- O que foi? - Becky perguntou com a cara enfiada no travesseiro, assim como a Ronda.
- Tô no inferno e a Cass tá me espetando ou é só um pesadelo?
- Vocês deixaram a Bella sozinha e agora ela entrou numa furada! - resmungou.
Como se eu fosse criança...
- O que minha cria fez? - Becky perguntou com a voz menos abafada.
- Casou. Só isso. - O barulho da buzanfa da Cass sentando na poltrona me fez abrir os olhos.
Ainda não acredito que fiz essa merda mesmo. Casamentos em Vegas são válidos judicialmente?
- Bella, diz que essa história é mentira. - Ronda olhou pra mim. Eu nem sabia que cadáver falava. Ronda parecia morta de bêbada.
- Sei lá. - Respondi tentando pegar no sono, mas agora esse assunto tá me impedindo.
- Filha de uma mãe... - Becky sentou na cama, toda descabelada e com uma maquiagem tão borrada, que levei até um susto quando abri os olhos. - Ficou tanto tempo sem macho que quando achou um resolveu casar logo, sua kenga de merda!? - me encarou com os olhos arregalados e depois riu da minha cara.
- Cala a boca. - cobri minha cabeça. Agora uma bela enxaqueca está me possuindo.
- Não me manda calar! - ela me bateu com o travesseiro.
- Tô com enxaqueca. - Continuei enrolada com os olhos fechados.
- Sabe quem é o maridinho dela? - Cass voltou a me atazanar.
Por ela eu nunca arranjo ninguém. Foi até bom casar desse jeito. Porque se fosse pra me programar só ia dar merda.
- Peter M. - ela disse e eu lembrei da tatuagem e do rosto dele.
Qual o problema dele? Ele é tão lindo e aquele sorriso... Me lembro da gente dançando, conversando. Ele é tão gentil. Não sei o que assusta no nome dele. Se esse cara fosse famoso eu saberia.
- AH NÃO! PUTA MERDA, BELLA! - Becky parece que tomou uma injeção de ânimo e seu sono e ressaca foram pro inferno, ou não, eles foram para dentro de mim, junto com uma puta martelada que ela deu na minha cabeça, com esse grito. Que dor!
- Isabella, com 7 bilhões de pessoas no mundo, você foi casar logo com esse cretino?! - Ronda deve ter levantado também.
- O que ele fez pra causar tanto espanto? - tirei o cobertor de cima de mim. - Ele é algum político investigado pela Lava Jato? É do Estado Islâmico? É um tirano? É a reencarnação de Sadan Hussein?
Porque não tem lógica uma reação dessas. Elas deviam se espantam pelo simples fato de eu ter casado sem nem conhecer o cara.
- tu nem conhece a fama do cara... - Becky abaixou a cabeça, balançando em negação.
Não demoraram pra pesquisar no celular. Mas Ronda foi rápida e me arremessou duas das revistas que estavam encima da mesa do quarto. Eu nem tinha visto essas revistas antes. Quando olhei as capas, não segurei meu queixo e meus olhos se arregalaram. Falando que ele é o playboy do momento, entrevistas com eles... testes para saber se teria chance com ele...
- OOH MERDA! - exclamei, pasma. Eu não acredito que ele é assim. Não acredito mesmo.
Será que ele não tem irmão gêmeo não?
Ele é um playboy galinha! Eu não posso passar por isso de novo. Não, não.
- Agora você entendeu? - Cass perguntou convencida. Que decepção. Quando finalmente me caso, é bem com o cara mais desqualificado pra ser um marido.
- Fica assim não. Pelo menos não foi com o Scott, o melhor amigo dele. Porque se o Peter é um cretino, o Scott é o mestre dele. - Ronda não parou de zombar. Como todo mundo os conhece, menos eu? Porque eu nunca soube do Peter?
Estiquei o braço e entreguei as revistas à Ronda.
- Não vai querer fazer o teste pra ver se você é o par compatível dele, não? - Becky também fez piada. Eu mereço.
- Hey! O que é isso?! - Ronda percebeu o curativo da tatuagem no meu punho e sorriu. - É uma tatuagem?
Tratei de esconder o mais rápido possível. - Não. Eu me machuquei. - Menti.
- Um suicídio social chamado Peter, tatuado no seu punho. - Cass revelou.
- Caralho, Cass! que fofoqueira você é! - deitei de novo e me enrolei o coberto. Elas ficaram rindo de mim.
- A paixão tá brava, hein.
Eu vou dormir e quando acordar tudo isso vai ter passado. É só um pesadelo ocasionado pelo alto teor de álcool no meu sangue.
a
- Acorda, Bella! - Cass me cutucou. Abri os olhos com dificuldade, por causa da claridade e a enxerguei toda arrumada.
- Que hora é essa? - me virei na cama.
