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06:34 am.
O som do alarme se fez presente naquele quarto, - um pouco mais atrasado que o normal - Jia abriu os olhos, mas não quis se levantar, os fechou novamente pensando em voltar a dormir, porém, a soneca estava ativa e não fora possível. Ainda relutante, ergueu seu tronco e sentou-se sobre a cama. Aquela manhã era fria, e a moça não fazia questão de ir trabalhar naquele horário. Apanhou uma toalha, roupas quentes, e seguiu para o banheiro. Deixou que a água quente molhasse seu corpo, e o aquecesse; passou mais de 2 minutos embaixo da água, e quando pensou que se ficasse apenas mais um segundo acabaria com toda água do planeta - o que quase sempre vinha a sua cabeça, fazendo com que ela desligasse o registro rapidamente - secou-se da melhor forma, e se vestiu.
Vestiu uma calça Jeans preta, e uma blusa de mangas longas também, da mesma cor. Decidiu que aquele dia usaria um tênis, e procurou o casaco mais quente possível. Após fazer toda a higiene matinal, e acordar a estúpida colega de quarto para que ela não se atrasasse, pois tinha compromisso marcado; Jia desceu as escadas do prédio onde ficavam os dormitórios, e andou até uma cafeteria. Precisaria de muita cafeína para aguentar um dia inteiro ao lado de Jane - quando se fica mais íntimo, pode-se chamar de pesadelo - e Leo como presente.
Não era segredo para ninguém que Jia odiava a rata, ela até mesmo já havia dito isso em voz alta na presença da mesma. O que fez com que sua rotina diária, se tornasse ainda mais insuportável. Porém, existiam certos momentos na vida que as pessoas apenas concordavam com a situação e tentavam ignorar as coisas ruins que aconteciam a sua volta. Precisava de um emprego, recebeu aqueles problemas como um brinde, mas quando que a vida era perfeita, afinal?
"Só mais alguns meses e você vai estar livre... Só mais alguns meses, e você poderá mandar a Jane ir pastar na casa do caralho..." Pensou consigo mesma.
Esperou que a moça lhe servisse um Americano- ela passou a gostar do sabor, dizia que era como sua vida estava, então, passou a tomá-lo com mais frequência - até que pudesse seguir para estação de metrô.
O céu clareava pouco a pouco, e ela andava apressadamente pelas ruas de Los Angeles. Todos os dias, sua rotina era quase sempre a mesma, porém, Jia nunca se cansou de observar a vista quando estava a caminho do trabalho. Centenas de pessoas ocupavam aquela mesma avenida, apressadas demais para sua rotina de trabalho, escola ou qualquer outra coisa; enormes edifícios enfeitavam as ruas, haviam também os Outdoors com propagandas de produtos específicos ou de algum ídolo adolescente famoso. Ela se sentia numa Times Square.
A poluição visual era insuportável na maioria das vezes, e a jovem adorava quando os funcionários de alguma empresa aleatória, ficavam pendurados no ar limpando vidros. Não que houvesse motivos para achar algo como aquilo, tão extraordinário. Mesmo assim, era interessante de se ver.
Após caminhar por 10 minutos - e em pensamento, ela pode alegar que foram os minutos mais rápidos de sua vida - finalmente avistara a estação de metrô, o que fez com que ela apressasse ainda mais os passos. Teria que atravessar a faixa de pedestres que ligava uma avenida a outra, mas naquele horário, o fluxo de carros era intenso, e poderia demorar.
Depois de duas tentativas, e um quase surto. Jia pôde atravessar com segurança - OK, atravessar em meio a carros em movimentos não é de um todo, uma atitude segura - correu para a entrada, e passou pela barreira de metal o mais rápido que pôde. Sua pressa tinha motivo: o próximo sairia em três minutos.
