Depois da meia-noite - Um  ano com o CEO
img img Depois da meia-noite - Um ano com o CEO img Capítulo 4 Clarisse e Armando - IV
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Capítulo 6 Clarisse e Armando - VI img
Capítulo 7 Clarisse e Armando - VII img
Capítulo 8 Clarisse e Armando - VIII img
Capítulo 9 Clarisse e Armando - IX img
Capítulo 10 Clarisse e Armando - X img
Capítulo 11 Parte 2 - Os Albuquerque - I img
Capítulo 12 Os Albuquerque - II img
Capítulo 13 Os Albuquerque - III img
Capítulo 14 Os Albuquerque - IV img
Capítulo 15 Os Albuquerque - V img
Capítulo 16 Os Albuquerque - VI img
Capítulo 17 Os Albuquerque - VII img
Capítulo 18 Os Albuquerque - VIII img
Capítulo 19 Os Albuquerque - IX img
Capítulo 20 Os Albuqueque - X img
Capítulo 21 Nota do autor à essa edição img
Capítulo 22 Parte 3 - Segredos - I img
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Capítulo 4 Clarisse e Armando - IV

O closet havia sido esvaziado para uso exclusivo da garota, mas a preguiça que ela sentia na hora de arrumar tudo para depois dobrar na mala quando chegasse a hora de partir, era crônica em seu corpo.

Pôs os dedos no queixo e um lampejo mulheresco brilhou em sua mente. Virou a mala completamente dentro do closet e puxou um vestido de alças. Era curto. Algodão e bem macio. Vestiu e voltou para o banheiro com uma nécessaire.

Para não destoar cara do restante do corpo, Clarisse fez uma maquiagem clara e com pontos de luz. Esfumaçou os côncavos dos olhos de preto e se sentiu maravilhada. Havia um contraste agora.

– Sapatos. – Clarisse voltou-se para o closet. Dentro da mala rosa, bem amarrada, jazia um saquinho de feltro com duas sandálias e tênis.

A moça escolheu a opção mais confortável e saiu de vestido e tênis. Pegou sua carteira de mão e olhou para os dois lados. Não queria cruzar com Brian novamente. Pelo menos, desta vez, seu celular estava bem guardado na altura de seu quadril. Não haveria mais desconfortos confortáveis, que era como ela chamava essas sensações licitas/ilícitas quando feitas fora da cama.

– Vai sair, meu bem? – Marie voltou-se para a sobrinha, com um copo de uísque na mão.

– Uisque, titia – Clarisse a repreendeu.

– Isso aqui já se tornou terapêutico para mim, querida.

– Sei, sei. Bem, não vamos mais às compras de natal?

– Quase me esqueci. – E quase se engasgou com a última golada de uísque. – Mas, teremos de ir em carros separados, Clarisse. Rosa e Mathilde precisam ir comigo.

– Um carro tem 4 lugares fora o do motorista.

– Não seja boba, Clarisse. Preciso do máximo de espaço para trazer tudo do shopping.

– OK.

– Sabia que entenderia. – Tia Marie deu uma beliscada singela em sua bochecha rosada de blush. – Agora, vamos. Eles já estão na garagem nos esperando.

Passaram pela copa e cozinha e desceram para a garagem. Marie dirigia um Mustang preto e Miles um Meriva branco. Lado a lado pareciam até uma combinação alá Cruela.

– Que tal um passeio mais tarde, ham? – Miles sorrira para sua prima e apertou o volante de forma bem incisiva.

– Pelo menos você não é o seu irmão – Clarisse suspirara.

– Brian está te perseguindo também?

– Também? Aquele pervertido vai atrás de todas as mulheres que pisam nessa casa?

– Pergunte isso à Rosa que foge dele desde o dia que chegou aqui? – Ele girara a chave e abrira a porta da garagem, fazendo um sinal de confirmação para sua mãe, no carro ao lado. – Depende de você agora.

– De mim? – Clarisse fez uma careta, apertando o cinto contra os seios.

Miles olhou de esguelha na altura do decote e virou rápido para a estrada à frente.

– Somos três irmãos bem bagunceiros. Até mesmo Caleb, antes de encontrar Joana, era um virgem punheteiro e safado. Com o passar dos anos, Brian ficou com aparência e nada de inteligência. Caleb e eu preferimos a vida pacata dos amantes românticos.

– Não me diga. Sério? Julguei você desde ontem e estava errada. – O tom de ironia dela era algo bem sutil, mas Miles ainda sorriu da afirmação.

– Pode acreditar ou não – Miles disse. – Só não pode negar que eu sou bem convincente nas explicações.

– Você é educado e sabe usar as palavras. Isso não te torna convincente se suas ideias estiverem equivocadas.

