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Próximo à uma pequena cidade, um castelo; no castelo, uma família fadada à autodestruição; na família, um jovem... ah!, este que deve carregar o caos de toda a destruição familiar sobre si. Que pesadelo! Como livrar-se de um pesadelo que te acorrenta a alma? É possível um recomeço para alguém que acredita estar inteiramente destruído? Há alguma esperança?
- Corra! - uma voz dizia-me.
Desci as escadas o mais rápido possível e corri, abri as portas e corri, corri até chegar à floresta, estava escuro, era noite.
- Corra! Fuja! - a voz continuava gritando para mim já no portão, o qual eu acabara de atravessar. - Fuja!
Continuei correndo o mais rápido que conseguia, até que esbarrei em alguém.
- NÃO! - Gritei já em prantos. Era ele...
• × • × • × • × •
20:30h
- NÃO! - Gritei ao acordar-me.
Sentei-me na cama olhando fixamente para qualquer parte do quarto. Ainda que eu houvesse já despertado, estava ainda preso naquele pesadelo. Balancei levemente a cabeça para fugir daquilo que mais parecia um transe, respirei fundo, contei até três lentamente, suspirei e levantei-me, peguei o livro que estava lendo até que adormeci e coloquei-o de volta na estante, caminhei diretamente ao banheiro para tomar um banho, após ter banhado, vesti-me e decidi sair, peguei meu carro e fui à um restaurante de comida asiática no centro da cidade, escolhi a minha mesa e pedi sushis e um soju.
Enquanto aguardava a chegada do pedido, observava ao meu redor, todas as pessoas ali estavam acompanhadas e sorriam. Não demorara muito e logo chegara o meu pedido. Após terminar o que fora o meu jantar, levantei-me e notei alguém caminhar na minha direção parando bem à minha frente.
- Oi. - falou sorrindo. Era uma bela mulher. - Desculpa, mas notei que é o único sozinho. Está tudo bem?
Apenas ignorei-a com uma expressão neutra e dei um passo na intenção de ir ao caixa, porém, mal me movi, ela deitara levemente a sua mão direita sobre o meu ombro esquerdo, voltei, então, um passo atrás, encarando aqueles lindos olhos castanhos.
- Eu já te vi em outro lugar há alguns dias, mas não falei com você. - aquele sorriso insistia em não sair do seu rosto. - Me chamo Louise. Qual o seu nome?
- Fique longe. - falei num tom normal, mas como se colocasse no meu próprio rosto um alerta de risco.
O seu belo sorriso logo desaparecera, então, tornei a caminhar em direção ao caixa, fiz o pagamento, em seguida direcionei-me à porta e sai dali, entrei no carro e voltei para casa, quando cheguei, caminhei apressadamente para o meu quarto, encarei o meu reflexo no espelho, tirei a camisa e já podia ver todas aquelas marcas pelo meu corpo.
- Não se aproxime das pessoas, não crie afeto. - sussurei e respirei fundo já com os olhos marejados.
- É isso o que as pessoas fazem, elas machucam umas as outras. - podia ouvir, na minha mente, o meu pai dizer-me tais palavras enquanto imprimia em minha pele tais marcas. - Você me machucou ao me decepcionar.
- As pessoas machucam. - sussurrei passando levemente as pontas dos dedos da minha mão direita sobre uma cicatriz no meu ombro esquerdo.
Meu celular vibrara no bolso da minha calça, então, peguei-o para atender.
- Sim.
- Estou indo aí.
- Ok.
Encerrei a ligação, coloquei o celular de volta no bolso, vesti novamente a camisa e fui esperar na sala, não demorara muito e, ali estava ele outra vez.
- Cheguei. - falou ao entrar como se fosse o dono da casa.
- Sente-se.
- Essa sua frieza às vezes me assusta.
Levantei-me e notei que ele ficara um pouco tenso, pude sentir, como se sua tensão emamasse do seu corpo como perfume. Caminhei até a estante, peguei uma garrafa de Whisky que havia ali, dois copos de vidro que serviam mais de enfeite ao lado da bebida, e serví--nos.
- Pegue.
- Obrigado.
- O que você quer dessa vez, Pietro?
- Não sou eu quem quer. - fez uma pausa, mas logo continuou. - A nova exposição dos seus quadros acontecerá em uma semana e os admiradores das suas pinturas querem muito conhecer a pessoa por trás de tais obras de arte.
- Sempre querem. - falei e logo bebi o primeiro gole do Whisky.
- Exatamente. - falou e tomou um gole da bebida, fazendo uma expressão de quem realmente gostara da qualidade da bebida, e, retomando a sua atenção para o assunto do qual falávamos, continuou - E eles não tem nada, você não tem redes sociais, não aperece nas exposições das suas proprias pinturas, e...
- E eu preciso? - interrompi-o.
- Ah... não. Não. - limpou a garganta e engoliu em seco. - Mas seria legal. Não seria?
- Não. - Respondi-lhe firmemente encarando-o.
