Capítulo 4 Querido, diário. - Nina

Hoje fui para a minha segunda consulta com a obstetra. Quando chegamos em casa Sandy me deu a ideia de montar um diário da gestação, caso um dia Alex queira saber como foi ou eu queira relembrar de algo. Eu até gosto da ideia, mas fico triste por não ter nenhuma foto de quando descobri a gravidez.

Ela me conta que tem uma e começamos.

DIARIO DO BEBE

Foto 01

"O dia em que descobri a existência da minha parte de você, estava de quatro semanas."

- Vamos tirar uma de hoje!

- Está bem - a animação de Sandy me deixa feliz, espero um dia não muito distante poder mostrar isso para ele.

DIARIO DO BEBE

Foto 02

"Hoje vi a minha parte de você, estou de oito semanas, o bebê ainda é muito pequeno, tem 12mm, minha barriga ainda não aparece, a obstetra disse que pode demorar um pouco, afinal são apenas dois meses, cada corpo reage de um jeito algumas mulheres demoram muito para parecerem gravidas. Melhorei minha alimentação depois de descobrir que nosso filho estava a caminho, estou tentando me cuidar melhor. Bom, já tem quase um mês que sei que estou grávida, mas queria ter certeza, e quando vi um serzinho minúsculo naquela tela, a única coisa que eu queria era te mostrar. Liguei para você, e como eu imaginava, foi direto para a caixa de recado. Não sei quando eu vou poder te contar, não sei nem se um dia vou conseguir te contar... Espero que sim, também espero que fique tão feliz com a notícia como eu fiquei, apesar de tudo."

***

Sandy sorri ao ver o que escrevi, ela vai até a cozinha fazer uma bacia de pipoca para comermos enquanto assistimos filme, enquanto ela está ocupada, tento novamente falar com Alex.

Mais uma vez vai pra caixa de recado.

Nina: Oi, Alex. Sou eu de novo. Sei que não quer falar comigo, juro que te entendo e que tentei ficar longe, mas é muito importante, eu não posso falar por telefone, pelo menos não por recado... Me atende, ou liga para mim quando puder. Tchau.

Acho que Sandy ouviu minha ligação, pois ela aparece na sala com olhar de compaixão, colocamos filmes de comédia, como ela diz: "já está bom demais de drama."

***

DIARIO DO BEBE

Foto 03.

"Bom... minha parte de você hoje pesa 21gm e está com 10cm, tenho tido algumas espinhas, graças a Deus não são muito grandes, tenho tido tonturas leves também, nada para se preocupar... Bom, a barriga também não aparece ainda, achei que com 12 semanas já teria algo. Vamos esperar mais um pouco..."

Decido tentar ligar novamente...

Nina: Oi, Alex. Sou eu de novo. É a última vez que tento falar com você, eu ligaria todos os dias se soubesse que em um deles me atenderia, mas tenho acreditado que se não me atendeu ou retornou a ligação, é porque não quer falar comigo. - Sinto lágrimas rolarem, tento não deixar que minha voz transpareça. - Eu imagino o quanto esteja chateado comigo, mas por favor, me atenda. Eu... - Não consigo conter o choro. - sinto sua falta.

Eu desligo e me deito na cama. Estou aos prantos, eu sinto tanto a sua falta. A cada dia que passa a saudade aumenta mais, como eu queria estar com ele, compartilhar esse momento. Eu choro até pegar no sono, tenho até medo de como meus olhos estarão inchados amanhã.

Ao acordar vejo uma chamada perdida e um recado em meu celular. Imediatamente procuro o nome de quem ligou, sinto uma aflição grande ao ver o nome de Alex. Eu me xingo por não estar acordada para atendar. Sem pensar duas vezes abro a caixa de recado e deixo reproduzir.