"Droga! Maldita garçonete... Se ela não tivesse demorado tanto com essa merda!" exclamou em seu idioma nativo, referindo-se ao Americano. As pessoas encaravam-lhe, algumas curiosas em saber o significado de tais palavras, outras pedindo mentalmente para que ela andasse um pouco mais rápido, e desse tempo a elas embarcar no vagão.
Apressou os passos, quando pôde ver ao longe o vagão estacionar - e se a conta de Jia estava correta: ela não iria sentada - quando as últimas pessoas estavam por entrar, a jovem alcança. Esbarra em algumas pessoas e finalmente, consegue adentrar o vagão; suspirou aliviada, aquele dia ela não iria se atrasar.
"Você está... " Leo se pronunciou assim que viu a silhueta da moça se aproximar. Olhou em seu relógio de pulso checando as horas, e sorriu "... 10 segundos atrasada!"
Jia revirou seus olhos pela primeira vez aquele dia, largou sua bolsa pendurada perto de um armário, e encarou o assistente de Jane com a expressão de poucos amigos. Sua destra estava apoiada na cintura, e ela encarava o rapaz de cabelos azulados, tentando intimidá-lo.
"E o que você vai fazer quanto a isso?" Questionou de modo sarcástico. "Vai me mandar limpar o chão? Servir cafezinho ou limpar a SOLA do sapato da Lisa?" sorriu enquanto arregaçava as mangas. "Saiba que de onde eu venho, é muito desnecessário esse tipo de coisa!"
"Escuta... Alguém aqui questionou a você se é desnecessário ou não?" Se aproximou perigosamente da jovem. "Se não dá conta do serviço, peça demissão, ora..."
"Quem disse a você que eu não estou dando conta?" rebateu. "A única pessoa que reclama de serviço aqui é você... Reclama do chão que eu limpo, reclama das fotos que a Lisa tira, reclama dos fotógrafos porque eles não gostam de você... A única pessoa que você não se atreve a criticar, é a senhora sua chefe; e eu bem sei que você não é louco, porque quem reclama de você é ela... Vulgo naja!"
"Como você se atreve a falar dessa maneira?"
"Basta, Leo!" fora a voz de Jane que atingiu o ouvido de ambos. "Não me venha bancar o cachorrinho logo cedo, vocês têm trabalhos a fazer... Sem discussão."
Jia sorriu, apesar de odiar Jane como ela odiava, a megera sabia como tratar seu assistente e como colocá-lo em seu devido lugar. Os dois seguiram caminhos diferentes, Leo precisava confirmar os ensaios agendados para aquele dia, e Jia precisava checar as câmeras. Trabalho um tanto quanto, tedioso, ao ver da jovem.
Preparava-se para começar sua rotina desgastante de trabalho, quando o moletom azul veio a sua mente. Pausou seus passos de imediato, e procurou encarar Jane - esta que olhava algo distraída em seu celular - limpou a garganta, atraindo o olhar da mais velha para si.
"Eu... Preciso que você faça algo para mim." jia ditou. Caminhou até a bolsa pendurada e a abriu, sob olhar atento da chefe. "Um tal cara aleatório emprestou-me este moletom, e como não será mais útil para mim, eu queria que você devolvesse."
Rapidamente a expressão da mulher mudou, de um cenho franzido, a um sorriso sarcástico. Ela apanhou a peça das mãos de Jia e examinou com certo cuidado, podendo notar que o perfume amadeirado de Damon, ainda se encontrava ali.
"... Diga a ele que agradeço a preocupação, e que este moletom fora muito útil." concluiu tentando esconder o meio sorriso que teimava se formar em seu rosto.
"Oh, pode deixar... Eu estava indo justamente ter uma conversa com o manager dos meninos, aproveito para entregar a ele esta roupa!" Ela pronunciou simpática. E aos olhos de Jia, uma simpatia de um todo estranha.
