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Meu pai havia chegado e não sei se ficava feliz ou triste. Feliz porque tenho certeza que ele iria atrás da verdade e triste porque quando souber o que eu fiz, vai me deixar de castigo até a seleção brasileira ganhar o hexa.Minha dúvida de sentimentos acabou, quando o Sargento Grimaldi deixou o pai Bruno de lado e estava pondo a diretora maléfica no bolso. Só me restava assistir pela abertura da porta.- Bom Diretora, ouvi a senhora, ouvi minha filha e o amiguinho dela. Ouvi o coordenador, mas ainda não ouvi os outros três meninos, que são o eixo de toda essa confusão.
Cadê eles?- Os pais deles vieram buscá-los, já que estavam muito traumatizados com o acontecimento violento, pelo qual passaram. O senhor há de entender. - A bruxa enfatiza. - Jamais vi algo parecido em anos neste colégio. Meu pai jamais engoliria essa, estava vendo sua feição fechada e quando ele tamborila os dedos sobre a boca, busca entender algo estranho.- Traumatizados! Até entendo o rapazinho que teve a mão perfurada, mas os outros dois não sofreram nada. Não vejo por que não estão aqui. Diretora, não há como ter uma visão justa, se não ouço todas as partes.- Senhor Bruno, o quê passa pela sua cabeça? Que por um acaso estou mentindo? Eu chamei o senhor aqui, porque sua filha é uma boa menina. Por mais que tenha alguns problemas familiares, a aluna nunca havia se comportado de forma agressiva, até começar a andar com certas amizades.- Problemas familiares!? Minha filha não tem qualquer problema familiar, pelo contrário, ela é feliz e amada pelos pais. - O senhor está me interpretando mal. Não foi bem isso que eu quis dizer.- Mas foi justamente o que a senhora disse. Problemas familiares, tem criança que tem pais figurativos. Geralmente se enchem de raiva gratuita, por não receber nem amor, nem educação. Se quando se refere a certas amizades, você está falando desse menino que está lá fora, tímido e acanhado... Pelo o que eu sei, Anttone é o melhor aluno desta escola, ou não?- Na verdade, ele é o que tira as melhores notas, e eu nem sei como, mas só vive metido em confusão. É que o senhor só sabe uma parte da história.- Então me explique toda a história Diretora. Sou todo ouvidos.- O pior cego é aquele que não quer ver Senhor Bruno. - Argumento fraco bruxa. Não vai doma-lo.- Ah! A senhora acha que não vejo? Mostrarei quem não enxerga com clareza por aqui, a senhora ou eu. A Diretora me permitiria trazer um dos seus alunos, da sala da minha filha, que pudesse vir aqui falar comigo?- Para quê?A bruxa sabia que as coisas iriam sair mal para ela. E tentava por barreiras. Enquanto eu espionava tudo da salinha. Anttone tentava enxugar as lágrimas escondido.- Para conversar apenas. Qualquer aluno da turma da minha filha, da escolha da senhora, e de preferência uma menina.Mesmo encafifada atendeu o pedido do meu pai. Pediu que Abigail trouxesse a aluna, a mesma voltou com a Clarice, uma dessas meninas que o Anttone ajudava com a lição. Nessa ele deu sorte. Minutos depois, meu pai pediu que o Anttone entrasse na sala e falou com a Clarice a frente de todos. Eu fiquei de fora, acho que meu jeito um pouco elétrico, pode ter colaborado minha exclusão.- Fique tranquila. Só irei fazer umas perguntinhas, e se você responder com a verdade, logo acaba ok?"Ah! Não é mais o meu pai Bruno quem está aqui. Agora quem vai comandar esse interrogatório é o sargento Grimaldi."Conversar bastante com meu pai, ajudou muito a ele construir nossa defesa.E para mim eu estava em um tribunal. No corredor da morte.Sargento Grimaldi fez as perguntas certas e Clarice acabou soltando todas as maldades que os meninos praticavam com facilidade. Ana Célia tentou rebater de todas as maneiras, passando muita vergonha. Quando percebeu que a "casa caiu", teve de aceitar sua derrota.O melhor da noite, foi meu pai dizer que iria relatar todo episódio na secretaria de educação. Confesso que ri por dentro."Meu pai e f... não eu não posso nem pensar nesse palavrão, senão senhor sargento aumenta o castigo que sei que vou ganhar. Mas meu pai é o melhor, deixou essa bruxa da diretora de cara no chão."Eu peguei três dias de suspensão, João e sua turma também. E o Anttone que iria ser expulso, nada sofreu. Era o correto, meu amigo não tinha feito nada. Meu pai ofereceu carona para o Anttone até a estrada da Gávea e ele aceitou, essa estrada dava acesso para comunidade no qual ele morava.[•••]Anttone e eu estávamos sentados atrás. Meu pai reclamou disse que não era taxista, a gente achou engraçado, mesmo assim o deixamos sozinho na frente. No caminho, senhor Bruno pega uma fita no porta luvas e põe no rádio. A música era boa, pétala do Djavan, mas queria algo mais agitado.- Ah pai! Eu até que gosto dessa suas músicas aí. Mas agora quero algo mais pesado, põe um Nirvana pra gente. Não é Anttone?Dentro do carro, com os vidros abertos, o vento estava embaralhando meus cabelos. Que mal conseguia tirar os fios esvoaçantes da minha cara. E o Anttone estava me olhando com cara de lesado. Tive que gritar, para ver se ele saia do transe.- Anttone... acorda! Você está dormindo? Responde. Não é melhor Nirvana?- Não. Prefiro essa música. É linda - falou suspirando me olhando de forma esquisita.- Cruzes você está estranho! O que deu em você?- Bruna o que você pretende ser quando for adulta? Ele ainda estava estranho e me fez essa pergunta do nada, mas não custava responder.- Policial. - respondi sem pensar. Depois lembrei que meu pai não quer que eu siga os passos dele.- Quero dizer, eu quero ser policial, mas meu pai quer que eu faça uma boa faculdade e irei fazer.- Eu já sei o que vou ser quando for adulto.- O quê?- pergunto curiosa.- Médico pra te curar, todas as vezes que você necessitar.Confesso que achei bem esquisito o que ele disse, mas também achei fofo. Meu pai avisa que é a hora de Anttone descer. Também desci para sentar no banco da frente. Anttone agradeceu a carona e a ajuda com o problema na escola. Me despedi dele, lhe dando um beijo estalado na bochecha. Meu amigo pôs a mão no rosto, como se estivesse segurando para o meu beijo não cair. E assim ele seguiu, rumo a entrada da favela.