . .
O sol já estava alto e entrando pela janela da sala, mas não foi isso que me acordou.
A porta foi aberta com um estrondo e eu levantei do chão sobressaltada.
Havia dois machos com ternos me encarando, pela deusa... eu havia desmaiado e agora acordei com dois machos invadindo minha casa?
- Quem são vocês? O que querem aqui? - esbravejei, sentindo o sangue subir para a cabeça.
Um deles, o mais alto deu um passo a frente e vi como olhou para a mala no chão.
- O Alfa Rowen solicita sua presença imediatamente.
Olhei para os dois machos e para a minha mala.
Eu precisava fugir. Sabia que Julian voltaria. E não tinha certeza se conseguiria me manter longe dele, sentia o vínculo me torturando apenas em pensar em deixa-lo.
- Podem ir na frente. - menti e novamente o macho mais alto olhou para a mala.
- Temos ordens de leva-la agora. - O macho insistiu.
Merda.
Assenti e os segui, mas levando minha mala. Eu iria embora de lá.
Vários minutos depois, fui levada em direção ao escritório de Isaac.
O macho estava de costas atrás da mesa, estava em meio a uma ligação.
Quando cheguei, ele se virou em minha direção.
- Sim, está quase tudo resolvido. Tenho que ir. - o macho disse e desligou.
Ele fez um sinal com a mão e dispensou os machos que me trouxeram.
- O que deseja irmão? Eu vou viajar por um tempo...- Falei e torci para que ele não notasse a marca de Julian Black.
Seu olhar recaiu em meu pescoço, mas estranhamente ele não comentou.
- Me ouça bem, Isabela. Você tem a chance de retornar para essa alcateia. Eu tenho um companheiro para você.
Engoli em seco.
- O que? Eu não vou me casar...
- Se não me obedecer, Cecília terá que se casar no seu lugar. É uma dívida que preciso pagar. E vejo que você foi marcada contra sua vontade. Está fugindo, não está?
É claro que ele diria isso.
Senti meu estômago revirar.
- Esse casamento é a sua chance de retornar a alcateia. Será novamente bem tratada aqui, poderá ter um papel de honra. Respeito. Você sabe que manchou o nome Rowen ao se vincular com um ômega...
- Eu aceito. - respondi e Isaac se interrompeu.
Ele piscou várias vezes e se recompôs.
Eu sabia o que ele estava esperando. Que teria que me chantagear e obrigar.
Mas se eu me vinculasse a outro Alfa, ele poderia retirar essa marca com a sua própria.
E Julian Black sumiria.
Três dias depois.
Não tinha interesse em reparar no noivo no altar, mas quando dei os primeiros passos em direção ao altar.
Congelei.
Julian Black estava diante de mim, e antes que eu pudesse perceber ou pensar, fomos unidos em matrimonio. Olhei para Isaac sentado atrás, ele havia me enganado.
De repente, Julian segurou a minha mão e me puxou para um beijo, fazendo com que a marca em meu pescoço queimasse e Vênus despertasse.
- É minha fêmea agora, Bela. - ele sussurrou em meu ouvido.
Antes que eu pudesse protestar, Julian me levou em direção ao carro, eu via todos os lobos da alcateia Rowen me olhando como se eu estivesse sendo levada para o tumulo.
Fechei os olhos dentro do carro e tentei ignorar Julian ao meu lado.
Ele me encarou o durante todo o caminho.
Quando chegamos na alcateia, a primeira coisa que Julian fez foi me trancar em um quarto.
- Na primeira e na última noite de lua cheia eu gosto de ficar sozinho. Então você deve ficar aqui em seu quarto e não sair. - ele avisou e me trancou no quarto.
Sentei-me na cama e chorei em silencio. Ao menos, salvaria minha alcateia da falência com aquele acordo, ainda assim, ele matou Theo.
. . .
Era a última noite de lua cheia, durante todos os dias Julian havia dormido no chão do meu quarto, exceto no primeiro dia de lua cheia e agora no último.
Quando pensei nele sua marca ardeu em meu pescoço e de repente minha visão mudou.
Eu visualizei seu rosto em um espelho.
Seus cabelos estavam úmidos, seus olhos díspares me encararam curiosos.
Julian Black estava sem camisa, os pelos de seu peito úmidos, seus lábios se entreabriram e um sorriso sensual se formou.
"Está me observando de toalha, Bela. Eu gostaria de fazer o mesmo." Ele sussurrou para mim.
Bastardo.
Fechei os olhos com força e me inclinei para frente, colocando meu rosto entre os joelhos.
Lentamente, a visão de Julian desapareceu.
Desde que ele havia me marcado eu sonhava com ele e as vezes quando pensava no macho, conseguia vê-lo.
Julian sempre notava quando eu o observava, mas eu não conseguia vê-lo me observando.
As vezes sentia. Mas ele me VIA.
Fiquei horas acordada na enorme cama, as janelas estavam abertas e o vento noturno soprava as cortinas brancas.
De repente, ouvi um som.
Me levantei da cama de imediato a tempo de ver uma sombra pequena correndo.
Pela deusa...
Aquilo era um rato?
Peguei um livro pesado que estava em uma mesinha e sem pensar duas vezes, o lancei contra ele.
O animal asqueroso se desviou por pouco e se enfiou em um buraco na parede.
- É claro! Além de ser atormentada por visões de Julian toda vez que ele toma banho, agora tinha que lidar com um rato no quarto! - esbravejei.
Voltei a me deitar e não consegui dormir.
Quando os primeiros raios de sol entraram pela janela eu estava acordada.
A tempo de ver o rato saindo de sua toca. Me sentei imediatamente e segurei o livro, mas parei ao olhar chocada para olhos bicolores. Olhos pequenos como os que eu havia visto antes ao ser mordida.
Diante dos meus olhos, o pequeno animal passou por uma metamorfose...
O focinho dando lugar a um nariz.
O corpo asqueroso crescendo e se transformando em algo humano.
Ao fim, de joelhos e inclinado no chão com o rosto colado no piso de madeira estava Julian Black.
O Alfa cruel e orgulhoso Julian Black era um rato que eu quase matei com um livro.