Gael nunca teve vontade de sair do seu país para ir visitar os outros. O único lugar que lhe interessava ficar era Ilhabela, onde seus amigos e o seu lugar secreto estavam.
Seu pai resolveu utilizar o avião particular para evitar atrasos no aeroporto de Guarulhos, já que teriam que viajar até a cidade por Ilhabela não possuir um aeroporto.
As empregadas já haviam colocado todas as malas no compartimento de trás da Limusine, e a madrasta e seu irmãozinho já haviam entrado.
Gael observou os arredores de sua casa uma última vez, se voltando para as empregadas e os outros funcionários que trabalhavam na mansão.
_Muito obrigado pelo serviço de cada um enquanto eu e minha família estivemos aqui... Eu praticamente cresci com cada um de vocês e alguns que infelizmente tiveram que sair. Então novamente, muito obrigado por tudo, e continuem sempre com esse trabalho excelente.
Todos os funcionários sorriram e agradeceram.
_E é claro que não poderíamos nos despedir de vocês sem antes lhes dar uma lembrancinha_disse Ulices._Elas estão no jardim de trás da mansão. Espero que gostem.
O grupo dos funcionários se agitou em animação.
_Queria pedir que entregassem duas das lembrancinhas aos meus amigos Cristian e Flávia_completou Gael._As deles estão em saquinhos dourados... Se algum de vocês puder fazer esse favor.
_Sim, senhor Gael_responderam os funcionários.
_Estão liberados por hoje_ordenou Ulices.
_Tenham uma boa viagem_falou o grupo como se fossem um coral de despedida contratado pelo seu pai.
Todos os funcionários, de menos o motorista, se retiraram de perto da Limusine e voltaram para a mansão.
_Vamos_disse Ulices colocando a mão nas costas de Gael.
Os dois entraram na Limusine e seguiram em direção ao aeroporto.
{Aeroporto de Guarulhos, São Paulo}
O carro estacionou bem a frente de um enorme jato branco com detalhes em azul e vermelho. Bom, talvez Teresa tivesse exagerado com as palavras ao chamá-lo de avião no jantar de ontem. Podia-se ver pelo seu tamanho que ele parecia ter o número exato de assentos e passageiros. Um veículo "pequeno", mas bem luxuoso por dentro.
Anny já estava parada ao lado das escadas do avião, olhando freneticamente para Gael saindo de sua Limusine. Ele deixou o motorista e alguns outros funcionários levarem as malas para dentro, enquanto pegava Brian no colo e o levava em sua direção.
_Então você veio_disse Gael.
_Claro que sim_respondeu Anny._Meus avós disseram que me matariam se eu perdesse essa oportunidade.
Gael sorriu.
_Fico feliz por você ter aceitado vir... E pode me chamar de Gael se quiser. "Senhor" me faz parecer um idoso de 70 anos.
Anny deu uma risada.
_Pode deixar.
Brian encarou os dois, e não perdeu tempo para zoar com a cara do irmão.
_Maninho, quem é essa mulher?... Por acaso é a sua namorada?
Anny parecia não saber onde enfiar sua cara depois de escutar aquelas palavras. Gael também ficou meio desconfortável aos ouvi-las, então desceu o irmãozinho e colocou a mão sobre sua cabeça.
_Que tal você entrar no jatinho? Hum?... Tem uma cesta enorme de chocolate lá dentro só para você.
_Sério?!_disse Brian, não perdendo tempo e correndo direto para dentro do jato.
Gael olhou para Anny novamente e viu que a garota estava com vergonha de olhar para ele de volta.
_Me desculpe pelo meu irmãozinho... Ele meio que está naquela fase de falar tudo o que pensa.
_N-Não tem problema...
_Aí está você, senhorita Anny_disse Teresa se aproximando com aquele barulho irritante do salto colidindo no chão.
_Bom dia, senhora Teresa_disse Anny um pouco tensa.
_Vejo que fez a escolha certa ao querer vir conosco para a Tailândia.
Ao observá-la, Teresa tinha uma postura tranquila e confiante assim como antes, mas Gael sabia que por trás daquele fundo de garrafa escuro que ela chamava de óculos de sol, seus olhos estavam julgando até mesmo a alma de Anny, assim como sempre faziam com ele e seu irmão.
_As pessoas como você são loucas para viajar a lugares como esse. Mas é uma pena que não possam ir quando sentem vontade.
_O que você...?!
_Aliás_disse Teresa, interrompendo Gael antes que ele dissesse algo ofensivo._Você conseguiu fazer a agenda de Gael para segunda-feira?
_S-Sim, claro_respondeu Anny gaguejando._Vou avisá-lo dos compromissos assim que chegarem do jantar com a família Ayutthaya.
_Muito bem_Teresa olhou com um olhar de desdém para Gael e subiu as escadas do jato.
Se Gael pudesse, talvez ele teria voado no pescoço daquela bruxa velha, mas a lei e obviamente sua consciência não o deixariam fazer aquilo. Seu punho estava se apertando tão forte, que suas unhas deixaram marcas por toda a palma de sua mão.
Anny de repente segurou seu punho cerrado e olhou em seus olhos.
_Gael... Acho melhor entrarmos agora.
_Ela está certa filhão_disse Ulices._O jato já está pronto para partir.
Gael olhou nos olhos de Anny. Eles pareciam lhe dizer que não precisava se irritar, que estava tudo bem.
