Capítulo 2 Eu tenho Escolha

O sol já tinha despontado no topo das colinas, iluminando a planície dos campos, agraciando as diversas variedades de plantações com o seu calor dizendo que o dia já começou. O galo nem tinha acordado e muito menos cantado, mas os aldeões já estavam de pé, ordenhando as vacas, levando o gado para pastar, alimentando as galinhas, os porcos, as ovelhas, os cavalos e os animaizinhos de estimação. Suas adoráveis esposas estavam acordando os filhos para se arrumarem para os afazeres, enquanto preparavam o café da manhã e esperavam mais um dia atípico no vilarejo.

Os comerciantes já estavam com suas tendas montadas, expondo seus produtos que já começara a atrair vários compradores que acordavam cedo para aproveitar o melhor das mercadorias. E não era apenas simples aldeões que se via passeando entre as diversas tendas pelo comercio, criados dos reis e rainhas, elfos, bruxas, ogros, orcs, ninfas e outras demais criaturas vinham de muito longe para se deslumbrar com o comercio tão organizado, limpo e cheio de variedade que o simples vilarejo sempre proporcionava. A fama do vilarejo ia longe e sempre atraia mais visitantes e alguns um tanto indesejáveis.

O sol já estava marcando oito horas da manhã e a luz já começava a adentrar no quarto, não uma luz forte, mas era suficiente para iluminar todo o cômodo e para me despertar do meu sono de beleza e me obrigar a abrir os olhos, apesar de não querer acordar sempre gostei de contemplar o aconchego do meu lar, me pergunto se uma dia irei lembrar desse quarto com o sentimento de saudade. A janela de madeira envelhecida estava entreaberta fazendo com que a luz do sol entrasse conforme a brisa balançava as cortinas de seda lilás e azul, me vi obrigada a levantar do aconchego da minha cama. Obrigo meu corpo a sentar na beira da cama e calço minhas alparcas feitas de pelo de lobo preto com detalhes lilás, arrumo os lençóis, a coberta e os travesseiros em posições organizada na cama. Caminho até a janela abrindo as cortinas e a forte luz fez com que meus olhos ardessem um pouco, me forçando a fechá-los com força e abri-los devagar para que se acostumassem com a luz, abro a janela e caminho até minha pequena sacada de madeira que acomodava uma pequena cadeira feita de troncos e galhos de arvores, revestido com uma aconchegante almofada vermelha, pendurada no teto por correntes de bronze o que deixava a cadeira suspensa pouco centímetros acima do chão, as roseiras e dálias que eu havia plantado por toda sacada fazendo um semicírculo perfeito já estavam acordadas exibindo toda a sua beleza.

- Eu amo esse lugar – Digo olhando para além da sacada e vendo o vilarejo onde moro – Está um belo dia lá fora e nada pode estragá-lo – Falo observando o agitado vilarejo que se encontrava lá em baixo.

Os comerciantes estão a todo vapor fazendo propagando dos seus produtos, os aldeões e os visitantes passando de tenda em tenda para aproveitar as belíssimas mercadorias, não é por nada não, mas nosso comercio é o mais incrível de todo esse reino, tão excelente que os reis mandavam seus criados saírem dos castelos e virem comprar as coisas aqui no nosso humilde vilarejo. As crianças corriam e brincavam, umas corriam para não perderem o horário da escola, outras brincando, guardas andavam em toda a parte protegendo seus aldeões, namorados nas ruas aproveitando a vida com mais amor, cada um se divertindo à sua maneira e levando a vida como pode.

- Bom eu tenho que me arrumar e descer para começar o meu dia – Digo inspirando aquela brisa fresca com cheiro de pães, doces e perfumes que o vento levava com ele, dou um sorriso e entro para me arrumar.

A casa de meus pais não era simples, tínhamos um certo status então podemos dizer que somos uma família mediana, não somos ricos igual ao rei, mas digamos que temos uma certa riqueza, em nosso vilarejo somos ricos, porém só em nosso vilarejo mesmo; meus pais possuem uma fama que os seguem, meu pai é o ferreiro mais famoso do reino, os melhores armamentos é ele quem faz, por causa da sua fama se tornou o ferreiro renomado do rei, minha mãe é a melhor artesã de todo o reino e também foi renomada pelo rei e por isso suas mercadorias são tão solicitadas. Tínhamos uma vida perfeita e uma casa maravilhosa, mas apesar dos incríveis cômodos que tinha eu escolhi o que mais se parecia comigo, nunca gostei de coisas muito luxuosas, pelo contrário, gosto de coisas simples, acho que em minha vida passada devo ter sido uma fada ou uma artesã da floresta pelo meu gosto rustico para as coisas.

