img img img Capítulo 3 Faço por puro prazer
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Capítulo 6 Quer terminar comigo img
Capítulo 7 Você ama me irritar img
Capítulo 8 Aquele homem... img
Capítulo 9 Henrique img
Capítulo 10 Não me provoque img
Capítulo 11 Convencê-la img
Capítulo 12 "Namoro" img
Capítulo 13 Abstinência img
Capítulo 14 Ela tinha 19 anos img
Capítulo 15 Você não quer img
Capítulo 16 Você irá se arrepender img
Capítulo 17 Você a ama! img
Capítulo 18 4 meses depois img
Capítulo 19 Sua dor nunca vai passar img
Capítulo 20 Indelicadamente img
Capítulo 21 Destino img
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Capítulo 3 Faço por puro prazer

Capítulo 5 - Elisabete

Quando me ligaram para dar a notícia de que eu fui a escolhida,

quase surtei. No dia em que fui até a empresa vi tantas candidatas

que até pensei que eu não seria selecionada.

Graças a Deus obtive uma resposta positiva. Agora eu

trabalharia em uma grande empresa e numa função maravilhosa no

qual esperei tanto. A partir deste dia teria mais responsabilidade e

não deixaria nada e nem ninguém atrapalhar o meu objetivo.

Na verdade, uma das perguntas foi bem estranha, pois não sabia

se era habitual ou era um teste. A mulher me perguntou se eu tinha

capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase

nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma

chefe muito irritante, já estava preparada para tudo.

Assim que cheguei pela manhã, a mulher que me entrevistou,

Serena, mostrou-me a minha sala e o que eu teria que fazer. Ela

também disse que o meu novo chefe era um homem concentrado e

que odiava atrasos ou distrações, mas que não deixasse ele me

amedrontar ou qualquer coisa do tipo.

Judi era secretária de Henrique Vilella há um bom tempo, e ela

também me alertou sobre ele. Eu já estava ansiosa e todas essas

palavras me deixaram ainda mais pilhada. Não conhecia muito o

senhor Vilella, porém, sabia que ele era um dos melhores no ramo e

que já ganhou vários prêmios. Trabalhar ao seu lado me ajudaria

muito a evoluir.

Arrumei a minha nova sala e tentei me acalmar para a chegada

do novo chefe.

Eu já aguentei muito pepino da minha antiga chefe e odiaria

trabalhar com alguém igual ou pior que ela. Acreditei que a maré de

azar havia acabado, pois já tinha conquistado o meu objetivo,

porém, pelo que estava ouvindo, parecia que meu novo chefe não

seria fácil.

Liguei para minha irmã contando a novidade e tudo o que as

pessoas já haviam falado para mim. Ela me aconselhou a relaxar e

respirar fundo, mas se o homem for grosseiro ou me humilhasse,

que eu não baixasse a cabeça.

Não sei se eu teria coragem de enfrenta-lo, pois batalhei muito e

demorou mais ainda para que eu conseguisse finalmente um

trabalho na minha área e se o desrespeitar, logo no primeiro dia,

com certeza eu não teria oportunidade em lugar nenhum.

Quando a secretária me avisou que o senhor Vilella já havia

chegado e que estava à minha espera, senti meu estômago

embrulhar. Tive que respirar fundo várias vezes enquanto

caminhava até o seu escritório, pois eu pensava que a qualquer

momento poderia desmaiar.

Entretanto, eu não estava preparada para o que encontrei assim

que adentrei a sala. O homem arrogante de dias atrás que havia

esbarrado em mim e foi muito grosseiro, falava ao telefone. Ele

também ficou surpreso ao me ver e acabei acreditando que estava

ferrada.

As lembranças exatas daquele dia se voltaram a minha mente.

Geralmente não sou tão rude, mas aquele homem despertou uma

fúria dentro de mim que não consigo explicar.

Sentei na cadeira a sua frente bastante preocupada. Eu não

sabia se ele iria me dar a chance de provar o meu valor ou

simplesmente me mandaria para o RH.

Assim que ele terminou sua ligação, ficamos nos encarando por

alguns segundos. Era verdade que desde aquele dia eu não

consegui o tirar da cabeça. Henrique Vilella era o homem mais lindo

que já vira na vida, porém, sua personalidade era de um cavalo e

não iria suportar conviver com este homem.

Como antes, ele foi grosso e irônico, esse seu sorrisinho de

canto fez com que eu quase me derretesse em sua frente.

Questionei a mim mesma sobre o destino ou as forças do universo

que sempre me colocavam nessas situações estranhas.

- Serena podia muito bem ter escolhido alguém que não fosse

tão desatenta quanto você. - Falou arrogante, me deixando

levemente irritada. - Não dá para acreditar no que está

acontecendo.

- Sei que tivemos um início muito conturbado, mas acredito que

podemos melhorar e trabalhar juntos, senhor Vilella. - Falei

reprimindo a minha raiva e vontade de responde-lo a altura.

- Você acredita? - Me questionou com o cenho franzido. - Eu

aposto que não.

- Por que é tão grosso com as pessoas? - O questionei,

levantando-me, apoiando os meus braços sobre a sua mesa.

Eu realmente estava furiosa. Poderia até o matar agora, mas

decidi ser mais prudente e tentar me acalmar, mesmo que o homem

tente a todo custo me fazer perder a cabeça.

- Por que tem a língua tão solta? - Perguntou, também se

levantando e me encarando bem de perto.

Sua aproximação causou um efeito sobre mim muito estranho.

