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Olá! Meu nome é Evallyn, tenho 17 anos e ser uma bruxa importante é o que eu sempre quis. Desde pequena, ouvir aquelas histórias das bruxas poderosas do passado, sempre me inspirou. Mas a história da Grande Bruxa, essa sempre fora a minha favorita, e eu sonhava em deixar de ser uma aprendiz e me tornar uma bruxa de verdade e poder realizar feitos tão maravilhosos quanto ela.
Porém, atualmente nós bruxas vivemos entre os humanos sem que eles saibam da nossa existência. Felizmente existe o Carnaval e o Halloween, imagine você, nunca poder se mostrar ao mundo? Estar sempre disfarçada? Não poder contar sua vida real para sua melhor amiga? Bom, esse último não tem jeito mesmo! Mas, pelo menos nessas datas podemos nos soltar um pouco.
Vivemos entre os humanos, mas levamos nossa vida de bruxas e bruxos, paralela a ela e isso pode ser complicado às vezes. Eu vivo no Rio de janeiro, no Brasil. E estudo em uma escola bastante conhecida. Minha melhor amiga é a Fernanda e para ela eu quase quebro meu silêncio, mas preciso me lembrar de toda tragédia que já aconteceu no passado. De todas as mulheres que já morreram por nossa culpa, por descobrirem nossa existência. Para isso é que servem as histórias contadas a nós desde pequenos, para lembrar-nos de um passado triste, para que nós não venhamos a cometer o mesmo erro.
Hoje é o grande dia, o dia que terá início a prova anual para os aprendizes se tornarem bruxos e bruxas de verdade. No momento estou na escola, mas minha cabeça está em outro lugar. Mas uma vozinha muito irritante e conhecida me tira de meus pensamentos.
- Terra chamando Evallyn! Câmbio! - Olho para minha amiga Fernanda com a mão na boca para modificar o som e caio na gargalhada.
- Mas você é boba mesmo, não é!
- Não sou eu que estou viajando em outro planeta, universo, galáxia, sei lá... - Ela disse se sentando ao meu lado. - A professora já está chegando. Vi a megera pegando os livros para vir para cá! - Ela fez uma cara de desgosto que me deu mais vontade rir.
Fernanda era uma garota muito bonita, sua pele morena se destacava ao lado da minha que era muito pálida. Seu cabelo curto e cacheado que ela gosta de prender em cachos revoltos no alto da cabeça também se contrastava com os meus que eram grandes e lisos. Seu gosto pela praia e pelo Sol também era um contraste, já que eu preferia a noite e um céu estrelado de Lua cheia. Costumávamos brincar que realmente os opostos se atraem. E talvez você esteja se perguntando como duas pessoas tão diferentes podem se dar tão bem. Bom, eu não sei, mas a verdade, é que a Fernanda é minha maior e melhor amiga.
- Deixe a professora, Fê! Se for professora estará em seu lugar um dia.
- Ah, não senhora! Já disse que só quero trabalhar com os pequenininhos, nada de adolescentes! - Ela fez outra cara engraçada. - Mas me conta, em que planeta você estava?
- Planeta prova! - Não deixa de ser verdade, não é?
- Ah.... mas só começa semana que vem. Relaxa! Falando em relaxar, hoje à noite vai ter uma festa maravilhosa na rua, gratuito, é claro, em frente à Praça Tiradentes, em um barzinho que tem lá. Como você gosta mais da noite que do dia, seria uma boa, não é?
- Hoje? sério. Tinha que ser hoje?
- Por quê? Não vai poder?
- Ah, não! Tenho um compromisso hoje, só volto amanhã.
- Poxa amiga. Que triste.
- Você não vai sozinha, não é?
- Claro que não! E...
- Sentem-se todos! - A voz da professora nos chamou a atenção, cortando seja lá o que for que minha amiga iria dizer.
A aula passou se arrastando, mais que o normal, pelo menos para mim que estava ansiosa. Quando enfim chegou a hora de ir embora, eu e minha amiga caminhamos até nosso prédio. Nossa escola ficava a poucas quadras de onde morávamos, no Flamengo. Chegando em minha casa, não fiquei surpresa em encontrar tudo pronto. Meus pais e meu irmão já estavam prontos para a cerimônia. Eu subi até meu quarto e me arrumei o mais rápido que pude e coloquei meu manto verde de aprendiz. Logo eu voltaria para casa com meu manto preto.
