capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase
nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma
chefe muito irritante, já estava preparada para tudo.
Assim que cheguei pela manhã, a mulher que me entrevistou,
Serena, mostrou-me a minha sala e o que eu teria que fazer. Ela
também disse que o meu novo chefe era um homem concentrado e
que odiava atrasos ou distrações, mas que não deixasse ele me
amedrontar ou qualquer coisa do tipo.
Judi era secretária de Henrique Vilella há um bom tempo, e ela
também me alertou sobre ele. Eu já estava ansiosa e todas essas
palavras me deixaram ainda mais pilhada. Não conhecia muito o
senhor Vilella, porém, sabia que ele era um dos melhores no ramo e
que já ganhou vários prêmios. Trabalhar ao seu lado me ajudaria
muito a evoluir.
Arrumei a minha nova sala e tentei me acalmar para a chegada
do novo chefe.
Eu já aguentei muito pepino da minha antiga chefe e odiaria
trabalhar com alguém igual ou pior que ela. Acreditei que a maré de
azar havia acabado, pois já tinha conquistado o meu objetivo,
porém, pelo que estava ouvindo, parecia que meu novo chefe não
seria fácil.
Liguei para minha irmã contando a novidade e tudo o que as
pessoas já haviam falado para mim. Ela me aconselhou a relaxar e
respirar fundo, mas se o homem for grosseiro ou me humilhasse,
que eu não baixasse a cabeça.
Não sei se eu teria coragem de enfrenta-lo, pois batalhei muito e
demorou mais ainda para que eu conseguisse finalmente um
trabalho na minha área e se o desrespeitar, logo no primeiro dia,
com certeza eu não teria oportunidade em lugar nenhum.
Quando a secretária me avisou que o senhor Vilella já havia
chegado e que estava à minha espera, senti meu estômago
embrulhar. Tive que respirar fundo várias vezes enquanto
caminhava até o seu escritório, pois eu pensava que a qualquer
momento poderia desmaiar.
Entretanto, eu não estava preparada para o que encontrei assim
que adentrei a sala. O homem arrogante de dias atrás que havia
esbarrado em mim e foi muito grosseiro, falava ao telefone. Ele
também ficou surpreso ao me ver e acabei acreditando que estava
ferrada.
As lembranças exatas daquele dia se voltaram a minha mente.
Geralmente não sou tão rude, mas aquele homem despertou uma
fúria dentro de mim que não consigo explicar.
Sentei na cadeira a sua frente bastante preocupada. Eu não
sabia se ele iria me dar a chance de provar o meu valor ou
simplesmente me mandaria para o RH.
Assim que ele terminou sua ligação, ficamos nos encarando por
alguns segundos. Era verdade que desde aquele dia eu não
consegui o tirar da cabeça. Henrique Vilella era o homem mais lindo
que já vira na vida, porém, sua personalidade era de um cavalo e
não iria suportar conviver com este homem.
Como antes, ele foi grosso e irônico, esse seu sorrisinho de
canto fez com que eu quase me derretesse em sua frente.
Questionei a mim mesma sobre o destino ou as forças do universo
que sempre me colocavam nessas situações estranhas.
- Serena podia muito bem ter escolhido alguém que não fosse
tão desatenta quanto você. - Falou arrogante, me deixando
levemente irritada. - Não dá para acreditar no que está
acontecendo.
- Sei que tivemos um início muito conturbado, mas acredito que
podemos melhorar e trabalhar juntos, senhor Vilella. - Falei
reprimindo a minha raiva e vontade de responde-lo a altura.
- Você acredita? - Me questionou com o cenho franzido. - Eu
aposto que não.
- Por que é tão grosso com as pessoas? - O questionei,
levantando-me, apoiando os meus braços sobre a sua mesa.
Eu realmente estava furiosa. Poderia até o matar agora, mas
decidi ser mais prudente e tentar me acalmar, mesmo que o homem
tente a todo custo me fazer perder a cabeça.
- Por que tem a língua tão solta? - Perguntou, também se
levantando e me encarando bem de perto.
Sua aproximação causou um efeito sobre mim muito estranho.
Olhar em seus olhos verdes, assim, tão de perto, me fez sentir
insegura.
- Desculpe-me, mas não ficarei calada se o senhor quiser me
tratar como uma qualquer. - Falei, sentando-me novamente. -
Não devo o responder dessa forma, pois é meu chefe. Porém, o
senhor também deve me respeitar.
Ele cerrou os olhos e também se sentou. O homem juntou as
mãos sobre a mesa e me avaliou por um instante. Eu quis
novamente questioná-lo, entretanto, para que nossa convivência
seja, pelo menos, suportável, tinha que renunciar algumas palavras.
- Creio que já foram passadas algumas informações para você.
Não quero atraso, não tolero condutas inapropriadas no local de
trabalho e por favor, senhorita Medeiros, trate-me como seu chefe e
não como um colega, muito menos, como um cara qualquer. -
Falou desviando o olhar de mim.
- Não se preocupe, sei de tudo isso. - Falei em um tom firme.
- Em que empresa você trabalhou anteriormente?
Sua pergunta fez o meu cérebro congelar. Se o homem já estava
irritado por eu ser a sua nova assistente, imagine como ficaria
quando descobrisse que não trabalhei na área de paisagismo nos
últimos três anos.