Alex: Oi, Nina. - Ouvir a sua voz faz com que meu coração aperte. - Eu espero que esteja bem. Eu não ia te ligar, só liguei porque ouvi você chorando, por favor, não chore, eu não aguen.... - ele se interrompe - Não me ligue mais, por favor. Ouvir sua voz me causa uma aflição tão grande, ainda machuca, eu preciso de espaço, estou tentando recomeçar e você deveria fazer o mesmo, porque eu sei que você vai... Nossa, só esse pensamento me machuca, mas é verdade, você vai achar alguém e vai ser feliz de novo, assim como eu espero ser um dia.

- Alex, vamos? - uma voz feminina chama seu nome.

- Vamos, só um segundo, Linda. - ele responde.

Alex: Eu também sinto sua falta, Nina. Mas eu te imploro, não me ligue mais. Me dói te dizer isso, mas é o melhor pra gente. Tchau, Nina.

É possível que depois de tantos dias chorando ainda exista lágrimas em mim? Acho que sim, as lágrimas que escorrem em meus rosto somada a todas as outras seriam capaz de encher um rio. Tento fingir que são só os hormônios, mas um coração partido é um belo criador de lágrimas.

Passo maquiagem e coloco um óculos de sol, tentando esconder os olhos inchados para ir pro trabalho, é uma missão quase impossível. Durante todo o caminho fiquei me torturando, pensando em como atender aquela ligação poderia mudar as coisas. Ou talvez não, como ele disse, ele está recomeçando...

Seco a lágrima que escapa, e prometo a mim mesma, que ela será a última que derramarei durante essa gravidez.

***

DIARIO DO BEBE

Foto 04

"Estou muito feliz, estou de 16 semanas e descobri que meu pedacinho de você é um menino. Do hospital para casa já pensei em diversos nomes, ele está com 17cm e pesa 160gm... Eu... eu tive um sangramento nasal essa semana, bem na hora que fui entregar um relatório para minha chefe, ela se desesperou e me fez ir pro hospital, a obstetra disse ser normal pelo aumento do volume sanguíneo, no outro dia tive que contar a ela sobre a gravidez, meu segredo foi descoberto.... Bom... É isso."

- Estou achando que escrever isso é inútil. - digo após fechar o diário sobre a mesa.

- Porque? - pergunta Sandy.

- Eu estou enchendo essas anotações de sentimentos e ele nem quer saber de mim, está seguindo em frente.

- Eu entendo você, mas a ideia não é que ele saiba como foi a gestação para você e o desenvolvimento do bebe?

- Não sei se quero mostrar isso pra ele. Imagina como seria eu encontrar com ele no futuro, ele casado, com família e eu entregar um diário desse pra ele.

- E se quando você encontra-lo ele estiver solteiro? Ainda apaixonado por você?

- Duvido muito disso.

- Que tal a gente pensar sobre o nome do bebe e deixar pra nos preocuparmos com essas coisas quando chegar a hora?

- É uma excelente ideia. Já pensei em milhares de nomes, mas não faço ideia de qual escolher.

- Eu adoro Scott.

- Eu já tive um cachorro com esse nome. Nem pensar! - ela revira os olhos e ri.

- Benicio? Murilo? Antony?

- Acho melhor deixar esse assunto para outro dia também. Vamos dormir?

- Sorte sua que sou uma tia babona. Vamos!

***

DIARIO DO BEBE

Foto 05

"Meu pedacinho de você está com 24cm e pesa 350g, tive alguns desejos, nada muito absurdo, bom, a não ser por um bolo de banana. Você sabe que não gosto muito do gosto da banana cozida... mas pelo visto ele gosta, tive tonturas e franqueza também, mas ainda assim, tudo normal. Finalmente a barriga está aparecendo, bom... por hoje chega preciso muito ir ao mercado e naquela lanchonete da avenida principal, me deu vontade de comer crepe de Creme de avelã com morango."

