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Julia puxou o ar e fez a caneta descer, se ia descumprir as regras seria um ato consciente, acabou-se, disse a si mesma que não tinha como saber quanto tempo essa boa fase duraria, então ia aproveitar para valer!
Dick Lewis interpretou o melhor amigo inteligente de Viktor Thorme nos cinemas da infância a adolescência, cresceu e tornou-se um gato, e esse homem aproximou-se dela no camarim de um dos programas de televisão e pediu seu numero! Estavam conversando a mais ou menos uma semana, e estava encantada com o fato dele ser uma fã de seu trabalho, trocavam mensagens até tarde da noite falando sobre as curiosidades dos bastidores e como Alex Kripke, o ator do protagonista, era tão desastrado que caiu em uns cabos durante a gravação do quarto filme e atrasou a estreia, porque trincou o pulso.
Deu mais uma olhadinha no espelho, ia jantar em algum restaurante chique que não pôde pesquisar, pois Dick disse que seria surpresa, então escolheu um vestido preto, justo ao corpo, com um decote nas costas, que jamais teria tido coragem de usar antes da lipoaspiração e do tratamento para a acne que fazia na região.
Verificou sua maquiagem mais uma vez, não era muito boa naquilo, mas bases caras faziam a aplicação ser menos trabalhosa para mulheres sem habilidade, porém recheadas de dinheiro. Uma das maquiadoras dos programas, com quem fez amizade, tentou lhe ensinar a colar cílios postiços, mas não dominou a técnica, então fez alongamentos de cílios, que por si só causava grande impacto, combinado com uma fina linha preta na raiz dos cílios, mascara nos inferiores e um batom vermelho, podia-se dizer que estava bem bonita até.
O celular vibrou, anunciando que Dick estava esperando-a, puxou as meias e colocou os saltos finos, bonitos, caros e terrivelmente desconfortáveis. Apertou os cachos recém tingidos de ruivo, sempre quiser fazer aquilo, mas em muito caro tratar de cabelos muito cacheados descolorido, mas agora podia dizer que estava muito mais sedosos que antes.
Não era exatamente o que esperava, havia um utilitário preto que piscou as luzes quando ela saiu, pareciam os carros que a acessória mandava para buscá-la quando tinha algum compromisso. Caminhou até o veiculo e com o canto dos olhos viu alguém tirar uma foto, entendendo, porque daquilo, enquanto ela era novidade estava sendo vigiada de perto e aquilo era só uma saída entre pessoas que estavam se conhecendo.
Entrou no banco de trás que estava vazio, achou estranho, estava sozinha lá dentro e começou a ficar nervosa, nem sabia se o sinal de farol era para ela, será que entrou no lugar errado? O vidro que separava o motorista do passageiro abaixou, e colocando a cabeça para trás sorrindo abertamente estava Dick.
- Adorei o que você fez no cabelo, também gosto de ruivas. – E riu de sua cara de espanto ao vê-lo dirigindo.
- Boa ideia essa do utilitário. – ela riu com as bochechas pintando-se de vermelho. – Então senhor motorista, para onde vamos? – gracejou.
- Eu lhe disse que é uma surpresa, agora fique bonitinha aí no fundo que daqui a pouco chegaremos...
Fizeram uma viagem muito falante de trinta minutos, pegou-o mais de uma vez olhando para ela pelo retrovisor, ocasiões virava para a janela, para que ele não visse que estava gostando da atenção.
Dick estacionou em uma rua pouco movimentada, mas Julia não viu restaurante algum, ele virou para trás e estendeu um protetor de olhos preto, ela riu, sentiu se em uma comédia romântica, encaixou o tecido aveludado no rosto e esperou. Ouviu-o sair do carro, abrir sua porta e depois sentiu suas mãos procurando as dela para ajuda-la a descer.
Foi conduzida pela mão, era difícil se movimentar sem ver, de forma que acabou tropeçando no que lhe pareceu uma pedra, mas foi amparada pelo parceiro, e sentiu-o segurar sua cintura, firmando-a ao seu lado. Seu eu mais jovem estava esfuziante, era o melhor encontro que tivera na vida e ele ainda nem começara, Lewis podia puxar a venda e estarem na frente do pé sujo mais sujo que ainda seria mágico.