– Equivocado? Eu? Olhe para esse carro e veja se há mais alguém aqui e conte quantas pessoas tem no carro da minha mãe.

– Não entendi.

– Saímos antes de Brian se oferecer para vir conosco – ele explicou, olhando para os olhos dela pelo retrovisor. – De nada, priminha.

Clarisse pensou. Não era um flerte. Miles não estava interessado nela, nem se atreveria a tentar nada com o carro em movimento. Por um instante ela aceitou que talvez um de seus primos era decente.

– Bom... Obrigado, então, Miles. Tomara que Caleb seja como você – ela sorriu, olhando para o lado.

– Joana faz questão que ele ande na linha. Estão casados há pouco tempo e ela é uma mulher muito ciumenta – ele explicou quando notou uma interrogação na cara de Clarisse.

Arfando com toda aquela explicação sobre os três galãs de Copacabana, a garota preferiu não dar continuidade na história com tantos personagens e se focou em apenas. Afinal, uma flecha só atinge um alvo depois de lançada.

– E você, Miles? Qual é a sua? – Ela decidiu se mostrar um pouco mais interessa para ver até onde iria. – Brian é o cafajeste. Caleb é o mocinho domado. Já você é um mistério. Vem com esse papo de amante romântico tentando ganhar pontos a mais, e...

– Alto lá! Pontos a mais com quem? Você? Entenda uma coisa: você é linda, mas um homem como eu sabe onde deve armar sua barraca, se é que me entende. Meus irmãos têm personalidades definidas e marcantes. Eu prefiro ser um mistério. Deixar que minha verdadeira essência mostre quem eu sou.

– MEU DEUS, VOCÊ É VIRGEM E TEM VERGONHA DISSO! – Clarisse não se aguentara no banco e começou a rir, descontroladamente.

Miles corou como um pimentão. Não vira o sinal vermelho à sua frente e afundou o pé no freio, cantando o pneu na estrada.

– Tá cego, menino. – Sua mãe emparelhou seu carro com o dele e rosnou do outro lado.

– Essa freada me diz que eu tinha razão na minha tese.

– E qual seria, sua puritanazinha de BH? – Agora havia um quê de raiva em seu tom de voz.

Clarisse tinha mexido com o ego masculino de Miles. Foi sem querer, mas ela não se arrependeu do que disse a ele. E não passava de uma dedução que ela julgava ser verdade pela forma como o primo reagira.

Miles não era um rapaz como os outros. Algo nele era diferente. O farol abriu e ela começou a notar detalhes no primo que não havia reparado antes. Miles tinha um corpo atlético, que ela notara ao olhar as veias em seu pescoço e seguir o caminho até os braços fortes, deparando-se com uma cintura rija e pernas bonitas e torneadas.

As panturrilhas a mostra – ele estava vestindo um short branco e tênis preto – denotavam que ou ele malhava como um condenado ou praticava algum esporte. Tinha o porte de um jogador de vôlei, ela supôs.

O cabelo dele era muito bem arrumado e suas roupas bem passadas. Suas unhas eram cortadas rentes e bem esmaltadas com uma película de base sobre elas. Miles era um cara atencioso, que sabia como falar como falar com uma mulher e...

– Você é gay? – Clarisse deduziu, olhando para o primo e cobrindo a boca com a mão.

– O quê? De onde tirou isso, garota?

– Suas unhas, seu cabelo, suas roupas e seu jeito de falar com uma mulher. Esse último é denunciador em qualquer hipótese. – Ela já havia tido vários amigos gays em BH, e a maioria não se assumira por conta da família.

Marie e Claude eram as pessoas mais soberbas que ela conhecia, entretanto não sabia que se tinha empatia ou algo bom em seu interior. Miles talvez temesse a desaprovação da mãe ou que o pai o deserdasse antes de morrer.

Um silêncio cobrira os dois no veiculo, e dessa vez, ela desejou não ter dito aquilo. Miles se calara e nem ao menos sua expressão mudava. Ele somente dirigia e focava sua atenção na estrada e em respirar. E sua respiração estava profunda e alta.

– Miles, eu...

– Você não sabe de nada – ele a interrompera, indignado. – Mas, você vai entender já, já.

Aos poucos, sua mãe ia emparelhando o carro com ele, mas em uma encruzilhada, Miles girara o volante, e acelerando depressa o bastante para não ser seguido, tomou um caminho diferente.

– Para onde estamos indo?

– Vou seguir por uma entrada dez minutos mais longa que a habitual. Quero te contar uma coisa. – A voz dele agora era grave e havia preocupação em suas palavras.

– Desculpa, eu meti os pés pelas mãos e te julguei, eu...

