Capítulo 4 A História

Marina acordou no dia seguinte e Dhomini já estava lá, uma aliança estava em seu dedo e ele lhe trouxe um café da manhã do jeito que gostava, pelo menos ela se lembrou disso. Conseguiu se levantar com a ajuda de uma enfermeira e tomou banho, vestindo a camisola que Dhomini trouxe. Sua memória não voltou e estava completamente a mercê do que o seu "marido" contava.

Dhomini por sua vez queria levá-la logo para casa, mas o médico ainda queria fazer alguns exames e ela só foi liberada no dia seguinte. Ele aproveitou para encher a cabeça dela de memórias falsas e deixar o maximo de coisas "dela" espalhadas pela casa, fazendo um perfil para ela de uma pessoa caseira e simples, que gostava de banhar-se no mar e fazer longos passeios pela orla.

Quando Marina saiu do hospital, estava confiando completamente no marido e se deixou levar para casa, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Apesar de agir assim, dentro dela tudo era estranho e contrário ao que lhe parecia normal, como por exemplo, calcular a distância que estavam seguindo, com o combustível que precisam para o veículo rodar e o tempo que estavam levando.

Quando chegaram a casa, ela ficou extasiada com a vista, a casa era maravilhosa, mas a vista do mar era sensacional. Mas nada lhe era familiar. Foi levada até o quarto do casal e ao olhar a cama, sentiu uma sensação de medo e repulsa que não sabia explicar, só sabia que não queria se deitar ali com aquele marido que ela não lembrava quem era.

Não ousou falar nada, pois ele a estava tratando com muito carinho e atenção e não teve coragem de lhe negar nada, só não permitia que ele lhe tocasse. Almoçaram e depois ela deitou em uma rede na varanda, escutando o som das ondas batendo na areia e adormeceu durante boa parte da tarde.

Os dias foram se passando calmamente, com Dhomini se comportando como um marido muito atencioso e aos poucos foi fazendo ela se soltar e se apaixonar por ele. Com quinze dias que estava ali, estava muito melhor, a ferida causada pelo tiro já estava fechada e tirando a falta de memória, ela estava bem.

Dhomini então, começou a forçar a barra para fazerem amor e ela acabou cedendo e em sua primeira noite com ele, ele foi muito carinhoso, beijou-a e acariciou-a até que estivesse bem excitada e só quando percebeu que estava preparada, a penetrou, devagar e levou-a ao orgasmo três vezes, antes de liberar a si mesmo. Deitou-se ao seu lado e a puxou para si, perguntando se estava bem.

Marina gostou do sexo, embora no início fosse incomodo, mas não doeu, só que sentiu que não praticava aquele ato com constância. Na verdade haviam várias coisas que não batiam com o que Dhomini lhe contou. Verificou seu corpo branco no espelho e não viu marcas de biquini, então significava que ela não tomava sol e quando chegava perto da praia, morria de medo de entrar na água.

Ela também percebeu que tudo que era dela, era novo, nunca havia sido usado e também não tinham fotos dela e nem do casal, pela casa. Ele sempre desconversava, quando ela perguntava. Não conseguia sair sem a companhia dele e começou a ter flashes de memória. Um escritório, livros contábeis, computadores e até um gato que andava por uma janela.

Se esforçou para passear pela praia, o mais cedo que conseguia, antes dele acordar e assimilou o máximo que pode sobre o terreno em volta e os vizinhos. A casa ficava no alto e tinha uma divisão de pedras e plantas entre ela e o vizinho. Havia uma escada de cada lado da varanda, que descia para a praia e a garagem de barcos, que fica sob a casa.

A casa do vizinho, também tinha uma escada, mas era pela lateral, não dava para ver de sua casa. Sua, mas que não sentia nada nela que lhe pertencesse. Depois da primeira noite, Dhomini a procurava toda noite e para ela, fazer sexo se tornou normal, embora sentisse prazer, não lhe era emocionalmente satisfatório,

Estava chegando em casa, nessa manhã e encontrou ele esperando na varanda.

- Mais uma vez acordei e estava sozinho na cama, minha amada não quer minha presença?

- Seu bobo, só gosto de caminhar antes que o sol esquente demais.

Se aproximou dele e lhe deu um beijo leve e Dhomini estava sentindo que ela só se acostumou com ele e suas mentiras, se não tivesse inventado tudo aquilo, ela não estaria mais ali. Percebeu que não conseguiria esticar muito a brincadeira de marido e mulher, principalmente porque tinha que voltar a empresa, por mais que resolvesse muitas coisas de casa mesmo, alguns contratos precisavam de sua presença.

Sem falar em seu irmão que o pressionava para que despachasse logo a mulher e voltasse para resolver os negócios que estavam pendentes, por ele não estar lá. Olhou para ela, tão bela e distante. Como nunca a tinha visto na empresa? com certeza teria se aproximado e tido algumas noites com ela.

- Venha, vamos tomar café. Fiz uns ovos mexidos, bacon e panquecas.

- Você é perfeito, não poderia querer um marido melhor. - Sorriu, esperando que ele não percebesse que era falso.

Foram até a mesa posta e enquanto comiam, ele falou:

- Teremos só mais uma semana aqui. As férias estão acabando, amor, terei que voltar ao trabalho.

- Gosto tanto daqui. Para onde vamos?

- Para nosso apartamento, na capital. Sou diretor de uma multinacional, temos uma casa também, mas acho melhor ficarmos no apartamento até que você se lembre ou se acostume com tudo.

- Entendi. Pode ser que lá, eu consiga me lembrar. Eu trabalho também?

Ele pegou a mão dela e levou a boca para um beijo leve e falou como um perfeito machista.

- Você não precisa trabalhar, amor. Eu te dou tudo que precisa. Você só precisa se manter linda e saudável para me agradar.

Com essa, Marina se calou, achou que ele tentava fazê-la pensar que era uma mulher fútil, cabeça oca, que não fazia nada de útil na vida a não ser viver para o marido. Ela pensou que ele não iria ter uma esposa por muito tempo.