Nunca te amei, era só um tapa-buraco
img img Nunca te amei, era só um tapa-buraco img Capítulo 3
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Eu disse o endereço ao motorista, minha voz monótona, desprovida de emoção. O caminho para casa foi um borrão. Quando abri a porta do meu apartamento, uma melodia suave vinha da sala de estar.

Fabi estava lá, aninhada no meu sofá, cantarolando junto com uma música no alto-falante inteligente. Meu apartamento. Meu sofá. E em suas mãos, cuidadosamente embalada, estava a caneca de cerâmica que eu pintei com tanto esmero para o Heitor anos atrás. Aquela que eu guardava em um armário trancado, tirando-a apenas no aniversário dele.

Ela estava bebendo nela, uma mancha de chocolate em sua bochecha, um leve rastro de chantilly em seu queixo. Meu coração se apertou no peito, um nó frio e duro.

Caio estava inclinado sobre ela, limpando gentilmente o chocolate de seu rosto com o polegar. Suas cabeças estavam próximas, uma imagem de felicidade doméstica que gritava traição.

Eu simplesmente coloquei minha bolsa no chão, o baque suave ecoando no silêncio repentino.

Então, caminhei até lá, arranquei a caneca da mão dela e a atirei contra a parede oposta. Ela se estilhaçou em cem pedaços, espalhando cacos de cerâmica e restos de chocolate quente pela parede branca imaculada.

Fabi gritou, se escondendo atrás de Caio como uma criança aterrorizada. Seus olhos, arregalados e inocentes, encheram-se de lágrimas.

O rosto de Caio escureceu. "Clara! Que porra foi essa?", ele exigiu, sua voz carregada de veneno. "Você está louca? Ela não fez nada!"

"Ela é só uma criança, Clara!", ele gritou, colocando-se entre nós, protegendo Fabi com seu corpo. "Ela não comeu o dia todo. Eu só a trouxe para casa porque ela não tinha para onde ir!"

Ele acenou com a mão de forma desdenhosa para os cacos. "E por isso? Uma caneca estúpida e velha? Que diferença faz?"

Fabi espiou por trás dele, sua voz trêmula. "E-eu sinto muito, Clara. Eu não sabia que era... especial. Eu só a vi e achei bonita. Eu posso te comprar outra. Eu prometo!"

Ela então passou por Caio, pegando sua pequena mochila. "E-eu vou embora agora", ela choramingou, e então saiu pela porta, desaparecendo na chuva forte que acabara de começar a cair. Uma saída dramática. Uma performance perfeita.

Caio me fuzilou com o olhar, seu rosto uma máscara de fúria e decepção. "Está feliz agora?", ele cuspiu as palavras, sua voz baixa e perigosa. "Ela é alérgica a álcool, e você acabou de mandá-la para aquela tempestade, chateada e sozinha!"

Ele marchou em direção à porta, sem sequer olhar para trás, sem notar o tremor em minhas mãos, ou a forma como meu peito de repente se apertou com uma dor familiar e sufocante. Ele apenas bateu a porta, me deixando em pé em meio aos destroços.

Caminhei até os cacos da caneca, um único fragmento maior contendo os últimos vestígios do chocolate quente. Eu o peguei, ignorando as bordas afiadas, e o levei aos lábios. Estava frio, amargo.

Liguei para o serviço de limpeza. Eles estariam aqui em uma hora.

Então, caminhei para o meu quarto, o silêncio do apartamento pesado ao meu redor, e caí em um sono profundo e sem sonhos.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022