Minha mãe, como é a bruxa da casa, abriu o portal e nós o atravessamos. O encontro havia sido marcado em um lugar distante. O clima muito diferente do de casa, por isso estava muito mais frio. Mas isso não significava que o teste final seria ali. Havia aprendizes de vários lugares diferentes. Você pode pensar que existem muitas bruxas, mas não, nosso povo diminuiu muito nos últimos séculos. E de cada país apresentavam-se apenas poucas dezenas.
Estávamos atrasados. Os aprendizes já estavam reunidos à espera dos testes. Logo me juntei a eles ansiosa. Mas sabe quando esperamos e desejamos muito por algo por tanto tempo que quando estamos perto, temos medo? É exatamente isso que está acontecendo comigo. Desejei tanto que estou com medo de falhar. Eu sei, parece loucura! Eu tento me repreender, mas é mais forte que eu.
A Bruxa mestra, em seu manto vermelho, começa a cerimônia.
Todos nos colocamos de pé e um a um somos chamados para a primeira parte do teste. Todos sabemos qual é, recitar 3 feitiços pedidos pela mestra. Para um bom aprendiz, isso é fácil, mas mesmo assim alguns aprendizes são reprovados. Muito poucos, mas são. Eu me saí bem. Não tive dificuldades. Logo fomos direcionados a uma sala onde faríamos uma prova escrita. Leis e história do mundo das bruxas. Muito fácil, tenho certeza que acertei todas.
Mais alguns poucos aprendizes foram eliminados. Os alunos aprovados foram divididos em grupos diferentes. Cada grupo receberia uma missão, e essa era a parte mais difícil. Seríamos supervisionados e qualquer deslize poderíamos ser reprovados. As regras? Bem, a prova seria realizada no mundo humano, deveríamos manter nossa identidade em segredo. Realizar a tarefa corretamente e não nos revelar a ninguém. Nenhum humano poderia desconfiar de nós. Aquele que deixasse que um humano descobrisse sua identidade, seria reprovado e passaria mais um ano estudando. Ou se não cumprisse a tarefa, também seria reprovado. E é agora que meu estômago se aperta.
Uma das bruxas responsáveis se aproxima do nosso grupo. Ela nos dá a nossa missão e eu não acredito quando escuto que será muito próximo de onde eu moro. Não sei o que pensar disso. Se fico feliz por conhecer o lugar ou se fico preocupada pelo mesmo motivo, aliás não exatamente pelo mesmo, o lugar me conhecer é o problema aqui.
A bruxa e dois bruxos nos atravessam, e atravessam junto com a gente. Ai, como estou nervosa.
Nem todas as bruxas são boas. Existem dois clãs de bruxas, o clã da Luz e o clã das Trevas. Nosso dever é proteger os humanos quando há ameaças desse clã. Eles manipulam espíritos e realizam magia das trevas. Sempre tem algo por perto quando se procura, e nosso clã encontrou algo perto do meu bairro, por isso estamos aqui.
Qual a nossa missão? Então, existe uma ameaça de magia das trevas. Ao que parece um poder sombrio está crescendo e se alimentando da alma de jovens e hoje haverá uma concentração deles por aqui. Fim de semana é sinônimo de festas noturnas, e festas noturnas é sinônimo de jovens. Devemos encontrar a bruxa ou bruxo por trás do feitiço e aprisioná-lo. Livrar os jovens da ameaça e tudo isso sem ser notado. Fácil, não é?
Só seremos observados, não receberemos ajuda, se isso acontecer seremos reprovados.
Então começamos a "caça às bruxas", o Halloween está próximo, é uma boa piada, de mal gosto, eu sei.
Duas meninas loiras muito parecidas caminham lado a lado em uma rua pouco movimentada e nós estamos escondidos em um apartamento abandonado, observando através da janela quebrada. Ao que parece as duas garotas estão indo para a tal festa.
- Não é melhor chegarmos mais perto? - Um garoto de olhos verdes como folha disse, ele era inglês.
- Mas fomos deixados aqui, deve ser um ponto estratégico! - Respondeu uma menina que era coreana.
- Talvez um de nós pode sair e ver o que acha! - Eu disse.
- Somos instruídos a não nos separar! - A menina respondeu.
- Mas se todos forem podem chamar atenção demais. - Um menino angolano disse.
- Ele tem razão. - Eu falei. - Eu vou e dou uma olhada.
Os outros pereceram concordar porque não disseram nada. Ou não queriam estar no meu lugar, não é! Mas vamos acreditar que eles só não falaram nada para não me atrapalhar.