Ouviu uma porta metálica ser puxada para cima e o clique de um interruptor, depois novamente escutou a porta metálica, dessa vez fechando-se. Seus dedos torciam a alça da pequena carteira que trouxera, não que achasse que Dick a deixaria pagar, mas precisava carregar camisinhas e lubrificante em algum lugar.
A venda foi removida e sua boca escancarou-se. No ultimo filme de Viktor Thorme, ele e os amigos estavam presos em um bunker subterrâneo, sem saber se teriam oportunidade de comemorar outro natal vivos, então fizeram uma porção de enfeites com sucata e lixo, e criaram sua própria festa improvisada, comeram macarrão instantâneo feito com água que captaram na chuva e por uma noite esqueceram que o mundo seria destruído se não concluíssem sua missão. Aquela mesma mesa estava posta para os dois, mas com comida de verdade, ao invés de potes de miojo.
- Meu Deus Dick! – sua voz oscilou, seus olhos cintilaram perigosamente, mas conseguiu se controlar. – Esse é a coisa mais fantástica que fizeram por mim.
Dick nada disse finalmente a soltou e puxou a cadeira pra que ela se sentasse, andou até ele com os dedos dos pés dormentes pelo sapato, sentou-se e virou-o tomar o seu lugar. Julia o observava com atenção, Richard era muito bonito, tinha a pele bronzeada das pessoas que viviam na Califórnia, olhos e cabelos negros, encaracolados e caídos como uma moldura nos ombros, olhos cor de mel, quase amarelos e lábios de cupido, com uma barba rasteira cobrindo-lhe o queixo.
Quando mais nova achou que o rapaz era bonito demais para o papel de Philippe Collins, que era um nerd de aparência comum, o que não a impediu de pesquisar tudo sobre a sua vida, papéis antigos, se possuía namorada... Muito menos de fantasiar uma história muito louca onde o Phil do filme brigava com Viktor, também do filme, por uma adolescente quieta e cheinha.
Tiveram uma noite magica, onde riram e foram maldosos com algumas pessoas do cenário cinematográfico, conhecidas por seu péssimo comportamento. Ela lhe contou um pouco sobre sua vida no Brasil e como ser famosa agora a impedia de conhecer as baladas dali, e como ficar em casa saindo apenas para trabalhar estava enferrujando seu talento para dançar, prontamente Dick apanhou o celular e colocou musica em uma playlist aleatória, ficou de pé e a puxou para dançar.
Riram muito dos passos desengonçados dele e dos seus ombros nervosos, depois abraçaram-se e começaram a deslizar lentamente pelo galpão de filmagem, ignorando o ritmo da musica, Dick, que era um pouco mais alto que ela, beijou o topo da sua cabeça produzindo uma sensação agoniante em seu ventre.
- Tenho mais uma surpresa para você... – sussurrou roçando os lábios no lóbulo de sua orelha.
Julia estava trêmula de excitação, se fosse qualquer coisa que não uma cama ou um lençol no chão (no estado que estava, servira bem), ficaria decepcionada. Novamente foi pega de surpresa e quase caiu no choro, Buddy, o beagle de Viktor Thorne, estava ali, velho e com vários pelos brancos indicando que estava idoso já.
- Como? O dono deixou que você o trouxesse? – perguntou fazendo carinho na orelha do cachorrinho.
- Ele não se importou, já que eu sou o dono... – Julia olhou para trás estarrecida, sabia que Buddy era de um treinador de cães atores, nunca divulgaram que Dick era seu dono. O homem pareceu perceber sua confusão. – Thor estava velho e geralmente eles são abandonados nessa idade então eu o adotei, como na maior parte do tempo ele passa dormindo, deixou-o tirando um cochilo e fui te buscar, gostou?
Julia jogou seus braços ao redor dele e deu-lhe um beijo, os lábios de Dick hesitantes de inicio, devoraram-na desesperadamente, seu corpo ficou tão leve, estava esperando esse beijo desde que viu aquela mesa, então sentiu o corpo dele respondendo, animou-se, louca para tirar a roupa, mas ele separou os lábios dos dela.
