Sob Contrato Debaixo de sua pele
img img Sob Contrato Debaixo de sua pele img Capítulo 3 A Oferta Inesperada
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Capítulo 6 Os Olhos Que Desconcertam img
Capítulo 7 Cena Corporativa img
Capítulo 8 Regras de Dante img
Capítulo 9 Elevador Preso img
Capítulo 10 Distância Calculada img
Capítulo 11 A Ameaça Velada img
Capítulo 12 A Palavra Proibida img
Capítulo 13 Jogo de Ciúmes img
Capítulo 14 Mentiras Necessárias img
Capítulo 15 A Primeira Rachadura img
Capítulo 16 Confissões na Tempestade img
Capítulo 17 Passado Sangrento img
Capítulo 18 O Jantar com a Mãe img
Capítulo 19 A Linha é Cruzada img
Capítulo 20 O Perigo À Espreita img
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Capítulo 3 A Oferta Inesperada

O relógio marcava 19:45 quando Catalina fechou a última pasta sobre a mesa de reuniões. Estava há mais de doze horas dentro das paredes impecáveis da Del Monte Holdings e, mesmo assim, sentia que mal tinha arranhado a superfície do caos que representava o seu novo trabalho.

O escritório no quadragésimo segundo andar estava quase vazio. A maioria dos funcionários tinha ido embora há horas, mas o gabinete de Dante Moretti continuava iluminado. O murmúrio distante da cidade filtrava-se através das janelas, e a penumbra cinzenta do anoitecer envolvia a sala com um ar solene.

Catalina massajou as têmporas, tentando afastar o cansaço que lhe pesava nos ombros. Mal podia acreditar que tinha sobrevivido ao seu primeiro dia sem derramar café em algum documento importante ou apagar acidentalmente um arquivo crítico. Mas a sensação de alívio durou pouco.

A voz profunda e firme que já reconhecia ressoou atrás dela:

- Senhorita Vega.

Catalina virou-se bruscamente e encontrou-o apoiado no batente da porta, com as mãos nos bolsos das calças e aquele ar intimidante que parecia carregar em cada movimento. A gravata cinzenta estava desapertada e o casaco do fato repousava numa cadeira, mas nem isso lhe tirava a presença. Dante Moretti parecia o tipo de homem que estava sempre no controlo... mesmo quando não estava.

- Senhor Moretti - cumprimentou Catalina, tentando soar profissional enquanto reprimia o desconforto que o olhar dele lhe provocava. - Já terminei o relatório preliminar.

Ele avançou com passos lentos, quase silenciosos, como um predador à espreita da sua presa. Pegou no documento das mãos dela e folheou-o sem se sentar, os seus olhos cinzentos percorrendo as páginas com velocidade. Catalina não sabia se ele estava à procura de erros ou a testar a sua paciência.

Após alguns segundos eternos, ele pousou a pasta na mesa e levantou os olhos.

- É aceitável - sentenciou.

Catalina franziu a testa.

- Aceitável? Passei quatro horas a rever esses números...

- Isso explica por que é apenas aceitável - respondeu, seco, enquanto se sentava na cabeceira da mesa.

Ela olhou para ele, incrédula. Tinha a estranha sensação de que Dante Moretti gostava de a provocar.

- Então, da próxima vez tentarei que seja... excelente - disse, levantando ligeiramente o queixo.

O gesto fez com que os lábios de Dante se curvassem ligeiramente num sorriso que não alcançou os seus olhos.

- É melhor que sim, senhorita Vega. Aqui não se premeia o esforço, mas sim os resultados.

Catalina conteve um suspiro. Sabia que enfrentá-lo era arriscado, mas havia algo no seu tom, naquela forma tão calculada de falar, que despertava nela um instinto de resistência.

Dante recostou o corpo para trás, cruzando uma perna sobre a outra, e estudou-a com atenção, como se quisesse decifrá-la. Então, sem aviso prévio, deixou escapar uma frase que a desorientou:

- A partir de amanhã, trabalhará exclusivamente para mim.

Catalina piscou várias vezes, confusa.

- Desculpe?

