Em vez disso, eu o encontrei, em nossa casa de hóspedes, enrolado nos lençóis com uma estagiária de marketing. As risadinhas dela, as palavras sussurradas dele - eram como cacos de vidro em meus ouvidos. Eu não entrei, não gritei. Apenas fiquei ali, escondida pelas sombras, observando-os, sentindo meu mundo desmoronar em pó. O ar saiu dos meus pulmões, me deixando oca e fria. Passei os três dias seguintes barricada em meu estúdio, sem comer nada, dormindo pouco, os bilhetes para Gramado apertados na minha mão, uma piada cruel.
Quando Ricardo finalmente voltou para casa, seu rosto era uma máscara de preocupação, mas seus olhos corriam por toda parte, procurando por qualquer sinal da minha descoberta.
"Juliana, onde você esteve? Fiquei tão preocupado!", ele disse, sua voz carregada da preocupação praticada de um mentiroso experiente. Ele tentou me abraçar, mas eu enrijeci, o cheiro do perfume barato dela grudado em sua camisa cara.
"Onde você estava, Ricardo?", perguntei, minha voz fina, fraca, mal era a minha. "Eu tentei ligar. Você não atendeu."
Ele suspirou, uma performance cansada. "Trabalho, Ju. Você sabe como é. Sem parar. Eu só apaguei no sofá do meu escritório. Precisava clarear a cabeça." Ele esfregou as têmporas, uma imagem perfeita de exaustão. "Sinceramente, Ju, você se preocupa demais. Eu estou bem. Nós estamos bem." Ele me puxou para mais perto, seus braços uma jaula, não um conforto.
Mas eu não estava bem. Naquela noite, rasguei nosso álbum de casamento, arrancando o rosto dele, desfiando as memórias. A raiva era uma fera selvagem, arranhando minhas entranhas, desesperada para escapar. Seu desdém casual pela minha dor, suas mentiras fáceis, zombavam da própria base de nossos votos. Era como Léo de novo - a sensação de ser totalmente impotente, de ter meu mundo despedaçado por forças além do meu controle.
Ricardo me encontrou em meio ao confete de fotos rasgadas, soluçando incontrolavelmente. Ele se ajoelhou ao meu lado, suas mãos em meus ombros, seus olhos cheios de um remorso fabricado.
"Juliana, meu amor, me desculpe. Eu sei que não tenho sido eu mesmo ultimamente. A pressão... tem sido imensa. Mas eu te amo. Só você. Por favor, não faça isso conosco." Ele prometeu terminar, o que quer que 'isso' fosse. Ele jurou no túmulo de sua mãe que eu era a única. E eu, desesperadamente agarrada à esperança do homem que me salvou, acreditei nele. Eu sempre acreditava.
Ele fez um show ao demitir a estagiária, humilhando-a publicamente. Por um breve e brilhante momento, pensei que poderíamos reconstruir. Eu tentei. Fui à terapia, li livros de autoajuda, até comecei a compor novamente, derramando meu coração fraturado em uma nova melodia. Eu queria acreditar em nosso amor, em sua redenção.
Mas então, as mensagens anônimas começaram. Capturas de tela de suas conversas íntimas, fotos deles jantando em restaurantes isolados, recibos de hotel. Amanda. Ela enviou tudo. Cada mensagem uma nova ferida, abrindo a casca que eu havia formado com tanto cuidado.
"Ele ainda está comigo, Juliana", dizia uma mensagem. "Ele só gosta de joguinhos. Você é o brinquedo velho, querida. Eu sou o novo e brilhante."
Minha paz frágil se estilhaçou. Confrontei Ricardo novamente, a evidência queimando em minha mão.
"Você ainda está saindo com ela?", exigi, minha voz rouca, tremendo com um terror renovado. "Me diga a verdade, Ricardo!"
Ele mal ergueu os olhos de seu tablet. "Juliana, por favor. Isso de novo não." Seu tom era desdenhoso, irritado. Ele acenou com a mão impacientemente. "Não é nada. Uma relação de negócios. Você está sendo paranoica."
"Paranoica?", gritei, jogando o telefone nele. Bateu em seu peito. "Isso são encontros, Ricardo! Mensagens! Ela sabe coisas que só um amante saberia!"
Ele finalmente olhou para mim, uma expressão fria e distante em seu rosto.
"E se eu estiver?", ele disse, sua voz monótona. "É só físico, Ju. Você sabe que eu te amo. Você é minha esposa, minha alma gêmea. Ela é... apenas uma distração. Uma válvula de escape. Não significa nada. Certamente, como artista, você entende a separação entre o físico e o espiritual?"
Suas palavras me deixaram em silêncio. O homem diante de mim era um estranho, um monstro insensível e calculista que eu não reconhecia. O homem que uma vez compôs cartas de amor para mim agora estava justificando sua infidelidade com retórica filosófica.