– Clarisse, eu sou bi.

Miles dissera aquilo em voz e foi libertador para o rapaz. Arfando ao volante, ele virou à esquerda e estacionou em frente a uma loja de conveniências. Ele desligou o carro e deixou sua cabeça cair bem devagar em cima do volante.

– Eu não sabia, Miles. Não queria te julgar, eu... tia Marie, ela...

– Ninguém sabe, Clarisse. A não ser nós e alguns poucos amigos – ele completou, respondendo sua pergunta. – Meus pais são mais retrógrados que andar para atrás. Jamais aceitariam minha condição. Para eles é uma mutação que deu errado no corpo de qualquer pessoa, nunca vão me olhar com os mesmos olhos, e podem me colocar para fora de casa.

– Eles não precisam saber de nada enquanto você não sentir preparado para contar. – Clarisse levou sua mão até o ombro do primo e o puxou de leve para encará-lo. – Você é incrível. Sabe como tratar as pessoas, colocando-as em primeiro lugar.

– Você nem me conhece direito, garota. Está saindo agora da zona de conforto que BH se tornou para você. Depois do natal vai voltar para a fazenda gigante do seu pai e fingir que nunca conheceu uma das piores famílias de Copacabana. Somos uma fraude, Clarisse. Riquinhos bestas que não sabem como reagir quando algo sai como não esperávamos, sobre meus pais. Veja como estão agora, brigando há dias para decidir o rumo de uma confraternização idiota que só vai servir para inflar o ego de cada um deles.

– Eu sei que você não é como eles. Minha mãe já me alertou sobre como seriam as coisas por aqui e antes de vir para cá recebi um e-mail de uma jornalista me subornando para levar uma escuta para dentro da mansão. Vocês são muito observados por aqui – ela falou.

– Isso não pode acontecer. Ninguém pode saber. Seria um escândalo, e meu pai me culparia por todos os holofotes sobre ele e a empresa. Como um dos acionistas eu não posso me envolver em polemicas.

– Sua sexualidade não é uma polemica ou escândalo para ninguém. Isso é ser você, Miles. – Ela olhou fundo em seus olhos e enxergou um garoto assustado, mas cheio de amor e com vontade de se provar. – Me dá o seu dedinho.

– Pra quê isso, Clarisse?

– Uma promessa. – Ela ergueu o seu dedo mindinho e fez ele erguer o dele. – Será nosso segredo primos.

Miles apertou seu dedo ao dela e rapidamente estavam envolvidos em um abraço. Clarisse sentiu o corpo quente de seu primo colado junto ao seu. Os braços de Miles eram musculosos e apertavam os seios de Clarisse ao seu tórax.

Ela estremeceu ao seu toque. Miles sentiu um volume latejar em seu short. Era o match rolando outra vez com Clarisse, e ela nem desconfiava.

– Você é bi? – Ela se afastou do abraço.

– Sim.

– Então, tudo okay.

Miles avançou para Clarisse, e sem tocá-la, lhe deu um beijo que durou pouco mais que 2 minutos, antes de sua mão tocar os cabelos de sua prima e os dedos dela irem parar entre o cós de seu short.

O beijo se tornou mais intenso e demorado quando ambos sentiram as mãos um do outro em seus corpos. Miles tinha um toque calmo e quente, fazia a pele de Clarisse arrepiar; ela tinha as mãos leves como uma pluma, e tinha a destreza de saber muito bem onde devia tocar para fazê-lo emitir o som que ela quisesse ouvir.

Quando o beijo terminou eles ficaram se encarando, tentando dizer alguma palavra ou agradecimento pelo que acontecera. Mas, nada precisava ser dito. Não tinha necessidade de palavras quando a sensação de um beijo ainda é concernente diante da situação.

Miles sabia o que queria. O rapaz não esperava beijar Clarisse no carro, à caminho do shopping para compras de natal. Contudo, não havia cenário melhor para um beijo e eles sabiam que aquilo havia selado o segredo entre eles.

– Eu vou negar se contar ao seu irmão – ameaçou Clarisse.

– Pois eu nunca negaria isso. – Miles estava sorrindo e em seu olhar pairava uma sensação única de aconchego. Ele tornou a girar a chave na ignição. – Agora melhor a gente ir. Dona Marie já, já te liga.

– Falando no diabo... – Clarisse mostrou o celular e recusou uma chamada de sua tia. – Você é incrível, Miles.

– E beijo bem, também. Não pode negar.

– Ainda bem que provei para saber, não é, mesmo?

Clarisse limpou os lábios com a língua e guardou bem em sua memória o beijo que acontecera há uns instantes, ele não seria esquecido jamais.

            
            

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