Saiu dos meus pensamentos quando Ava vem me entregar a camisa, agradeço e logo me visto, como meu colete estava sujo fiquei apenas com a camisa social, que agora era azul-claro. Deixo os dois botões de cima abertos e dobro as mangas da camisa até o cotovelo, deixando várias tatuagens a mostra.
Me sento na minha mesa e fico pensativo, ouço a porta sendo aberta e Marius passando por ela.
- Algum problema? -pergunta.
- Não, você quer algo? -pergunto.
- Quero falar com você sobre uma nova contratada -diz.
- E quem seria? -pergunto.
- Alisson -responde.
Prendo a respiração, ela vai voltar a trabalhar aqui?
- É... ela irá voltar a ser secretária? -pergunto.
- E é sobre isso que eu iria falar -diz se sentando de frente para mim.
- Pode falar -digo.
- Ela será promovida -diz- Alisson agora trabalhará junto com a equipe que projeta os software e ficará responsável por eles, isso incluí, supervisionar e ficar responsável por me passar o que será preciso para que os projetos fiquem prontos.
- Mas isso é trabalho meu -falo confuso sem saber aonde ele quer chegar.
- E era exatamente nesse ponto que eu queria chegar -diz- vocês irão trabalhar juntos.
- O quê? -questionei- por quê?
- Alisson se formou em engenharia de software -diz ele- ela será uma ótima profissional, confio nela.
- Então você não confia em mim?
- Pelo contrário, confio muito em você, vocês dois serão uma ótima equipe -diz animado.
- Quando ela virá trabalhar? -pergunto.
- Na segunda -diz- ela acabou de chegar, estava arrumando a mudança.
- Isso não vai dar certo -digo baixinho.
- Claro que vai, você irá poder se acertar com ela -diz- quem sabe vocês não se entendem.
Ele sorri.
- Duvido muito, pelo que fiz com ela a mesma deve me odiar -falo.
- E quem disse que será fácil? -diz ele- não irá, e você precisa correr atrás do perdão dela, assim como fez com Victoria.
Ele está certo.
- Ótimo, posso aproveitar essa oportunidade de trabalharmos juntos para me aproximar dela, e assim conseguir que ela me perdoe pelo jeito que tratava ela no passado -digo- e conseguir mostrar a ela que sou uma nova pessoa.
- Perfeito, não desperdice essa oportunidade -disse se levantando- temos uma reunião em cinco minutos.
Assim ele sai me deixando sozinho. Não irei deixar essa chance passar.
[...]
Dois dias se passaram desde o meu reencontro com Alisson, e eu não a vi mais. Isso acaba me deixando ainda mais ansioso para vê-la na segunda. Hoje era sexta e eu iria ter consulta com minha psicóloga, Marius sempre me dá a manhã de folga para que eu vá nas consultas. Eu já estava voltando para casa, iria tomar banho para depois ir para a empresa, quando recebo uma ligação de Victoria.
Paro o carro no sinal e atendo.
- Oi, Vic -falo.
- Oi Cris -diz- poderia fazer uma coisa para mim.
- O que seria? -pergunto.
- Estou muito ocupada no escritório e o Marius está em reunião, Madison de folga e a Eliza ocupada no trabalho -diz, ainda não sei aonde ela quer chegar.
- Onde você quer chegar com isso? -pergunto.
- Poderia pegar as crianças na escola e deixá-las na casa dos seus pais?
- Claro, agora vou desligar por que o sinal abriu -me despeço dela e já vou em direção a escola.
Chego no local em cinco minutos e já vejo algumas crianças saindo, fico esperando meus sobrinhos saírem quando vejo um menino parado no portão tentando amarrar o sapato.
Me aproximo dele que não nota minha presença.
- Posso te ajudar a amarrar -falo atraindo sua atenção.
Ele fica em silêncio.
Sorriu.
- Não vai falar? -pergunto.
- Minha mãe me disse para não falar com estranhos -diz e em seguida cobre a boca com as mãos.
Dou uma risadinha.
- Sua mãe está certa, mas não vou te fazer mal -falo.
- Isso é o que uma pessoa que quer me fazer mal diria -diz.
- Certo -falo olhando para frente onde vejo meus sobrinhos correrem na minha direção.
- Tio Cris -diz Helena me abraçando, logo em seguida os trigêmeos.
Olho pro pequeno na minha frente.
- Não irei te fazer mal, agora que estamos na presença dos meus sobrinhos, posso amarrar seu sapato? -pergunto, ele ainda desconfiado assenti.
Ando até ele e me abaixo na sua frente, amarro seu sapato e logo me afasto.
- Obrigado -diz o pequeno.
- Por nada -sorriu amigável.
- Liam -ouço alguém falar.
- Papai, esse moço legal amarrou meu sapato -diz o garotinho que agora descobri se chamar Liam.
- Que legal -diz o pai.
- Eu te conheço de algum lugar -falo olhando pro cara.
- Sou Brandon Ferrari, trabalhava no RH da sua empresa, Cristian fitzy -diz me encarando.
- Agora estou lembrando -falo- não te vi mais na empresa.
- Eu não trabalho mais lá, herdei uma fábrica de carros e agora estou me dedicando a ela -diz.
- Que legal, foi bom revê-lo -falo sincero- agora preciso ir, adeus Liam.
O garotinho acena para mim e logo vai embora com o pai, ando com meus sobrinhos até o carro e os coloco no banco de trás. Sorte que hoje vim com meu Maserati, o mesmo tem quatro portas e é super espaçoso, só assim para conseguir levar a creche do meu irmão.
- Tio, onde está nossa mãe? -pergunta Ryan.
- Ela está ocupada no escritório e me pediu para pegar vocês -falo terminando de prendê-los com o cinto- vou deixá-los na casa dos meus pais.
Entrei no carro e logo saímos.
- Vou pedir para a vovó fazer bolo de chocolate -diz Dylan.
- Vou pedir para ela fazer pipoca doce -diz Herry.
- Eu quero sorvete de maracujá -diz Helena.
- Não deixem os pais de vocês ouvirem isso -digo- sabe que eles não gostam que vocês comam muitos doces.
- Mas você não se importa, não é tio? -pergunta Helena.
- Claro que não, eu sou o tio legal -falo.
Deixo eles na casa dos meus pais e vou para minha cobertura, tomo um banho rápido e me visto com um terno preto, logo vou para a empresa. Mas não esqueço aquele garotinho, parece muito familiar... certo que o pai dele é o Brandon.
Eu o conheci antes quando trabalhava na empresa, ele era um cara legal, nunca tive amizade com ele, mas também não tive nenhuma inimizade. Ele era na dele, e eu sempre estava fazendo merda, tenho vergonha de mim mesmo ao lembrar do que fiz antes, porém, pessoas evoluem e se tornam melhores. A vida é assim, não evoluímos apenas uma vez, evoluímos a cada dia, isso é o que nos tornam melhores.