Após isso, a jovem seguiu para suas atividades e Jane direcionou-se ao seu escritório; apanhou a chave do Toyota vermelho, e sua bolsa. O moletom estava sob seu braço esquerdo, a bolsa pendurada no direito. Andou até onde o carro fora estacionado, e adentrou rapidamente.
"Minha querida Jia... Se pensa que vais conquistar o meu Damon com esses charminhos, está enganada." ditou assim que a chave fora posta na ignição do carro, ela deu partida ainda sorrindo. "Deixe que eu estou a preparar algo muito especial para vocês, os dois!"
E assim seguiu, pisando firmemente no acelerador, procurando dirigir um pouco mais rápido enquanto pensava em algo que faria Damon magoar sua funcionária involuntariamente. Aquela altura da vida de Jane, as coisas aconteciam a seu favor - ela pensava- e se tudo desse certo, conseguiria afastar Jia do rapaz.
Não precisava necessariamente de um óculos, para perceber o quanto os dois estavam se envolvendo sem ao menos conhecerem um ao outro. Isso de certa forma irritava Jane, e a deixava irada, sendo capaz de executar qualquer atitude que pudesse parecer loucura aos olhos de uma pessoa completamente sã.
Seus olhos permaneciam focados na pista, porém, ela tramava algo em sua mente enquanto cruzava a intercessão da rua de uma avenida a outra. Saia do distrito nobre de Los Angeles, e agora passava a dirigir por ruas esquecidas e estreitas do "quase subúrbio" como os artistas costumavam chamar. Aquela parte, era basicamente a zona dos famosos que não queriam ser rastreados por fãs enlouquecidas, haviam prédios ridiculamente bonitos e chiques, outros simples, mas que todos sabiam ser residência de alguns famosos.
"Para um subúrbio isso aqui está bem organizado..." Jane comentou consigo mesma, após observar um guarda de trânsito.
Duas esquinas depois, ela já podia avistar o prédio em que alguns artistas que ela conhecia residiam. Não era grande, uns 5 andares no máximo; a pintura era marrom e discreta. Parecia um daqueles prédios ingleses, só que em menor número de andar. Estacionou o Toyota frente a portaria, e entregou a chave para um rapaz moreno e simpático. Não faria menção de avisar sua visita ao grupo, então logo tratou de adentrar o prédio.
"Srta. Jane é um prazer recebê-la, devo avisar aos meninos sua chegada?" o porteiro questionou, e a mulher sorriu falsamente.
"Não será preciso, eu farei uma surpresa para eles... Serei rápida, não será necessário que você diga ao Billy que eu estive aqui, sim?" rebateu sorrindo docemente ao homem, e fora prontamente atendida.
Seguiu para o elevador e apertou o botão que a levaria ao terceiro andar. Após 20 segundos de espera, a porta de metal se abriu, e ela direcionou seus passos ao apartamento 42. Duas batidas foram mais que suficientes, para que o líder, Klaus, abrisse a porta, e franzisse o cenho em estranheza.
"Mas o que diabos você quer aqui dessa vez?" Ele questionou em tom autoritário, mas que fora o suficiente para deixar a mulher completamente arrepiada somente com o soar rude daquela voz.
"Damon... Ele está?" questionou de forma serena. "Preciso ter uma conversa com ele." concluiu apontando para o moletom esquecido em seu braço.
O líder fez um gesto negativo com a cabeça, fitou a mulher de cima a baixo, e só depois, fez menção de chamar o rapaz. A presença daquela mulher lhe incomodava, e o homem de cabelos azulados, queria se ver livre o quanto antes.
"Merda..." sussurrou baixinho. "DAMON RECEBA SUA VISITA LÁ EM BAIXO!" Gritou sem pudor algum, o que fez Jane se assustar por alguns segundos.
Logo a presença do moreno pálido se fez presente, e o sorriso da mulher tornou-se visível. Era um cena adorável, ele estava com os cabelos desgrenhados, e seu rosto completamente amassado. Ele andava meio cambaleante, e quando fitou Jane, sua expressão se fechou.