- Fui assistente de uma contadora. Sei que não é a área da
arquitetura, mas acredite, sou capaz de trabalhar com o senhor. -
Disse, tentando amenizar cada palavra que havia falado.
Não sabia o que era pior: ter o arrogante gritando comigo ou em
silêncio me observando como se me julgasse mentalmente.
- Você não tem experiência na área, senhorita? - Perguntou
com certa irritação.
Henrique tinha aquele típico olhar que fazia você querer um
buraco para se enfiar. Eu estava nervosa e sabia que ele iria discutir
por causa disso.
- Estagiei por 6 meses quando ainda estudava na faculdade, e
mesmo que eu tenha tentado diversas vezes encontrar algo em
minha área, não consegui nada e tive que optar por arranjar um
trabalho para pagar as contas. - Expliquei com o máximo de
paciência e calmaria.
Ele respirou fundo, fechando os olhos, analisando cada palavra
que saiu da minha boca. Mesmo que eu não tenha conseguido
emprego em arquitetura e ter trabalhado por três anos em outro
ramo, isso não me desqualificava para este trabalho. Sempre me
mantive antenada e nos meus momentos de folga adorava desenhar
e imaginar projetos. Claro que isso não era profissional, mas não
tive culpa se não consegui nada.
Alguém tinha que me dar uma oportunidade.
- Serena, você pode vir ao meu escritório? - Falou ao pegar o
telefone, parecendo bastante chateado.
Meu coração parecia que ia parar a qualquer momento. Minhas
emoções estavam a flor da pele e sentia um misto de ódio e tristeza.
- Senhor Vilella, por favor, não fique chateado, sei que isso
parece algo ruim, mas não tive culpa. Isso não me desqualifica para
trabalhar com o senhor. - Falei quase entrando em desespero. Eu
sabia que este homem frio e arrogante não iria ter pena de mim,
porém, eu não poderia desistir após ter conseguido chegar até aqui.
- Posso provar que sou capaz, só preciso de uma oportunidade e
vou me esforçar ao máximo.
- Não quero uma pessoa que não vai me acompanhar. Pensa
que brinco quando entro nesse escritório? - Questiona-me rude. -
Sinto muito por você não ter tido uma oportunidade antes, no
entanto, preciso de alguém capaz e com preparo para trabalhar ao
meu lado, senhorita Medeiros.
- Eu sou capaz, e o senhor está sendo o mesmo frio e
arrogante de sempre. - Levantei-me novamente, chateada. - Não
pode me demitir sem antes me deixar provar que sou capaz. O
senhor me trata mal desde o momento que botei os pés dentro
desta empresa, e não pode esperar por uma só oportunidade para
me julgar. Já trabalhei com uma pessoa que era o verdadeiro diabo
para mim, mas o senhor vai além. Eu nem tenho palavras para
descrevê-lo.
Eu sabia que não poderia surtar e gritar com meu chefe. Ele
estava a ponto de me demitir e eu estava dando o armamento para
que ele pudesse fazer isso.
Henrique se levantou e me encarou de perto, assim como antes.
Ele também estava irritado e com razão. Mas ele não me
respondeu.
- O que está acontecendo aqui? - Questionou Serena ao
entrar.
Capítulo 6 - Henrique
Eu não queria acreditar que Serena havia feito isso comigo. Ela
era uma mulher experiente e de minha confiança, eu só queria
saber por que ela contrataria uma mulher sem experiência para
trabalhar ao meu lado.
As palavras de Elisabete ainda estavam pairando sobre a minha
cabeça quando a minha amiga adentrou a sala me olhando com
espanto.
Eu não era conhecido por ser uma pessoa boa ou que tivesse
muita paciência, por isso a necessidade de alguém com experiência
e que pudesse suportar a minha oscilação de humor. Não posso
negar que Elisabete era uma mulher determinada e com
personalidade forte, que poderia até suportar um pouco a minha,
mas ela era petulante e me irritava constantemente, isso somado a
sua falta de experiência no ramo da arquitetura era inaceitável para
mim.
Entretanto, algo em seu olhar me fazia querer ficar com ela,
mesmo estando muito chateado pela situação. A mulher me
desafiava e já fazia muito tempo que eu não encontrava ninguém a
altura para fazer tal coisa. Não poderia negar que isso me excitava
um pouco. Sei o quanto isso era confuso, o que me deixava ainda
mais puto com a situação.
Elisabete saiu assim que Serena entrou. Era nítida a sua
preocupação quanto ao trabalhar comigo, e mesmo não querendo
de jeito algum ter alguém tão... Irritante ao meu lado, algo dentro de
mim desejava mantê-la no emprego.
Isso já está me irritando.
Serena sentou-se à minha frente e respirei fundo várias vezes
antes de começar os meus questionamentos. Sou conhecido por ser
muito exigente, no entanto, também muito arrogante, era verdade
que muitas vezes eu me arrependia das coisas que falava, mesmo
não demonstrando isso.
Aprendi a ser mais duro para obter resultados positivos. Ser
bonzinho não me trouxe resultados bons no passado e eu não
queria nada fora do lugar dentro do meu local de trabalho.
- Henrique, pedi para você não ser tão... Você. Sabe como foi
difícil achar alguém que pudesse trabalhar ao seu lado todos os dias
e não se demitir? - Falou ela com o cenho franzido.