Voltaram para mesa, esbaforidos, ainda tinham a sobremesa para comer, a conversa voltou à normalidade aos pouquinhos, surpreendeu-se em saber que ele havia preparado com o jantar, e riu quando ela lhe confidenciou que mal conseguia fazer um café sem esquecer da água no fogo. Agora vez ou outra esbarravam as mãos ou trocavam olhares ardentes entre uma colherada e outra na torta de pêssego.
Entrou no utilitário com Thor nos braços e permitiu que ele dormisse no seu colo, foi fazendo carinho seu pelo baixo. Encostou a cabeça no vidro frio do carro, no final não ia quebrar a ultima regra, não tinham onde deixar o cachorrinho, e nem sonhava de dar a opção de deixá-lo no carro ou de deixá-lo na sala de seu apartamento, enquanto ele lhe mostrava o que mais aquela noite podia ter de magica.
Dick deu-lhe um selinho e ela saiu do carro sozinha, ainda anestesiada. Entrou no prédio sem virar para trás, podia resolver aquela dor pulsante entre as suas pernas com seu amiguinho vibrante, tinha um problema maior no seu peito, Richard Lewis tentava abrir espaço seu coração empurrando uma tora de macieira cheia de frufrus contra a porta.
Tomou banho limpou a maquiagem, encaixou os cabelos dentro da touca de cetim para não desmanchar seu trabalho e caiu na cama, mas acordou no olho do furacão...
- Julia, preciso que seja muito sincera comigo você saiu com Dick Lewis? – Ângela Ortega, encarando o cartaz com todas as regras riscadas, Alan andava atrás dela bufando muito irritado, enquanto Julia encolhia-se de pijamas no sofá da sala de sua casa.
- Saímos, ele me levou para jantar em um set de filmagem do Viktor Thorne – Ângela abaixou a cabeça derrotada, Alan encaixou as mãos no rosto, com raiva. Apressou-se a completar. – Mas eu não... digo, nós não fizemos nada de mais!
Ângela suspirou profundamente, apanhou seu tablet e lhe mostrou o vídeo de uma câmera de segurança, no momento em que ela beijou-o, mas parou antes dele corresponder, vídeo podia estar em um gif., ela sabia bem o que aquilo significava, levantou andando de um lado para outro em colapso, dando explicações em português rápido demais para ser compreendida em sua própria língua.
- Olha sabemos que você não tentaria nada com aquele infeliz! – disse Alan finalmente. – Ele avançou em você, porque eu vetei sua participação para os testes como Antony, e eu te garanto que ninguém vai acreditar que uma moça de vinte e poucos anos teria violado um cara de trinta.
- Então, por que estamos aqui? Estou proibida de sair com as pessoas também? – Julia voltou a se sentar trêmula.
- O problema é isso aqui. – Ângela deslizou a tela para o lado e um print de um post do Instagram de Dick Lewis, na foto ele estava abraçado com seu par romântico de Viktor Thorne, o estomago de Julia revirou-se ao ler a legenda: "Demoramos muito tempo para assumir, mas com essa nova benção a caminho chegou a hora de compartilhar com vocês, nossos fãs e amigos: ESTAMOS GRÁVIDOS e CASADOS. #Alippe"
Julia achou que desmaiaria, estava aos beijos comum homem casado, haviam regras que jamais quebraria, essa era uma, começou a sentir-se suja, seus olhos estavam marejados, deixou a cabeça tombar.
- Onde o vídeo vazou? – Perguntou sem saber ao certo se queria saber.
Alan e Ângela se entreolharam preocupados, a R.P. pigarreou escolhendo muito bem as palavras, possivelmente para não magoá-la.
- Isso foi enviado pela acessória do Lewis para o senhor Thompson, achamos que é uma ameaça para obrigá-lo a dar o Valentim para ele... – esperou um pouco para que a informação nova também lhe atingisse com fúria. – Podemos ignorar, mas achamos que eles vão enviar esse vídeo para site de fofoca e não podemos dimensionar como isso vai queimar sua carreira.
- Espere um minuto, e a carreira dela? Ele que é casado e está grávido, eu não fazia ideia, aliás ninguém sabia! – explodiu. – Ele não teria coragem de expô-la desse jeito, teria?