"Eu não sabia que a porta do inferno tinha sido aberta mais cedo hoje... Francamente!" o moreno resmungou. "É bom que você tenha um motivo muito importante para ter aparecido na minha frente hoje."
O bom humor de Damon não existia pela manhã, e consequentemente, por todo o dia. Quando não se tinha uma boa noite de sono, o moreno costumava estar mais ranzinza que o normal. E aquele infelizmente, era um de seus dias ruins.
"Vim devolver esse moletom de volta ao dono..." começou. O olhar de Damon rapidamente encontrou a peça azul nos braços de Jane, e franziu o cenho, questionando-se internamente, como ele havia ido parar ali.
"Tá... Esse moletom não pertence a mim desde o dia que eu ofereci ele aquela moça." rebateu rude. "E por que merdas ele está com você?"
"Porque ela me mandou até aqui para lhe devolver!" respondeu simples.
"Está bem, e você acha que eu vou acreditar?" questionou retoricamente. "Até parece que você recebe ordem de funcionária... É até irônico da sua parte, vir aqui fazer um teatro desses."
"Porque você me julga tanto?"
"Quem garante que você não tomou isso da mão dela?"
"Pare, eu precisava conversar com o Billy e aproveitei para fazer este favor a ela... Você mesmo disse que eu deveria tratá-la melhor."
"Certo, eu disse mesmo... Olha, eu não posso aceitar que ela me devolva... Leve-o de volta e diga que fora um presente meu!" ditou rapidamente.
"Só isso?" Jane sorriu.
Era tudo que ela precisava ouvir do moreno, para algo aparecer em sua mente.
"É... Diga também que..." pareceu pensar em algo. "Não, não diga nada!"
"OK, tchau, Damon!" despediu-se.
Ele não esperou que ela fosse embora, abruptamente fechou a porta, voltando a dormir. Jane sorriu maliciosa, arquitetando um bom plano em sua cabeça. Caminhou de volta ao elevador, e quando desceu, curvou-se diante do elegante homem que passava. Esperou que o moreno - o mesmo que lhe atendeu quando chegara - trouxesse de volta seu carro, e após isso, pisou firme no acelerador.
O caminho de volta fora rápido, e depois de um trânsito enorme, finalmente pôde chegar ao seu destino. Eram 9:40 quando olhou em seu relógio de pulso, os fotógrafos já organizavam o equipamento para fotografar ao ar livre. Ela sorriu, bocejou adentrando o local e dirigiu-se a sua sala. Leo já estava em sua mesa, para a infelicidade de Jane, que lançou um sorriso sugestivo ao rapaz.
"Você não devolveu?" questionou sorrindo.
"Eu fui até lá... " Começou "..., mas ele não aceitou."
Jane guardou o moletom em um armário, jogou sua bolsa sob a poltrona preta, e direcionou-se a sua escrivaninha. Ligou o computador, e sob observação de Leo, passou a analisar algumas coisas na agenda dos fotógrafos.
"Porque eu tenho a impressão de que você está aprontando algo?" Leo questionou curioso. "Porque eu estou... Diga a Jia que eu quero um capuccino, e mande ela ir o mais longe que puder!"
E assim fora feito, Leo levantou-se da poltrona e saiu rapidamente daquela sala. Dirigiu-se para o espaço onde era feito os ensaios fotográficos - este era inteiramente branco e bem iluminado- e observou ao longe, Jia organizar os equipamentos.
"Se você sujar o chão que eu acabei de limpar, eu vou mandar sua alma ir passear no inferno!" Jian ditou. Levantou seu olhar, e fitou o azulado sorrir em sarcasmo. Ele apenas continuou a andar, deixando a marca do tênis sujo conforme andava. Sabendo internamente que estava irritando a jovem.
