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Eu estava descendo do carro quando ele disse:
- Ariane...
Eu virei para ele e perguntei:
- O que foi?
- Não esqueça o que aconteceu hoje.
- Eu já esqueci. – menti saindo do carro.
Ele levou a cerveja e entramos no Dreamworld novamente, como se nada tivesse acontecido. Percebi que Samantha pareceu não ficar muito a vontade ao perceber que eu havia saído com Jonathan. Dava para ver nos olhos dela.
- Que demora. – disse Mari abrindo uma cerveja gelada. – O almoço já está pronto há tempos.
Gisa abraçou ela por trás e fez cócegas, dizendo:
- Está com ciúmes, Mari?
- Claro que não. – falou ela seriamente.
Gisa abriu uma lata também e disse:
- Que bom que conseguiram mais cervejas ou o que seria do nosso churrasco?
Eu ia falar, mas Samantha me puxou para o lado, perguntando:
- Por que você foi com ele? – a voz dela era baixa para não ser ouvida por ninguém.
- Se acalme, Samantha. Está tudo bem. – eu disse.
- Poderia ter dito não quando ele te convidou... Daí ele poderia ter me convidado.
- Mas... Eu precisava falar com ele... Sobre você.
- E falou? – a brabeza dela deu lugar à curiosidade e ela já estava bem mais tranquila.
- Sim.
- Então me diga tudo e não esconda nada.
- Samantha, acho melhor nos falarmos em casa. Agora não. – pedi. Eu queria aproveitar o dia e não ficar novamente falando sobre ela e seu relacionamento.
- Droga. – disse ela saindo.
Fomos almoçar. Eu estava calada, pois não conseguia parar de pensar um minuto sequer. Samantha tomava todo meu tempo, com seus problemas com Jonathan e quase conseguiu também fazer com que eu perdesse meu domingo por causa dela. Será que ela não conseguia não ser o centro das atenções por um dia sequer? Confesso que no clube, quando eu estava com Jonathan, eu gostaria de não pensar nela, fingir que ela não existia... Nem que fosse por alguns minutos. Mas eu sabia que eu era muito correta para simplesmente tirar ela do jogo. Afinal, o que eu queria realmente? Nem eu sabia... Jonathan havia traído Samantha e ela terminou com ele. E fiquei com pena dela e lhe dei razão, mas via agora que na verdade não foi uma traição, visto que eles tinham um relacionamento "aberto", que eu nem sabia muito ao certo como funcionava. Ele afirmou que ela também se relacionava com outros homens, o que eu não duvido, pois sabia muito bem como ela era. E fidelidade nunca foi um ponto forte dela. Pelo menos não com relação a homens. Além do mais, ele não gostava dela. A própria Helena havia dito isso também. Procurei Helena com o olhar e a vi sozinha por um momento. Fui rapidamente até lá. Só ela poderia me salvar. Ela estava sentada na cadeira e eu a abracei por trás.
- Minha amiga querida... Está tudo bem?
Eu sentei ao lado dela, puxando minha cadeira quase grudada na dela:
- Você precisa me salvar, Helena. Eu vou para o inferno.
Ela riu:
- Você ir para o inferno? Duvido.
- Aconteceu algo terrível.
- Ari, quer que eu tenha um ataque do coração? O que houve? Fale logo.
- Eu... Quer dizer, Jonathan...
Helena me olhou e depois perguntou baixinho no meu ouvido:
- O que houve entre você e Jonathan?
Parecia que ela já sabia. Por isso ela era minha melhor amiga da vida toda. Porque ela conseguia me entender num olhar.
- Ele... Nós... Nos beijamos. – confessei envergonhada.
- O quê? Como assim?
Eu contei rapidamente à ela o ocorrido, sempre cuidando se ninguém nos escutava.
- Ari, você deveria ter tentado resistir. – disse Helena. – Isso... Não foi certo eu acho. Não neste momento, pelo menos.