Então, realizei um feitiço de teletransporte. Desapareci do apartamento abandonado e apareci logo abaixo na rua, atrás de uma lata de lixo, bem onde eu queria! Ninguém me viu, ótimo. Continuei andando seguindo as duas garotas loiras que já estavam bem distantes. Tirei o manto para não chamar a atenção. Assim que virei uma esquina um som de música eletrônica chegou a meus ouvidos.
Logo me escondi atrás de um muro para não ser notada enquanto observava uma cena a distância. Um barzinho em frente à Praça Tiradentes, a cada minuto que passava ficava mais cheio. Mas espera, não foi esse o lugar que a Fê disse que vinha? Um barzinho em frente à Praça Tiradentes? Foi sim, tenho certeza. Agora que estou nervosa mesmo, minha amiga está ou vai chegar aqui e há uma ameaça por perto. Você consegue imaginar minha aflição? Não podia ser melhor, não é!
Fico ali esperando para ver o que vai acontecer. Torcendo para que a Fê fique em casa. Os minutos passam e a rua está cada vez mais cheia, o cheiro de bebida chega até mim, acredito estar ali há muito tempo. Preciso voltar e avisar aos outros que acredito ter encontrado o lugar onde pretendem atacar. Porém no momento em que eu iria seguir meu caminho de volta, uma risada alta me chama a atenção e vejo Fernanda caminhando em direção ao barzinho, juntando-se ao aglomerado de jovens. Felizmente ela estava acompanhada do irmão e de uma garota.
Minha amiga estava muito bonita em um vestido vermelho tubinho e salto alto. Tive medo de me afastar e algo acontecer em minha ausência. Parecia que algo gritava em meus ouvidos para não sair dali. Depois de mais um tempo observando e nada acontecer, decido voltar para os outros aprendizes. Mais uma vez sou impedida de seguir meu caminho. Mas dessa vez não foi um riso alto, mas um frio arrepiante que percorreu meu sangue e quando volto meu olhar para o alto vejo uma nuvem escura se aproximando e cada vez mais se tornando densa. Era a magia das trevas pela qual procurávamos, mas e agora, o que eu faço? Não adianta atacar a nuvem, preciso atacar aquele que a está criando, mas se for embora, algo pode acontecer com minha amiga.
Por que eu fui ficar aqui? Estou prestes a me surrar. Como pude ser tão burra! Então como não vou ficar aqui parada, decido tentar rastrear de onde está vindo a magia. Um feitiço de rastreio não é nada fácil. Um erro e a bruxa ou bruxo pode me encontrar.
Escondida em meu canto ergui as mãos, me concentrei e comecei a tecer o feitiço. A nuvem escura crescia cada vez mais e os jovens pareciam não perceber nada. Senti meu poder se aproximar da nuvem, mantive minha concentração. Ao leve toque de meu poder, senti a nuvem recuar, precisava ser cuidadosa. Deixei meu feitiço percorrer a nuvem de volta a sua origem. À medida que meu poder tomava uma direção eu sentia a magia se tornar mais poderosa. Eu não poderia estar fazendo isso sozinha, deveria estar com meus companheiros, mas não podia deixar minha amiga ali desprotegia. Quero muito me tornar uma grande bruxa, poderosa e realizar grandes feitos como a lenda da Grande Bruxa conta. Mas se a vida de minha amiga custar mais um ano de estudos, eu prefiro pagá-lo.
Enfim, chego a origem do feitiço. Não está muito distante, mas eu teria que deixar Fernanda ali sozinha. Me vejo em um impasse terrível. Mesmo que me decidisse por ir até a origem do feitiço, eu não conseguiria deter um bruxo ou bruxa das Trevas sozinha. Era poder demais. Decido mandar um sinal para meus companheiros, espero que eles entendam. Na direção do que parece ser um galpão abandonado, onde minha magia apontou como a origem da magia das trevas, faço explodir fogos de artifício. Pelo menos para os humanos se parecerá com isso. Qualquer bruxa entenderá que é um sinal, só espero que eles vejam.
Vou ser reprovada com certeza, mas somente esperarei pelo sinal deles e irei para a festa me certificar de que tudo ficará bem com minha amiga. Enquanto espero o sinal deles, gritos desesperados me chamam a atenção. A multidão de jovens que dançavam de repente se dispersa. A música não para de tocar. Enquanto as luzes giram e a música alta toca, os gritos dos jovens invadem meus ouvidos, me fazendo deixar de pensar.
Começo a correr em direção ao que era a festa, dobrando meu manto desesperadamente e o amarrando como se fosse um casaco na cintura. As pontas mal dobradas até pareciam as abas do casaco, sem querer fiz um bom trabalho.
