Capítulo 2 SEM RUMO

O dia tão esperado da cirurgia de Dona Elisa se aproximava e todos sentiam uma ansiedade palpável no ar. Era um momento de mudança iminente. Paulo e seus irmãos estavam prestes a conquistar tudo o que nunca tiveram antes. Dona Elisa irradiava felicidade ao saber que finalmente poderia proporcionar o melhor para seus filhos.

Chegou então o grande dia e todos acompanharam Dona Elisa até o hospital. Com beijos, abraços e um "até logo", ela se despediu dos filhos antes de seguir para o centro cirúrgico. Paulo, ao mesmo tempo alegre e receoso, segurou a mão da mãe enquanto empurravam a maca. Quando chegou a hora de se separarem, as mãos se soltaram e eles se encararam por um momento, sem querer perder um instante daquele momento tão importante.

O tempo passou, mas para Paulo e seus irmãos, a espera por notícias sobre sua mãe parecia interminável. Quatro longas horas haviam se passado desde o início da cirurgia e a ansiedade era notável. Então, o médico chegou e todos se reuniram em torno dele, incluindo Dona Elena. De repente, um choro coletivo tomou conta do ambiente, deixando Paulo assustado e confuso. Ele se aproximou lentamente, buscando respostas para o que estava acontecendo. Foi então que ouviu a notícia que mais temia: a mãe havia falecido. Dona Elisa era tudo o que Paulo tinha na vida e, naquele momento, toda a esperança, sonhos e planos foram embora. O menino se sentiu completamente sozinho.

A triste procissão fúnebre foi acompanhada por todos, mas após se despedirem da mãe, os irmãos de Paulo seguiram seus caminhos, deixando-o sozinho. Desorientado e sem rumo, o menino se sentou no meio-fio, colocando a cabeça entre as pernas, sem saber o que fazer a seguir.

Foi então que um carro passou e buzina para chamar a atenção de Paulo. Ao olhar, ele reconhece Dona Elena, que gentilmente oferece uma carona. Levado até a casa da mulher, Paulo se vê sem rumo novamente, mas Dona Elena promete ajudá-lo.

No entanto,Dona Elena tem seus próprios filhos e percebe que será difícil cuidar de mais um. Foi então que a mãe de Dona Elena, Dona Margarida, se ofereceu para ajudar. Ela arrumou um quarto nos fundos de sua casa para Paulo, que ficou contente com a ideia de poder recomeçar.

Logo, Dona Margarida colocou Paulo para trabalhar. Aos nove anos, a vida do menino negro e pobre mudou completamente. Sozinho e sem família, ele acordava às 5h da manhã para esfregar o quintal de Dona Margarida, passando horas com uma escova de lavar roupas nas mãos. Apesar do trabalho duro, Paulo sabia que aquela era sua chance de se reerguer e lutar por um futuro melhor.

Paulo enfrentou muitos desafios em sua vida, mas um dos maiores foi aprender a lidar com a solidão e o afastamento da família que o acolheu. Apesar de não ser considerado um membro oficial da família, ele nunca deixou de demonstrar gratidão e amor por eles. Mesmo quando era proibido de sentar-se à mesa com eles, Paulo continuava a admirá-los de longe, observando como eram felizes nas reuniões de domingo. Infelizmente, a infância de Paulo foi marcada pela falta de amor e rigidez, e a única fonte de afeto que ele conhecia era Dona Margarida, que o acolheu em sua casa.

                         

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