Conheci ngela na faculdade e a achei muito legal na época. Eu
mal sabia que seria apunhalada pelas costas e ter que arrumar um
lugar para morar.
Tenho sorte por ter uma irmã maravilhosa, pois quando liguei
para ela, rapidamente Mariana veio ao meu socorro. Eu ficaria com
ela até achar um novo emprego, já que não bastava o meu dia ter
sido conturbado, ainda descobri que fui traída e não tinha onde
morar.
Seu apartamento não era muito grande, mas cabíamos nele.
Como minha irmã trabalha como guia turística e vive viajando, seria
perfeito para nós.
Eu achava que tudo que aconteceu naquele dia tinha sido um
aviso do Destino de que algo estava muito errado. Ainda não sabia
o quê, mas esperava que essa maré de azar não permanecesse ao
meu lado.
- Não se preocupe, Elisa, você pode ficar o quanto quiser na
minha casa. Eu mal fico aqui mesmo e quando estiver será divertido
passar o dia com a minha irmã mais velha.
Mariana era um amor de pessoa. Todos a amavam e ela sempre
foi a mais popular na nossa casa. Ela era minha irmã mais nova,
porém, depois da faculdade a garota seguiu na sua área de
atuação, muito diferente de mim que não tive tanta sorte e optei por
trabalhar para me sustentar e deixei um pouco de lado o meu
sonho. Entretanto, a minha demissão e essa nova situação em que
me encontrava, me deu oportunidade de finalmente procurar o que
desejava.
- Obrigada, irmã, você é meu anjo. - Falei a abraçando forte.
- Vou arranjar um emprego em minha área, você vai ver, não vai
demorar muito.
- Eu espero que sim. Você merece fazer o que gosta, é muito
criativa e inteligente, aposto que essas empresas estão perdendo a
oportunidade de ter alguém tão inteligente como você. - Disse indo
para a cozinha. - Mas agora vamos assistir a um filme muito
divertido. Já faz um tempo que nós não temos essa oportunidade.
Ela tinha razão, no meu antigo trabalho eu não tinha
oportunidade de sair e me divertir muito. Era trabalho e mais
trabalho, sem tempo para folga. Mariana vivia no emprego dos
sonhos, ela viajava para o litoral com os turistas nas praias mais
lindas de Pernambuco. Outras vezes, ela trabalhava em sítios
arqueológicos.
Enquanto ela fazia a pipoca, liguei a televisão e procurei algo
decente para assistirmos. Querendo ou não, a minha cabeça ainda
questionava muitas coisas sobre Miguel e a traiçoeira que eu
chamava de amiga.
- Acha que eles estavam juntos há muito tempo e só eu que era
idiota nessa história? - A perguntei.
Eu queria parar de pensar nessa situação, no entanto, talvez a
raiva estivesse trazendo tudo à tona em minha cabeça e comecei a
questionar vários momentos da nossa vida.
- Eu não sei, mas nunca gostei daquela mulher. Na verdade,
nunca pensei que o Miguel faria tal coisa com você, achei que ele te
amava. - Disse em um tom triste.
- É, eu também, entretanto, eu não gostava mesmo muito dele,
talvez fosse apenas comodismo. - Pensei em voz alta. - Quer
saber, é melhor esquecermos isso. O Miguel não vale um minuto
dos meus pensamentos mais.
Mariana volta com a pipoca e resolvemos assistir uma comédia
para rir muito e esquecermos os problemas. Tinha que focar agora
em achar um emprego e ter o meu próprio lugar. Não deveria mais
deixar que ninguém me atrapalhasse, esse era o meu futuro e não
podia deixá-lo para trás por causa de momentos ruins ou pessoas
que não valiam a pena.
***
Não fiquei parada em casa lamentando pela vida medíocre que
tive durante esses três anos. Saí e entreguei os currículos nas
empresas que eram do meu ramo.
Minha irmã saiu para trabalhar, me deixando sozinha. Como não
tinha muitos amigos, fui obrigada a esperar em casa, entediada.
Rezei para todos os santos e deuses existentes no mundo para
que eu tivesse uma resposta rápida, pois não queria continuar
parada, não suportava ficar em casa sem fazer nada o dia inteiro.