- Tudo bem. - respirou fundo. - Tudo... bem. - tomou mais um gole do Whisky. - Só é...
- É... o quê?
- É estranho.
- O quê é estranho?
- Eu estou com você há dez anos e nem eu te conheço.
- É melhor assim. - bebi mais um gole da bebida e respirei fundo, relaxando as minhas costas no sofá. - Isso é tudo?
Percebi que ele ficara um pouco tenso novamente, mas logo repondeu-me.
- É. É tudo.
Bebeu o restante que sobrara da bebida no seu copo, levantou-se, caminhou até a estante e colocou o copo de volta ao lado da garrafa de Whisky, então, direcionou-se à porta e, abrindo-a, encarou-me mais uma vez e disse...
- Apenas pensa a respeito.
Dito isto, retirou-se dali e fechara a porta.
- Você realmente não me conhece, Pietro, mas acredite, não iria gostar de me conhecer. - falei como se ele ainda estivesse ali, em seguida, respirei fundo novamente e continuei. - É realmente melhor assim. - sussurrei.
Bebi o restante do meu Whisky, levantei-me, peguei o copo no qual havia servido o Pietro, fui à cozinha e coloquei os dois copos sobre a pia, então, decidi por voltar ao meu quarto. Já ali, sentei-me na cama e fui lentamente deitando-me, logo, lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, como as gotas de água numa janela de vidro
- Desculpa, Pietro. - ss palavras saíram trêmulas. - Desculpa... a todos. - eu continuava sussurrando. - As pessoas machucam, eu sou uma pessoa, mas não quero machucar ninguém. - Tentei respirar fundo. - É melhor assim. - Sussurrei.
Tendo dito todas estas palavras, gritei repetidamente o mais alto que pude, abafando cada grito com o meu travesseiro. Cada dia era como um arrependimento de ainda estar vivo, mas no fundo, eu não queria morrer, queria apenas que pudesse ter sido diferente... tudo.
- Eu te odeio, pai! - gritei chorando. - Eu... te odeio. - sussurrei já abraçando o travesseiro.
O tempo fora passando e eu me perdendo cada vez mais nos meus lamentos, até que finalmente cai no sono, tal qual durara algumas poucas horas apenas e a luz do sol logo invadira o meu quarto.
7:00h
Levantei-me para fechar as cortinas e corri de volta para a cama. Tarde demais! Por mais que eu ficasse deitado ali, já não conseguiria mais voltar a dormir, então, sentei-me na cama, espreguicei-me e decidi por levantar-me de uma vez, tomei um banho e troquei-me, em seguida, decidi por ir pintar.
Fui ao ateliê onde fazia as minhas pinturas, que ficava na minha própria casa, coloquei uma playlist de músicas calmas e tristes, vesti o avental, coloquei tintas na paleta, peguei pincéis e determinei-me a terminar o último quadro para a nova exposição. Antes de tocar o pincel com tinta na tela...
- É melhor assim. - sussurrei olhando para a pintura, enquanto lembrava o que o Pietro me dissera algumas horas atrás.
Fiquei alguns segundos encarando a pintura com o pincel próximo à tela, respirei fundo e então, continuei com a pintura. Mas não por tanto tempo quanto havia planejado.
- Por que está tão difícil pintar hoje? - falei, suspirando em seguida. - Não vou me forçar e acabar estragando tudo.
Coloquei a paleta e os pincéis sobre uma mesa, tirei o avental, fui até a sala de estar e sentei-me no sofá. Logo meu celular começara a tocar, era, como já esperado, o Pietro.
- Sim. - falei ao atender.
- Acordou agora?
- Não.
- Já comeu?
- Não.
- Certo. Vamos tomar café juntos, estou indo para a sua casa.
Dito isto, ele encerrara a ligação sem que eu tivesse a chance de dizer-lhe um terceiro não. Continuei sentado ali esperando a sua chegada, o que não demorara muito, alguns poucos minutos e, ali estava ele, entrando pela porta novamente.
- Chegou rápido. Já estava vindo quando me ligou?
- Na verdade... - percebera que não conseguiria enganar-me com uma desculpa qualquer. - Sim.
Ficamos alguns segundos em silêncio, eu sentado no sofá de braços cruzados e ele ainda de pé próximo à porta, percebi que para ele estava sendo um silêncio incômodo.
- O que trouxe na sacola?
- Ah! São alguns biscoitos coreanos que eu sei que você gosta muito e... trouxe também dois milkteas. Você disse que são bons, mas não experinentei ainda. - falou e ficamos em silêncio por alguns segundos novamente. - Vamos para a cozinha.
E lá foi ele à frente, alguns segundos depois, levantei-me e segui-o. Chegando ali, o Pietro já estava colocado a água para ferver e, em seguida, tirando as coisas da sacola e colocando-as sobre a mesa.
- Por que está sempre me tratando bem? - perguntei-lhe. - Já fazem dez anos, não vai me tratar mal uma única vez?
