Dante já estava lá, relaxado em uma poltrona de veludo, um copo de líquido âmbar na mão. Ele era devastadoramente bonito, do jeito que os anjos caídos são. Cabelos escuros, olhos que continham um brilho de diversão cruel e uma boca que parecia feita para sorrir da desgraça alheia. Sua reputação o precedia: um Don playboy e imprudente que herdou o império Moreira e parecia mais interessado em queimá-lo até o chão do que em administrá-lo.
"Sra. Varella", disse ele, sua voz um ronronar baixo. Ele não se levantou. "Uma honra."
Meu coração martelava contra minhas costelas. Um Capo dormindo com a garota de um Don... homens já foram mortos por menos. Forcei um sorriso educado. "Don Moreira", respondi. "Espero que não tenha havido um terrível mal-entendido."
Ele riu, um som curto e zombeteiro. "Ah, eu não entendo nada errado. Sou um homem simples. Gosto de carros velozes, mulheres bonitas e lealdade. Seu marido parece ter um problema com essa última."
Respirei fundo, escolhendo minhas palavras com cuidado. "Marcos pode ser... impulsivo. Tenho certeza de que foi apenas um erro de bêbado. Um beijo sem importância."
O sorriso de Dante desapareceu. "Um beijo sem importância?" Ele zombou, tirando o celular do bolso e deslizando-o pela mesa polida. "Isso parece sem importância para você?"
Ele apertou o play.
Na tela, eram Marcos e a garota da boate. Sofia. Eles estavam em uma suíte de hotel, as luzes da cidade piscando atrás deles. E eles estavam se beijando, mas não era o beijo frenético e bêbado da boate. Este era lento, íntimo. As mãos de Marcos embalavam o rosto dela como se ela fosse feita de vidro.
Então ele falou, sua voz clara na gravação. "Eu te amo", ele disse a ela. "Helena... aquilo é só negócios. Uma casca vazia. É você quem eu quero."
O mundo ficou em silêncio. O próprio ar em meus pulmões se transformou em gelo. Cada memória, cada sacrifício, cada pedaço da vida que eu construí se desfez em pó. Uma coisa era ver um vídeo granulado. Outra era ouvir as palavras - o descarte casual e brutal de nossos quinze anos.
Encarei o celular, minhas mãos tremendo. Eu não conseguia falar.
"O que você quer?" finalmente consegui sussurrar, minha voz um coaxar rouco.
Dante se inclinou para frente. A diversão de playboy em seus olhos evaporou, substituída por algo frio e calculista. Este era o verdadeiro Don Moreira. "Eu quero que você se divorcie dele."
Eu o encarei, perplexa. "Por quê?"
"Porque um homem que quebra seus votos assim é fraco. Não confiável. Ruim para os negócios." Ele fez uma pausa, deixando as palavras assentarem. "E porque eu tenho uma proposta para você. Uma aliança de negócios."
Eu me divorciaria de Marcos. Na separação, eu assumiria o controle do portfólio de energia de hidrogênio do Grupo Fênix - uma divisão que eu construí do zero, um ativo de ponta perfeito para lavagem de dinheiro de alto nível. Eu então o fundiria com as frentes de energia eólica da família Moreira.
"Juntos", disse ele, seus olhos brilhando com um fogo frio e ambicioso, "criaremos um império de energia limpa intocável. Controlaremos o futuro da cidade."
Eu recuei. Deixar Marcos por este homem? Esta cobra? Eu conhecia Marcos. Conhecia suas falhas, seu temperamento, sua ganância. Mas eu havia construído meu mundo ao redor dele. Dante era um estranho, um inimigo. Eu preferia o diabo que eu conhecia.
"Não", eu disse, minha voz trêmula, mas firme. "Eu não vou."
Dante apenas sorriu, uma curva lenta e predatória de seus lábios.
"Uma pena", disse ele suavemente. "Porque um homem que trai sua esposa também pode trair seu parceiro de negócios." Ele deslizou outro documento pela mesa. Era um extrato bancário. "Marcos já começou a mover seus bens em comum para o exterior. Ele acabou de fechar a compra de uma mansão em Angra dos Reis. Está no nome da Sofia."
Ele se recostou, girando o líquido em seu copo. Seu olhar encontrou o meu, mantendo-o cativo. "No nosso mundo, Helena, roubar da família... isso é um pecado mortal."