Olhar em seus olhos verdes, assim, tão de perto, me fez sentir

insegura.

- Desculpe-me, mas não ficarei calada se o senhor quiser me

tratar como uma qualquer. - Falei, sentando-me novamente. -

Não devo o responder dessa forma, pois é meu chefe. Porém, o

senhor também deve me respeitar.

Ele cerrou os olhos e também se sentou. O homem juntou as

mãos sobre a mesa e me avaliou por um instante. Eu quis

novamente questioná-lo, entretanto, para que nossa convivência

seja, pelo menos, suportável, tinha que renunciar algumas palavras.

- Creio que já foram passadas algumas informações para você.

Não quero atraso, não tolero condutas inapropriadas no local de

trabalho e por favor, senhorita Medeiros, trate-me como seu chefe e

não como um colega, muito menos, como um cara qualquer. -

Falou desviando o olhar de mim.

- Não se preocupe, sei de tudo isso. - Falei em um tom firme.

- Em que empresa você trabalhou anteriormente?

Sua pergunta fez o meu cérebro congelar. Se o homem já estava

irritado por eu ser a sua nova assistente, imagine como ficaria

quando descobrisse que não trabalhei na área de paisagismo nos

últimos três anos.

- Fui assistente de uma contadora. Sei que não é a área da

arquitetura, mas acredite, sou capaz de trabalhar com o senhor. -

Disse, tentando amenizar cada palavra que havia falado.

Não sabia o que era pior: ter o arrogante gritando comigo ou em

silêncio me observando como se me julgasse mentalmente.

- Você não tem experiência na área, senhorita? - Perguntou

com certa irritação.

Henrique tinha aquele típico olhar que fazia você querer um

buraco para se enfiar. Eu estava nervosa e sabia que ele iria discutir

por causa disso.

- Estagiei por 6 meses quando ainda estudava na faculdade, e

mesmo que eu tenha tentado diversas vezes encontrar algo em

minha área, não consegui nada e tive que optar por arranjar um

trabalho para pagar as contas. - Expliquei com o máximo de

paciência e calmaria.

Ele respirou fundo, fechando os olhos, analisando cada palavra

que saiu da minha boca. Mesmo que eu não tenha conseguido

emprego em arquitetura e ter trabalhado por três anos em outro

ramo, isso não me desqualificava para este trabalho. Sempre me

mantive antenada e nos meus momentos de folga adorava desenhar

e imaginar projetos. Claro que isso não era profissional, mas não

tive culpa se não consegui nada.

Alguém tinha que me dar uma oportunidade.

- Serena, você pode vir ao meu escritório? - Falou ao pegar o

telefone, parecendo bastante chateado.

Meu coração parecia que ia parar a qualquer momento. Minhas

emoções estavam a flor da pele e sentia um misto de ódio e tristeza.

- Senhor Vilella, por favor, não fique chateado, sei que isso

parece algo ruim, mas não tive culpa. Isso não me desqualifica para

trabalhar com o senhor. - Falei quase entrando em desespero. Eu

sabia que este homem frio e arrogante não iria ter pena de mim,

porém, eu não poderia desistir após ter conseguido chegar até aqui.

- Posso provar que sou capaz, só preciso de uma oportunidade e

vou me esforçar ao máximo.

- Não quero uma pessoa que não vai me acompanhar. Pensa

que brinco quando entro nesse escritório? - Questiona-me rude. -

Sinto muito por você não ter tido uma oportunidade antes, no

entanto, preciso de alguém capaz e com preparo para trabalhar ao

meu lado, senhorita Medeiros.

- Eu sou capaz, e o senhor está sendo o mesmo frio e

arrogante de sempre. - Levantei-me novamente, chateada. - Não

pode me demitir sem antes me deixar provar que sou capaz. O

senhor me trata mal desde o momento que botei os pés dentro

desta empresa, e não pode esperar por uma só oportunidade para

me julgar. Já trabalhei com uma pessoa que era o verdadeiro diabo

para mim, mas o senhor vai além. Eu nem tenho palavras para

descrevê-lo.

Eu sabia que não poderia surtar e gritar com meu chefe. Ele

estava a ponto de me demitir e eu estava dando o armamento para

que ele pudesse fazer isso.

Henrique se levantou e me encarou de perto, assim como antes.

Ele também estava irritado e com razão. Mas ele não me

respondeu.

- O que está acontecendo aqui? - Questionou Serena ao

entrar.

Capítulo 6 - Henrique

Eu não queria acreditar que Serena havia feito isso comigo. Ela

era uma mulher experiente e de minha confiança, eu só queria

saber por que ela contrataria uma mulher sem experiência para

trabalhar ao meu lado.

As palavras de Elisabete ainda estavam pairando sobre a minha

cabeça quando a minha amiga adentrou a sala me olhando com

espanto.

Eu não era conhecido por ser uma pessoa boa ou que tivesse

muita paciência, por isso a necessidade de alguém com experiência

e que pudesse suportar a minha oscilação de humor. Não posso

negar que Elisabete era uma mulher determinada e com

personalidade forte, que poderia até suportar um pouco a minha,

mas ela era petulante e me irritava constantemente, isso somado a

sua falta de experiência no ramo da arquitetura era inaceitável para

mim.

Entretanto, algo em seu olhar me fazia querer ficar com ela,

mesmo estando muito chateado pela situação. A mulher me

desafiava e já fazia muito tempo que eu não encontrava ninguém a

altura para fazer tal coisa. Não poderia negar que isso me excitava

um pouco. Sei o quanto isso era confuso, o que me deixava ainda

mais puto com a situação.