Meu quarto era composto por uma grande cama do lado direito, onde em cada lado colocadas calculadamente para serem um reflexo perfeito do outro, se encontrava duas pequenas cômodas com três gaveteiros, onde fica uma pequena moldura em forma de árvore com pequenas flores roxas que se acendiam durante a noite, o que sempre me ajudava a ter bons sonhos. Do lado direito encostado ocupando toda a parede um lindo, rustico e grande armário de quatro portas todo feito de madeira vermelha descansava, um espelho grande com uma pequena cômoda, se posicionava entre as grandes portas do armário, a sua ausência de gaveteiros deixava espaço para uma bela cadeira de madeira branca com almofadas roxas que descansava lindamente. Aquele é o meu cantinho da beleza, onde eu tirava um tempo para me arrumar, mas só quando eu estava afim ou quando tinha que sair como meus pais. Pentes, perfumes, colares, anéis e diversos elixires para o cabelo e para a pele estavam delicadamente colocados em frente ao espelho.

Em frente a cama, uma pequena mesinha de centro se encontrava em cima de um tapete de camurça vermelho escuro, com pequenas almofadas redondas lilás e azul que serviam de assento. Alguns livros, cadernos, pinceis, tinteiros e coisas de estudo se encontravam organizados em cima da pequena mesa. Logo a frente, encostada na parede, uma mesa grande se encontrava com livros, tintas, pinceis, projetos inacabados espalhados por toda parte, organizados é claro, mas por toda a parte, histórias inacabadas, materiais de estudo. Esse é o lugar onde eu passo a maior parte do meu tempo, em projetos para ajudar meu pai na forja de armas e armaduras, desenhos de lugares que eu sonhava e entre outra das minhas bagunças organizadas.

Ao lado da mesa se encontrava uma porta que leva até ao banheiro, simples, mas aconchegante, uma banheira de bronze se encontrava em baixo de um grande chuveiro que já me salvou depois de um dia super cansativo. Uma pia com recipientes de sabonetes e elixires para banho, escovas e pentes estavam em cima de um pequeno armário que guarda lenços, toalhas e produtos para repor os que acabassem dos frascos que se encontram em cima da pia. Um pequeno espelho redondo descansava lindamente logo acima, um vaso, um cesto para roupas sujas, um cesto para colocar os lenços e papeis sujos e um galho retorcido e trançado com fios de bronze se encontrava preso na parede com toalhas limpas.

Caminhei preguiçosamente até o banheiro fechando a porta atrás de mim e dei início ao meu processo de me arrumar para mais um belo dia. Tomo meu banho com uma combinação de elixes para aguentar o longo dia que me espera, pois irei ajudar meu pai nas entregas hoje. Faço minha higiene pessoal, penteio o cabelo e enquanto ele seca, caminho até o armário para escolher uma roupa, abro as quatro portas para ver minhas opções, mas por fim acabo escolhendo uma calça preta, uma camisa de manga curta na cor azul, uma bota marrom, porque assim não vai aparecer tanto o barro e o pó quando estiver na estrada com o meu velho. Passo uma maquiagem leve no rosto com cores neutras, pois odeio chamar atenção. Assim que termino de me arrumar prendo o cabelo em um coque rebelde com alguns fios soltos e finalizo colocando pequenas dálias lilases e azuis para prender mais ainda o coque, o deixando mais firme, para aguentar o dia de trabalho pesado.