- Ela deve estar com ele nisso tudo! – Rosnou Alan – Só eu sei que inferno foi gravar com aqueles dois, eles são podres! – ele voltou-se para ela e Julia encolheu-se esperando na bronca. – A decisão é sua Ju, o que você decidir, nós faremos, posso tolerar Richard Lewis mais alguns anos, se isso for a publico você vai acabar caindo no ostracismo.
A Julia Perez feminista saiu de dentro da jaula e rugiu, não ia ser coagida por um homem, não saiu de Minas Gerais para começar a abaixar a cabeça agora. Estudou jornalismo, sabia bem como funcionava o grande problema de ser uma vadia, sabia como os americanos faziam, todo aquele silencio constrangido, até que alguém falasse primeiro.
Analisou friamente as opções, se aceitasse a primeira chantagem teria que aceitar as próximas e não ia negociava com terroristas. Sem soube que a fama acabaria e sempre poderia voltar para a casa de seus pais, o que não conseguiria seria era encarar seu pai se deixasse alguém controlar sua vida por uma coisa dessas.
- Eu não sou uma boa garota, não dessa forma... – Sorriu por fim. – Podem me dar um minutinho? – levantou-se apanhou seu celular, digitou nos stories e publicou. – Resolvido, agora Angie, você leva o vídeo para um fofoqueiro dos grandes, e daqui uns quinze minutos vou tirar esse story do ar, nesse meio tempo peça a fofoqueiros menores para que eles relacionem esse fato com a foto do Dick. Alan conhece alguém que é fonte de algum jornalista, para soltar a informação da chantagem da Acessória?
- Claro, basicamente, todos os que estão ao meu redor, paga bem dar um furo de reportagem. – respondeu vagamente enquanto mexia no seu celular. Depois arregalou os olhos e riu. – Acho que te amo Julia Perez...
"Não se pode mais ter o melhor encontro da sua vida sem descobrir que o cara é casado?"
"Não me levem a mal, não sei do acordo de relacionamento de ninguém (e francamente não quero saber), mas, aos próximos rapazes que pretendem tocar meu coração, me levando a um antigo set de filmagem da minha história preferida, estejam solteiros ou me avisem antes, para que eu não me apegue ao seu cachorro...".
Julia puxou o ar e fez a caneta descer, se ia descumprir as regras seria um ato consciente, acabou-se, disse a si mesma que não tinha como saber quanto tempo essa boa fase duraria, então ia aproveitar para valer!
Dick Lewis interpretou o melhor amigo inteligente de Viktor Thorme nos cinemas da infância a adolescência, cresceu e tornou-se um gato, e esse homem aproximou-se dela no camarim de um dos programas de televisão e pediu seu numero! Estavam conversando a mais ou menos uma semana, e estava encantada com o fato dele ser uma fã de seu trabalho, trocavam mensagens até tarde da noite falando sobre as curiosidades dos bastidores e como Alex Kripke, o ator do protagonista, era tão desastrado que caiu em uns cabos durante a gravação do quarto filme e atrasou a estreia, porque trincou o pulso.
Deu mais uma olhadinha no espelho, ia jantar em algum restaurante chique que não pôde pesquisar, pois Dick disse que seria surpresa, então escolheu um vestido preto, justo ao corpo, com um decote nas costas, que jamais teria tido coragem de usar antes da lipoaspiração e do tratamento para a acne que fazia na região.
Verificou sua maquiagem mais uma vez, não era muito boa naquilo, mas bases caras faziam a aplicação ser menos trabalhosa para mulheres sem habilidade, porém recheadas de dinheiro. Uma das maquiadoras dos programas, com quem fez amizade, tentou lhe ensinar a colar cílios postiços, mas não dominou a técnica, então fez alongamentos de cílios, que por si só causava grande impacto, combinado com uma fina linha preta na raiz dos cílios, mascara nos inferiores e um batom vermelho, podia-se dizer que estava bem bonita até.
O celular vibrou, anunciando que Dick estava esperando-a, puxou as meias e colocou os saltos finos, bonitos, caros e terrivelmente desconfortáveis. Apertou os cachos recém tingidos de ruivo, sempre quiser fazer aquilo, mas em muito caro tratar de cabelos muito cacheados descolorido, mas agora podia dizer que estava muito mais sedosos que antes.