Tentei revidar, expor Amanda, recuperar meu marido. Mas Ricardo, com seu imenso poder e influência, esmagou todas as tentativas. Ele protegeu Amanda, elevando seu status, dando-lhe contratos de escolha, apresentando-a a seus amigos poderosos. Ele me marginalizou publicamente, me transformando na esposa amarga e ciumenta. Ele se certificou de que todos soubessem que eu era a instável, a compositora frágil com um histórico de colapsos emocionais.
Ele congelou minhas contas, cortou meu acesso aos nossos bens compartilhados.
"Você quer ir embora?", ele disse, seus olhos frios e duros. "Ótimo. Mas você sairá sem nada. Vou garantir que sua família, aqueles parentes com dificuldades para quem você envia dinheiro? Eles perderão tudo também. A menos que..." Ele fez uma pausa, um sorriso cruel brincando em seus lábios. "A menos que você entre no jogo. Mantenha as aparências. Seja a esposa obediente, e eu garantirei seu conforto. Você pode ter sua música, sua vida tranquila. Apenas não interfira."
Eu estava presa. Quebrada. O ciclo de traição e manipulação me deixou uma casca do que eu era. Eu definhei, física e mentalmente. Minhas mãos tremiam constantemente, minha mente nublada por uma névoa crescente. Eu não conseguia mais compor, não conseguia mais tocar. A música, meu único elo com Léo, havia morrido dentro de mim. Tornei-me um fantasma em minha própria casa, assombrada pelo espectro de suas infidelidades.
Comecei a me cortar, não profundamente, apenas arranhões superficiais em meus braços e coxas, uma tentativa desesperada de sentir algo, qualquer coisa, além do vazio sufocante. Passei horas rolando pelas redes sociais de Amanda, alimentando minha obsessão, assistindo-a exibir sua vida roubada. Às vezes, eu criava contas anônimas e deixava comentários venenosos, apenas para excluí-los momentos depois. Eu era uma coisa patética e quebrada, uma sombra da mulher que Ricardo uma vez afirmou amar.
Minha vida parecia uma sinfonia ruim, uma cacofonia dissonante de dor e desespero. "Sou um instrumento quebrado", escrevi em meu diário, "um violino com cordas arrebentadas, um piano com teclas estilhaçadas. Não há mais música em mim, apenas silêncio. Um silêncio que grita."
Então, o diagnóstico veio. Doença neurológica terminal. Os tremores, a dormência, a névoa cognitiva - tudo tinha um nome. Estava progredindo rapidamente, tirando minhas habilidades, pedaço por pedaço agonizante. Era uma sentença de morte, entregue com desapego clínico.
Eu estava no hospital, abalada com a notícia. Meu corpo parecia estar me traindo de todas as maneiras possíveis. Enquanto eu estava sentada na sala de espera estéril, entorpecida e desorientada, eu os vi. Ricardo e Amanda. Eles passaram, de braços dados, rindo, seus rostos brilhantes e despreocupados. Amanda, resplandecente em um terno sob medida, segurava um buquê de lírios vibrantes. Ricardo, sempre a imagem do sucesso, sussurrou algo em seu ouvido, fazendo-a rir. Eles pareciam o casal perfeito e feliz, alheios ao mundo, especialmente ao mundo quebrado que eu habitava.
Ele me viu então, seus olhos se arregalando quase imperceptivelmente. O sorriso vacilou, substituído por um lampejo de preocupação, ou talvez, pena.
"Juliana?", ele perguntou, sua voz hesitante, uma rachadura súbita em sua fachada polida. "O que você está fazendo aqui?"
Eu apenas olhei para ele sem expressão, depois para Amanda, suas formas perfeitas e saudáveis um contraste gritante com meu próprio corpo em decomposição. Senti uma onda de náusea, uma fraqueza súbita que ameaçou dobrar meus joelhos. O medo apertou meu coração, um aperto frio e gelado. Eu estava morrendo. E estava completamente sozinha. O pensamento de enfrentar a morte, sozinha, sem amor, era mais aterrorizante do que a dor física. Eu precisava dele. Eu precisava de seu amor, de sua presença, para validar minha existência, para provar que eu não era totalmente descartável.
"Ricardo", sussurrei, minha voz rouca, lágrimas ardendo em meus olhos. "Eu... eu cometi um erro." As palavras pareciam pesadas, com gosto de cinzas e derrota. "Eu quero você de volta. Eu faço qualquer coisa. Por favor. Apenas... por favor, não me deixe."
Sua expressão se suavizou, um sorriso lento e predatório se espalhando por seu rosto. Ele olhou para Amanda, depois de volta para mim, um brilho calculista em seus olhos.
"Qualquer coisa, Ju?", ele perguntou, sua voz baixa, cheia de uma satisfação perigosa. "Tem certeza?"
Eu assenti, o desespero me tornando fraca, desesperada por uma tábua de salvação. "Qualquer coisa."
Ele sorriu, um sorriso sombrio e triunfante. "Bom", ele disse, e então, me puxando para um abraço surpreendentemente gentil, ele selou nossa reconciliação distorcida. O ciclo havia se completado.