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CAVERNA DENTE DE TIGRE
FREDY
Minha mente está a girar, muitas imagens aparecem na minha cabeça, são como um flash de lembranças.
Senti muita dor quando aqueles idiotas estavam a espancar o meu melhor amigo, e depois disso minha visão ficou turva, não me lembro de muito mais nada, apenas o gosto de Sangue em minha língua, e não sei exatamente porquê eu estou com gosto de Sangue na boca, o que me leva a segunda pergunta, porque é que eu estou numa caverna escura.
Fecho os olhos e tento me lembrar do que aconteceu até aqui. Preciso construir um palácio da memória para eu poder me lembrar com precisão.
- Pare... – Escuto uma voz assustadora me mandando parar, tento olhar para todas as direções e não vejo nada.
O cheiro de Sangue é mais forte, porém ainda não sei de onde vem exatamente.
- Quem está aí? Quem é você e o que você quer? – pergunto assustado, meu coração acelera tanto que dá para escutar ele rufando como um tambor.
- Você ainda não sabe? Impressionante, eu sou o percursor da morte, sou a lâmina que executa o julgamento da verdade, aquele que tem as chaves do abismo e também aquele que conhece como os universos operam, eu sou aquele que nasceu antes de seu corpo e tenho todas as coisas em mim. – A resposta me assustou mais ainda, como assim lâmina que julga a verdade.
- O que quer dizer com lâmina que julga a verdade? O que é você afinal? – Pergunto e a sombra se aproxima, Tommya forma de um animal e chega perto de mim, a sombra é tão densa que quase dá para tocar.
O ar que expelido por suas narinas é quente, muito quente, tenho a leve impressão de que não estou a sonhar. Quero acreditar que tudo é uma ilusão, mas não consigo.
- Eu sou, o leão que governa o submundo cósmico, aquele que sempre protege o escolhido, aquele que faz o necessário para manter o curso do universo. Em outras palavras eu sou uma parte do animal que há em ti. – Fico mais confuso com aquelas palavras, nesse momento seus olhos brilham um Tommy de amarelo como o sol.
Vejo um corpo aqui comigo, uma mulher que pode estar morta, será que esse animal matou ela, e como assim ele é parte do animal que existe em mim?
- Vejo que não sabe ainda, isso explica porque não se lembra de nada, então quer dizer que você ainda não está pronto para me conhecer, vou-me embora, mas vou te deixar um presente, as suas lembranças, e não te preocupes com o corpo da moça que está aqui, ela não está morta, só está com ferimentos leves – Se aproxima de mim e coloca suas patas em minha cabeça.
Uma luz forte brilha e minhas lembranças voltam gradualmente.
Me lembro que eu estava preocupado com alguma coisa que não sei exatamente o que é.
Então eu cheguei na escola, e senti a dor de Tommy no intervalo, era para ele estar feliz, e não triste.
Mas seu corpo parecia estar com tanta dor que consegui sentir a sua angústia.
Me apressei e fui ver o que estava a acontecer, e acabei por ir pra cima dos agressores dele. Minhas mãos se transformaram em garras de animal, e o gosto de Sangue que tenho sentido, é de meus colegas.
Eu matei eles, eu sou um monstro, porque será que isso está a acontecer comigo? O que foi que eu fiz para merecer isso?
Minhas memórias saltam para o templo, sinto paz só de olhar para a porta, vejo Tommy e o sacerdote, estão feridos, e parece que sou a causa disso tudo. A tempestade se acalma e saio do templo. Meu corpo voltou ao normal.
Sentia cheiro de terra molhada e me fascinava, pra falar verdade cheiro do pó que se levantava quando as gotas da chuva tocam o chão.