Ele se voltou para o pai e assentiu com a cabeça, entrando no avião logo atrás da garota.
Assim que todos se sentaram em seus devidos lugares, as escadas do jato se encolheram para dentro e a porta se fechou, ligando os motores e finalmente decolando do aeroporto.
***
Após várias e várias horas sobrevoando a linda e majestosa paisagem de nuvens no céu, mudando de tempos em tempos para dia, tarde e noite, uma enorme cidade surgiu abaixo deles.
Ela era dividida por um extenso rio, com alguns pequenos barcos de pesca e lanchas nos decks. Mas, o que lhes chamava a atenção, eram os enormes prédios ao fundo daquele amontoado de casas iluminadas. Cada uma das construções eram tão lindas e modernas que por pouco não deixaram Gael boquiaberto.
_Bem-vindos a Bangkok_disse o piloto do jato.
_Finalmente..._suspirou Gael aliviado. Ele olhou para seu ombro e percebeu que Anny havia adormecido novamente._Anny.
A garota lentamente foi abrindo seus olhos, e quando percebeu, estava escorada nos ombros de Gael.
_Senhor, quer dizer, Gael?!_ Anny se levantou assustada e envergonhada por estar naquela intimidade com o seu chefe.
Brian olhou para os dois com sua décima barrinha de chocolate nas mãos.
_É...com certeza eles estão namorando.
Teresa olhou para o garotinho e depois estreitou os olhos na direção de Gael e Anny. Podia-se ter certeza de que aquela expressão na era nada boa.
_Quanto tempo até pousarmos?_perguntou Teresa ao piloto.
_Daqui dez minutos, senhora Teresa_respondeu o piloto.
_Recebemos um aviso do aeroporto de Suvarnabhumi que o carro do senhor Kaden Ayutthaya já está a sua espera_completou o copiloto.
_Ok, obrigada.
Gael ficou surpreso ao saber que aquela mulher sabia agradecer pelas coisas. Aquela frase meio que não combinava com a personalidade insuportável que ela possuía.
***
Mais dez minutos se passaram, e o jato finalmente fez o seu pouso na pista do aeroporto de Suvarnabhumi.
Gael, Anny, Brian, Ulices e Teresa desceram as escadas do veículo e já deram de cara com o carro que Kaden mandou para buscá-los. Na verdade, o "carro" se tratava de uma Limusine Colossus de cor preta, maior que a de seu pai em Ilhabela.
O motorista aproximou-se e se curvou diante dos cinco.
_Sejam muito bem-vindos a Bangkok, senhor e senhora Salles.
_Muito obrigado..._Ulices olhou de relance o crachá do motorista._Thahan.
_Vou ajudar com suas malas... O senhor Kaden e sua família estão esperando por vocês na mansão Ayutthaya.
Ulices assentiu e deixou o motorista passar para pegar as malas no jato. Depois, se dirigiu a porta e a abriu para que Teresa e Brian pudessem entrar.
_Pai_chamou Gael.
_O que foi filho?
_Vou ajudar Anny com as malas e levá-la para casa antes de jantar com os Ayutthaya.
_Filho, acho melhor não... Está muito tarde agora. Você ainda não conhece as ruas daqui.
_Nós vamos de Uber. Vai ficar tudo bem... Só estou preocupado com Anny andando por aí sem saber falar tailandês.
Ulices ainda assim parecia preocupado com o filho. Demorou quase um minuto até ele ser convencido.
_Tudo bem... Mas por favor, tomem cuidado.
_Pode deixar.
_O apartamento dela fica no prédio Starry Night, no centro da cidade_Ulices tirou seu celular do bolso e mandou um endereço para Gael no Whatsapp._E esse daqui é o endereço da casa dos Ayutthaya... Por favor, não nos envergonhe chegando tarde.
_Ok.
Nas escadas do jato, Anny separava suas malas de uma forma desajeitada. Gael se despediu do pai com um abraço e foi ajudar a garota.
_Deixa eu te ajudar com isso_Gael pegou a mala e ajudou a colocá-la no chão.
_Obrigada_disse Anny.
Ela observou a Limusine dando partida e saindo do aeroporto.
_Por que não está na Limusine com sua família?
_Vou me encontrar com eles mais tarde_respondeu Gael._Agora eu vou te levar para o seu prédio.
_N-Não precisa se preocupar com isso, de verdade... Eu posso chamar um taxi e ir sozinha.
_Claro que preciso_disse Gael como se a resposta fosse óbvia._Não posso te deixar aqui sozinha enquanto como peixe cru com desconhecidos.
Anny deu uma risada.
_Você quis dizer, sushi?
_Isso mesmo.
O estômago de Anny roncou pedindo comida com urgência. Ela colocou a mão sobre o abdômen e olhou para os arredores, mas tudo naquele lugar parecia ser um monte de hieróglifos em formato de placas.
_Vamos comer alguma coisa antes de irmos_disse Gael._Eu não como nada gostoso desde que saímos de Ilhabela.
Anny sorriu.
_Então somos dois...
Gael pegou na alça das duas malas mais pesadas de Anny, e a garota pegou em uma outra mais leve junto a sua bolsa de ombro.
A Limusine já havia partido a algum tempo, e agora, os dois estavam sozinhos pelas ruas da até então desconhecida, cidade de Bangkok.