"Você está tendo um dia ruim?" Leo questionou. "Não me importa... Jane quer um capuccino, e você bem sabe aonde ir, não é?" a jovem assentiu revirando os olhos pela centésima vez. "Aqui está o dinheiro... Vá rápido. "Estendeu sua mão e entregou a Jia uma quantia considerável em dinheiro. "Pelo esforço."
A moça prendeu seus cabelos em um coque bagunçado, pegou o dinheiro da mão de Leo e saiu dali. No período das 10:00 as ruas perdiam um pouco o movimento, e Jia não precisaria esbarrar nas pessoas e correr feito louca para executar uma tarefa difícil como comprar capuccino para Jane.
O trajeto até a cafeteria, consistia em ter que atravessar 3 avenidas e um parque imenso, onde haviam diversas árvores e bancos. Não era muito movimentado, quando Jian passou, apenas um senhor de aparentemente 80 anos estava sentando, jogando migalha para os pombos, e um adolescente andando de patins.
Andou o mais devagar que pôde, não precisava ter pressa alguma, e faria Jane esperar o máximo que conseguisse. Tirou seu celular do bolso, e checou a hora novamente, ainda não havia passado nem 15 minutos. Direcionou-se a primeira saída do parque, e logo pôde avistar a cafeteria ao longe.
Era um local aconchegante e quente, os funcionários eram educados, e eles ofereciam brindes para quem consumisse dois tipos de produtos com o mesmo preço. Jia adentrou, e o soar de um sino preso a porta, se fez presente - ela adorava lugares assim - direcionou seus passos até o balcão, onde havia uma menina ruiva. Ela encarou fixamente Jia, e logo depois sorriu.
"Eu quero um Americano para tomar aqui, e um capuccino para viagem... Se puder colocar uma dosagem de veneno no capuccino eu aceito!" brincou e a moça sorriu.
"Está bem... CARA, PRECISO DE UM AMERICANO E UM CAPPUCCINO!" Ela gritou para alguém do outro lado do estabelecimento.
A menina não aparentava ter mais que 18 anos, e seus olhos afiados encaravam Jia com certa curiosidade, enquanto ela usava uma calculadora para saber o valor total da compra.
"9 dólares... Você quer um Macchiato de brinde?" Questionou e Jia negou.
"Não, me dá mais um Americano e está tudo certo!" Exclamou sugestiva, e novamente, a menina gritou para o outro lado.
"Você não é daqui, sim?" a ruiva questionou após algum tempo.
"Eu pareço ser daqui?" Jia questionou retoricamente.
E assim, elas iniciaram uma conversa, até que os pedidos chegassem. Durante os próximos 40 minutos, conversaram sobre bobagens, e Jia contou a ruiva algumas peculiaridades de seu país. Quando se deu conta de quanto tempo havia passado, despediu-se rapidamente da menina e prometeu que iria voltar.
O cappuccino esfriaria, e com toda certeza Jane a infernizaria por todo aquele dia. Foi então que ela começou a correr; faltava 3 minutos para as 11:00 e seria um milagre se Jia não fosse demitida após aquilo. Sentiu seu celular vibrar em seu bolso, e ao olhar o nome acesso na tela, teve certeza de que, estava completamente perdida.
"Você está com algum problema?" Jane a questionou assim que a ligação fora atendida.
A jovem estava formulando uma resposta, porém, percebeu que seus cadarços estavam desamarrados. Procurou enrolar Jane, e direcionou-se a um banco, onde havia um homem sentado. Jia não conseguiu ver seu rosto - também não fez questão de tal - apenas notou que usava uma blusa preta com gola alta, um boné branco e uma máscara que tampava parcialmente seu rosto. Ela se sentou ao lado do homem, e procurou equilibrar o aparelho em seu ouvido, enquanto ouvia as reclamações de Jane.
"Eu quero você aqui em 5 minutos!"Jane gritou desligando a ligação.
"Droga..." murmurou baixinho.