- Então teve que contratar alguém inexperiente para isso? -
Perguntei bastante irritado.
A mulher à minha frente respirou fundo e se encostou na cadeira
como se o assunto abordado não fosse tão grave quanto era.
- Eu sabia que isso seria um problema para você. - Disse ao
cruzar as pernas. - Mas não faria isso se não soubesse que essa
mulher pode trabalhar ao seu lado e ser eficiente no trabalho.
Era verdade que Serena era uma mulher responsável e não
cometia erros. Porém, esta era minha empresa e odiava ter que
explicar ou responder perguntas a qualquer um.
- Pelo amor de Deus, Serena, será que não consegue ver um
problema aqui? - A questionei mais firmemente. - Sabe quantas
vezes ela me respondeu desde o momento que entrou por aquela
porta?
- E não teve medo disso? - Perguntou com um sorriso
orgulhoso.
- Acha isso engraçado? - Perguntei achando isso estranho.
- Desculpe, Henrique, mas você não é o homem mais correto e
bonzinho que conheço. Você enlouquece todos dessa empresa.
Pergunte a sua secretária! - Disse ainda parecendo se divertir com
a minha situação.
- Eu exijo 100% das pessoas que trabalham para mim. Isso me
faz ser um tirano? - Questionei ficando ainda mais furioso. -
Talvez eu devesse demitir mais pessoas.
- O que Elisabete fez de tão errado para que você queira
demiti-la no primeiro dia? - Perguntou, recostando e me
encarando. - Danificou algo, errou algum documento ou
simplesmente não foi com a cara dela?
- Se ela tivesse feito qualquer uma dessa coisas eu não
precisaria ter chamado você. Além do mais, não tenho que gostar
de alguém só porque irá trabalhar para mim, mas isso não vem ao
caso. Eu só não desejo quebrar a cabeça com uma menina sem
experiência.
Mesmo ouvindo coisas tão negativas, parecia que Serena estava
se divertindo com a situação. Isso também estava me chateando.
- Então seria só mais um que não deu a ela uma oportunidade
para que ela provasse seu valor. - Falou me provocando.
Era verdade que nós somos amigos há muito tempo. Eu
respeitava Serena como uma profissional e como pessoa, mas às
vezes ela passava dos limites.
- Interessante como todos hoje querem me provocar. - Falei a
reprovando.
- Desculpe, passei dos limites. - Disse arrependida. - Porém,
não pode demiti-la sem uma razão. A mulher não cometeu um erro
e você não tem um motivo.
Ela tinha razão, mas como ficaria com alguém que pode não
acompanhar o meu ritmo?
Eu estava sendo imparcial e minha consciência estava gritando
na minha cabeça. Minha amiga tinha razão em dizer que eu seria
como os outros que não deram uma oportunidade. O pior era que eu
odiava ser comparado a qualquer outro.
- Não preciso de desculpas para demitir alguém, essa é minha
empresa. – Falei encostando-me na cadeira. – Porém, não serei tão
duro e darei 3 meses. - Falei após pensar um pouco. - Se ela
estragar qualquer coisa será demitida na hora. Darei 3 meses como
experiência, se ela for boa, permanece.
- Ótimo. - Ela disse com um sorriso largo.
- Não fique felizinha, você sabe que não sou fácil, penso que
ela mesma vá se demitir.
- Só se você der motivos, querido amigo. - Falou irônica.
- Mande que a novata entre, já perdi muito tempo. Tenho uma
reunião em poucos minutos. - Falei arrumando os papéis em
minha frente.
Satisfeita, Serena levantou-se e saiu. Minha cabeça já ameaçava
doer antes mesmo de estarmos na metade do dia. A porta foi aberta
novamente, e um par de pernas bronzeadas entrou me
hipnotizando. Tinha que confessar que Elisabete Medeiros era linda.
Eu diria de tirar o fôlego. Sabia que isso também seria um problema.
- O que decidiu, irá me demitir? - Questiona-me ansiosa e
levemente irritada.
Esse era outro motivo para a minha preocupação. Ela era quente
e petulante, e no mesmo nível que me irritava, me atraía.
- Não serei tão malvado com você. - Falei com um sorriso no
rosto. Foi engraçado ver seu rosto surpreso. - Darei um período de
experiência de 3 meses, se você cometer um deslize sairá antes
desse prazo, se for boa ficará na posição. Porém, acredito que você
vai pedir para ir embora.
- Isso é um desafio, senhor Vilella? - Perguntou cerrando os
olhos. - Eu não gosto de ser desafiada.
Foi impossível não ficar animado com a situação. Não podia
negar que eu adorava desafios, e mesmo não querendo fazer disso
uma competição, meu instinto pedia para fazer.
- Trate isso do jeito que quiser. Mas sei que estou certo e que
você não vai durar muito tempo aqui. - Afirmei.
- Serei a assistente mais prestativa e eficiente que o senhor já
teve na vida, e no final irei mostrar que não se brinca com uma
Medeiros. - Provocou a morena de olhos castanhos. - Quando
isso acabar, será o senhor que me pedirá desculpas por toda essa
sua grosseria.
Isso era perigoso. Não sabia o porquê de estar tão excitado com
a conversa, mas Elisabete era diferente das demais mulheres. Ela
me desafiava e isso era novo.
Capítulo 7 - Elisabete
Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que
pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes
comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que
realmente poderia ter nascido com a vida azarada.