Assim que termino desço as escadas para encontrar minha família se preparando para tomar o café que minha linda e amada mãe acabou de fazer. Meu pai e meus dois irmãos mais velhos Caleb e Tyler estavam discutindo sobre o trabalho e sobre o treinamento que eles tinham sido convocados a começar, eles agora estavam treinando para serem guerreiros do rei, o que é uma grande responsabilidade e uma enorme honra. Os pequenos gêmeos Grace e Billy estavam alimentando os nossos cachorros Hunna e Horlus e as minhas duas irmãs mais novas (apenas por questão de um ano, elas sempre fazem questão de lembrar esse detalhe) Meredith e Marry estavam sentadas esperando a família para o café, apesar delas não serem gêmeas, elas se parecem muito, eram melhores amigas. Nunca tive um relacionamento ruim com ninguém da minha família, amo meus pais e eles são muito importantes para mim, Grace e Billy eram meus irmãozinhos e eu amavam brincar com eles e com os cachorros, me dava bem com Meredith e Marry, mas elas preferiam ficar só entre elas duas, então não tinha muita intimidade com elas, agora Caleb e Tyler eram meus melhores amigos, talvez seja pelo meu jeito meio garoto e por gostar de armas e essas coisas, sempre nos demos muito bem, contávamos tudo uns para o outro, eles sempre me protegiam e sempre assustava os rapazes que se interessavam por mim, o que na verdade eu agradecia muito a eles. Saber que eles estavam partindo para treinar e que eu não os veria por um longo tempo acabava comigo, mas eu estava feliz por eles e tenho certeza que eles serão excelentes guerreiros.

Assim que meu pai e meus irmãos acabaram de conversar, nos assentamos todos a mesa e comemos o delicioso café com frutas, chá, café da horta, ovos, bacon, pão, queijo e suco de laranja. Conversamos e rimos muito. Depois do café, ajudamos arrumar a casa e fizemos nossas tarefas antes de sair. Ajudei meus irmãos a fazerem as malas, conversamos enquanto preparávamos os cavalos, chorei muito, confesso, nos abraçamos e relembramos alguns momentos entre nós três, eles se despediram da família e saímos os três cavalgando, eu os acompanhei até o limite do vilarejo me despedi deles.

- Confesso que vou sentir saudade de vocês seus rabugentos – Digo, isso nos fez rir por um tempo, então fitei o imenso horizonte a frente e pensei nas aventuras que eles teriam – Vocês agora são homens do rei e vão ter um caminho longo pela frente – Eu tentava conter as lagrimas.

- É – Diz Caleb do meu lado – Vamos sentir sua falta irmãzinha – Me dá várias tapinhas no ombro – Toma conta da mamãe e do papai, eles vão precisar de você para fazer o trabalho pesado agora.

- Pelo menos agora vai criar responsabilidade – Fala Tyler caindo na gargalhada – Vamos voltar para visitar sempre que possível.

- Agora você estará por sua conta irmãzinha, mas lembre-se: nunca estará sozinha – Caleb fala sabendo exatamente no que eu estava pensando – Estaremos sempre pensando em você, e lembre que quando se sentir perdida ou sozinha, olhe para cima e as estrelas te mostrarão o caminho – Ele sorri para mim.

- Temos que ir agora se quisermos chegar ainda hoje – Diz Tyler sorrindo, mas um sorriso triste – Vamos sentir sua falta menina-garoto – Me dá um soco de leve no ombro.

- Vê se mandam notícias viu – Digo olhando para os dois – Não nos deixem preocupados demais, nos escrevam sempre que possível, está bem? – Dessa vez tinha um tom de pergunta em minha voz.

- Pode deixar, mãe – Os dois falam ao mesmo tempo – Até mais irmãzinha – Dizem batendo as botas no dorso do cavalo o fazendo começar a andar.

- Lembre-se, somos nós três contra o mundo – Começou Caleb.

- Somo as três estrelas do cinturão – Continuou Tyler.

- E nada pode nos separar – Digo segurando as lagrimas.

- Nem mesmos se um de nós morrermos – Disse Caleb sorrindo.

- Estamos para sempre ligados – Continuou Tyler piscando para mim e assim os dois começaram a acenar em sinal de até logo e os cavalos começaram a correr mais rápido.

- Essa é a nossa sina – Digo acenando de volta e sorrindo ao me lembrar da primeira vez que fizemos esse juramento.

Fiquei ali parada vendo-os seguirem seu caminho até que os dois desapareceram no horizonte. Peguei meu caminho de volta para casa recordando de nossos momentos juntos, em alguns instantes já havia chegado em casa. Desmontei do cavalo e o entreguei a Meredith e Marry que ficariam responsáveis pelos estábulos hoje, me juntei ao meu pai, que estava preparando a carroça e os cavalos, colocamos as entregas que seriam feitas hoje e tudo que íamos precisar. Começamos a seguir o nosso caminho

E assim deu início ao dia que mudaria a minha vida para sempre.