- Eu sei... Eu não sei ainda o que aconteceu e como eu fui corresponder ao beijo dele. A ideia de fazer ciúme para Therry não era nada inteligente e desde o início totalmente imatura.
- Ari, você não pensou na possibilidade de a mulher que ele está apaixonado ser você?
- Claro que não.
- Mas pelo jeito que ele falou e por tudo que aconteceu eu não descartaria isso, Ari. E confesso que me preocupo muito se minha intuição estiver certa.
- Helena, não sou eu a mulher. Eu tenho certeza.
- Ari, você pode ser sincera comigo?
- Eu... Estou sendo. Eu juro.
- Então me diga o que você sente por Jonathan, de verdade?
Eu pensei e repensei e nem sabia ao certo o que eu sentia... Mas não poderia negar que sentia algo:
- Eu não sei exatamente o que eu sinto por ele... Mas eu sinto algo. E tive certeza quando ele me tocou... E quando nos beijamos. Ele me deixa... Insegura. Abala minhas estruturas.
- Você está gostando dele. – disse Helena colocando a mão no rosto confusa.
- Não. Eu não sei se gosto... Eu acho que ele me atrai, só isso. – eu disse não sabendo ao certo se realmente era isso.
- De nada adianta você enganar a si mesma, amiga.
- Pode ter certeza que no caso dele, vou enganar a mim mesma a vida toda se for preciso.
- Eu entendo. E se fosse outra situação eu ficaria na torcida por vocês dois, acredite. Você é minha melhor amiga e ele o melhor amigo de Daniel. Ter vocês juntos seria perfeito. Mas tem Samantha no meio desta história. E ela é nossa amiga. Embora eu não tenha certeza absoluta do sentimento dela por ele, neste momento o envolvimento entre vocês dois não seria nada correto.
- E você acha que eu não sei disto? Estou me sentindo péssima por ter sido fraca e ter deixado acontecer o que aconteceu... E duas vezes. Eu não quero gostar dele.
- Quem dera pudéssemos mandar no nosso coração, não é, Ari? Mas você, mais do que ninguém, sabe que isso não é assim tão simples. Eu acho que você já está gostando dele. Ou jamais teria correspondido aos beijos. Mas não acho que isso tenha acontecido hoje... Este sentimento entre vocês deve vir de antes. Como assim vocês se conhecem há anos e hoje descobriram que tem interesse um no outro? Do nada ele te convida para ir com ele ao clube e arruma uma desculpa idiota e infantil para beijar você. E o pior... Você aceita. – ela riu. – Estou rindo, Ari, mas minha vontade acho que é de chorar.
- Não... – eu falei confusa. Não achava que gostava dele antes de hoje... Eu já nem sabia meus sentimentos onde haviam começado, mas tinha certeza de que deveria terminar.
- Eu só sei uma coisa: o sentimento entre vocês me parece mútuo. Isso pode ferir ainda mais nossa amiga.
- Eu... Devo contar a ele o que aconteceu hoje? – perguntei.
- Claro que não.
- Eu... Não sei se tenho direito de enganar ela desta maneira.
- Eu entendo sua situação, acredite. Mas penso também se é justo com você.
- É justo, sim. Eu sabia desde o início como ele era e do envolvimento dos dois. Não sei se Samantha realmente gosta dele ou não, mas no momento ela acha que sim e eu não vou trair minha amiga nunca. Embora eu já fiz isso hoje, por isso me sinto péssima.
- O pior é o olhar dele para você. – disse Helena. – Sim, Ari, ele não consegue disfarçar. E eu já tinha percebido isso, mas achei que era loucura minha. Agora tenho certeza.
Eu abaixei a cabeça na mesa e fechei os olhos:
- Você está olhando para ele agora?
Helena riu e disse:
- Sim, estou olhando para Jonathan, que não sabe que estou olhando para ele porque ele só tem olhos para você. Só espero que Samantha não perceba o que está acontecendo aqui.