Henrique Vilella era mesmo um homem insuportável e irritante
que faria de tudo para que eu perdesse o emprego. O problema era
que o cretino não sabia com quem ele estava brincando e eu teria
que mostrá-lo que nada do que ele pudesse fazer, iria me fazer
desistir do meu sonho.
Eu queria dar o troco e fazer com que ele provasse do seu
próprio veneno, porém, o homem era meu chefe e eu teria que
suportar até não aguentar mais. Mas sei que em algum momento,
Henrique irá ter o troco e eu estaria na arquibancada apreciando
esta ocasião.
Não importava qual tarefa ele me mandasse fazer, sempre
concluía com maestria. Sentia pena de todos que trabalham ao
redor desse homem, pois ele mal chegava no escritório e
esbravejava com todos. Inclusive com a coitada da Judi.
Ao lado dele trabalhava exaustivamente, quando chegava em
casa já estava exausta e mal tinha tempo para comer e dormir, pois
no outro dia tinha que estar em pé logo cedo.
Eu realmente só queria trabalhar em um ambiente feliz e
tranquilo, porque realmente gostava da arquitetura e agora estava
tendo a oportunidade de estar em um projeto grande de um Hotel
que se tornaria um Resort.
O projeto durará 3 meses, o tempo que ele me deu de
experiência. Faria questão de provar o meu valor e farei ele pedir
desculpas por tudo o que falou.
Amanhã ele iria me buscar para irmos a Serrambi, onde ficava o
terreno que trabalharíamos. Parece que o proprietário também
estaria fazendo mais dois edifícios, o que deixava o projeto muito
maior.
Mesmo estando confiante, ainda restava um pouco de receio
dentro de mim. Eu era capaz, sabia disso. Mas aquele chefe era o
pior dos homens, e tinha medo de que ele pudesse me ferrar só
para me ver desistindo.
***
Quando acordei pela manhã, minha mente demorou um pouco
para voltar ao normal. Tomei um banho rápido e troquei de roupa, e
só tive tempo para tomar um café rápido já que o homem estava
mandando mensagem, dizendo que já estava à minha espera do
lado de fora.
" Eu já mencionei que odeio atraso, senhorita Medeiros. "
" Acho que seu relógio está muito adiantado, pois ainda faltam
cinco minutos, senhor Vilella. "
Revirei os olhos, pegando a minha bolsa e batendo a porta.
Como o homem já pode estar tão irritado a esta hora da manhã?
Quando saí do prédio, vi Henrique apoiado no capô do carro com
óculos escuros, muito sexy. Eu não conseguia entender como um
homem tão lindo, também poderia ser tão arrogante. Não sei se isso
era um mal que cresceu com ele ou algo ruim aconteceu para que o
ele fosse tão odiável.
Me aproximei, sendo avaliada pelos seus olhos verdes cobertos
pelos óculos escuros. Eu não queria me sentir abalada pelas
sensações que ele me provocava quando me olhava dessa forma,
mas era quase impossível não reagir positivamente. O que me fazia
odiá-lo ainda mais.
- Bom dia, senhor Vilella. - Falei, querendo começar o dia
animada.
Henrique ficou me encarando por alguns segundos antes de se
mover e abrir a porta do automóvel, entrando, sem ao menos me
responder.
- Está atrasada, senhorita Medeiros. - Falou arrogante, como
sempre.
- Bom dia para você também, Elisabete. - Falei ironicamente,
andando até a porta e sentando-me ao seu lado. - O dia está tão
lindo, Elisabete, você também está muito bonita.
- Você tem algum transtorno ou é apenas ego inflado? -
Perguntou, franzindo o cenho.
Eu não queria rir da sua pergunta idiota, mas foi impossível
porque o homem não estava sendo irônico.
- Não tenho problemas mentais e nem sou egocêntrica, muito
diferente do senhor, mas acho que você tem sérios problemas
sociais, Sr. Vilella, pois nem um bom dia pode responder. - Falei
ainda sorrindo.
O carro dele era um esportivo muito lindo na cor preta e teto
removível. Fiquei feliz quando o abriu, dando-me liberdade para
respirar o ar fresco e apreciar a vista. O vento batia em meus
cabelos, os deixando esvoaçados. Fechei os olhos e tentei relaxar o
caminho inteiro. Henrique se manteve calado, me dando um pouco
de paz enquanto não começávamos mais uma discussão.
Fiquei feliz em saber que nós visitaríamos o local onde
trabalharíamos, porque ficava perto da praia e já fazia muito tempo
que eu não chegava a alguns quilômetros de algo assim. Mesmo
morando na capital, que era conhecida pelas belas praias e
podendo ir aos fins de semana, nunca encontrei tempo para tal
diversão. Claro que eu gostaria de estar em uma situação muito
melhor do que estar ao lado do meu chefe arrogante, porém, nem
sempre temos aquilo que queremos e eu tinha que suportar o
homem chato ao meu lado.
Quanto mais nos aproximávamos do local, mais eu conseguia
sentir a maresia e isso me deixou alegre. Henrique estacionou não
muito longe do local onde o proprietário estava nos esperando.
Ainda sem falar nada, ele saiu do veículo e o segui.
- Isso não o deixa de bom humor? - Perguntei, respirando
fundo o ar novo em que estávamos.