Jia apenas bufou, largou o celular sob o banco e abaixou o tronco para poder melhor fazer o laço no cadarço, de modo que ele não desamarrasse quando ela estivesse correndo. Após tê-lo feito, respirou fundo, e disparou-se a correr. Chegou rapidamente na intercessão da rua 9 com a 8 - ela nunca fazia questão de lembrar o nome das ruas, apenas decorá-las por número - o estúdio ficava a 3 ruas dali. Atravessou um amontoado de carros, e correu um pouco mais.
Passou pela 3 rua um pouco antes dos carros passarem, e enfim, chegou ao estúdio. Checou se o cappuccino havia esfriado, e dirigiu-se para a sala da Jane. Respirou fundo antes de entrar, deixou algumas batidas na porta, e, quando ouviu a confirmação, abriu a estrutura de madeira.
"Você ficou quase uma hora fora, espero que meu cappuccino não tenha esfriado!" Jane exclamou calma.
Jia achou que seria a maior gritaria, e faria um escândalo, mas nada daquilo aconteceu. A jovem apenas entregou a Jane seu cappuccino, ela sorriu - a moça achou aquilo estranho - e depois pediu para que a mesma, se sentasse.
"Eu, fui até o Damon para lhe entregar o moletom como você pediu..." começou bebericando o conteúdo que havia no copo.
"Então?" Jia questionou claramente empolgada
"Ele não aceitou que você devolvesse-"
"Como não?" Jia interrompeu a maior incrédula.
"Não sei, acho que ele pensou que você fazendo isso, estava a procurar alguma aproximação... Afinal, ele é um artista famoso e você...
"Um ninguém..." completou indiferente. "Está bem, eu já entendi. Diga a ele para não se preocupar que eu não estou a tentar aproximação alguma..."
"Fico feliz que tenha entendido isso numa boa..." Jane concluiu. "Você não se mistura com gente como ele... E ele não se mistura com gente como você."
Aquela frase atingiu a jovem feito uma facada, parecia tão irreal aquilo estar acontecendo. Damon havia sido um completo cavalheiro, e demasiadamente atencioso. Jia não engolia aquilo, mas por um lado parecia fazer sentindo em sua cabeça. Afinal, a maioria dos ídolos famosos agiam desta maneira. Como se ali, houvesse uma hierarquia invisível, e Jia estivesse abaixo de todas aquelas pessoas.
Ela de fato não estava.
Embora não houvesse ninguém para avisá-la sobre isso.
Ela apenas segurou suas lágrimas, controlou as mãos trêmulas e ignorou seu coração magoado batendo fortemente dentro de seu peito. Não demonstraria fraqueza, ali na frente dela, tampouco para si mesmo.
"O Leo não te avisou, mas hoje vamos encerrar os serviços às 13:00... Você também será liberada." Jane ditou antes que a jovem saísse.
Ela apenas assentiu e fechou a porta, andou cabisbaixa até o banheiro. Lavou seu rosto e respirou fundo, encarou o seu reflexo no espelho e tentou sorrir.
"Não deixa essa merda derrubar você... " Murmurou baixinho para si mesmo. "Não deixa..."
Logo quando o expediente acabou, Jia saiu do estúdio o mais rápido que pôde. Andou apressadamente pelas ruas da cidade até que chegasse na estação de metrô, e esperou na plataforma durante 15 minutos, até embarcar. O caminho fora rápido, e logo ela já estava subindo as escadas para chegar até o dormitório.
Como saíra mais cedo aquele dia, a jovem estava com a disposição para comparecer à aula, e assim faria, se não fosse um sentimento estranho que lhe atingia cada vez que Damon aparecia em seus pensamentos. Continuou a subir as escadas, e não demorou muito para encontrar Jacob no meio do caminho.
"Que carinha é essa?" Jacob questionou assim que se aproximou.