Quem me olhasse diria que eu estava em um romance com o
meu celular, pois passei o dia inteiro ao seu lado esperando que ele
tocasse.
Quando vim para recife, foquei tanto em estudar e arrumar um
emprego que não tive a oportunidade de sair e conhecer tudo o que
deveria, por isso não tinha tantos amigos, e justo a que arrumei, me
traiu. Claro que isso trouxe um pouquinho de desconfiança, e seria
difícil acreditar em mais alguém no futuro.
Meus pais moram no interior, bem distante. Eles vivem de forma
humilde e nos criaram com poucas coisas, mas nem por isso nos
deixaram negligenciadas, nos ensinaram que não precisamos de
muito para sermos felizes, apenas de pessoas que valham a pena.
Quando a minha irmã também veio para cá, eu já não precisava
ficar mais só. Ela estudava e morava comigo, e podíamos sair para
nos divertir.
Conheci o Miguel quando trabalhava em uma lanchonete, ele
também estudava na mesma faculdade que eu, no curso de física.
Gostei dele, pois era inteligente e muito bonito. Mas pensando bem,
agora, Mariana tinha razão, ele foi sempre meio esnobe e se achava
melhor que todo mundo. Sempre que eu falava sobre o meu sonho
quando estávamos juntos, ele fazia questão de me colocar para
baixo, dizendo que isso seria impossível para mim.
Antes de vir para cá, passei muito tempo sem ninguém, as
pessoas sempre pensavam que eu tinha algum problema, porém, só
queria focar no meu objetivo. No entanto, se você não seguir
conforme a dança, as pessoas começam a falar e isso sempre foi
um problema para minha mãe.
Mas que se dane!
Ninguém deveria viver baseado no que as pessoas vão achar ou
não. Era a nossa vida, e somos nós que escolhemos o que
queremos ser ou não, caso contrário sempre iremos viver infelizes,
pois nem sempre o que as pessoas desejam para nós, era o que
realmente nos faria feliz.
Agora mesmo, tinha que me concentrar no que eu queria, e ao
ouvir o celular tocar, quase tive um ataque de pânico.
Olhei na tela e era um número desconhecido. Poderia ser
qualquer um, mas mantive o meu pensamento positivo.
- Alô. - Disse ao atender.
Eu estava tentando disfarçar a minha ansiedade, porém, estava
ficando difícil.
- Alô, Elisabete? - Perguntou a voz feminina do outro lado.
- Sim, sou eu. - Respondo ainda eufórica. Tentei a todo custo
me acalmar, mas era a primeira vez em muito tempo que uma
empresa me respondia.
- Eu sou a Judi, trabalho para a empresa ART Vilella e gostaria
de saber se você ainda está à procura da vaga?
Assim que ela havia acabado de falar, afastei um pouco o
telefone do ouvido, para que a mulher não ouvisse a minha histeria.
Já fazia um tempo que eu desejava fazer uma entrevista nessa
empresa, mas as vagas eram muito disputadas.
- Claro que sim. - Respondi ainda me abanando.
- Ótimo, estou agendando sua entrevista para amanhã, ok? -
Falou a mulher que mais parecia um anjo.
- Ok, estarei aí. - Respondi.
Antes de desligar, Judi me passou os detalhes sobre a
entrevista. Eu sabia que não seria a única a ir até lá, mas eu faria de
tudo para ser a melhor de todas.
Assim que a ligação foi encerrada, eu praticamente saltitei de
tanta alegria.
***
Ao chegar na frente do prédio alto e moderno, fiquei
impressionada com a sua beleza. Era realmente luxuoso. Eu nem
sabia que existia edifícios tão modernos em Olinda, pois a cidade
era conhecida pelas casas e prédios antigos.
Sem perder tempo, adentrei o lugar. A ART Vilella ocupava os
três últimos andares, e ao chegar perto do elevador, três mulheres já
o esperavam. Não sabia se elas já trabalhavam aqui ou não, mas
dava para ver que não vieram para brincadeira, elas estavam lindas.