O decorrer daquele dia foi longo e tínhamos muitas paradas pelo caminho, afinal eram muitas entregas para se fazer, mas apesar de tudo passou mais rápido do que eu imaginei. No período da manhã realizamos todas as pequenas entregas em todos os reinos e lugares que estavam marcados para aquele dia, por serem pequenas, terminamos todas antes do almoço, fizemos uma pausa para uma pequena refeição que minha mãe tinha preparado para nós. Assim que terminamos seguimos para nosso destino final, o castelo da rainha, deixamos essa entrega por último porque além de ser o local mais perto de casa, também era a mais grande e ficaríamos um tempo até descarregar as mercadorias e encaminhar cada uma ao seu devido lugar.

Apesar de eu amar passar um tempo com o meu velho, eu tenho que admitir não era um trabalho fácil e sempre levava quase o dia todo, mas sempre amei quando tínhamos entregas para fazer pois assim passávamos mais tempo juntos, curtindo a companhia um do outro, cantando canções e profecias antigas que foram escritas em formas de cantigas, ouvindo as histórias das aventuras de meu pai ao lado do grande guerreiro, algumas de suas aventuras e missões ao lado do seu melhor amigo, historias de quando ele conheceu minha mãe, isso quando não estávamos criando historias para passar o tempo, ele me ensinava sobre as profecias, mitos, lendas e contos antigos. E assim nosso dia era agradável e eu amava isso.

Assim que finalizamos a última entrega para a rainha, voltamos para o vilarejo e a tarde já tinha dominado quase todos os campos, isso era um sinal de que já estava na hora de colocar os animais para descansar. O comercio já estava fechado, mas os aldeões ainda se encontravam nas ruas conversando e aproveitando que fazia uma tarde fresca para se reunirem, um costume em nosso vilarejo. Nos dirigimos ao estabulo, desmontamos dos cavalos, colocamos cada um em seu devido lugar e os alimentamos. Entramos, tomamos um banho, nos arrumamos e saímos para participar da grande fogueira e da roda de canto. A noite logo tomou conta do vilarejo, a brisa fresca, o cheiro doce no ar despertava os animais noturnos em um coral harmônico anunciando que estava na hora de descansar, as estrelas brilhavam intensamente e o cenário se tornava cada vez mais convidativo para ficarmos ali mesmo e aproveitarmos mais a noite, mas todos tínhamos muito o que fazer no outro dia e isso era motivo para todos descansarem. Todos se despediram e demos espaço para os guardas tomaram seus postos.

Estava tudo calmo, tranquilo e quieto lá fora, agradeci, pois assim teria uma bela noite de sono. Logo adormeci. Tempos depois, quando já devia ser de madrugada, ouvi um barulho nas ruas, mas creio que ninguém deu muita importância porque os salteadores da floresta sempre apareciam para se aproveitar das nossas plantações, criações de gado e até mesmo saltear dentro de nossas casas. Como os guardas sempre os pegavam não me preocupei tanto e tentei me forçar a voltar a dormir, porém, um tempo depois, percebo uma agitação em minha casa e sou despertada de meu sono por minha mãe que tapava minha boca e fazia um sinal para que eu fizesse silêncio, confesso que não entendi nada mais pude perceber o medo, terror e preocupação em seus olhos. Descemos a escada e encontramos meu pai, minhas irmãs e meu irmãozinho em pé na sala preocupados e andando de um lado para o outro, mas o que mais me deixou sem palavras era que a rainha também estava presente, mas não era a rainha em pessoa e sim o fantasma ou o espirito dela, assim que me viu sorriu tentando transmitir tranquilidade e disse.

- Que bom que está segura, Karen – Ela disse sorrindo – Peço perdão por aparecer assim do nada, no meio da noite e mais ainda por ter acordado vocês, mas estamos sob ataque, o castelo foi tomado logo após que vocês retornaram para o vilarejo...

- Tomado, como assim tomado, majestade? – Perguntou meu pai – Quer dizer que também corremos o risco de sermos atacados?