Não era exatamente o que esperava, havia um utilitário preto que piscou as luzes quando ela saiu, pareciam os carros que a acessória mandava para buscá-la quando tinha algum compromisso. Caminhou até o veiculo e com o canto dos olhos viu alguém tirar uma foto, entendendo, porque daquilo, enquanto ela era novidade estava sendo vigiada de perto e aquilo era só uma saída entre pessoas que estavam se conhecendo.
Entrou no banco de trás que estava vazio, achou estranho, estava sozinha lá dentro e começou a ficar nervosa, nem sabia se o sinal de farol era para ela, será que entrou no lugar errado? O vidro que separava o motorista do passageiro abaixou, e colocando a cabeça para trás sorrindo abertamente estava Dick.
- Adorei o que você fez no cabelo, também gosto de ruivas. – E riu de sua cara de espanto ao vê-lo dirigindo.
- Boa ideia essa do utilitário. – ela riu com as bochechas pintando-se de vermelho. – Então senhor motorista, para onde vamos? – gracejou
- Eu lhe disse que é uma surpresa, agora fique bonitinha aí no fundo que daqui a pouco chegaremos...
Fizeram uma viagem muito falante de trinta minutos, pegou-o mais de uma vez olhando para ela pelo retrovisor, ocasiões virava para a janela, para que ele não visse que estava gostando da atenção.
Dick estacionou em uma rua pouco movimentada, mas Julia não viu restaurante algum, ele virou para trás e estendeu um protetor de olhos preto, ela riu, sentiu se em uma comédia romântica, encaixou o tecido aveludado no rosto e esperou. Ouviu-o sair do carro, abrir sua porta e depois sentiu suas mãos procurando as dela para ajuda-la a descer.
Foi conduzida pela mão, era difícil se movimentar sem ver, de forma que acabou tropeçando no que lhe pareceu uma pedra, mas foi amparada pelo parceiro, e sentiu-o segurar sua cintura, firmando-a ao seu lado. Seu eu mais jovem estava esfuziante, era o melhor encontro que tivera na vida e ele ainda nem começara, Lewis podia puxar a venda e estarem na frente do pé sujo mais sujo que ainda seria mágico.
Ouviu uma porta metálica ser puxada para cima e o clique de um interruptor, depois novamente escutou a porta metálica, dessa vez fechando-se. Seus dedos torciam a alça da pequena carteira que trouxera, não que achasse que Dick a deixaria pagar, mas precisava carregar camisinhas e lubrificante em algum lugar.
A venda foi removida e sua boca escancarou-se. No ultimo filme de Viktor Thorme, ele e os amigos estavam presos em um bunker subterrâneo, sem saber se teriam oportunidade de comemorar outro natal vivos, então fizeram uma porção de enfeites com sucata e lixo, e criaram sua própria festa improvisada, comeram macarrão instantâneo feito com água que captaram na chuva e por uma noite esqueceram que o mundo seria destruído se não concluíssem sua missão. Aquela mesma mesa estava posta para os dois, mas com comida de verdade, ao invés de potes de miojo.
- Meu Deus Dick! – sua voz oscilou, seus olhos cintilaram perigosamente, mas conseguiu se controlar. – Esse é a coisa mais fantástica que fizeram por mim.
Dick nada disse finalmente a soltou e puxou a cadeira pra que ela se sentasse, andou até ele com os dedos dos pés dormentes pelo sapato, sentou-se e virou-o tomar o seu lugar. Julia o observava com atenção, Richard era muito bonito, tinha a pele bronzeada das pessoas que viviam na Califórnia, olhos e cabelos negros, encaracolados e caídos como uma moldura nos ombros, olhos cor de mel, quase amarelos e lábios de cupido, com uma barba rasteira cobrindo-lhe o queixo.
Quando mais nova achou que o rapaz era bonito demais para o papel de Philippe Collins, que era um nerd de aparência comum, o que não a impediu de pesquisar tudo sobre a sua vida, papéis antigos, se possuía namorada... Muito menos de fantasiar uma história muito louca onde o Phil do filme brigava com Viktor, também do filme, por uma adolescente quieta e cheinha.