Se elas fossem minhas concorrentes e essa fosse uma disputa
de moda, eu estaria ferrada. Saí de casa com um traje formal. Uma
saia lápis e uma blusa de manga longa, solta.
Assim que saímos no andar onde seria a entrevista, tive a
confirmação de que essas mulheres eram realmente minhas
concorrentes. Mas não me preocupei, já que eu era muito bem
qualificada, apesar de ainda não ter trabalhado fixamente no ramo.
Judi, que era a secretária do todo-poderoso, apareceu para nos
indicar onde seria a entrevista.
Eu estava bem nervosa e precisava de um pouco de água para
que me acalmasse.
Pedi informação a ela, que me indicou uma sala que servia de
copa para alguns funcionários comer e beber água.
Fui até a sala e bebi um pouco de água. O lugar não era muito
pequeno e tinha muitas coisas para os funcionários. Respirei fundo
ao sair da sala, mas meu corpo se chocou contra uma parede de
músculos que fez com que eu recuasse um pouco e quase caí.
- Meu deus, desculpa, eu não...
Meus olhos procuraram a vítima da minha desatenção e senti
que meus pulmões quase pararam de funcionar. Ele era alto, tinha
ombros largos, olhos verdes intensos e uma barba rala que me fez
arrepiar. Suas mãos seguravam minha cintura para que eu não
fosse ao chão.
Mantive minhas mãos em seu peitoral largo, ainda boba pela sua
imagem perfeita.
- Você deveria olhar para onde anda. - Ele disse com sua voz
grossa e arrogante.
A magia acabou no mesmo instante que seu olhar se tornou frio.
Pisquei duas vezes raciocinando sobre todo o ocorrido.
- Desculpe-me, mas o senhor também teve culpa. - Falei me
defendendo.
- Como posso ter culpa nisso se foi você quem esbarrou em
mim? - Me questionou cerrando os olhos.
Era inegável que esse homem era lindo e charmoso, mas tudo
isso não ofuscava a ignorância e a rispidez que destruía a bela obra
de Deus.
O olhando atentamente, o bonitão de olhos verdes parecia um
modelo de capas de revista chique. Podia apostar que esse babaca
era um arquiteto ou engenheiro. Mesmo tendo muita gente legal,
essas áreas eram cheias de homens e mulheres egocêntricos.
- Foi você que apareceu de repente. - Falei convicta. - Quer
saber, não posso ficar aqui, tenho o que fazer. Tenha um bom dia.
Afastei-me dele e comecei a caminhar para longe, no entanto,
seus longos dedos impediram que eu me afastasse bastante.
O simples toque de suas mãos fazia com que meu corpo
perdesse a compostura. Olhei novamente para seus olhos e pude
ver um brilho que não vi antes.
- Como se chama? - Perguntou curioso, franzindo o cenho.
- Isso não interessa a você. - Respondi ainda chateada.
Sem dar espaço para mais questionamentos, saí. Na verdade,
eu estava fugindo. Ficar poucos minutos ao lado desse homem me
fez sentir coisas que nunca senti com Miguel, e isso era estranho.
Capítulo 4 - Henrique
Prezo por duas coisas quando estou trabalhando: concentração
e dedicação, porém, já faz dois dias que minha mente estava
distraída, e por quê? Pelo simples fato de ter esbarrado em uma
mulher de cabelos escuros e olhos castanhos que tinha uma boca
incrível e uma língua solta.
Não sei quem era ela ou o seu nome, no entanto, não consegui
parar de pensar naquela ocasionalidade. Resolvi que já era hora de
expulsar aquela estranha da minha cabeça e me concentrar no
trabalho. Finalmente achamos uma pessoa que possa trabalhar
comigo. Serena não disse muito sobre a mulher, só que ela era
perfeita para o cargo, pois sua personalidade batia com a minha
- Ela começa amanhã, mas Henrique, não faça com que a
mulher queira se demitir no mesmo dia, por favor. - Pediu com um
sorrisinho no rosto. - Ela é bonita e inteligente. Tem desejo de
crescer, e com certeza poderá resistir por um tempo ao seu lado.
Continuei desenhando o esboço do nosso último projeto
enquanto a ouvia. Serena, apesar de ser uma ótima profissional, era
muito tagarela. A conheci na faculdade e agora ela trabalhava para
mim.