Comecei a Correr para não me molhar e decidi Tommyar um atalho entrando pela grande floresta proibida, não podia chegar tarde à casa aquele dia, porque minha irmã exigiu que eu chegasse antes do jantar e ela odeia que não cumpram o que ela diz, ela é chata vive se aproveitando de minha falta de habilidades para a luta, por isso me bate sempre que me atraso, ou não faço o que ela quer. Apesar de preocupado com o Tommy, algo me conduz a uma direção contrária a dele.
Meu pai, Elton Ridley é uma pessoa simples, um guia turístico de bom coração, ajuda todos que precisam a maior parte são desconhecidos, vivemos numa casa que fica no topo de uma montanha, um lugar lindo de se ver.
Começo a rir quando lembro que o Tommy Sladden, o meu melhor amigo, sempre passa mal quando vem a minha casa, tanto por causa da distância e do exercício que ele tem que fazer ao subir e descer, como também pela dificuldade para respirar que tem quando chegam aqui, isso por causa da altura.
Minha irmã é faixa preta em artes marciais, mas eu estou na estaca zero, tudo por culpa de meu pai, ele nunca me permitiu aprender, para ele eu preciso passar mais tempo a meditar no templo da árvore celestial. Isso me trás a realidade de que no templo nesse exato momento tem duas pessoas feridas, começo a correr para buscar ajuda.
A floresta azul é dividida em duas partes, a floresta negra onde os turistas podem apreciar a beleza da natureza, e a floresta proibida que é densa, eu sempre entrava lá com o meu pai sempre que não tivéssemos turistas que vinham para ver as cascatas tigre-branco,
As cascatas receberam esse nome devido ao seu formato de tigre e porque o curso da água forma juntamente com as rochas um preto e branco e ilustra um tigre.
Quando eu ia descendo a ladeira, ao lado cascata pisei numa rocha, escorreguei e acabei por cair e bati com a cabeça numa outra rocha que me lançou na água, que me puxou até as profundezas de um complexo de cavernas que não haviam sido exploradas até então.
E depois disso, apenas me lembro de acordar algumas horas depois, dentro de alguma caverna, o cheiro de Sangue era forte, o que me levou a me examinar, passei a mão pela parte que bateu na pedra tendo me desacordado, e não encontrei ferida alguma, o que significava que o Sangue era de outra pessoa.
Mas como ela chegou aqui, a garota que está aqui comigo na caverna?
De repente sento meu Sangue ferver, garras apareceram em minhas mãos, me deixando mais assustado que confuso, minhas orelhas esticaram e meu corpo encheu-se de pelos.
A dura realidade me tira do desejo de que tudo aquilo seja apenas um sonho daqueles que dão medo.
Apesar do medo, meu corpo me obedece perfeitamente, me aproximo da mulher enquanto ela recobra os sentidos.
Ela se assusta e começa a gritar, o que faz com que eu perca o controle, vejo através da água que meus olhos brilham e dou um pulo até a entrada da caverna.
Uivo, e é tão intenso que acaba por ressoar nas cavernas.
- Por favor não me mata, eu tenho marido e filhos, por favor não me mata, eu imploro – Sua voz doce acalma meus sentidos e recupero o controle.
Dou alguns passos em sua direção, me sento e fecho os olhos, sua respiração é rápida e descontrolada, ela ainda está com medo, isso me deixa um pouco nervoso, mas continuo a tentar fazer a respiração sol.
Preciso realinhar minha energia para poder estar totalmente calmo, visualizo minha mente meu corpo voltando ao normal, e meus batimentos cardíacos se controlam.
Um pouco mais de tempo e meu corpo volta ao normal.
- O... O que é você? – Ela pergunta espantada
- Para ser sincero eu não sei, eu estou tão surpreso e assustado quanto você, e a pior parte é que não me lembro como você chegou aqui. – Respondo e ela se afasta um pouco de mim. - Não precisa se afastar, nessa forma eu não sou perigoso, pelo menos nunca fui, essa é a minha primeira vez a me transformar, e tudo o que eu posso dizer é que subitamente tudo que eu achava que era fantasia, passou disso para a realidade, dá até para dizer que sou personagem de um livro de fantasia e o escritor é um louco por me fazer tão doce e mau ao mesmo tempo, mas supondo que isso tudo é realidade, então eu não sei o que eu sou. Mas por enquanto ainda sou humano, pelo menos é nisso que eu quero acreditar.