- Helena, você acha que eu tenho culpa do que está acontecendo?
- Claro que não, Ari. – ela passou a mão carinhosamente sobre os meus cabelos. – Você não tem culpa. E eu não vou permitir que se sinta assim.
- O que eu vou fazer? – perguntei levantando minha cabeça novamente e olhando para o céu.
- Tempo... Sempre o melhor remédio. Hoje foi o dia um. Vamos esperar para ver o que vai acontecer. Mas acho melhor você tentar afastar um pouco seus sentimentos e desejos por ele. Pelo menos por enquanto.
- Vou tentar... E conseguirei.
Daniel chegou e sentou-se. Eu ia sair e ele disse:
- Não precisa sair, Ariane. Eu não mordo. – brincou ele. – Podem continuar a conversa e finjam que nem estou aqui.
- Eu sei que você não morde, Daniel. Mas sempre penso que vocês querem ficar sozinhos quando estão juntos. – eu expliquei.
- Teremos o resto da vida para ficarmos juntos e sozinhos. Precisamos aproveitar nossos amigos agora, não é mesmo, meu amor? – falou ele olhando para Helena.
- Claro que sim, Dani. – disse ela.
Jonathan chegou, puxou uma cadeira e sentou com eles.
- Eu já esperava por você. – disse Daniel sorrindo para o amigo.
Eu e Helena nos olhamos. Aquela frase de Daniel nos deixou confusas, entendendo que ele sabia mais do que demonstrava.
Começamos a conversar sobre assuntos aleatórios. Eu tentava prestar atenção e ficar normal, mas não conseguia. Estava abalada com o ocorrido no clube. Mas também não queria sair dali sem motivos. Eu já havia fugido de Jonathan no bar na noite anterior e eu não era mais uma adolescente. Precisa enfrentar a situação de frente.
Logo Daniel e Helena chegaram ao assunto dos preparativos do casamento deles. Durante a conversa conheci um Jonathan que eu não conhecia: admirador do casamento tradicional.
- Helena, o que acha de darmos um jantar para os nossos padrinhos amanhã à noite? – propôs Daniel. – Então poderíamos terminar de combinar o restante das tarefas de vocês dois.
- Acho uma ótima ideia. – disse Jonathan. – Mas não amanhã, pois eu tenho um compromisso.
Eu suspirei aliviada. Ainda bem que ele não poderia ir. E eu também não, pois havia combinado jantar com Carlos para falar sobre Samantha. Mas não pude deixar de pensar em qual seria o compromisso dele. Seria um encontro com alguma mulher? E se fosse com a mulher que ele gostava? Que compromisso ele teria na segunda à noite se não um encontro amoroso? Neste caso, eu estava fora da jogada, pois o encontro era mais importante que um jantar com a minha presença. Então o que havia acontecido entre nós no clube não significou nada para ele? E o que significou para mim, afinal?
Samantha estava pegando uma cadeira para juntar-se a nós. Jonathan não foi grosseiro, nem desagradável. Simplesmente pegou a própria cadeira e ofereceu para ela, que ficou lisonjeada. No entanto ele saiu e nós pensamos que era para pegar uma cadeira para ele. Mas ele não voltou mais. Todos nós percebemos a retirada estratégica dele, mas ficamos calados. Mas achei que poderia ter sido pior: ele poderia ter falado algo ruim para ela, mas não fez.
- Vocês viram como ele me trata? – lamentou Samantha.
- Como melhor amigo de Jonathan eu vou lhe dar um conselho, Samantha. É melhor você desistir dele. – disse Daniel tranquilamente.
- Se dependesse da minha vontade eu já teria feito isso, Daniel. – explicou ela. – Mas é mais forte que eu... Não podemos mandar nos nossos sentimentos.
- Samantha, que tal voltarmos para nossa casa? – convidei ao ver que ela realmente não estava legal.
- Boa ideia, Ari. O dia de hoje para mim já acabou.