- Assim que vocês saíram fomos atacados de surpresa por inimigos poderosos e portadores de magia negra, tentamos de tudo, mas não éramos páreos para eles, e assim o castelo infelizmente foi tomado, estou sendo mantida como prisioneira e por isso não posso estar fisicamente presente com vocês.

- Majestade, se está sendo mantida como refém, perdão pela minha indelicadeza, mas o que a rainha faz aqui em nossa casa? – Pergunto querendo respostas, mas percebo os olhares da minha família querendo dizer "Isso é jeito de falar com a rainha".

- Eu vim aqui para buscá-la, Karen – Responde caminhando em minha direção – Está na hora, Leonard e Stheicy.

- Mas agora? – Pergunta minha mãe me abraçando – Ela ainda não está pronta.

- Stheicy está certa majestade – Confirma meu pai – Ela ainda é uma criança e não está pronta.

- Mas estará daqui alguns meses – Diz sorrindo para mim – Ela não é mais uma criança e não temos tempo a perder, temos que partir agora.

Assim que acabou de falar um estrondo muito forte veio lá de fora e depois, gritos, não precisava ser um soldado para saber que se tratava de uma bomba, um medo tomou conta de mim, o que estava acontecendo e o que eles querem dizer com está na hora? Tantas perguntas, tantas dúvidas, mas por que eu acho que nenhuma delas serão respondidas agora?

- Temos que ir agora – Diz a rainha em um tom de autoridade e eu sabia que recusar não era uma opção.

- Para onde vamos? – Pergunto confusa.

- Para fora do vilarejo – Ela responde se dirigindo a porta dos fundos onde dois guardas estavam esperando – Esses guardas levaram suas irmãs e seu irmão para um lugar seguro e seus pais e eu te levaremos para um lugar fora do vilarejo.

- Mas minha família não vai junto? Não posso deixá-los aqui.

- Eles estarão mais seguros se você partir – Ela diz se virando para os guardas e dando as instruções – Você pode salvá-los, mas para isso tem que partir e voltar quando estiver pronta.

- Mas pronta para que? – Pergunto mais confusa ainda.

- Tudo ao seu tempo.

- Filha, sei que está acontecendo muito rápido e gostaria muito de ter tempo para explicar, mas temos que seguir as ordens da rainha, ela sabe o que está fazendo – Diz minha mãe sorrindo e acariciando meu rosto para me acalmar.

Confirmo com a cabeça, me despeço das minhas irmãs e do meu irmãozinho, abraço todos, eles se despedem de nossos pais e assim os vejo desaparecer com aqueles guardas.

- Temos que partir agora – Diz a rainha flutuando a nossa frente.

Confirmamos com a cabeça, depois de pegar uma capa colocar em minhas costas e puxar o capuz em minha cabeça, minha mãe pega uma bolsa pequena com uma refeição para um dia, pois não queria que eu passasse fome, depois acompanhamos a rainha e fechamos a porta quando saímos bem a tempo de ver nossa porta da frente sendo arremessada por um guerreiro com olhos totalmente pretos e um bando de soldados com aparência estranha entrando e vasculhando tudo pela frente. Seguimos a rainha pelo fundo da casa e fomos na direção oposta a que os guardas seguiram, estávamos indo na direção da floresta Alaks, quando vi não acreditei, quem seria louco o suficiente para se aventurar na floresta Alaks a noite e sem a permissão dos deuses? Ah, espera, eu.

Caminhamos abaixados evitando sermos vistos. O vilarejo estava um caos, guardas e aldeões que sabiam lutar estavam travando uma batalha feroz contra um exercito um tanto estranho, estávamos andando rápido e sem olhar para trás e nem percebemos quando começamos a ser seguidos por três deles, quando paramos para analisar o caminho, ouvimos um som esquisito, como um grunhido de leão mas ao mesmo tempo parecia alguém tentando falar. Sinto uma respiração em meu ombro, quando me viro para trás solto leve grito ao ver o ser que se encontrava ali, um corpo morto, porém se movendo, com um odor horrível, não estava em estado tão avançado de decomposição e por isso dava para ver que se tratava de um soldado morto, um não, três deles, meu pai correu a frente e sacou a espada que ele havia pego em nossa casa e num giro atingiu os três e eles desapareceram como fumaça no ar, aquilo foi estranho mas não o suficiente para nos fazer parar.