Meus olhos procuram por Fernanda. Vejo o motivo do desespero: Um jovem caído no chão tendo uma terrível convulsão. Ele espumava pela boca e se debatia. Mas logo percebo que não era somente um. Haviam vários jovens caídos no mesmo estado que o primeiro. O que constatei que os humanos não podiam ver, era uma sombra se alimentando da alma dos jovens. A sombra estendia braços para alcançar aqueles que fugiam. Não tinha acabado. A magia não se contentaria com aqueles poucos caídos, por isso o responsável por aquilo escolhia dias de grandes concentrações de jovens. Para salvar aquelas pessoas, não somente minha amiga, a origem daquele mal tinha que ser derrotada.
Corri desesperadamente procurando por Fernanda. Avistei ao mesmo tempo minha amiga e um sinal que só poderia ser dos outros aprendizes. Eles chegaram. Que a Mãe os abençoe!
Fernanda não podia ver, mas uma mão fantasmagórica se aproximava dela, se a tocasse seria o fim. Se eu mandasse meu poder para dissipá-la poderia alertar seja lá quem for o responsável. Parece que a dúvida é minha maior prova hoje. Meus companheiros já haviam chegado, então arrisquei usar meu poder. A sombra logo se dissipou ao receber meu ataque, mas percebi que toda a nuvem começava a recuar. Droga! Fiz besteira!
Por sorte, Fernanda não havia me visto. Ela agora estava segura. A nuvem recuava e não faria mais nenhuma vítima. Então me escondi novamente. Recuei até um lugar escuro, vesti minha capa e me teletransportei até o local que havia rastreado.
Pude ver luzes brilhando no interior do galpão. Meus companheiros atacavam aquele que havia mandado o feitiço. Eu pude sentir o poder dele ou dela do lado de fora. Era poderoso, seja lá quem fosse. Entrei correndo, torcendo que não fosse tarde demais para mim.
Meus companheiros já haviam imobilizado a bruxa. Sim, era uma mulher. Aparentava uns 40 anos, mas com certeza tinha mais. Por isso aquele feitiço. Ela queria se parecer cada vez mais jovem. Isso é algo bem antigo entre as bruxas do clã das trevas, elas não suportam a ideia de morrer. Deve ser o medo de arder no inferno por toda eternidade.
- Onde você estava? - Indagou indignada a garota coreana.
- Ah... de nada por ter mostrado a origem da magia pra vocês. - Ela ficou vermelha como brasa, adorei aquilo. Garota chata.
- Ficamos preocupados. - O garoto angolano falou.
- Não foi nada. Depois eu conto tudo.
Já havíamos defendido os humanos, mas houve vítimas. Já havia detido a bruxa velha, mas eu não participei do processo. Acho que estou em um ótimo caminho para a reprovação, você não acha?
Lancei um feitiço ao redor da bruxa somente para garantir que não teríamos surpresa, e então chamamos nossos supervisores.
- Pode deixar que não vou prejudicar vocês. Eu assumo toda a besteira que fiz.
Pensei ter ouvido a garota falar "Acho bom!", mas não tenho certeza. Apesar de ter visto o menino de olhos verdes fuzila-la com o olhar.
Os nossos supervisores chegaram. Abriram um portal onde um deles levou a bruxa. O casal de bruxos que restou ficou nos olhando. Parecia nos avaliar com o olhar. Como se não soubessem de tudo! Eles deveriam estar nos vigiando todo o tempo. Se fizeram o seu trabalho corretamente, sabiam de tudo.
- Nenhum humano percebeu a ação de vocês. - A nossa bruxa responsável falou. - A origem do mau foi detida e os humanos foram salvos do ataque com um pequeno número de vítimas. Poderia dizer que vocês se saíram bem. Mas o que aconteceu? Por que Evallyn ficou sozinha tanto tempo? Por que somente Luan, Akami e Ronnan detiveram a bruxa do clã das Trevas?
Então eu contei tudo. Meus motivos. Meu egoísmo por querer salvar minha amiga. Podia estar perdendo minha oportunidade, mas eu precisava ser sincera.
- Se não me aprovarem eu entendo! - Eu disse. - Mas não os prejudiquem. - Pedi.
Voltamos para nossa reunião. Os bruxos nos levaram de volta através do portal. E então esperamos a lista de aprovados. Felizmente meu nome estava lá, e de meus companheiros também. Recebi minha tão sonhada capa negra. Ao receber minha capa, recebi também parabéns por minha coragem e fidelidade a minha amiga, arriscando um sonho meu pela vida dela. Agora finalmente eu sou uma bruxa de verdade! Vai me dar os parabéns não?
FIM