Tiveram uma noite magica, onde riram e foram maldosos com algumas pessoas do cenário cinematográfico, conhecidas por seu péssimo comportamento. Ela lhe contou um pouco sobre sua vida no Brasil e como ser famosa agora a impedia de conhecer as baladas dali, e como ficar em casa saindo apenas para trabalhar estava enferrujando seu talento para dançar, prontamente Dick apanhou o celular e colocou musica em uma playlist aleatória, ficou de pé e a puxou para dançar.
Riram muito dos passos desengonçados dele e dos seus ombros nervosos, depois abraçaram-se e começaram a deslizar lentamente pelo galpão de filmagem, ignorando o ritmo da musica, Dick, que era um pouco mais alto que ela, beijou o topo da sua cabeça produzindo uma sensação agoniante em seu ventre.
- Tenho mais uma surpresa para você... – sussurrou roçando os lábios no lóbulo de sua orelha.
Julia estava trêmula de excitação, se fosse qualquer coisa que não uma cama ou um lençol no chão (no estado que estava, servira bem), ficaria decepcionada. Novamente foi pega de surpresa e quase caiu no choro, Buddy, o beagle de Viktor Thorne, estava ali, velho e com vários pelos brancos indicando que estava idoso já.
- Como? O dono deixou que você o trouxesse? – perguntou fazendo carinho na orelha do cachorrinho.
- Ele não se importou, já que eu sou o dono... – Julia olhou para trás estarrecida, sabia que Buddy era de um treinador de cães atores, nunca divulgaram que Dick era seu dono. O homem pareceu perceber sua confusão. – Thor estava velho e geralmente eles são abandonados nessa idade então eu o adotei, como na maior parte do tempo ele passa dormindo, deixou-o tirando um cochilo e fui te buscar, gostou?
Julia jogou seus braços ao redor dele e deu-lhe um beijo, os lábios de Dick hesitantes de inicio, devoraram-na desesperadamente, seu corpo ficou tão leve, estava esperando esse beijo desde que viu aquela mesa, então sentiu o corpo dele respondendo, animou-se, louca para tirar a roupa, mas ele separou os lábios dos dela.
Voltaram para mesa, esbaforidos, ainda tinham a sobremesa para comer, a conversa voltou à normalidade aos pouquinhos, surpreendeu-se em saber que ele havia preparado com o jantar, e riu quando ela lhe confidenciou que mal conseguia fazer um café sem esquecer da água no fogo. Agora vez ou outra esbarravam as mãos ou trocavam olhares ardentes entre uma colherada e outra na torta de pêssego.
Entrou no utilitário com Thor nos braços e permitiu que ele dormisse no seu colo, foi fazendo carinho seu pelo baixo. Encostou a cabeça no vidro frio do carro, no final não ia quebrar a ultima regra, não tinham onde deixar o cachorrinho, e nem sonhava de dar a opção de deixá-lo no carro ou de deixá-lo na sala de seu apartamento, enquanto ele lhe mostrava o que mais aquela noite podia ter de magica.
Dick deu-lhe um selinho e ela saiu do carro sozinha, ainda anestesiada. Entrou no prédio sem virar para trás, podia resolver aquela dor pulsante entre as suas pernas com seu amiguinho vibrante, tinha um problema maior no seu peito, Richard Lewis tentava abrir espaço seu coração empurrando uma tora de macieira cheia de frufrus contra a porta.
Tomou banho limpou a maquiagem, encaixou os cabelos dentro da touca de cetim para não desmanchar seu trabalho e caiu na cama, mas acordou no olho do furacão...
- Julia, preciso que seja muito sincera comigo você saiu com Dick Lewis? – Ângela Ortega, encarando o cartaz com todas as regras riscadas, Alan andava atrás dela bufando muito irritado, enquanto Julia encolhia-se de pijamas no sofá da sala de sua casa.
- Saímos, ele me levou para jantar em um set de filmagem do Viktor Thorne – Ângela abaixou a cabeça derrotada, Alan encaixou as mãos no rosto, com raiva. Apressou-se a completar. – Mas eu não... digo, nós não fizemos nada de mais!
