O cheiro de baunilha e açúcar, que antes era conforto, de repente virou sufoco.
Era meu aniversário, e a família que eu tanto amava se reuniu para me destruir.
Minha tia Isabel, com um sorriso falso, ofereceu um bolo: uma obra de arte da confeitaria que se tornou minha ruína.
Enquanto a doçura se desfazia na boca, uma dor cortante me atingiu, arrancando de mim não só o ar, mas também o filho que Lucas e eu esperávamos.
O sangue manchou meu vestido claro, revelando a tragédia.
Minha tia e primas, com sorrisos cruéis, me acusaram de ser descuidada, riram da minha perda e me humilharam, enquanto Lucas, o homem que eu amava, as escolheu, culpando-me pela morte do nosso bebê.
Cada palavra era veneno, e a dor no meu ventre era uma faca, mas a dor no meu coração era mil vezes pior: eles haviam me roubado tudo.
Dez anos da minha vida, desde que fui acolhida como a órfã marcada, foram uma mentira de manipulação, onde meu valor era apenas meu talento e meu útero, e agora, com meu filho perdido, vi a verdade: eu era um peão.
Em meio ao caos, uma clareza fria me atingiu: não havia mais lugar para mim ali, nem para a Sofia "fragilizada" que eles criaram e controlavam.
Com o garfo ensanguentado em minhas mãos, rasguei meu próprio rosto sobre as cicatrizes antigas, transformando meu passado em feridas presentes, uma declaração de guerra silenciosa: minha história não pertencia mais a eles.
Minha risada ecoou pela mansão – o som de correntes se quebrando, de uma alma se libertando.
Eu não era mais a boneca quebrada, mas sim a sobrevivente que, marcada e livre, fugia para nunca mais olhar para trás.