Elisabete saiu assim que Serena entrou. Era nítida a sua

preocupação quanto ao trabalhar comigo, e mesmo não querendo

de jeito algum ter alguém tão... Irritante ao meu lado, algo dentro de

mim desejava mantê-la no emprego.

Isso já está me irritando.

Serena sentou-se à minha frente e respirei fundo várias vezes

antes de começar os meus questionamentos. Sou conhecido por ser

muito exigente, no entanto, também muito arrogante, era verdade

que muitas vezes eu me arrependia das coisas que falava, mesmo

não demonstrando isso.

Aprendi a ser mais duro para obter resultados positivos. Ser

bonzinho não me trouxe resultados bons no passado e eu não

queria nada fora do lugar dentro do meu local de trabalho.

- Henrique, pedi para você não ser tão... Você. Sabe como foi

difícil achar alguém que pudesse trabalhar ao seu lado todos os dias

e não se demitir? - Falou ela com o cenho franzido.

- Então teve que contratar alguém inexperiente para isso? -

Perguntei bastante irritado.

A mulher à minha frente respirou fundo e se encostou na cadeira

como se o assunto abordado não fosse tão grave quanto era.

- Eu sabia que isso seria um problema para você. - Disse ao

cruzar as pernas. - Mas não faria isso se não soubesse que essa

mulher pode trabalhar ao seu lado e ser eficiente no trabalho.

Era verdade que Serena era uma mulher responsável e não

cometia erros. Porém, esta era minha empresa e odiava ter que

explicar ou responder perguntas a qualquer um.

- Pelo amor de Deus, Serena, será que não consegue ver um

problema aqui? - A questionei mais firmemente. - Sabe quantas

vezes ela me respondeu desde o momento que entrou por aquela

porta?

- E não teve medo disso? - Perguntou com um sorriso

orgulhoso.

- Acha isso engraçado? - Perguntei achando isso estranho.

- Desculpe, Henrique, mas você não é o homem mais correto e

bonzinho que conheço. Você enlouquece todos dessa empresa.

Pergunte a sua secretária! - Disse ainda parecendo se divertir com

a minha situação.

- Eu exijo 100% das pessoas que trabalham para mim. Isso me

faz ser um tirano? - Questionei ficando ainda mais furioso. -

Talvez eu devesse demitir mais pessoas.

- O que Elisabete fez de tão errado para que você queira

demiti-la no primeiro dia? - Perguntou, recostando e me

encarando. - Danificou algo, errou algum documento ou

simplesmente não foi com a cara dela?

- Se ela tivesse feito qualquer uma dessa coisas eu não

precisaria ter chamado você. Além do mais, não tenho que gostar

de alguém só porque irá trabalhar para mim, mas isso não vem ao

caso. Eu só não desejo quebrar a cabeça com uma menina sem

experiência.

Mesmo ouvindo coisas tão negativas, parecia que Serena estava

se divertindo com a situação. Isso também estava me chateando.

- Então seria só mais um que não deu a ela uma oportunidade

para que ela provasse seu valor. - Falou me provocando.

Era verdade que nós somos amigos há muito tempo. Eu

respeitava Serena como uma profissional e como pessoa, mas às

vezes ela passava dos limites.

- Interessante como todos hoje querem me provocar. - Falei a

reprovando.

- Desculpe, passei dos limites. - Disse arrependida. - Porém,

não pode demiti-la sem uma razão. A mulher não cometeu um erro

e você não tem um motivo.

Ela tinha razão, mas como ficaria com alguém que pode não

acompanhar o meu ritmo?

Eu estava sendo imparcial e minha consciência estava gritando

na minha cabeça. Minha amiga tinha razão em dizer que eu seria

como os outros que não deram uma oportunidade. O pior era que eu

odiava ser comparado a qualquer outro.

- Não preciso de desculpas para demitir alguém, essa é minha

empresa. – Falei encostando-me na cadeira. – Porém, não serei tão

duro e darei 3 meses. - Falei após pensar um pouco. - Se ela

estragar qualquer coisa será demitida na hora. Darei 3 meses como

experiência, se ela for boa, permanece.

- Ótimo. - Ela disse com um sorriso largo.

- Não fique felizinha, você sabe que não sou fácil, penso que

ela mesma vá se demitir.

- Só se você der motivos, querido amigo. - Falou irônica.

- Mande que a novata entre, já perdi muito tempo. Tenho uma

reunião em poucos minutos. - Falei arrumando os papéis em

minha frente.

Satisfeita, Serena levantou-se e saiu. Minha cabeça já ameaçava

doer antes mesmo de estarmos na metade do dia. A porta foi aberta

novamente, e um par de pernas bronzeadas entrou me

hipnotizando. Tinha que confessar que Elisabete Medeiros era linda.

Eu diria de tirar o fôlego. Sabia que isso também seria um problema.

- O que decidiu, irá me demitir? - Questiona-me ansiosa e

levemente irritada.

Esse era outro motivo para a minha preocupação. Ela era quente

e petulante, e no mesmo nível que me irritava, me atraía.

- Não serei tão malvado com você. - Falei com um sorriso no

rosto. Foi engraçado ver seu rosto surpreso. - Darei um período de

experiência de 3 meses, se você cometer um deslize sairá antes

desse prazo, se for boa ficará na posição. Porém, acredito que você

vai pedir para ir embora.

- Isso é um desafio, senhor Vilella? - Perguntou cerrando os

olhos. - Eu não gosto de ser desafiada.