- Não. - Respondeu seco.
Revirei os olhos e encarei suas costas largas.
- Desculpa a pergunta, chefe, mas você tem namorada ou algo
assim?
O homem virou-se para olhar para mim por cima dos óculos
escuros, e dei um sorriso amarelo.
- Não estamos aqui para conversar banalidade, senhorita
Medeiros. - Responder rude.
- Desculpe. A pergunta foi tola. É óbvio que você não tem uma
namorada, afinal qual mulher aguentaria um homem como você. -
Falei sem medo algum.
- Se eu fosse você tomaria cuidado com o que fala ou posso
demiti-la agora mesmo. - Falou se aproximando
ameaçadoramente.
- Não me leve a mal, Henrique, só queria saber porque você é
tão arrogante e frio desta forma. - Expliquei séria. Ele estava a
poucos passos de mim, e senti a minha frequência cardíaca
aumentando cada vez mais. - Talvez a resposta seja bem óbvia
não é, o senhor é mal-amado.
Depois do que falei, algo inusitado aconteceu. O homem deu
uma gargalhada impressionante que me deixou desconcertada.
Achei que o ridículo não poderia ficar mais lindo, no entanto,
sorrindo assim ele ficava ainda mais irresistível.
- Você realmente não tem medo de mim, não é? - Me
questionou ainda com resquícios do seu sorriso.
- Não sou paga para ter medo do meu chefe.
Ele retirou os óculos e me olhou com seus olhos verdes
intensos. Henrique estava perto o suficiente para que seu corpo
ficasse quase sobre o meu. Observei esses lábios carnudos e senti
a minha boca secar, e involuntariamente umedeci os meus.
- Que bom que chegaram. - Falou uma mulher loira, trazendo
com ela um senhor que aparentava ter entre 50 e 60 anos. -
Rodolfo, este é Henrique Vilella.
A mulher tinha um sorriso largo para o meu chefe. A coitada nem
sabia quem era o homem ao meu lado. Aparentemente Henrique só
demonstrava sua verdadeira face para os seus funcionários.
Os três foram conversar mais distante, e fiquei para avaliar o
local e tirar algumas fotos. De longe, observei o homem arrogante
que veio comigo, e em alguns momentos nossos olhares se
encontravam. Mesmo ele sendo do jeito que era, algo me fazia
sentir atraída por ele. Nossas brigas eram muito acaloradas e todas
as noites quando deitava minha cabeça no travesseiro, era a sua
imagem que aparecia. Não sei o que Henrique fez comigo, mas o
odiava ainda mais por isso.
- Oi! Você veio com o Henrique? - Virei-me para encontrar a
dona da voz que me fez a pergunta e encontrei outra loira, no
entanto, desta vez ela era mais simpática do que a primeira.
- Sim, trabalho com Henrique. - Respondi com um sorriso.
Vi seu olhar furtivo, procurando o homem atrás de mim e minha
mente já começou a bolar algumas ideias sobre quem era essa
mulher e como ela conhecia o meu chefe.
Conversamos um pouco sobre o hotel e a reforma. Amanda era
namorada do proprietário do local, e ela disse que participaria de
algumas reuniões sobre todo o projeto.
- É bom vê-lo de novo, Henrique, já faz tanto tempo.
Virei-me para encontrar o homem que me irritava todos os dias. Ele
tinha um sorriso falso no rosto que me fez ficar bem curiosa.
Rodolfo passou por nós, ficando ao lado de sua namorada.
- Vocês já se conheciam? - Ele perguntou, curioso.
- Nos conhecemos na faculdade. - Meu chefe respondeu se
aproximando muito de mim. - Já conheceu a minha namorada,
Amanda?
Senti meu corpo inteiro tremer com as suas palavras e a sua
mão em minha cintura.
Me senti estranha com a aproximação de Henrique, e a palavra
namorada ainda me perturbava.
Eu não sabia porque meu chefe diria que eu sou sua namorada,
pois vivíamos em pé de guerra, mas a loira com quem eu
conversava antes e que estava sendo muito simpática, agora me
olhava com desprezo.
Após piscar várias vezes, consegui voltar ao normal e abrir um
sorriso de nervoso. Eles conversavam como se fossem velhos
amigos, enquanto eu só queria me afastar do idiota.
- Então quer dizer que sua namorada também trabalha com
você como sua assistente? - Amanda perguntou com um sorriso
falso.
- Claro, é muito bom trabalhar ao lado do meu amor. - Ele
disse me fazendo tossir algumas vezes com a sua resposta.
Eu queria poder demonstrar mais abertamente o meu ódio pelo
homem, mas não sou boba de contradizê-lo na frente dos clientes,
muito menos na frente da perua loira.
Sua mudança de humor me fez pegar ranço da mulher.
- É uma história engraçada, pois era difícil achar alguém que
suportasse o humor dele. - Falei irônica e todos riram, inclusive
Henrique.
- Viram, ela é engraçada. - Falou me apertando ainda mais a
ele.
- Amanda também trabalha comigo e sei como é bom tornar o
ambiente de trabalho ainda mais confortável. - Disse Rodolfo,
parecendo bem apaixonado. - Bem, acho que agora podemos
continuar a visita.
- Claro, mas antes eu gostaria de falar um minuto com o meu...
namorado. - Falei olhando para o homem que sorria ao meu lado.