- A minha assistente pessoal demitiu-se na semana passada - explicou com absoluta calma. - Preciso de alguém que administre a minha agenda, coordene reuniões e esteja disponível a todo o momento.

Ela olhou para ele como se ele tivesse acabado de lhe pedir para pilotar um foguetão.

- A... todo o momento?

- Sim - respondeu, sem pestanejar. - O meu trabalho não se limita ao horário de escritório. Há jantares corporativos, viagens, reuniões de emergência. Quem trabalha comigo deve estar preparada para isso.

Catalina sentiu um nó formar-se no estômago. O cargo de assistente pessoal do CEO era o mais exigente e, ao mesmo tempo, o mais cobiçado dentro da Del Monte Holdings. Mas havia um problema: ela não entendia porque é que ele a estava a escolher. Havia candidatas com mais experiência, melhores contactos, currículos impecáveis.

- Senhor Moretti - começou com cautela -, creio que deveria haver melhores opções para o senhor. Mal estou a aprender como funciona a empresa...

- Não estou a pedir a sua opinião - interrompeu Dante, com voz baixa mas firme. - Estou a dar-lhe uma oportunidade que muitos matariam por ter.

Catalina sentiu o ar preso na garganta. Olhou para ele em silêncio por alguns segundos, tentando ler nas entrelinhas. Havia algo no seu tom, naquela segurança implacável, que lhe dizia que isto não era uma simples decisão laboral.

- Por que eu? - atreveu-se a perguntar finalmente.

Os olhos de Dante cravaram-se nos dela. Não piscou. Não sorriu. Não respirou mais rápido. O seu rosto era uma máscara perfeita.

- Porque eu quero que seja a senhora - respondeu, sem dar explicações.

Catalina sentiu o seu peito encolher. Não soube se a resposta a tranquilizava ou a inquietava mais.

- Teremos de redigir um contrato - acrescentou Dante, tirando uma pasta da gaveta da sua secretária. - Cláusulas de confidencialidade, exclusividade e disponibilidade absoluta. Nada de fugas de informação, nada de contacto com a imprensa. Se quebrar alguma dessas condições, responderá perante a lei.

Ele deslizou o documento sobre a mesa. Catalina pegou nele com as mãos a tremer. Eram pelo menos vinte páginas cheias de termos legais e penalidades.

- Isto é... - ela procurou as palavras - muito mais do que esperava.

- Eu sei - disse Dante, inclinando-se para a frente. - E também sabe que precisa deste trabalho.

Catalina levantou o olhar de repente, sentindo o seu orgulho acender-se.

- Precisar não significa que não possa pensar nas coisas.

Pela primeira vez, os olhos de Dante brilharam com algo que parecia diversão.

- Faça-o, senhorita Vega. Pense nisso. Mas lembre-se de algo... - apoiou os cotovelos na mesa, aproximando-se o suficiente para que Catalina sentisse o calor da sua presença. - Se aceitar, a sua vida deixará de ser sua.

O silêncio que se seguiu foi tão pesado que Catalina sentiu que podia ouvir os batimentos do seu próprio coração.

Quis responder, mas Dante já tinha voltado a recostar-se na sua cadeira, como se aquele aviso não fosse mais do que um dado irrelevante.

- Tem até amanhã para decidir. Às oito em ponto.

Catalina assentiu, recolheu as suas coisas e saiu do gabinete tentando controlar a respiração. Enquanto o elevador descia, olhou para o contrato que segurava nas mãos.

Sabia que assiná-lo significaria renunciar a grande parte da sua vida pessoal. Sabia que Dante Moretti era um homem exigente, imprevisível e, de alguma forma, perigoso.

E, no entanto, a ideia de o rejeitar era-lhe impossível.

Quando Catalina se perdeu entre as luzes da cidade, Dante permaneceu sozinho no seu gabinete, observando pelas janelas. Sobre a sua secretária, o processo com o nome Catalina Vega continuava aberto, marcado com tinta vermelha.

Um leve suspiro escapou dos seus lábios.

- Bem-vinda ao meu jogo, senhorita Vega.

            
            

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