Foi impossível não ficar animado com a situação. Não podia

negar que eu adorava desafios, e mesmo não querendo fazer disso

uma competição, meu instinto pedia para fazer.

- Trate isso do jeito que quiser. Mas sei que estou certo e que

você não vai durar muito tempo aqui. - Afirmei.

- Serei a assistente mais prestativa e eficiente que o senhor já

teve na vida, e no final irei mostrar que não se brinca com uma

Medeiros. - Provocou a morena de olhos castanhos. - Quando

isso acabar, será o senhor que me pedirá desculpas por toda essa

sua grosseria.

Isso era perigoso. Não sabia o porquê de estar tão excitado com

a conversa, mas Elisabete era diferente das demais mulheres. Ela

me desafiava e isso era novo.

Capítulo 7 - Elisabete

Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que

pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes

comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que

realmente poderia ter nascido com a vida azarada.

Henrique Vilella era mesmo um homem insuportável e irritante

que faria de tudo para que eu perdesse o emprego. O problema era

que o cretino não sabia com quem ele estava brincando e eu teria

que mostrá-lo que nada do que ele pudesse fazer, iria me fazer

desistir do meu sonho.

Eu queria dar o troco e fazer com que ele provasse do seu

próprio veneno, porém, o homem era meu chefe e eu teria que

suportar até não aguentar mais. Mas sei que em algum momento,

Henrique irá ter o troco e eu estaria na arquibancada apreciando

esta ocasião.

Não importava qual tarefa ele me mandasse fazer, sempre

concluía com maestria. Sentia pena de todos que trabalham ao

redor desse homem, pois ele mal chegava no escritório e

esbravejava com todos. Inclusive com a coitada da Judi.

Ao lado dele trabalhava exaustivamente, quando chegava em

casa já estava exausta e mal tinha tempo para comer e dormir, pois

no outro dia tinha que estar em pé logo cedo.

Eu realmente só queria trabalhar em um ambiente feliz e

tranquilo, porque realmente gostava da arquitetura e agora estava

tendo a oportunidade de estar em um projeto grande de um Hotel

que se tornaria um Resort.

O projeto durará 3 meses, o tempo que ele me deu de

experiência. Faria questão de provar o meu valor e farei ele pedir

desculpas por tudo o que falou.

Amanhã ele iria me buscar para irmos a Serrambi, onde ficava o

terreno que trabalharíamos. Parece que o proprietário também

estaria fazendo mais dois edifícios, o que deixava o projeto muito

maior.

Mesmo estando confiante, ainda restava um pouco de receio

dentro de mim. Eu era capaz, sabia disso. Mas aquele chefe era o

pior dos homens, e tinha medo de que ele pudesse me ferrar só

para me ver desistindo.

***

Quando acordei pela manhã, minha mente demorou um pouco

para voltar ao normal. Tomei um banho rápido e troquei de roupa, e

só tive tempo para tomar um café rápido já que o homem estava

mandando mensagem, dizendo que já estava à minha espera do

lado de fora.

" Eu já mencionei que odeio atraso, senhorita Medeiros. "

" Acho que seu relógio está muito adiantado, pois ainda faltam

cinco minutos, senhor Vilella. "

Revirei os olhos, pegando a minha bolsa e batendo a porta.

Como o homem já pode estar tão irritado a esta hora da manhã?

Quando saí do prédio, vi Henrique apoiado no capô do carro com

óculos escuros, muito sexy. Eu não conseguia entender como um

homem tão lindo, também poderia ser tão arrogante. Não sei se isso

era um mal que cresceu com ele ou algo ruim aconteceu para que o

ele fosse tão odiável.

Me aproximei, sendo avaliada pelos seus olhos verdes cobertos

pelos óculos escuros. Eu não queria me sentir abalada pelas

sensações que ele me provocava quando me olhava dessa forma,

mas era quase impossível não reagir positivamente. O que me fazia

odiá-lo ainda mais.

- Bom dia, senhor Vilella. - Falei, querendo começar o dia

animada.

Henrique ficou me encarando por alguns segundos antes de se

mover e abrir a porta do automóvel, entrando, sem ao menos me

responder.

- Está atrasada, senhorita Medeiros. - Falou arrogante, como

sempre.

- Bom dia para você também, Elisabete. - Falei ironicamente,

andando até a porta e sentando-me ao seu lado. - O dia está tão

lindo, Elisabete, você também está muito bonita.

- Você tem algum transtorno ou é apenas ego inflado? -

Perguntou, franzindo o cenho.

Eu não queria rir da sua pergunta idiota, mas foi impossível

porque o homem não estava sendo irônico.

- Não tenho problemas mentais e nem sou egocêntrica, muito

diferente do senhor, mas acho que você tem sérios problemas

sociais, Sr. Vilella, pois nem um bom dia pode responder. - Falei

ainda sorrindo.

O carro dele era um esportivo muito lindo na cor preta e teto

removível. Fiquei feliz quando o abriu, dando-me liberdade para

respirar o ar fresco e apreciar a vista. O vento batia em meus

cabelos, os deixando esvoaçados. Fechei os olhos e tentei relaxar o

caminho inteiro. Henrique se manteve calado, me dando um pouco

de paz enquanto não começávamos mais uma discussão.

