Acomodada em uma confortável poltrona na varanda de casa, Lianne O'Mallory envolveu o corpo em seu velho edredom. O vento soprava do oceano; o forte cheiro do sal preenchia o ar. Estava muito frio para permanecer do lado de fora, mas ela se aninhou no calor do edredom e fitou o mar cinzento. O tempo estivera chuvoso até meia hora atrás. O céu escuro parecia se mesclar com a água no horizonte. O dia estava sombrio e combinava perfeitamente com o seu estado de espírito. Lágrimas de angústia voltaram a brotar em seus olhos. Inspirando profundamente, ela se recusou a chorar.
Fitando a praia deserta de dentro da pequena casa da família, Lianne tentou clarear a mente... Mas as palavras da médica ecoavam repetidas vezes. Sua recomendação... Uma histerectomia .
Lianne piscou por duas vezes na tentativa de conter as lágrimas. Ela estava com apenas 28 anos; jovem demais para enfrentar uma situação dessas. Nunca havia se casado e ainda nutria esperanças de ura dia encontrar o homem dos seus sonhos, casar-se e constituir uma família. Porém isso não iria acontecer se ela sofresse a operação. Lianne pensou que tivesse todo o tempo do mundo. Em vez disso, estava limitada a meses.
As dolorosas cólicas menstruais e a pesada hemorragia contribuíam para que ela ficasse quase incapacitada durante diversos dias no mês. Se quisesse o alívio da dor, essa era a opção que a sua médica havia lhe recomendado.
Não que ela fosse sofrer uma operação baseada na opinião de uma médica. Lianne acreditava na doutora Wright, mas, de qualquer forma, esperava uma segunda, ou mesmo uma terceira, opinião para reforçar seu prognóstico. Mas ainda era cedo. Ela não poderia suportar o término de toda a esperança em ter uma família no futuro. Lianne já havia marcado uma consulta com outro ginecologista. Mas sabia que era só uma questão de tempo. Sua médica não teria lhe recomendado o procedimento se não estivesse certa de que essa era a sua única opção.