O Rodolfo saiu sorrindo e batendo no ombro de Henrique, como
se ele não fosse enfrentar a minha ira assim que estivessem longe o
suficiente.
Amanda nos olhava de longe com os olhos cerrados, tentando
descobrir algo sobre o que iríamos conversar.
Virei-me para ele que estava com as mãos na cintura, me
olhando com um sorriso sarcástico no rosto.
- Interessante saber que não sirvo para ser sua assistente, pois
não tenho qualificação, mas para ser sua namorada de mentira
sirvo? - O questionei tentando não demonstrar toda a minha raiva,
fisicamente.
- Foi impossível, ok? Amanda é a minha ex-namorada e eu
meio que queria que ela ficasse com ciúmes, e sabe, ela ficou. -
Sua revelação não me chocou tanto, e senti um pouco de raiva por
saber dessa questão. Era idiotice sentir, no entanto, não podia
controlar todos os meus sentimentos.
- Porque eu, você parece me odiar? - Questionei interessada
na sua resposta mais do que desejava parecer.
- Eu não odeio você, Elisabete, só exijo pessoas qualificadas
trabalhando ao meu redor. - Falou, dando de ombros. - Mas
tenho que confessar, nos últimos dias você está sendo muito
eficiente. Devo desculpas por ser tão... exigente.
- Ah! Desculpa, mas você não estava sendo exigente, você
estava sendo um cuzão. - Falei sem pensar, mas ele riu.
- É, fui além do normal. - Confessou me deixando um
pouquinho mais feliz. - Quando Rodolfo falou que Amanda era sua
namorada, a raiva do passado voltou com tudo, então vi você aqui
ao lado dela. Foi impulsivo, porém você é uma mulher linda,
inteligente e sabia que ela ficaria chateada.
Suas palavras, num todo, me deixaram muito abalada. Eu não
poderia imaginar que Henrique falaria tal sobre mim.
- Obrigada. - Falei sem jeito. - Então quer dizer que temos
que fingir ser namorados?
Eu não sabia se isso seria possível, já que nós dois não nos
dávamos muito bem, no entanto, esse mal-entendido que foi gerado
pelo meu chefe, já havia sido dito e não teria nada que pudéssemos
dizer para fugir da mentira.
Capítulo 8 - Henrique
Eu não sabia por que cometi a loucura de dizer que Elisa era
minha namorada. Eu poderia ter inventado qualquer outra desculpa
ou simplesmente ter ficado calado e aguentado a presença de
Amanda, mas não, algo dentro de mim quis se vingar pelo passado,
e quando notei a raiva e a inveja nos olhos da mulher, senti uma
satisfação inexplicável.
Quando estava conversando com o Rodolfo, o dono da rede de
hotéis, ele me contou sobre sua noiva que trabalhava ao seu lado
na administração, e quando percebi quem ela era, uma raiva
descomunal tomou posse de mim.
Eu sempre fui focado nos estudos e era um dos melhores na
faculdade, nunca namorei sério na vida até Amanda aparecer e
roubar meu coração. Achei que ela me amava, apesar das suas
exigências e chiliques. Eu fazia tudo que ela queria, era como um
cachorrinho, no entanto, um dia ela terminou comigo sem me dar
muitas explicações, apenas disse que eu não era o que ela
desejava.
Não tive uma infância muito acolhedora, e isso me causou uma
desconfiança nas pessoas muito grande. Dias depois que a loira
acabou comigo, a vi com um ricaço playboy. Nunca desconfiei que
ela tivesse me traído, porém, naquele momento não tive dúvidas.
Isso não servia de justificativa para os meus atos nos dias atuais,
mas foi a raiva e o rancor da mulher que eu amava, dentre outras
coisas, que me fizeram ficar dessa forma.
Prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria uma mulher
fazer o mesmo comigo novamente. Por isso não buscava amor
verdadeiro, só um acordo conveniente para mim.
Achei que tinha superado depois de dez anos, entretanto, foi só
a reencontrar para lembrar das suas palavras novamente e sentir o
mesmo rancor de sempre.
Eu poderia ter escolhido qualquer outra mulher para interpretar
esse papel, mas foi justamente Elisabete quem estava em minha
frente, usando um vestido azul, lindo, justo ao corpo, e
graciosamente jogando seus longos cabelos escuros para trás. Eu
desejava me bater por estar bobo com a beleza da minha nova
assistente, porém, era inevitável não notar o óbvio e sabia que o
sorriso convencido de Amanda era porque desejava jogar na minha
cara que estava maravilhosamente bem.
Desejava tirar a felicidade momentânea dela e dizer que eu
também segui em frente, mesmo que isso fosse uma mentira.
Porém, eu havia entrado em um buraco fundo que não tinha
mais volta. Mentir dizendo que Elisabete era minha namorada
complicava ainda mais as coisas. Não éramos muito fã um do outro.
Ela era petulante e cheia de si e eu era o que todos já sabiam:
arrogante e exigente. O problema era que a loira de araque estaria
monitorando esse projeto e faríamos várias reuniões durante esse
período para decidir várias coisas e eu e Elisa teríamos que
interpretar esse papel até que isso acabe e nunca mais ter que
suportar Amanda.