Fiquei feliz em saber que nós visitaríamos o local onde

trabalharíamos, porque ficava perto da praia e já fazia muito tempo

que eu não chegava a alguns quilômetros de algo assim. Mesmo

morando na capital, que era conhecida pelas belas praias e

podendo ir aos fins de semana, nunca encontrei tempo para tal

diversão. Claro que eu gostaria de estar em uma situação muito

melhor do que estar ao lado do meu chefe arrogante, porém, nem

sempre temos aquilo que queremos e eu tinha que suportar o

homem chato ao meu lado.

Quanto mais nos aproximávamos do local, mais eu conseguia

sentir a maresia e isso me deixou alegre. Henrique estacionou não

muito longe do local onde o proprietário estava nos esperando.

Ainda sem falar nada, ele saiu do veículo e o segui.

- Isso não o deixa de bom humor? - Perguntei, respirando

fundo o ar novo em que estávamos.

- Não. - Respondeu seco.

Revirei os olhos e encarei suas costas largas.

- Desculpa a pergunta, chefe, mas você tem namorada ou algo

assim?

O homem virou-se para olhar para mim por cima dos óculos

escuros, e dei um sorriso amarelo.

- Não estamos aqui para conversar banalidade, senhorita

Medeiros. - Responder rude.

- Desculpe. A pergunta foi tola. É óbvio que você não tem uma

namorada, afinal qual mulher aguentaria um homem como você. -

Falei sem medo algum.

- Se eu fosse você tomaria cuidado com o que fala ou posso

demiti-la agora mesmo. - Falou se aproximando

ameaçadoramente.

- Não me leve a mal, Henrique, só queria saber porque você é

tão arrogante e frio desta forma. - Expliquei séria. Ele estava a

poucos passos de mim, e senti a minha frequência cardíaca

aumentando cada vez mais. - Talvez a resposta seja bem óbvia

não é, o senhor é mal-amado.

Depois do que falei, algo inusitado aconteceu. O homem deu

uma gargalhada impressionante que me deixou desconcertada.

Achei que o ridículo não poderia ficar mais lindo, no entanto,

sorrindo assim ele ficava ainda mais irresistível.

- Você realmente não tem medo de mim, não é? - Me

questionou ainda com resquícios do seu sorriso.

- Não sou paga para ter medo do meu chefe.

Ele retirou os óculos e me olhou com seus olhos verdes

intensos. Henrique estava perto o suficiente para que seu corpo

ficasse quase sobre o meu. Observei esses lábios carnudos e senti

a minha boca secar, e involuntariamente umedeci os meus.

- Que bom que chegaram. - Falou uma mulher loira, trazendo

com ela um senhor que aparentava ter entre 50 e 60 anos. -

Rodolfo, este é Henrique Vilella.

A mulher tinha um sorriso largo para o meu chefe. A coitada nem

sabia quem era o homem ao meu lado. Aparentemente Henrique só

demonstrava sua verdadeira face para os seus funcionários.

Os três foram conversar mais distante, e fiquei para avaliar o

local e tirar algumas fotos. De longe, observei o homem arrogante

que veio comigo, e em alguns momentos nossos olhares se

encontravam. Mesmo ele sendo do jeito que era, algo me fazia

sentir atraída por ele. Nossas brigas eram muito acaloradas e todas

as noites quando deitava minha cabeça no travesseiro, era a sua

imagem que aparecia. Não sei o que Henrique fez comigo, mas o

odiava ainda mais por isso.

- Oi! Você veio com o Henrique? - Virei-me para encontrar a

dona da voz que me fez a pergunta e encontrei outra loira, no

entanto, desta vez ela era mais simpática do que a primeira.

- Sim, trabalho com Henrique. - Respondi com um sorriso.

Vi seu olhar furtivo, procurando o homem atrás de mim e minha

mente já começou a bolar algumas ideias sobre quem era essa

mulher e como ela conhecia o meu chefe.

Conversamos um pouco sobre o hotel e a reforma. Amanda era

namorada do proprietário do local, e ela disse que participaria de

algumas reuniões sobre todo o projeto.

- É bom vê-lo de novo, Henrique, já faz tanto tempo.

Virei-me para encontrar o homem que me irritava todos os dias. Ele

tinha um sorriso falso no rosto que me fez ficar bem curiosa.

Rodolfo passou por nós, ficando ao lado de sua namorada.

- Vocês já se conheciam? - Ele perguntou, curioso.

- Nos conhecemos na faculdade. - Meu chefe respondeu se

aproximando muito de mim. - Já conheceu a minha namorada,

Amanda?

Senti meu corpo inteiro tremer com as suas palavras e a sua

mão em minha cintura.

Me senti estranha com a aproximação de Henrique, e a palavra

namorada ainda me perturbava.

Eu não sabia porque meu chefe diria que eu sou sua namorada,

pois vivíamos em pé de guerra, mas a loira com quem eu

conversava antes e que estava sendo muito simpática, agora me

olhava com desprezo.

Após piscar várias vezes, consegui voltar ao normal e abrir um

sorriso de nervoso. Eles conversavam como se fossem velhos

amigos, enquanto eu só queria me afastar do idiota.

- Então quer dizer que sua namorada também trabalha com

você como sua assistente? - Amanda perguntou com um sorriso

falso.

- Claro, é muito bom trabalhar ao lado do meu amor. - Ele

disse me fazendo tossir algumas vezes com a sua resposta.

Eu queria poder demonstrar mais abertamente o meu ódio pelo

homem, mas não sou boba de contradizê-lo na frente dos clientes,

muito menos na frente da perua loira.

Sua mudança de humor me fez pegar ranço da mulher.

- É uma história engraçada, pois era difícil achar alguém que

suportasse o humor dele. - Falei irônica e todos riram, inclusive

Henrique.