- Que bom, só espero não a odiar também. - Falei dando de
ombros.
- Às vezes penso que você é um daqueles protótipos robóticos
que se parece com ser humano, mas que não tem sentimentos. -
Ela disse se levantando abruptamente, parecendo chateada.
- Se eu fosse, vocês estariam ferrados. - Brinquei e a ouvi rir.
- Olha, você tem senso de humor. - Ironizou antes de sair. -
Mas falo sério quando digo que você tem que pegar mais leve com
as pessoas.
Quando finalmente fiquei só, continuei o meu projeto, sempre
amei fazer isso. Minha família estava no ramo de arquitetura há
muito tempo, porém, isso nunca foi uma obrigação para mim, pois
sempre gostei de desenhar e projetar coisas.
Já ganhei diversos prêmios no ramo, e quando meu pai quase
arruinou a empresa, fui eu que assumi e fiz com que ela fosse
reconhecida no país.
Devido a diversos fatores, meu pai e eu não tínhamos uma boa
relação, mas sabia que ele estava satisfeito com o meu trabalho.
***
O dia não havia começado muito bem. Cheguei tarde, ontem.
Mal consegui dormir e hoje perdi a hora. Isso nunca tinha
acontecido.
Não tomei café antes de sair de casa. Sabia que encontraria um
trânsito caótico, pois dirigir de Recife para Olinda não era tarefa
fácil, já que as cidades não suportavam a quantidade de veículo nas
ruas.
Fiquei mais tranquilo quando cheguei ao escritório, depois de
passar quase uma eternidade no trânsito. Não queria falar com
ninguém tão cedo, mas sabia que assim que colocasse os pés na
empresa, os problemas apareceriam. Pedi um café forte a Judi que
me seguia, batendo seus saltos no piso.
Antes de entrar na minha sala, parei no corredor em frente a sala
da minha nova assistente. Sabia que ela começava hoje, e a
silhueta perfeita que estava vendo, era bastante curioso. Apesar de
estar em uma posição provocante, ela estava formal.
Algo naquela mulher de cabelos escuros me dava uma sensação
estranha e familiar. Ela vestia uma saia preta e blusa branca solta. O
movimento que fazia ao colocar os seus cabelos longos para trás,
me deixou encantado.
Quando ouvi a voz da minha secretária, tive que voltar ao mundo
real e caminhar para o meu escritório.
- É a sua nova assistente. O nome dela é Elisabete Medeiros,
achei ela uma ótima pessoa. - Falou a mulher baixinha de cabelos
cacheados.
Ainda pensava na silhueta sexy que havia visto, mas isso não
mudou o meu humor. Sabia que até o fim do dia ficaria com dor de
cabeça.
Depois que ela me serviu o café forte, pude enfim começar o
meu dia. Pedi que ela mandasse a nova assistente entrar para
começarmos a trabalhar. Sabia que eu não poderia assustar a bela
jovem com o meu mau humor assim de cara, então respirei fundo e
encostei-me na cadeira.
Recebi uma ligação e tive que atender. Enquanto falava ao
telefone, vi o rosto conhecido entrar no meu escritório e tive que me
concentrar para não surtar.
Dava para ver que ela também havia ficado surpresa. Continuei
a minha ligação observando cada movimento da mulher que se
sentou à minha frente, ainda tentando entender o que estava
acontecendo. Assim que desliguei o telefone, nos observamos por
um instante antes que eu começasse a falar.
- Claro, você seria a assistente perfeita para mim, não é? -
Perguntei ironicamente.
- Acho que cometi um pecado muito bárbaro nas minhas vidas
passadas. - Comentou a mulher.
Não sabia se era o destino ou só coincidência mesmo. Mas ter
esta mulher como minha assistente era a forma do universo me
punir por tudo que já fiz. Ela era linda e atraente, mas da última vez
que nos encontramos foi muito mal-educada me culpando por
esbarrar nela.
O pior era que a mulher não saiu da minha cabeça desde aquele
dia e agora ela estava aqui, parada em minha frente e iria trabalhar
comigo.