Quando o carro capotou e o mundo se virou de cabeça para baixo, a minha primeira e única esperança era o Lucas, o meu marido.
Disquei o número dele 18 vezes, enquanto a dor insuportável me consumia e a minha vida pendia por um fio.
Ele atenderia, ele viria, certo?
Mas em vez de um marido preocupado, recebi uma voz impaciente e, pior, a notícia de que ele estava a "cuidar" da sua "irmã" Clara, que supostamente torcera o tornozelo, e do gato doente dela.
Enquanto eu estava com uma perna partida e múltiplas fraturas, lutando pela vida num leito de hospital.
O pai de Lucas, que sempre me tratou com frieza, surgia agora transbordante de carinho por Clara, chamando-a de "minha filha".
A minha família desmoronava-se diante dos meus olhos enquanto o meu sogro me ligava, aos berros, chamando-me de "vergonha" por querer o divórcio por uma "coisa tão pequena".
Como é que a minha quase morte era uma "coisa tão pequena"?
Como podiam ser tão cegos, tão cruéis?
A raiva e a dor dilaceravam-me, mas a confusão era ainda maior: quem eram estas pessoas?
Onde estava a verdade no meio de tanta falsidade?
Foi então que a minha amiga virou a revista e a imagem de Clara, sorridente e saudável, a festejar na noite do meu acidente, me atingiu como um raio.
A mentira descarada e hedionda explodiu na minha cara.
Não era negligência.
Era abandono.
Era maldade pura.
A partir daquele momento, sabia que não ia apenas divorciar-me.
Eu exporia a verdade, custe o que custasse.