Sentando atrás de uma ampla mesa, Kevin comprimiu o olhar e fechou o punho enquanto verificava a imagem exibida na tela de seu laptop. O vídeo confirmava o que o gerente de seu banco tinha contado: "A sua esposa retirou uma exorbitante quantia em dinheiro da conta bancária".
Segundo informações que recebeu, a esposa não foi para o ateliê Maison Delacroix, onde trabalhava como designer de moda. Tomado pela desconfiança, Kevin passou as mãos pelos fios castanhos claros e então ligou novamente para o detetive.
- Onde ela está? - Havia uma leve amargura em sua voz rouca.
- A sua esposa está com o Andrew Turner no Hospital San Michele em Quarto Oggiaro.
"O que ela está fazendo com todo em Quarto Oggiaro?" Ele murmurou a pergunta para si enquanto tocava as veias saltadas em suas têmporas.
Quarto Oggiaro era um bairro mais afastado do Centro e os negócios escusos de lá estavam sob o controle de seu rival Andrew Turner.
- Fique de olho na Justine. - O senhor Harrison deu a ordem antes de desligar.
Kevin possuía a postura ameaçadora de um homem que nasceu para comandar. Ele herdou a fortuna da família e, aos vinte e cinco anos, passou a administrar os negócios de sua família.
O poderoso CEO, que secretamente comandava o submundo do crime, era casado com uma jovem francesa por quem se apaixonou perdidamente.
A primeira vez em que viu Justine Delacroix foi num evento de moda, onde acompanhou sua amiga Beatrice no desfile de prêt-à-porter, alta costura e Cruise da Dior. Ao invés de prestigiar a amiga que desfilava na passarela, as pupilas azuis de Kevin acompanharam o par de olhos dourados da francesa que parecia penetrar a sua alma. O nariz arrebitado e o sorriso encantador compunham os traços delicados de uma estagiária de design de moda que auxiliava na criação e comercialização de peças de vestuário e acessórios da grife.
Naquela noite, Justine chamava a atenção de todos naquele vestido de seda vermelho com um decote que exibia o colo de seus seios firmes.
Semanas depois, ela já estava namorando o belo italiano que media 1,90 m de altura.
Certo dia, ela fingiu surpresa quando Kevin lhe deu um reluzente anel de diamantes durante o jantar no iate e a pediu em casamento.
Apesar da paixão arrebatadora que os envolvia, Justine já estava dando sinais de que tinha um amante após o primeiro ano de casada.
Desconfiado, Kevin deu outro celular para a esposa, mas antes de entregar o presente, ele instalou um spyware no aparelho telefônico. Desde então, ele passou a monitorar todos os passos de Justine.
Naquele dia, Kevin estava carregado de raiva porque descobriu que Justine pegou cerca de setenta mil euros da conta bancária e, após analisar as imagens das câmeras do quarto, onde dormiam, ele viu a esposa pegando boa parte das joias do cofre.
Furioso, ele saiu de trás da mesa e perambulou pelo escritório feito um animal enjaulado. Passou os dedos longos pela testa conforme a mente ponderava sobre os últimos acontecimentos.
Na noite anterior, ele comemorou um ano de casado com a esposa num restaurante de luxo na capital da moda e a presenteou com um belo colar de diamantes. Quando voltaram para a mansão, ele a levou até a garagem para mostrar a Ferrari 250 GTO vermelha com um grande laço de fita branco.
- De quem é esse carro, querido? - Justine questionou.
- É seu, mio amore - a voz rouca e sensual respondeu.
- É linda - Com olhos arregalados, ela exclamou.
Os braços musculosos de Kevin envolveram a esposa num abraço caloroso ao capturar os seus lábios e beijá-la com sofreguidão.
Instintivamente, a mente o levou de volta para o momento em que ambos chegaram ao segundo piso da mansão. Pelo amplo corredor, ele carregou a esposa nos braços fortes até chegar à suíte principal.
Logo, as roupas estavam espalhadas pelo chão. Ele tomou um seio após o outro entre os lábios enquanto o membro robusto mergulhava, exigindo mais espaço à medida que a abria.
- Oh, mon Dieu! - A voz feminina gemeu ao senti-lo, escorregando em seu molhamento e batendo mais fundo.
Absorto em suas recordações eróticas, ele ainda escutava os gemidos de Justine ecoando em sua mente enquanto estocava vigorosamente.
Kevin ainda estava sentado na cadeira de seu escritório, quando apertou a ereção que medrava na calça de linho preta, e, sem seguida, balançou a cabeça para se livrar das lembranças que o excitavam.
Os olhos azuis voltaram para o porta-retratos com a foto da mulher de mechas longas e platinadas e se fixaram nos lábios cor de cereja, onde ele se fartou na noite anterior.
De repente, o toque do celular interrompeu as suas fantasias, trazendo-o de volta para o escritório. Ele apertou o botão, aceitando a chamada de seu conselheiro.
- O que foi? - Indagou secamente.
- Pegamos a sua esposa - Do outro lado da ligação, Alessandro informou. - Um informante disse que estava com Andrew Turner.
- O detetive já me contou, porra. - Desta vez, Kevin falou mais alto.
O punho cerrado se chocou contra a mesa. Andrew Turner fez tudo para destruir os negócios de seu clã após a morte de seu pai. A queda do império da família Harrison Giordano logo aconteceria se Kevin não tivesse sido treinado para controlar tudo com mãos de ferro.
- Levem a minha esposa para Giambellino-Lorenteggio. - Deu a ordem e desligou o telefone.
Com a testa vincada, Kevin ajeitou as costas no encosto em capitonê de sua poltrona.
- Cazzo, aquela puttana é uma traidora! - Socou a mesa outra vez e, em seguida, pegou o porta-retratos com a foto da esposa e tacou-o longe.
Repentinamente, a porta se abriu. A mulher alta e esguia jogou as mechas pretas para trás dos ombros assim que adentrou. Beatrice desfilou graciosamente até a enorme mesa de nogueira.
- Precisa de companhia, querido? - A voz manhosa indagou.
- Não quero conversar, agora, Bia. - Ele grunhiu para a amiga.
Embora a modelo fosse bonita, Beatrice não o atraía.
- Calma, querido. - Ela se posicionou atrás da poltrona e pousou suas mãos sobre os ombros largos do senhor Harrison. - Relaxe!
Os dedos magros de Beatrice começaram a massagear os músculos tensos. Um leve sorriso surgiu no canto dos lábios no segundo em que os olhos dela se fixaram na fotografia exibida no vidro rachado do porta-retratos caído no chão.
- Sempre te falei que a sua esposa era infiel - a voz feminina afirmou.
Sem dizer nada, o senhor Harrison pôs-se de pé bruscamente. Pegou o sobretudo preto e vestiu. Mais que depressa, saiu do escritório.
- Espero que você dê uma boa lição naquela traidora. - Beatrice acrescentou enquanto seguia Kevin até o corredor. - Quer que eu vá com você, querido?
- Não. - O tom gutural do senhor Harrison retrucou com veemência.
No elevador, Kevin apertou o botão e as portas fecharam. Ele passou as mãos nos fios lisos e curtos pouco antes de sair no estacionamento e ir direto para o Lamborghini prata, onde o motorista aguardava.