Seguimos caminhando apressados, porém agachados, mas em um determinado momento tivemos que nos levantar para corremos de trás de uma casa até a outra que se encontrava do outro lado da rua perto da floresta, a rainha se tele transportou com seu corpo fantasma, meu pai foi em seguida, logo após minha mãe também atravessou e então minha vez chegou, estava indo bem, mas quando chegou no meio da rua uma presença forte, porém com um ar familiar tomou conta do vento me fazendo virar em sua direção, no meio do caos e da batalha no fim da rua quase no inicio do vilarejo uma mulher caminhava calmamente, de repente ela para e eu tenho certeza que ela sentiu minha presença, pois ela parou onde estava e levantou o olhar em minha direção com aqueles olhos negros como a noite. Eu posso ter imaginado ou ficado maluca, mas ela deu um sorriso para mim, aquele sorriso que um assassino dá para sua vítima antes de matá-la. Nesse momento um aldeão se desequilibra e esbarra nela e na hora vejo o temor em seu olhar, quando percebo uma espada está encravada em seu abdômen, ela o matou a sangue frio e sorriu com sua morte. Não esperei para que ela voltasse a atenção em mim, me juntei aos meus pais e a rainha e seguimos em direção ao limite do vilarejo com a floresta.

Assim que chegamos fiquei com medo, triste, apavorada e quis voltar para casa, mas algo dentro de mim sabia que ela não existia mais, olhei para meus pais que sorriram para mim, meu pai me deu um abraço, um beijo na testa de proteção e disse:

- Tome cuidado Ovelhinha, estarei sempre pensando em você, e tenho certeza que logo estaremos juntos.

- Eu tenho muito orgulho de você meu amor e tenho certeza que vai achar uma forma de nos salvar – Minha mãe disse sorrindo para mim, me abraçando e me dando um beijo na testa como meu velho – Isso é para você, para quando se sentir sozinha, você se lembrar que tem uma família que estará sempre com você mesmo que de longe – Diz tirando o pingente que meu pai deu à ela.

Um pingente de ouro, no meio feito em ouro preto havia uma espada de ponta cabeça, uma linda dália se erguia na ponta da espada, seu caule dava volta por trás da lâmina e chegando quase que no pomo a flor se abre lindamente e nove estrelas que representavam toda a família formavam um círculo perfeito ao redor da espada. Colocando o pingente em meu pescoço disse.

- Nunca se esqueça estaremos sempre com você, que sua viagem seja segura minha pequena.

- Obrigada mãe e pai – Digo abraçando os dois – Não vou decepcionar vocês –Enxugo minhas lagrimas e sorrio para eles – Eu amo vocês.

- Também te amamos filha – Dizem ao mesmo tempo.

E a cena deles dois sorrindo, segurando as lagrimas e acenando para mim foi a ultima coisa que eu vi antes de adentrar na floresta Alaks, espero vê-los de novo. Não suportaria perde-los durante a missão para buscar ajuda.

Caminhamos por um tempo até termos certeza que não fomos seguidas, encontramos abrigo em uma caverna para eu descansar um pouco antes do dia realmente raiar, comi um pouco da comida que minha mãe tinha colocado na bolsa, me encostei na parede da caverna, puxei minha perna para perto no peito e apertei elas com as mãos. Ali eu me afundei em lagrimas, chorando em silencio para não atrair presenças indesejáveis.

A Visão de meus pais sendo deixados para trás não saia da minha cabeça, será que eu os verei de novo? Quem poderá nos ajudar? Será que eles tinham achado minhas irmãs e meu irmãozinho a salvo? Será que estavam bem ou foram mortos por terem me ajudado a escapar?

Aquelas perguntas juntas com a visão da minha família e do vilarejo queimando era tudo que passava em minha mente e não parava, já vi que vai ser difícil dormir um pouco nessa caverna escura e fria.

Eu estava com medo, com frio e completamente sozinha, como vai ser meu destino daqui pra frente só os deuses sabem e as vezes acho que nem eles sabem, que estão escrevendo meu destino de acordo com o que acontece na minha vida.

Mas seja como for quando amanhecesse eu ia descobrir meu destino e encara-lo de frente.

                         

COPYRIGHT(©) 2022