- Olha, você é o cara mais frio que eu conheço. Durante estes dez anos eu nunca vi um sorriso seu, nem sei se um dia já sorriu na vida. Você está sempre dentro da sua bolha e me tratando como se eu fosse alguém insignificante. - dissera tudo sem olhar para mim, enquanto organizava as coisas sobre a mesa. - Mas sabe de uma coisa? - finalmente encarou-me nos olhos, o que de certa forma paralisou-me por dentro.
- O quê? - perguntei-lhe, no entanto, como se não tivesse interesse.
- Eu sei que você tem os seus motivos, ninguém é assim sem um sério motivo. Mas não lhe pergunto porque sei que não me contará. - deu um leve suspiro e um breve riso silencioso. - Eu respeito o seu espaço. E... independente do que tenha acontecido, eu... - respirou fundo. - Eu sei que você não é uma pessoa ruim. Pode me tratar mal se quiser, ou a outras pessoas. Porém, eu sei que só está tentando se proteger de algo, ou querendo nos proteger, mesmo não sabendo do que se trata. E isso não é ser uma pessoa ruim.
- Você não me conhece.
- Não vai conseguir me convencer do contrário do que eu já disse. - falou com firmeza soltando um leve e breve sorriso em seguida.
Já não haviam mais em mim palavras que eu pudesse dizer diante de tudo o que o Pietro já dissera, apenas continuei ali, parado, olhando-o.
- Vamos nos sentar. - disse ele.
Sentamo-nos à mesa...
- Aqui... - pegou o celular procurando algo nele. - Essas são as fotos do espaço onde acontecerá a próxima exposição dos seus quadros. Veja. - etregou-me o celular.
Olhei as fotos em silêncio e entreguei-lhe o celular.
- O que achou? - perguntou-me animado.
- Quem escolheu o lugar?
- Eu mesmo. Pessoalmente.
- Se foi você quem escolheu, então, está bom pra mim.
- Gostaria de ir conhecer o espaço pessoalmente também? - perguntou-me ainda mais animado.
- Não.
Levantou-se para checar se a água já estava quente o suficiente, e, já estava, então, apagou o fogo, abriu os copos de milktea, rasgou os sachês que vieram dentro, e colocando o conteúdo em cada copo, adicionara, por fim, a água.
- Se nunca bebeu milktea, como sabe preparar exatamente como deve ser?
- Não subestime a minha capacidade de fazer chás.
- Certo. Senhor chá. - falei e ele soltara uma leve risada.
- Vamos comer. - falou e sentou-se novamente à mesa. - Nossa! Isso é realmente bom! - exclamou ao tomar o primeiro gole da bebida.
- Como eu disse.
Ele encarara-me fixamente, observando cada peça de roupa que eu estava vestindo.
- O que está olhando?
- Não está com calor? Como consegue estar sempre com roupas pretas ou apenas com tons escuros e ainda com mangas longas?
- Isso é o de menos. - suspirei levemente. - Esqueça isso.
- Então... e esse colar com uma chave de pingente que você nunca tira? Tem algum significado? Nunca perguntei.
- Pietro.
- Sim?
- Não seja curioso. - falei como se o estivesse alertando sobre algum perigo e ele engoliu em seco.
- Como vão as pinturas para a exposição?
- Falta terminar uma. Mas...
- Mas?
- Não estou conseguindo.
- Posso dar uma olhada?
- Não.
Ele sorrira como se já soubesse a resposta e só houvesse perguntado para ouvir-me dizê-la.
- Do que está sorrindo?
- Nada. Vamos terminar de comer, tenho um compromisso daqui a pouco.
- Posso saber o que vai fazer?
- Claro. Vou ao local da exposição para marcar os espaçamentos para os quadros, já que a única coisa que você me deu até agora foram as medidas.
- Não seja assim. Você é sempre o primeiro a ver todas as minhas pinturas. Mas ainda não terminei a última dessa exposição.
- Me deixe ser dramático.
- Que seja.
- Então... eu sou especial pra você, não é?
- Quer que eu te bata?
- Esquece. Eu passo. - falou dando uma breve risada.
Terminamos o nosso café da manhã.
- Bem... eu vou indo. Tem certeza de que não quer vir junto?
- Já tem a minha resposta.
- Certo. - falou e deu uma leve risada. - Até mais.
Levantou-se e saira dali. Logo levantei-me também, peguei todas as embalagens que estavam sobre a mesa e, como eram descartáveis, joguei-as na lixeira que ficava ao lado da pia e decidi por ir para meu quarto. Chegando ali, peguei meu notebook que estava na mesma estante que os livros, sentei-me na cama e pesquisei, pela primeira vez, o meu nome, na verdade, o nome que usava como pintor, Si-woo, meu pseudônimo.
"Em alguns dias acontecerá a exposição com os novos quadros do grande pintor anônimo, Si-woo. Será que um dia vamos conhecer a pessoa por trás dessas grandiosas obras de arte?"
- Esqueçam essa possibilidade. - sussurrei.
Desliguei o notebook e coloquei-o de volta onde estava, então, decidi por voltar ao ateliê e tentar continuar a pintura do último quadro para a exposição.