Elisabete tinha razão em estar chateada e me questionando
sobre muitas coisas, mas saber disso não diminuía a minha irritação
com a mulher e suas perguntas. Estávamos de volta à estrada,
seguindo para o escritório para analisar o que tínhamos sobre a
área onde iríamos trabalhar, e a mulher não parava de falar por um
segundo.
- Então como será? - Questionou-me sentada ao meu lado e
olhando para fora. - Temos que ser um casal feliz enquanto sua ex
estiver ao nosso lado?
Pensar que isso era só o início da minha tortura me dava dor de
cabeça.
- Pelo visto você já sabe, então para que perguntar? -
Resmunguei de mau-humor.
- Não se esqueça, querido chefe, você prometeu ser mais
educado e não me tratar com a sua arrogância de sempre ou pode
se dar mal. – Falou me provocando.
Apertei o volante com toda a força possível. Talvez a idade tenha
diminuído o meu nível de paciência e o destino estava simplesmente
me punindo por ser um idiota.
- Primeiro, mesmo sabendo que preciso de você para isso, não
quer dizer que devo suportar esses seus atrevimentos, então pense
muito bem antes de me responder, Elisabete. – Falei com firmeza e
muita pouca paciência. – Segundo, eu odeio ter que responder
perguntas bobas, espero que pense em coisas que realmente
deseja saber e não perca o meu tempo com bobagens.
- Olha, Henrique, se não estivéssemos dentro de um carro eu
realmente chutava as suas bolas. – Falou me surpreendendo. –
Você é mais que arrogante ou insensível, é um verdadeiro babaca e
tenho que deixar claro agora que você não pode usar a sua
personalidade habitual para se referir a mim.
Dei um leve sorriso irônico tentando relaxar a minha mente antes de
falar novamente com ela. Era impressionante o quanto essa mulher
me irritava e não tinha um pingo de medo de perder o emprego.
- Ainda sou seu chefe. – Reclamei. – Então tome cuidado com
o que fala.
- Agora eu sou a sua namorada, então tome cuidado em como
me trata ou posso deixar você. – Falou me fazendo rir mais ainda.
Estava quase acreditando que havia contratado uma louca para
trabalhar para mim. – Vou deixar claro como isso vai funcionar,
chefe. Não precisamos fingir que nos gostamos quando ninguém
estiver por perto, mas isso não quer dizer que não devemos nos
respeitar. Sei que você pode me demitir, no final das contas, mas
saiba que não sou o tipo de mulher que fica calada. Não faço ideia
de quem é você ou aquela mulher. O que ela fez para fazer você
cometer esse erro terrível, por isso preciso de informações básicas.
Tudo isso era culpa minha. Se eu não tivesse cometido o
equívoco de abrir a boca para falar essa bobagem, isso não teria
acontecido. Eu sabia que teria que tratar a mulher com mais
educação, ser mal-educado não era o meu forte, mas Elisabete
despertava em mim um instinto selvagem que nunca ninguém
conseguiu.
- Tudo bem, vou forçar-me ao máximo para não ser tão
arrogante e... escroto com você. Temos que concordar que nós dois
devemos nos esforçar para que isso dê certo durante esse período.
- Fui sincero em minhas palavras, se ela fosse me ajudar nesta
pequena mentira, não merecia a minha raiva. - Enquanto
estivermos na presença de Amanda ou de Rodolfo, nós dois
podemos ser... um casal perfeito. Não precisamos exagerar, e
ninguém pode saber sobre isso. No escritório ou fora dele. - Exigi
ao estacionar na garagem do prédio onde ficava a empresa. -
Prometo que vou me esforçar para não ser tão rude com você, mas
você também tem que me ajudar não me provocando. Tudo bem,
querida?
A morena cerrou os olhos, dava para ver o seu desagrado
comigo. Eu não tinha que fingir que o modo de agir de Elisabete me
agradava também, porém, meu inimigo era outro e a culpa disso
tudo estar acontecendo era minha.
- Tudo bem, mas ainda devemos conversar sobre como vamos
levar isso adiante.
- Não acho que isso seja necessário. – Falei ao tirar o cinto de
segurança, mas sua mão tocou na minha, o que me fez olhar em
seus olhos.
Assim tão de perto a mulher irritante parecia ainda mais bonita,
com a sua pele bronzeada e cabelos ondulados.
- Devo respeitar a sua privacidade, mas pelo menos tenho que
saber o básico para não ser idiota na frente da sua ex.
- Não penso que ela vá investigar sobre a veracidade do nosso
relacionamento. – Falei colocando aspas na última palavra.
- Por isso você ainda está solteiro, sem contar, é claro, com a
sua frieza e arrogância. Não conhece as mulheres, muito menos as
EXs. – Disse me fazendo bufa de tedio. – Não importa se não se
gostam, mulheres são muito inteligentes e ardilosas. Quero ter as
possíveis respostas para as possíveis perguntas e você vai me dar
isso de um jeito ou de outro.
- Isso é uma ameaça? – Questionei confuso.
- Não, é uma certeza.
***
Passamos a tarde inteira trabalhando no projeto. Roberto, que
também estava na equipe, era responsável pelos desenhos gráficos
e como também temos que apresentar os desenhos à mão, fiquei
responsável por isso.
Em alguns momentos, minha atenção era dirigida a Elisa. Ela
sempre estava concentrada no que estava fazendo, a mulher era
especializada em paisagismo e eu tinha que admitir que ela era
muito boa.