Pego minha bolsa e vou para o mercado, seleciono as coisas que preciso, e um pouco mais. Estou no caixa, quando minha bolsa cai, abaixo e a pego, assim que me levanto tudo roda, eu quase caio para trás mas alguém me segura.

- Está tudo bem, moça?

- Muito obrigada, está sim, nessa fase da gravidez ando tendo algumas tonturas e abaixar acabou contribuindo.

- Você não gostaria de se sentar?

- Não, obrigada mesmo. Desculpa pelo incomodo.

Pago pelas minhas compras e as coloco no carro, espero ainda conseguir encontrar crepe na lanchonete, acabei me esquecendo que a lanchonete fecha as cinco da tarde e acabei demorando demais no mercado.

Ao estacionar o carro, vejo que a lanchonete já está quase fechando.

- Por favor, me diz que ainda dá tempo de prepara um crepe de creme de avelã com morango?

- Peço desculpas, senhorita. Nossos morangos acabaram tem pouco menos de uma hora.

- Saberia me dizer onde posso encontrar? Estou com desejo.

- Tem uma lanchonete próxima ao mercado da praça, talvez lá você encontre.

- Acabei de vir do mercado, espero encontrar, muito obrigada.

Volto para o carro e encontro a lanchonete. Por sorte, eles fazem o crepe que eu desejo. Estou sentada na mesa, aguardando meu pedido, quando sinto que alguém cutuca meu braço.

- Nina? - Me assunto ao ouvir essa voz.

- Olá, Josh. - Digo ao me virar em sua direção.

- Há quanto tempo não nos vemos. Acho que desde... aquele dia.

- Sim.

- Eu te vi no mercado. Quando você quase caiu e um rapaz te ajudou. Você está bem?

- Estou sim, isso é normal.

- Por que?

- Eu estou grávida. - Ele olha para minha barriga e sua cara de espanto é admirável.

- Parabéns, Nina. Eu... eu posso me sentar? - eu concordo e ele se senta, acho que o baque foi grande demais para ele.

- De quanto tempo você está?

- Vinte semanas.

- Alex deve estar muito feliz - Ele parece se arrepender, logo depois de falar. - Desculpa, isso não é da minha conta.

- Não, ele não sabe.

- Sinto muito.

- Está tudo bem. Já estou me conformando com isso. - A garçonete aparece com meu crepe. - Obrigada. - digo antes dela se retirar.

- Ele ainda não quer falar com você? - Quando estou prestes a responde-lo, preciso correr para a lixeira mais próxima. - Nina? Você está bem?

Josh vem até mim e segura meu cabelo enquanto eu vomito. Ele me entrega alguns guardanapos que achei que tinha pego de uma mesa vazia perto de nós, mas ao me virar percebo que um mulher os entregou para ele, e está parada ao nosso lado.

- Você está bem, moça? - a desconhecida pergunta.

- Estou sim, obrigada. Era um desejo, então, eu já esperava por isso, eu só achava que iria pelo menos conseguir colocar algumas colheres do crepe na boca.

- Nossa! Eu te entendo. Na gravidez da minha filha eu tive muitos desejos, me lembro bem de como era.

- Eles tem logo que nos fazer desejar coisas tão boas?

- Sim - ela ri - essa é a vida de mãe. Bom, desculpa minha intromissão. Felicitações para você e para seu namorado.

Eu aceno em agradecimento, já que ela vai saindo e nem me dá a oportunidade de dizer que Josh e eu não somos um casal.

- Eu já vou indo. - Digo para Josh.

- Quer que eu te acompanhe?

- Não precisa, muito obrigada.

- Se precisar de algo. Pode me chamar.

- Obrigada. - Pego minha bolsa na cadeia, quando estou quase saindo da lanchonete passo por uma mesa com um casal e uma garotinha. Vejo que a mulher é a mesma que me ajudou. O sorriso que vi em seu rosto ao olhar para sua menina, era o mesmo que eu teria um dia no meu.