- Viram, ela é engraçada. - Falou me apertando ainda mais a

ele.

- Amanda também trabalha comigo e sei como é bom tornar o

ambiente de trabalho ainda mais confortável. - Disse Rodolfo,

parecendo bem apaixonado. - Bem, acho que agora podemos

continuar a visita.

- Claro, mas antes eu gostaria de falar um minuto com o meu...

namorado. - Falei olhando para o homem que sorria ao meu lado.

O Rodolfo saiu sorrindo e batendo no ombro de Henrique, como

se ele não fosse enfrentar a minha ira assim que estivessem longe o

suficiente.

Amanda nos olhava de longe com os olhos cerrados, tentando

descobrir algo sobre o que iríamos conversar.

Virei-me para ele que estava com as mãos na cintura, me

olhando com um sorriso sarcástico no rosto.

- Interessante saber que não sirvo para ser sua assistente, pois

não tenho qualificação, mas para ser sua namorada de mentira

sirvo? - O questionei tentando não demonstrar toda a minha raiva,

fisicamente.

- Foi impossível, ok? Amanda é a minha ex-namorada e eu

meio que queria que ela ficasse com ciúmes, e sabe, ela ficou. -

Sua revelação não me chocou tanto, e senti um pouco de raiva por

saber dessa questão. Era idiotice sentir, no entanto, não podia

controlar todos os meus sentimentos.

- Porque eu, você parece me odiar? - Questionei interessada

na sua resposta mais do que desejava parecer.

- Eu não odeio você, Elisabete, só exijo pessoas qualificadas

trabalhando ao meu redor. - Falou, dando de ombros. - Mas

tenho que confessar, nos últimos dias você está sendo muito

eficiente. Devo desculpas por ser tão... exigente.

- Ah! Desculpa, mas você não estava sendo exigente, você

estava sendo um cuzão. - Falei sem pensar, mas ele riu.

- É, fui além do normal. - Confessou me deixando um

pouquinho mais feliz. - Quando Rodolfo falou que Amanda era sua

namorada, a raiva do passado voltou com tudo, então vi você aqui

ao lado dela. Foi impulsivo, porém você é uma mulher linda,

inteligente e sabia que ela ficaria chateada.

Suas palavras, num todo, me deixaram muito abalada. Eu não

poderia imaginar que Henrique falaria tal sobre mim.

- Obrigada. - Falei sem jeito. - Então quer dizer que temos

que fingir ser namorados?

Eu não sabia se isso seria possível, já que nós dois não nos

dávamos muito bem, no entanto, esse mal-entendido que foi gerado

pelo meu chefe, já havia sido dito e não teria nada que pudéssemos

dizer para fugir da mentira.

Capítulo 8 - Henrique

Eu não sabia por que cometi a loucura de dizer que Elisa era

minha namorada. Eu poderia ter inventado qualquer outra desculpa

ou simplesmente ter ficado calado e aguentado a presença de

Amanda, mas não, algo dentro de mim quis se vingar pelo passado,

e quando notei a raiva e a inveja nos olhos da mulher, senti uma

satisfação inexplicável.

Quando estava conversando com o Rodolfo, o dono da rede de

hotéis, ele me contou sobre sua noiva que trabalhava ao seu lado

na administração, e quando percebi quem ela era, uma raiva

descomunal tomou posse de mim.

Eu sempre fui focado nos estudos e era um dos melhores na

faculdade, nunca namorei sério na vida até Amanda aparecer e

roubar meu coração. Achei que ela me amava, apesar das suas

exigências e chiliques. Eu fazia tudo que ela queria, era como um

cachorrinho, no entanto, um dia ela terminou comigo sem me dar

muitas explicações, apenas disse que eu não era o que ela

desejava.

Não tive uma infância muito acolhedora, e isso me causou uma

desconfiança nas pessoas muito grande. Dias depois que a loira

acabou comigo, a vi com um ricaço playboy. Nunca desconfiei que

ela tivesse me traído, porém, naquele momento não tive dúvidas.

Isso não servia de justificativa para os meus atos nos dias atuais,

mas foi a raiva e o rancor da mulher que eu amava, dentre outras

coisas, que me fizeram ficar dessa forma.

Prometi a mim mesmo que nunca mais deixaria uma mulher

fazer o mesmo comigo novamente. Por isso não buscava amor

verdadeiro, só um acordo conveniente para mim.

Achei que tinha superado depois de dez anos, entretanto, foi só

a reencontrar para lembrar das suas palavras novamente e sentir o

mesmo rancor de sempre.

Eu poderia ter escolhido qualquer outra mulher para interpretar

esse papel, mas foi justamente Elisabete quem estava em minha

frente, usando um vestido azul, lindo, justo ao corpo, e

graciosamente jogando seus longos cabelos escuros para trás. Eu

desejava me bater por estar bobo com a beleza da minha nova

assistente, porém, era inevitável não notar o óbvio e sabia que o

sorriso convencido de Amanda era porque desejava jogar na minha

cara que estava maravilhosamente bem.

Desejava tirar a felicidade momentânea dela e dizer que eu

também segui em frente, mesmo que isso fosse uma mentira.

Porém, eu havia entrado em um buraco fundo que não tinha

mais volta. Mentir dizendo que Elisabete era minha namorada

complicava ainda mais as coisas. Não éramos muito fã um do outro.