- Hora de levantar e arrumar suas coisas.
- Por que?
- Você vai ficar no hotel do Peter, com ele.
- Que? - levantei minha cabeça espantada. O pesadelo é real?!
- Isso mesmo que você ouviu. Todo mundo sabe que vocês estão juntos e logo um monte de paparazzi vai aparecer pra tirar fotos de vocês.
- Fodam-se eles.
- Não tô brincando, Isabella. Já tem um na frente desse hotel, só de me ver por aqui.
- Você quem chamou? - estreitei o olhar pra ela. Cadê minha paz?
- Eu?
- Eu não duvido disso. É bem a sua cara. - Continuei deitada, mas olhei pra sua cara de vítima. - Como eu vou sair daqui com essas malas, sem ninguém desconfiar que estou hospedada aqui, Cass? Missão impossível.
- Eu pensei em tudo. - Ela tirou várias sacolas de marca de dentro de uma maior. - Vamos colocar suas roupas nas sacolas e fingir compras. Todo mundo já viu as vagadias saindo e entrando daqui com sacolas de compras. Eles vão acreditar.
Fiquei a encarando por um tempo. Que ideia!
- Você é doida. - concluí.
- Peter está te esperando. Sua sogra quer falar com você... Ande rápido.
Esperando? Sogra?
Onde está a janela mais próxima? Vou saltar dela.
a
Quando eu passei pela porta do quarto e vi aquele lobo em pele de cordeiro me encarando, quis no mesmo instante dar meia volta. Que decepção ter casado com esse cretino... Meu coração até acelerou.
- Oi. - Ele sorriu pra mim e Adam revirou os olhos e riu. Ele já deve estar acostumado com as investidas do Peter.
Eu não respondi. Me fiz de surda, porque não quero trocar muitas palavras com ele.
- Fique aí, casalzinho, e entrem num consenso. Parece que vai levar uns dois meses para o divórcio sair. - Adam levantou da cadeira e andou até a saída. - Amanhã eu venho aqui.
2 meses?!
Ele deve ser o assessor do Peter, porque é igual a Cass, só fica no pé e age como um pai ou uma mãe.
Ela também não saiu sem passar as orientações. -Ah, e nem pensem em responder esses comentários nas redes sociais. Aliás, é melhor vocês nem acessarem nada. - Balançou o indicador e acompanhou Adam, deixando minhas sacolas no chão. - Qualquer palavra boba pode ser interpretada de mil maneiras.
Agora essa. Não posso nem usar meu celular!
Eles saíram e trancaram a porta.
Me deixaram com esse estranho.
- As compras foram boas, hein. - sentou da cama, encarando minhas bolsas com um sorriso.
- Nada que já não fosse meu. - As soltei num canto da sala.
- Tá tudo bem?
- Poderia estar melhor, se não fosse isso tudo. - Procurei meu celular dentro das bolsas.
- Já vi que você não quer papo comigo...
- Aham. Parece que você é tão esperto quanto dizem. - Encontrei o aparelho e guardei no bolso, depois andei até a janela e me apoiei no batente.
Talvez eu fique aqui o dia todo.
- Andou pesquisando sobre mim, né? - sugeriu continuando sentado.
- Não foi preciso. - Admirei a paisagem da cidade. (Mentira, não consigo me concentrar em nada agora).
- Eu não sou tudo o que dizem por aí.
- Humm. É mesmo? - fingi dúvida.
- Sim, é verdade. - Ele levantou da cama e parou perto de mim. - Desculpa, eu não lembro de nada de ontem, mas se eu tivesse em sã consciência isso não teria acontecido.
Ata. Porque Peter M. nunca vai casar.
- Eu não vou fazer nada pra te prejudicar. Prometo. - Continuou falando. Ah, que bonitinho, se não fosse um cretino. - Minha mãe quer que a gente vá direto pra casa dela quando sairmos daqui.
- Não vou. Vou pra minha casa. - Me virei pra ele. Era só o que faltava ir pra casa desse estranho.
- E como eu vou chegar em casa sem a minha esposa?! - cruzou os braços.
Que conversa estranha.
- Não sei. - Dei de ombros e sentei na cama.
- Nossa... Você é difícil, hein! - ele sentou novamente na cama, ao meu lado e eu levantei.
Se ele não fosse quem ele é, talvez as coisas fossem diferentes. - E você fala demais. - Me afastei.
- Ontem você gostou de me ouvir falando...
- Ontem eu não sabia quem você era de verdade. - Dei de ombros.
- E se ainda não soubesse?
- Provavelmente estaria sendo a maior idiota do país.
Sim. Eu seria. Não, pior, pra todo mundo eu estou sendo.
- Bella, você... - ele respirou fundo. -... Ah, quer saber, tô nem aí. - levantou. - Vou sair um pouco pra tomar um ar.
Já era hora.