Ela percebeu que ele ficou desnorteado e nervoso. Saiu andando cabisbaixa, sentindo que mais pessoas estavam reparando nela e falando. Ficou encostada no carro, esperando e tentando esconder a barriga, olhando as pessoas que entravam e saíam do mercado. Quando Dom saiu, um funcionário do mercado o ajudou com o carrinho. Ele se aproximou com uma sacola pendurada e perguntou:
- Por que não entrou no carro?
Ela ficou olhando para o chão.
- Você não deu as chaves.
Ele entregou a sacola a Marvila.
- Esqueci as chaves, me desculpe. Pode ir para o carro e comer.
Marvila entrou na caminhonete, curiosa com o conteúdo da sacola. Lá dentro, encontrou um lanche natural, uma garrafa de suco de beterraba com laranja, um pote de mousse de chocolate, duas bananas, uma esfiha e um pão doce. A fome era tanta que ela não sabia por onde começar. Tomou o suco, devorou o lanche e, em seguida, o mousse.
Enquanto isso, Dom guardou todas as compras. Ao entrar no carro, ele estendeu uma garrafa de água para Marvila.
- Você precisa comer bem - disse, com a voz séria.
- Qual a sua idade? Você realmente parece muito nova.
- Dezenove anos - Marvila respondeu, com a voz baixa. Depois, ganhou coragem e perguntou:
- E você? Quantos anos tem?
- Trinta e cinco - Dom respondeu, olhando para a estrada.
Marvila ficou surpresa.
- É... achei que fosse mais velho só pelo jeito sério. Eu... não tenho mãe nem pai. Sou órfã. Fui criada pela minha avó, mas ela faleceu. Então, é só eu e o bebê agora.
- Você avisou alguém que estava bem? - ele perguntou, com um tom de cautela.
- Alguma amiga, vizinha da sua avó?
Ela balançou a cabeça, cabisbaixa.
- Não. Depois que minha avó morreu, eu não fiquei com ninguém. Não tenho a quem avisar.
Dom hesitou, mas a preocupação falou mais alto.
- Não quero te julgar, mas... você tem alguma intenção de talvez não ficar com o bebê? Eu sei que mulheres que não vão ao médico e se afastam das pessoas às vezes pensam nisso.
Marvila ficou séria.
- Eu prefiro morrer a abandonar meu filho. E se você tem algum interesse em dar ou comprar meu bebê, precisa saber que eu nunca vou aceitar isso.
Dom, surpreso com a resposta, pediu desculpas.
- Fico feliz em saber que você é uma pessoa de confiança, e eu jamais separaria uma mãe de seu filho.
A volta para casa foi em silêncio. Ao chegarem, Dom tirou as compras e Marvila se ofereceu para ajudar.
- Me ajude a guardar tudo, assim você sabe onde as coisas ficam - ele sugeriu.
Ele colocou as sacolas na mesa e na pia, enquanto ela começava a guardar os produtos. De repente, Marvila parou, paralisada, segurando na cadeira, e respirou fundo.
Dom a olhou, preocupado.
- Tudo bem? Está com dor? Quer sentar?