Cuidar de ambientes era uma paixão que eu tinha desde criança
e isso me divertia. Desde que Elisabete chegou na minha vida e
começamos a trabalhar juntos, estava difícil me concentrar só nos
papéis ou na tela do meu tablet.
Quando já tínhamos terminado, já era bastante tarde. Sabia que
a turrona morava no centro da cidade e que levaria bastante tempo
para chegar em casa.
- Está na hora de ir, vou leva-la para casa. – Falei olhando para
o aparelho telefônico que tinha várias mensagens da minha mãe.
- Não será necessário, posso fazer esse trajeto de ônibus. -
Falou arrumando as coisas.
Eu não sabia o porquê tinha me oferecido para fazer isso, já que ela
era a minha mais nova dor de cabeça. O problema era que eu sabia
que para parecermos um casal de verdade, deveríamos conhecer o
mínimo um do outro e ter uma curta intimidade. Porém, nada do que
eu fazia parecia agradar a Elisa.
- Acredito que faça isso por puro prazer. - Disse colocando o
telefone no bolso, irritado. – Não aceitará minha carona só para me
provocar.
Quando finalmente me olhou, ela parecia confusa. Não tinha
mais ninguém no escritório e o lugar estava parcialmente escuro.
- Você é estranho, Henrique. - Falou após revirar os olhos –
Tudo bem, eu aceito.
Tudo isso só me fazia querer ainda mais nunca me relacionar
novamente com uma mulher. Elas eram caprichosas e confusas. Eu
já tinha problemas demais para suportar tudo isso.
- Tenho que fazer uma anotação mental para nunca mais me
meter nessa situação. - Resmunguei baixo.
Caminhamos até o elevador em silêncio. Eu odiava lugares
fechados e tudo ficava ainda mais complicado quando estava ao
lado da Elisabete. Mais cedo, quando estava em meu carro, seu
aroma doce, sutil, me deixou ainda mais confuso. Ela tinha esse
poder sobre mim que me enlouquecia. Era como se meu cérebro
gostasse e odiasse ao mesmo tempo.
- Às vezes não entendo o que você quer. - Finalmente falou,
quando as portas já estavam fechadas. – Por que está fazendo essa
gentileza se me odeia tanto?
- Não odeio você. Acredite, o problema não é todo com você.
Sei que é inteligente e bastante proativa, não discordou quando
cometi esse equívoco, mas algo em você me faz ser assim. – Falei
sem desejar encara-la.
- Desculpe se sou irritante. - Disse parecendo chateada.
- Já disse, Elisabete, não é isso. Claro que me provoca, mas
sei que a culpa é minha.
- Então o que é?
Perguntas. Isso era o que eu mais odiava. Talvez fosse porque
eu não desejava revelar a verdade.
- Você me faz lembrar de uma pessoa que era importante na
minha vida. – Falei ao lembrar do passado.
- Não me diga que é a Amanda!
- Não! – Disse a olhando com surpresa. – Você e ela são
totalmente diferentes. Não gosto de perguntas, pois odeio me abrir.
Isso pode me prejudicar como no passado.
Não sabia porque estava revelando tanto. Mesmo tendo começado
essa mentira, eu não precisava falar tanto. Elisa me olhava de forma
estranha. Não havia mais tensão entre nós.
- Não se preocupe, eu sei o meu lugar. Nunca faria nada para
prejudica-lo. Prometo que vou tentar não o provocar mais. - Suas
palavras me fizeram a olhar de outra forma. Essa mulher quando
não estava me provocando não era irritante. - Não sei o que
Amanda fez, mas sei como é sentir rancor por um ex.
- Já foi abandonada e traída? – Questionei.
- Não sei se considera isso pior, mas primeiro fui traída para
depois ser abandonada. O idiota estava transando com uma das
minhas amigas na cama onde nós dormíamos, e eu os peguei no
mesmo dia em que fui demitida.
Estava começando a achar que a minha história com Amanda
não era tão terrível assim.
- Nessa você ganhou. - Falei desviando minha atenção para a
porta. – Por que foi demitida?
- O dono faliu a empresa. – Foi direta. – Todos saíram
perdendo. Pelo menos consegui chegar até aqui, mesmo que meu
chefe não seja um príncipe por dentro.
Foi involuntário sorrir da sua pequena provocação. No fim das
contas, Elisa não era tão mal. O problema realmente era eu.
- Acho que nós dois podemos passar por isso sem matar um ao
outro. – Falei assim que as portas se abriram. – Você não é tão
chata.
- Uau, sério? – Falou com ironia. – Sabe, se não for tão
exigente e arrogante, pode ser um bom chefe.
Estávamos concentrados um no outro quando o meu telefone
tocou para trazer a realidade de volta. Ao sair da caixa de metal,
atendi o aparelho e fiquei surpreso ao descobrir quem era.
- Por que está ligando para mim, Amanda? - Eu não queria
voltar a me irritar, mas a voz da mulher me fazia querer jogar o
aparelho longe.
- Henrique, eu gostaria de convidá-lo para o meu noivado com
Rodolfo, amanhã. - Disse animada. Não sabia qual era a intensão
dela ao fazer esse convite. Passamos dez anos sem nos falar e
agora, do nada, a loira desejava me convidar para o seu noivado.
- Por que isso agora? – Questionei enquanto Elisabete me
olhava atentamente.