Ela era petulante e cheia de si e eu era o que todos já sabiam:

arrogante e exigente. O problema era que a loira de araque estaria

monitorando esse projeto e faríamos várias reuniões durante esse

período para decidir várias coisas e eu e Elisa teríamos que

interpretar esse papel até que isso acabe e nunca mais ter que

suportar Amanda.

Elisabete tinha razão em estar chateada e me questionando

sobre muitas coisas, mas saber disso não diminuía a minha irritação

com a mulher e suas perguntas. Estávamos de volta à estrada,

seguindo para o escritório para analisar o que tínhamos sobre a

área onde iríamos trabalhar, e a mulher não parava de falar por um

segundo.

- Então como será? - Questionou-me sentada ao meu lado e

olhando para fora. - Temos que ser um casal feliz enquanto sua ex

estiver ao nosso lado?

Pensar que isso era só o início da minha tortura me dava dor de

cabeça.

- Pelo visto você já sabe, então para que perguntar? -

Resmunguei de mau-humor.

- Não se esqueça, querido chefe, você prometeu ser mais

educado e não me tratar com a sua arrogância de sempre ou pode

se dar mal. – Falou me provocando.

Apertei o volante com toda a força possível. Talvez a idade tenha

diminuído o meu nível de paciência e o destino estava simplesmente

me punindo por ser um idiota.

- Primeiro, mesmo sabendo que preciso de você para isso, não

quer dizer que devo suportar esses seus atrevimentos, então pense

muito bem antes de me responder, Elisabete. – Falei com firmeza e

muita pouca paciência. – Segundo, eu odeio ter que responder

perguntas bobas, espero que pense em coisas que realmente

deseja saber e não perca o meu tempo com bobagens.

- Olha, Henrique, se não estivéssemos dentro de um carro eu

realmente chutava as suas bolas. – Falou me surpreendendo. –

Você é mais que arrogante ou insensível, é um verdadeiro babaca e

tenho que deixar claro agora que você não pode usar a sua

personalidade habitual para se referir a mim.

Dei um leve sorriso irônico tentando relaxar a minha mente antes de

falar novamente com ela. Era impressionante o quanto essa mulher

me irritava e não tinha um pingo de medo de perder o emprego.

- Ainda sou seu chefe. – Reclamei. – Então tome cuidado com

o que fala.

- Agora eu sou a sua namorada, então tome cuidado em como

me trata ou posso deixar você. – Falou me fazendo rir mais ainda.

Estava quase acreditando que havia contratado uma louca para

trabalhar para mim. – Vou deixar claro como isso vai funcionar,

chefe. Não precisamos fingir que nos gostamos quando ninguém

estiver por perto, mas isso não quer dizer que não devemos nos

respeitar. Sei que você pode me demitir, no final das contas, mas

saiba que não sou o tipo de mulher que fica calada. Não faço ideia

de quem é você ou aquela mulher. O que ela fez para fazer você

cometer esse erro terrível, por isso preciso de informações básicas.

Tudo isso era culpa minha. Se eu não tivesse cometido o

equívoco de abrir a boca para falar essa bobagem, isso não teria

acontecido. Eu sabia que teria que tratar a mulher com mais

educação, ser mal-educado não era o meu forte, mas Elisabete

despertava em mim um instinto selvagem que nunca ninguém

conseguiu.

- Tudo bem, vou forçar-me ao máximo para não ser tão

arrogante e... escroto com você. Temos que concordar que nós dois

devemos nos esforçar para que isso dê certo durante esse período.

- Fui sincero em minhas palavras, se ela fosse me ajudar nesta

pequena mentira, não merecia a minha raiva. - Enquanto

estivermos na presença de Amanda ou de Rodolfo, nós dois

podemos ser... um casal perfeito. Não precisamos exagerar, e

ninguém pode saber sobre isso. No escritório ou fora dele. - Exigi

ao estacionar na garagem do prédio onde ficava a empresa. -

Prometo que vou me esforçar para não ser tão rude com você, mas

você também tem que me ajudar não me provocando. Tudo bem,

querida?

A morena cerrou os olhos, dava para ver o seu desagrado

comigo. Eu não tinha que fingir que o modo de agir de Elisabete me

agradava também, porém, meu inimigo era outro e a culpa disso

tudo estar acontecendo era minha.

- Tudo bem, mas ainda devemos conversar sobre como vamos

levar isso adiante.

- Não acho que isso seja necessário. – Falei ao tirar o cinto de

segurança, mas sua mão tocou na minha, o que me fez olhar em

seus olhos.

Assim tão de perto a mulher irritante parecia ainda mais bonita,

com a sua pele bronzeada e cabelos ondulados.

- Devo respeitar a sua privacidade, mas pelo menos tenho que

saber o básico para não ser idiota na frente da sua ex.

- Não penso que ela vá investigar sobre a veracidade do nosso

relacionamento. – Falei colocando aspas na última palavra.

- Por isso você ainda está solteiro, sem contar, é claro, com a

sua frieza e arrogância. Não conhece as mulheres, muito menos as

EXs. – Disse me fazendo bufa de tedio. – Não importa se não se

gostam, mulheres são muito inteligentes e ardilosas. Quero ter as

possíveis respostas para as possíveis perguntas e você vai me dar

isso de um jeito ou de outro.

- Isso é uma ameaça? – Questionei confuso.

- Não, é uma certeza.

***

Passamos a tarde inteira trabalhando no projeto. Roberto, que

também estava na equipe, era responsável pelos desenhos gráficos

e como também temos que apresentar os desenhos à mão, fiquei

responsável por isso.