- Meu nome é Maria SanDiego. Acho que nossas vidas deviam mesmo se cruzar, eu perguntei o que você é porque existem muitos de suas espécie e geralmente são violentos, e é exatamente por isso que estava nessa floresta, como um último pedido do meu avó, eu devia encontrar um Lowrider, ele tem uma mensagem para o líder. Então me responde, o que você é? É apenas um lobisomem ou um Lowrider? – Ela pergunta e faz as minhas últimas palavras parecerem coisa de ficção.
- Olha só, Maria, eu sou Godofredo que significa Conselheiro de Deus, mas pode me chamar de Fredy, gosto quando me chamam assim, e lembra que eu disse que essa era a minha primeira transformação? Pois é, eu não sei nada de espécies a não ser sobre um velho livro que eu alguma vez li, mas isso não tem importância porque para mim, coisas de livros não viram realidade, exceto pelo que me aconteceu, mas até onde eu sei, isso pode ser um vírus e se chama licantropia, e eu seu que posso ter a cura se eu falar com meu pai. – Me levanto e vou de novo até a entrada da caverna para identificar o lugar em que estava.
Bem no alto dá para ver a nossa maior atração, a cascata tigre-branco. Sem acreditar que as cavernas podem dar ao segundo lado da floresta proibida, esse é o lado obscuro da floresta azul. Por isso que a entrada é proibida, mas como as cavernas tem essas ligações e ninguém sabe ainda?
- Posso fazer um teste de Sangue em você para verificar sua espécie, claro só se você quiser – ela fala e me viro na hora.
Eu queria muito saber, mas se o que eu li sobre a minha provável doença, me ferir enquanto a lua cheia está no céu vai acabar com a vida dela.
- Melhor não, hoje é noite de lua cheia, e lobisomens e licantropos tiram seu poder da lua, e quanto mais cheia ela fica, mais descontrolados eles se tornam, e não quero te matar, já foi difícil voltar ao normal, não quero vagar por aí e acabar por acordar mais longe de casa ainda. – Ela parece se conformar, por alguns instantes fica quieta pensando em alguma coisa.
- Tudo bem, eu só não tenho muito tempo, eu preciso levar alguém até meu avô, e se você não for um Lowrider, alguém da sua família saberá me dizer onde posso encontrar um. – Nesse momento minhas orelhas se esticam mais uma vez, escuto sons de passos na floresta, e alguns animais se aproximando de onde nós estamos.
- Maria, fica quieta, essa parte da floresta em que estamos é perigosa, e estou a escutar passos de cerca de 20 homens e alguns animais, não dá para sentir o cheiro ainda, mas todos eles parecem ter uma energia não muito boa, então vamos até o canto mais escuro e rezar para que não nos encontrem. Meu pai sempre me proibiu de passar por essas áreas, segundo ele, tem coisas que podem acabar conosco em segundos – digo e ela me obedece, chego perto dela, e ela me abraça.
- Pode me explicar, como exatamente você chegou aqui? E que história é essa de que tens maridos e filhos, você parece ter quase a mesma idade que eu – falo baixinho e ela me aperta.
Seu abraço é tão quente, o ar quente de sua respiração toca o meu peito e sinto algo estranho.
- Bom, em primeiro lugar, eu só falei que eu tinha marido e filhos para não ser devorada, mas na realidade eu só tenho 16 anos, estou quase a fazer 17. E você me arrastou até aqui, fiquei surpresa quando percebi que você me curou, porque antes de eu ficar inconsciente senti muita dor, por causa de suas garras que tinha penetrado fundo em minha pele.