O silêncio em nossa casa era pesado, quebrado apenas pelo som da terra caindo sobre o caixão do irmão do meu marido. Um mês depois, o silêncio foi substituído por algo pior. A viúva do meu cunhado, Larissa, estava grávida, e meu marido, Ricardo, decidiu que ela viria morar conosco.
"É pelo bebê, Laura", ele disse, com a voz vazia. Ele não olhou para mim. Estava olhando para Larissa, que esperava perto da porta com sua única mala, pálida e frágil. "Ela precisa de apoio. É o filho do meu irmão."
Eu observei enquanto Larissa, de forma lenta e sutil, começava a tomar conta da minha vida. Ela esperava do lado de fora do banheiro com uma toalha limpa para Ricardo, alegando que era um hábito. Ela batia na porta do nosso quarto tarde da noite, fingindo ter pesadelos, arrancando Ricardo de mim por horas de "consolo". O ponto de ruptura veio quando ouvi Ricardo massageando os pés inchados dela, exatamente como o falecido marido dela costumava fazer.
Deixei a faca que segurava cair. O som metálico retumbou contra a bancada. Eu queria ouvir Ricardo dizer não. Queria que ele dissesse a ela que aquilo era inapropriado, que eu era a esposa dele. Em vez disso, ouvi sua voz baixa e calmante. "Claro, Larissa. Pode colocar eles aqui."
Eu havia desistido de tudo por ele, me tornando a mulher que fazia de tudo para agradá-lo, buscando constantemente sua aprovação. Agora, vendo-o atender a todos os caprichos dela, percebi que nem sequer reconhecia a mulher que me encarava no espelho.
Naquela noite, liguei para o meu pai. "Pai", eu disse, com a voz trêmula. "Eu quero o divórcio."
Capítulo 1
O silêncio em nossa casa era pesado, quebrado apenas pelo som da terra caindo sobre o caixão do irmão do meu marido. Um mês depois, o silêncio foi substituído por algo pior.
Larissa, a viúva do meu cunhado, estava grávida.
E meu marido, Ricardo Almeida, decidiu que ela viria morar conosco.
"É pelo bebê, Laura", ele disse, com a voz vazia. Ele não olhou para mim. Estava olhando para Larissa, que esperava perto da porta com sua única mala, pálida e frágil. "Ela precisa de apoio. É o filho do meu irmão."
"Ricardo, esta é a nossa casa", eu disse, com a voz baixa para que Larissa não ouvisse. "Nós não temos espaço. Não é apropriado."
Ele finalmente se virou para mim, seus olhos frios. "Nós vamos arrumar espaço. E isso não está em discussão."
Então, Larissa se mudou. A primeira semana foi um borrão de desculpas sussurradas e sorrisos tristes. Na segunda semana, o comportamento dela começou a mudar.
Eu saía do banho e lá estava ela, parada bem na porta do banheiro, segurando uma toalha limpa para o Ricardo. Não para mim. Para ele.
"Ah, desculpe, Laura", ela dizia, com os olhos arregalados e inocentes. "É só um hábito. O Marcos, meu falecido marido, sempre gostava quando eu fazia isso por ele."
Depois vieram as batidas na porta. Leves toques na porta do nosso quarto, tarde da noite. Na primeira vez, Ricardo pulou da cama, pensando que era uma emergência.
Era Larissa, agarrada a um travesseiro. "Eu tive um pesadelo", ela sussurrou, com lágrimas nos olhos. "Sonhei com o acidente. Estou com tanto medo."
Ricardo passou uma hora conversando com ela na sala de estar. Isso se tornou rotina.
O ponto de ruptura veio em uma terça-feira à noite. Eu estava na cozinha, tentando encontrar energia para cozinhar. Ricardo e Larissa estavam na sala. Ouvi o suspiro dramático dela.
"Ah, Ricardo, meus pés estão tão inchados", ela disse, com a voz carregada de autopiedade. "O Marcos costumava massageá-los para mim todas as noites. É a única coisa que ajuda."
Eu congelei, com uma faca na mão. Esperei, escutando. Eu queria ouvir Ricardo dizer não. Queria que ele dissesse a ela que aquilo era inapropriado, que eu era a esposa dele.
Em vez disso, ouvi o barulho do pufe sendo arrastado. E então, a voz baixa e calmante dele. "Claro, Larissa. Pode colocar eles aqui."
Deixei a faca cair. O som metálico retumbou contra a bancada. Saí da cozinha, passei pela sala onde meu marido massageava gentilmente os pés da sua cunhada grávida, e não parei até estar no nosso quarto com a porta trancada.
Peguei meu celular e disquei o número do meu pai.
"Pai", eu disse, com a voz trêmula. "Eu quero o divórcio."
Houve uma pausa do outro lado da linha. "Laura? O que aconteceu?"
A história jorrou de mim. A toalha. Os pesadelos. A massagem nos pés. Tudo parecia tão mesquinho, tão pequeno, mas parecia uma montanha me esmagando.
Por três anos, eu fiz de tudo para ser a esposa perfeita para Ricardo Almeida. Pedi demissão do meu emprego em São Paulo porque ele queria uma esposa que ficasse em casa. Aprendi a cozinhar seus pratos favoritos, até mesmo os que eu odiava. Eu me vestia como ele gostava, de forma conservadora. Me tornei a mulher que fazia de tudo para agradá-lo, buscando constantemente sua aprovação, seu afeto, que ele distribuía como moedas raras.
"Eu me esforcei tanto, pai", eu disse, engasgando com o choro. "Eu desisti de tudo por ele."
Meu pai, Sérgio Mendes, não era um homem de desperdiçar palavras. Sua voz era dura como aço quando ele falou novamente. "Ele fez a escolha dele, Laura. Agora faça a sua."
"Eu já fiz", eu disse.
"Ótimo", ele respondeu. "Não se preocupe com os Almeida ou com a empresa deles. Eu ajudei a construir aquilo. Eu posso ajudar a derrubar. Apenas foque em você mesma."
Desliguei o telefone. Uma calma estranha tomou conta de mim. A parte de mim que vinha encolhendo por três anos finalmente parou.
Olhei para mim mesma no espelho. Eu nem reconhecia a mulher que me encarava. Seus olhos estavam cansados. Seu cabelo estava preso em um coque severo que Ricardo preferia.
Naquela noite, dormi no sofá do meu escritório.
Na manhã seguinte, entrei na cozinha. Larissa estava lá, usando uma das camisas sociais de Ricardo sobre suas leggings. A camisa estava aberta, mostrando sua barriga crescendo. Ela estava fazendo café.
Ela sorriu docemente para mim. "Bom dia, Laura. Dormiu bem? Sei que o sofá não é muito confortável."
A antiga eu teria resmungado algo e saído. A nova eu apenas a encarou.
"Larissa", eu disse, com a voz firme. "Essa é a camisa do meu marido."
O sorriso dela vacilou. "Ah, isso? Estava só nas costas da cadeira. É tão confortável."
"Tire essa camisa", eu disse.
Ela piscou, confusa. "O quê?"
"Eu disse, tire essa camisa. Agora." Minha voz não se alterou. Era plana, fria e final. Eu não estava pedindo. Eu estava mandando.