"Carinha de quem está cansada!" respondeu indiferente. Jogou a mochila no chão e sentou-se no banco fechando seus olhos. "Eu acho que eu vou dormir pra sempre."
"Que horror!" Exclamou sorrindo de forma nervosa. "Você está muito negativa hoje... Eu acho que a gente pode mudar isso!"
"Como assim?"
"Eu tenho uma coisa para falar... Acho que vai mudar seu dia." Continuou enquanto buscava algo em seu celular."
"Duvido muito, mas arrisque..."
"OK... O primo de um amigo, tem um amigo que tem um tio, que está querendo arrecadar uma grana com um apartamento lá no centro... É um lugar que você pode pagar, mas é pequeno. Tem um quarto, um banheiro, uma cozinha e área de serviço... É mobiliado e tem uma vista privilegiada... Você está interessada?"
"Claro que eu estou, Jack!" exclamou animadamente. "Como eu entro em contato com ele?"
"Eu tenho o número de telefone, e o do WhatsAap dele..."
"Espere eu vou ligar, só preciso achar..." Jia pausou a fala quando passou as mãos em seu bolso e não achou seu celular.
Levantou-se rapidamente em direção a mochila, abriu todos os bolsos e a virou de ponta cabeça. De lá caíram vários pertences, roupas, relógio... Menos o seu celular.
"Droga, cara!" gritou furiosa. "Eu acho que perdi o meu celular."
4 horas antes.
Damon estava inquieto, andava de um lado para o outro dentro de seu quarto. Depois da visita de Jane, ele sentia uma necessidade peculiar de ir até o estúdio apenas para encontrar aquela moça outra vez. Levantou-se decidido, apanhou o boné branco e a máscara preta, pegou as chaves da moto; e quando ninguém estava olhando, Damon saiu - ele sempre fizera isso, pois odiava ter que dar satisfação às pessoas-. Não cumprimentou o porteiro, estava apressado demais para chegar ao estacionamento.
Após isso, colocou o capacete e ligou a moto, pisando firme no acelerador, seguindo em rumo ao estúdio. Seu coração estava a mil, batia cada vez mais forte quando se lembrava do sorriso daquela mulher, e ele nem mesmo sabia o seu nome. De repente, algo lhe veio a cabeça. E ele lembrou que não havia o que dizer a ela quando a visse, e por isso precisava pensar em um motivo plausível para não parecer um arrogante ou desesperado. Estacionou a moto na frente de um estabelecimento qualquer, e decidiu que chegaria ao estúdio caminhando. Milhares de coisas passavam por sua cabeça, mas nenhuma delas pareciam ser boas o bastante para aquele tipo de situação. Após 15 minutos de caminhada, chegou a um parque. Não tão longe, achou um banco para se sentar. Procurou diversos meios de como se aproximar de uma pessoa, mas aquilo só o deixava ainda mais idiota.
Então fora em um minuto aleatório, que Damon realmente soube que o universo realmente estava conspirando ao seu favor.
Ele estava distraído com os pombos, quando percebeu alguém se sentar ao seu lado. Ele não encarou de imediato, mas percebeu ser uma mulher. Contudo, ao ouvir o soar daquela voz, que aparentemente estava mais nervosa que o normal, teve certeza de que, ele não precisava estar em lugar algum, se não naquele parque.
"Droga..." ouviu ela murmurar baixinho.
Damon permitiu-se sorrir, observou ela colocar o celular desajeitadamente sobre o banco, em seguida amarrar o cadarço. Virou o rosto apenas por alguns segundos, porque pensou que ela pudesse encará-lo. Porém, quando virou novamente, ela não estava mais lá, embora seu telefone tenha sido esquecido sobre o banco.
Quando ele a procurou com os olhos, pôde constatar que a mesma já estava muito longe, e a única coisa que lhe foi suposto a fazer, fora gritar:
"Moça, você esqueceu o seu celular!" mas era tarde demais.