Ângela suspirou profundamente, apanhou seu tablet e lhe mostrou o vídeo de uma câmera de segurança, no momento em que ela beijou-o, mas parou antes dele corresponder, vídeo podia estar em um gif., ela sabia bem o que aquilo significava, levantou andando de um lado para outro em colapso, dando explicações em português rápido demais para ser compreendida em sua própria língua, o
- Olha sabemos que você não tentaria nada com aquele infeliz! – disse Alan finalmente. – Ele avançou em você, porque eu vetei sua participação para os testes como Antony, e eu te garanto que ninguém vai acreditar que uma moça de vinte e poucos anos teria violado um cara de trinta.
- Então, por que estamos aqui? Estou proibida de sair com as pessoas também? – Julia voltou a se sentar trêmula.
- O problema é isso aqui. – Ângela deslizou a tela para o lado e um print de um post do Instagram de Dick Lewis, na foto ele estava abraçado com seu par romântico de Viktor Thorne, o estomago de Julia revirou-se ao ler a legenda: "Demoramos muito tempo para assumir, mas com essa nova benção a caminho chegou a hora de compartilhar com vocês, nossos fãs e amigos: ESTAMOS GRÁVIDOS e CASADOS. #Alippe"
Julia achou que desmaiaria, estava aos beijos comum homem casado, haviam regras que jamais quebraria, essa era uma, começou a sentir-se suja, seus olhos estavam marejados, deixou a cabeça tombar.
- Onde o vídeo vazou? – Perguntou sem saber ao certo se queria saber.
Alan e Ângela se entreolharam preocupados, a R.P. pigarreou escolhendo muito bem as palavras, possivelmente para não magoá-la.
- Isso foi enviado pela acessória do Lewis para o senhor Thompson, achamos que é uma ameaça para obrigá-lo a dar o Valentim para ele... – esperou um pouco para que a informação nova também lhe atingisse com fúria. – Podemos ignorar, mas achamos que eles vão enviar esse vídeo para site de fofoca e não podemos dimensionar como isso vai queimar sua carreira.
- Espere um minuto, e a carreira dela? Ele que é casado e está grávido, eu não fazia ideia, aliás ninguém sabia! – explodiu. – Ele não teria coragem de expô-la desse jeito, teria?
- Ela deve estar com ele nisso tudo! – Rosnou Alan – Só eu sei que inferno foi gravar com aqueles dois, eles são podres! – ele voltou-se para ela e Julia encolheu-se esperando na bronca. – A decisão é sua Ju, o que você decidir, nós faremos, posso tolerar Richard Lewis mais alguns anos, se isso for a publico você vai acabar caindo no ostracismo.
A Julia Perez feminista saiu de dentro da jaula e rugiu, não ia ser coagida por um homem, não saiu de Minas Gerais para começar a abaixar a cabeça agora. Estudou jornalismo, sabia bem como funcionava o grande problema de ser uma vadia, sabia como os americanos faziam, todo aquele silencio constrangido, até que alguém falasse primeiro.
Analisou friamente as opções, se aceitasse a primeira chantagem teria que aceitar as próximas e não ia negociava com terroristas. Sem soube que a fama acabaria e sempre poderia voltar para a casa de seus pais, o que não conseguiria seria era encarar seu pai se deixasse alguém controlar sua vida por uma coisa dessas.
- Eu não sou uma boa garota, não dessa forma... – Sorriu por fim. – Podem me dar um minutinho? – levantou-se apanhou seu celular, digitou nos stories e publicou. – Resolvido, agora Angie, você leva o vídeo para um fofoqueiro dos grandes, e daqui uns quinze minutos vou tirar esse story do ar, nesse meio tempo peça a fofoqueiros menores para que eles relacionem esse fato com a foto do Dick. Alan conhece alguém que é fonte de algum jornalista, para soltar a informação da chantagem da Acessória?
- Claro, basicamente, todos os que estão ao meu redor, paga bem dar um furo de reportagem. – respondeu vagamente enquanto mexia no seu celular. Depois arregalou os olhos e riu. – Acho que te amo Julia Perez...
"Não se pode mais ter o melhor encontro da sua vida sem descobrir que o cara é casado?"
"Não me levem a mal, não sei do acordo de relacionamento de ninguém (e francamente não quero saber), mas, aos próximos rapazes que pretendem tocar meu coração, me levando a um antigo set de filmagem da minha história preferida, estejam solteiros ou me avisem antes, para que eu não me apegue ao seu cachorro...".