Em alguns momentos, minha atenção era dirigida a Elisa. Ela

sempre estava concentrada no que estava fazendo, a mulher era

especializada em paisagismo e eu tinha que admitir que ela era

muito boa.

Cuidar de ambientes era uma paixão que eu tinha desde criança

e isso me divertia. Desde que Elisabete chegou na minha vida e

começamos a trabalhar juntos, estava difícil me concentrar só nos

papéis ou na tela do meu tablet.

Quando já tínhamos terminado, já era bastante tarde. Sabia que

a turrona morava no centro da cidade e que levaria bastante tempo

para chegar em casa.

- Está na hora de ir, vou leva-la para casa. – Falei olhando para

o aparelho telefônico que tinha várias mensagens da minha mãe.

- Não será necessário, posso fazer esse trajeto de ônibus. -

Falou arrumando as coisas.

Eu não sabia o porquê tinha me oferecido para fazer isso, já que ela

era a minha mais nova dor de cabeça. O problema era que eu sabia

que para parecermos um casal de verdade, deveríamos conhecer o

mínimo um do outro e ter uma curta intimidade. Porém, nada do que

eu fazia parecia agradar a Elisa.

- Acredito que faça isso por puro prazer. - Disse colocando o

telefone no bolso, irritado. – Não aceitará minha carona só para me

provocar.

Quando finalmente me olhou, ela parecia confusa. Não tinha

mais ninguém no escritório e o lugar estava parcialmente escuro.

- Você é estranho, Henrique. - Falou após revirar os olhos –

Tudo bem, eu aceito.

Tudo isso só me fazia querer ainda mais nunca me relacionar

novamente com uma mulher. Elas eram caprichosas e confusas. Eu

já tinha problemas demais para suportar tudo isso.

- Tenho que fazer uma anotação mental para nunca mais me

meter nessa situação. - Resmunguei baixo.

Caminhamos até o elevador em silêncio. Eu odiava lugares

fechados e tudo ficava ainda mais complicado quando estava ao

lado da Elisabete. Mais cedo, quando estava em meu carro, seu

aroma doce, sutil, me deixou ainda mais confuso. Ela tinha esse

poder sobre mim que me enlouquecia. Era como se meu cérebro

gostasse e odiasse ao mesmo tempo.

- Às vezes não entendo o que você quer. - Finalmente falou,

quando as portas já estavam fechadas. – Por que está fazendo essa

gentileza se me odeia tanto?

- Não odeio você. Acredite, o problema não é todo com você.

Sei que é inteligente e bastante proativa, não discordou quando

cometi esse equívoco, mas algo em você me faz ser assim. – Falei

sem desejar encara-la.

- Desculpe se sou irritante. - Disse parecendo chateada.

- Já disse, Elisabete, não é isso. Claro que me provoca, mas

sei que a culpa é minha.

- Então o que é?

Perguntas. Isso era o que eu mais odiava. Talvez fosse porque

eu não desejava revelar a verdade.

- Você me faz lembrar de uma pessoa que era importante na

minha vida. – Falei ao lembrar do passado.

- Não me diga que é a Amanda!

- Não! – Disse a olhando com surpresa. – Você e ela são

totalmente diferentes. Não gosto de perguntas, pois odeio me abrir.

Isso pode me prejudicar como no passado.

Não sabia porque estava revelando tanto. Mesmo tendo começado

essa mentira, eu não precisava falar tanto. Elisa me olhava de forma

estranha. Não havia mais tensão entre nós.

- Não se preocupe, eu sei o meu lugar. Nunca faria nada para

prejudica-lo. Prometo que vou tentar não o provocar mais. - Suas

palavras me fizeram a olhar de outra forma. Essa mulher quando

não estava me provocando não era irritante. - Não sei o que

Amanda fez, mas sei como é sentir rancor por um ex.

- Já foi abandonada e traída? – Questionei.

- Não sei se considera isso pior, mas primeiro fui traída para

depois ser abandonada. O idiota estava transando com uma das

minhas amigas na cama onde nós dormíamos, e eu os peguei no

mesmo dia em que fui demitida.

Estava começando a achar que a minha história com Amanda

não era tão terrível assim.

- Nessa você ganhou. - Falei desviando minha atenção para a

porta. – Por que foi demitida?

- O dono faliu a empresa. – Foi direta. – Todos saíram

perdendo. Pelo menos consegui chegar até aqui, mesmo que meu

chefe não seja um príncipe por dentro.

Foi involuntário sorrir da sua pequena provocação. No fim das

contas, Elisa não era tão mal. O problema realmente era eu.

- Acho que nós dois podemos passar por isso sem matar um ao

outro. – Falei assim que as portas se abriram. – Você não é tão

chata.

- Uau, sério? – Falou com ironia. – Sabe, se não for tão

exigente e arrogante, pode ser um bom chefe.

Estávamos concentrados um no outro quando o meu telefone

tocou para trazer a realidade de volta. Ao sair da caixa de metal,

atendi o aparelho e fiquei surpreso ao descobrir quem era.

- Por que está ligando para mim, Amanda? - Eu não queria

voltar a me irritar, mas a voz da mulher me fazia querer jogar o

aparelho longe.

- Henrique, eu gostaria de convidá-lo para o meu noivado com

Rodolfo, amanhã. - Disse animada. Não sabia qual era a intensão

dela ao fazer esse convite. Passamos dez anos sem nos falar e

agora, do nada, a loira desejava me convidar para o seu noivado.

- Por que isso agora? – Questionei enquanto Elisabete me

olhava atentamente.

            
            

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